terça-feira, 7 de abril de 2009

Desmitificando Shakespeare

O professor de literatura inglesa Dr. José Carlos Marques Volcato (dir.) foi o primeiro palestrante das quartas-feiras culturais de 2009 na Sociedade Sigmund Freud. Desde 1981, costuma-se fazer uma reunião mensal com temas não médicos – artísticos ou humanísticos – dos quais um diretor cultural se ocupa permanentemente. A jornalista Inês Portugal é atualmente a encarregada desta área na Sociedade.

Freud era daqueles médicos humanistas, interessados por todos os assuntos e atualizado das novidades de sua época. Analisou pinturas, esculturas e textos literários de todo tipo, dedicando livros inteiros à psicologia da arte, sabedor de que os sentimentos se expressam por esse modos simbólicos, e não somente pelos sonhos, pelos sintomas neuróticos ou pelos atos falhos. Somente da música se pode dizer que ele não tinha muito agrado (preferia o silêncio ou no máximo a voz materna cantando). O personagem de Shakespeare que mais lhe chamou a atenção foi Hamlet, o príncipe que queria matar o tio para fazer justiça ao pai morto – uma variação do complexo de Édipo.

José Volcato graduou-se e pós-graduou-se na UFRGS, e estudou mais 4 anos no Instituto Shakespeare, que fica na cidade onde o escritor viveu, Stratford-upon-Avon. A localidade tem uma população comparável a Jaguarão (RS) mas recebe 3 milhões de turistas ao ano, em função do interesse pela literatura e o teatro. O professor Volcato é efetivo da UFPel (como Adjunto I) desde agosto passado. Um de seus professores foi Stanley Wells (esq.), o maior especialista no mundo em Shakespeare.

Nesta palestra, Volcato não se referiu à obra de Shakespeare. Somente abordou as principais questões sobre a biografia do gênio inglês, já esclarecidas em boa parte pelos muitos estudos existentes – por exemplo, quais os retratos verdadeiros (à direita, o mais fidedigno) e quais foram falsificados, ou quais livros são de sua autoria realmente. Um novo retrato foi encontrado em março passado, após 399 anos de segredo, e se acredita que seja verdadeiro, pois estava com os descendentes do patrono do escritor, o conde de Southampton (veja a notícia no New York Times).

Sobre a data de seu nascimento não há comprovação definitiva, mas sobre sua identidade as dúvidas já estão respondidas. No século XVIII, um estudioso especulou que o verdadeiro escritor teria sido outra pessoa (inclusive Freud manejava essa hipótese), mas hoje se sabe que William Shakespeare existiu com esse nome e não foi pseudônimo de ninguém.

Mesmo que em Pelotas esses dilemas não nos afetem, a aula foi tão ágil e interessante, cômica até, que os 50 assistentes mantiveram o interesse por toda a hora e meia de exposição. O tempo extrapolado não impediu que por mais 20 minutos o professor respondesse algumas perguntas, com entusiasmo crescente, contagiando a quem o ouvisse. É difícil fotografá-lo enquanto fala, por sua agitada gesticulação, que ele marca com mudanças vocais, pausas e comentários irônicos, estilo ilustrativo da dramaturgia que ele estuda.

Em nossa cidade temos um Instituto – iniciante ainda, mas muito bem encaminhado – que pesquisa e preserva a memória de um escritor nosso, João Simões Lopes Neto. Mais adiante, falarei de nossa cultura literária, que também é objeto de estudo de pesquisadores de outros países.
Fotos da web (1-3) e F.A.Vidal (4).

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