sexta-feira, 27 de março de 2009

Poluição visual na cidade

A arquiteta pelotense Adriana Araújo Portella pesquisou, em seu mestrado na UFRGS e no doutorado na Inglaterra, sobre Percepção e Análise do Espaço Urbano.
Em seu estudo, ela define poluição visual urbana como a degradação do espaço em função do uso desordenado de anúncios comerciais. Estes costumam ser fixados sem considerar as características dos edifícios e a identidade do espaço urbano. Neste conceito, a publicidade que é posta de modo ordenado e respeitando a identidade cultural do setor em questão não é poluição visual. A ideia é que as casas e edifícios possam ver-se e que seja ativado o funcionamento econômico e social - como o turismo e o próprio comércio local.
Por exemplo, a Times Square em Nova Iorque é um centro comercial cosmopolita: ali os anúncios podem e devem ser de grandes dimensões, luminosos e variados: se eles fossem retirados, o vazio estaria negando a identidade do lugar. Em uma área residencial, por outro lado, os interesses e as características serão diferentes, e o planejamento da cidade deve contemplar essas diferenças.
O caso de Pelotas: no centro histórico, os anúncios comerciais devem respeitar e fortalecer a identidade cultural da área, que se veria prejudicada se os edifícios e seus detalhes não pudessem ser apreciados.
O magazine no Calçadão (esq.) e a farmácia na Osório (dir.) não destacam os traços culturais e arquitetônicos dessa zona histórica. Um caso emblemático é a Galeria Mazza (última foto abaixo), que passou em 2008 por uma restauração da fachada (provavelmente sob estímulo da pesquisa de Adriana Portella). Veja o post neste blog.
Um exemplo diferente é que as árvores em excesso da praça Coronel Osório já foram consideradas poluição visual, por impedirem ver os prédios mais importantes da cidade (valorização da história e da geografia urbana).
A tese de doutorado de Adriana investigou a percepção de 420 pessoas sobre a poluição visual em três cidades (Pelotas, Gramado e Oxford). Segundo suas conclusões, alguns fatores devem ser considerados no controle da poluição visual para que se obtenha um objetivo comum e coerente:
1. A sociedade e sua tendência ao consumo requerem a existência de anúncios comerciais. Considera-se que os usuários modernos têm necessidades visuais e de consumo, a ser integradas ao meio e manejadas como qualquer outra função urbana. O consumo pode ser estimulado sem prejudicar o ambiente.
2. Os interesses de diversos grupos urbanos, em 4 aspectos:
- a percepção da imagem histórica da zona,
- a imagem que os moradores gostariam de manter,
- a imagem que a autoridade pretende promover, e
- os interesses dos comerciantes.
O terceiro aspecto, da autoridade, não se refere simplesmente às normas, mas ao interesse de "marketing da cidade", a publicidade que favorece o turismo urbano, área por área. Além do controle urbano, há a promoção da cidade.
O quarto aspecto se vê muito no Calçadão, na Marechal Floriano e na General Osório, onde cada comerciante obtém um efeito positivo sobre o pedestre com anúncios individuais, mas, somando-se o conjunto da quadra, tem-se um resultado caótico, sem efeito estético nem comercial.
O que se requer é coordenar todos esses interesses, para um crescimento econômico que respeite a identidade cultural. As normas e o controle da publicidade vão depender de todos esses fatores.
Um dos resultados da tese de Adriana é que, com mais de 10% das fachadas ocultas por anúncios, as pessoas desenvolvem uma percepção negativa do setor. Se a poluição visual diminui, o comércio pode ter até benefícios. O trabalho foi apresentado em Pelotas, segundo noticiado na época, e gerou discussão na Câmara de Vereadores, que já esboçou normas, mas pode não ter suscitado o necessário debate com arquitetos, moradores e comerciantes.
Referências das pesquisas:
  • PORTELLA, Adriana Araújo.
    Evaluating commercial signs in historic streetscapes: the effects of the control of advertising and signage on user’s sense of environmental quality.
    Tese de Doutorado. Oxford Brookes University, Oxford, Inglaterra, 2007.
    Tradução aproximada: Avaliação de anúncios comerciais em paisagens urbanas históricas: quais os efeitos do controle da publicidade sobre a percepção que o morador tem da qualidade ambiental.
  • PORTELLA, A. A. (2003).
    A Qualidade Visual dos Centros de Comércio e a Legibilidade dos Anúncios Comerciais.
    Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pos-Graduação em Planejamento Urbano e Regional. Porto Alegre.
  • Times Square não é exemplo de Poluição Visual, artigo na revista Arquitextos n.94, março 2008.
Imagens: F.A.Vidal (1) e Adriana Portella (2-4).

4 comentários:

Anônimo disse...

Interessante a pesquisa da arquiteta, sobretudo porque trata de "poluição visual" numa cidade como Pelotas, "conhecida" _ será? _ por seus casarões, seu patrimônio (?) arquitetônico.
Interessante, além dos critérios utilizados (as variáveis), é o conceito desenvolvido por Patrick Sériot, um teorico da Análise do Discurso, sobre "ecologia linguística. Embora não trate da "poluição visual", aborda aspectos referentes ao assunto.
Muito boa matéria!
Bj, Tê!

Anônimo disse...

É com grata satisfação que vemos o imóvel Galeria Nóris Mazza como exemplo de preservação qto ao imóvel e o aparato publicitário. Confesso que a restauração não foi devido a pesquisa da arquiteta em questão, o que acho extremamente importante, mas o que nos leva a manter o prédio é uma questão de consciência, rspeito pela nossa cidade, tentando mostrar aos comerciantes, que não é a MAIOR PROPAGANDA que atrai o consumidor, pq ao readequar a nossa fachada não tivemos problemas com os inquilinos e os clientes até aumentaram. Selma Mazza

Anônimo disse...

ACHO QUE DEVIAM COLOCAR COMO SAO AS RUAS DE SAO PAULO COM A POLUICAO VISUAL

Francisco Antônio Vidal disse...

Em São Paulo é bem pior a situação, mas comparar com uma capital tão grande afetaria o objetivo desta nota: daria a impressão de que Pelotas não tem problema algum neste sentido.