terça-feira, 19 de maio de 2009

Um menino de 82 anos entra na Academia

Em 24 de abril passado, a Academia Sul-Brasileira de Letras, fundada em Pelotas em 1970, integrou um novo membro, na cadeira de João Simões Lopes Neto: o poeta José Moreira da Silva, radicado em nosso Estado desde a década de 1950.

Apresentou-o oficialmente o poeta Joaquim Moncks, vice-presidente da ASBL, pelotense que viaja sem parar pelo Brasil desde a década de 1960 (hoje residindo em Passo de Torres, extremo sul de Santa Catarina).
Sendo pelotenses seu patrono e seu paraninfo (João e Joaquim), nada mais coerente que a cerimônia de ingresso de José Moreira da Silva fosse realizada nesta cidade. O lugar escolhido foi também o mais adequado: o Instituto João Simões Lopes Neto, justamente a casa em que um dia residiu o nosso grande escritor.
O Moreirinha tem uma história pessoal única: nascido no interior de Pernambuco, foi morar em Recife, entrou no Exército e, ao chegar a oficial, pediu designação a Bagé.
Aqui no Rio Grande do Sul formou família e depois de aposentado foi estudar Direito e dedicou-se à poesia. Fundou uma academia literária em Porto Alegre (a ALGA), e diz namorar a ASBL há 15 anos; frequentou-a até que houve uma vaga, e precisamente da cadeira de seu escritor favorito.
Aos 82 anos, não é o acadêmico mais idoso, mas é o mais "novo".
Joaquim Moncks (esq.) fez um apaixonado discurso de apresentação de Moreira da Silva.
Começou introduzindo algumas ideias preparadas, mas logo o entusiasmo o tomou e seu discurso abordou pontos não planejados; foi elogiando seu afilhado, o patrono, os outros acadêmicos e até as autoridades e amigos presentes na cerimônia. A empolgação teve todos os elementos de um discurso político, com grande expressão dramática e conteúdo literário. Eis aí um líder social com ideias e carisma; merecerá outra nota neste blogue - veja seu currículo.
O novel acadêmico bebeu o hidromel, trazido pela encantadora menina Francisca Vianna Beck (abaixo), representando uma ninfa da mitológica Grécia Antiga.
Logo ele leu um discurso de posse, sem usar microfone, introduzindo alguns comentários improvisados, próprios de sua ternura e delicadeza de coração:
"Como é belo o vosso silêncio. Guardarei por toda a minha vida este momento". "Venho para aprender. Quero que me levem pela mão". "Quem faz poesia é o alterego". "Leiam A Mandinga de João Simões Lopes Neto. Desopila o fígado".
Contrariando o costume maçom de não revelar em público as afiliações a esta confraria, Moreira da Silva identificou vários de seus irmãos ali presentes, inclusive o padrinho Joaquim Moncks, e revelou algo que ali ninguém mais parecia saber, até porque somente havia um documento comprovando-o: João Simões Lopes Neto também foi maçom.
Fotos de F. A. Vidal.

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