sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Buscando Pasárgada

Pasárgada foi uma das capitais da antiga Pérsia.

Quando Manuel Bandeira soube — aos 16 anos de idade — que o nome significava “campo dos persas”, imaginou um lugar fabuloso, cheio de delícias. Diz ele:

Mais de vinte anos depois, num momento de fundo desânimo, saltou-me de súbito do subconsciente esse grito estapafúrdio: Vou-me embora pra Pasárgada!

Na época, perto dos 40, o poeta tentou usar para uma estrofe essa frase, um verso de sete sílabas, mas não conseguiu. Anos depois, em outra hora semelhante de tristeza e dor, o antigo desabafo saiu em forma de poema completo, sem esforço algum.

Não sou arquiteto, como meu pai desejava; não fiz nenhuma casa, mas reconstruí uma cidade ilustre, que hoje não é mais a Pasárgada de Ciro e sim a "minha" Pasárgada.

Qual a nossa Pasárgada? Para onde vamos ou sonhamos ir, como refúgio da dolorosa realidade? O Brasil é a Pasárgada de muita gente.

Um pelotense escreveu outras sete sílabas:

Vou pra Porto Alegre, tchau!

Já que todos querem ir pra longe de sua terra natal, eu proponho o seguinte heptassílabo:

Fico sempre aqui em Pelotas!

Vamos reconstruir aqui mesmo o nosso lugar dos sonhos?
Fotos: F. A. Vidal (1) e Ana T. Vidal (2), no Monte Bonito

8 comentários:

Coca disse...

Opa! Se vamos falar de apego a um lugar, talvez seja pertinente referir-se ao poema do nosso mario Quintana:
O MAPA

Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...

(É nem que fosse o meu corpo!)

Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...

Há tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E há uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)

Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso...

Apontamentos de História Sobrenatural

Anônimo disse...

Oi, Francisco! Excelente iniciativa a criação deste blog. Terás uma leitora assídua!
Bjs! Teresinha Brandão

Anônimo disse...

Ah, Francisco, permite-me discordar de ti: "Quero ir embora de Pelotas!"
Um dia conversaremos sobre isso ...
Bjs! Teresinha Brandão

Francisco Antônio Vidal disse...

Pois é, Teresinha, eu já fui embora e já voltei, e agora vejo Pelotas como uma Pasárgada. Agora fiz este blog para mostrar isso e valorizar o que nem todos os pelotenses valorizam.

Francisco Antônio Vidal disse...

Coca:
Maravilhosa essa lembrança do Mário.

Anônimo disse...

É uma questão de "valorização", Francisco ...?
Se for ...boa sorte!
PS: Ah, só me livra das histórias das charqueadas, tá ...? Contigo tenho esta liberdade: "Poupa-me"! Eh, eh!
Beijão! Tê!

Anônimo disse...

Ah, lembrei-me de algo ... Valorizar Pelotas ...? Sugestão: nada melhor do que "croquetes do Cruz de Malta", eh, eh!
Bj! Tê!

Francisco Antônio Vidal disse...

A Teresinha se refere acima ao seguinte artigo que saiu no Amigos de Pelotas em setembro de 2008:
http://www.amigosdepelotas.com/2008/09/croquetes-do-cruz-receita-para-lembrar.html