quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Pelotense, conheça Pelotas!

Michel Constantino Figueira (esq.) vem publicando artigos no Diário Popular desde que era aluno do bacharelado em Turismo. Hoje ele cursa mestrado em Memória e Patrimônio e segue preocupado positivamente pelos potenciais turísticos de Pelotas.

Em 2009 ele escreveu por alguns meses no blogue Amigos de Pelotas. Curiosamente, um daqueles textos já postados na internet foi apresentado ao Diário Popular. Pela marcada contraposição entre os dois veículos, é muito raro quem colabora em ambos. Fiz uma comparação entre as duas versões desse escrito, cujo teor completo mostro abaixo (em azul e verde), com mínimos ajustes para facilitar a leitura. O que importa é o sentido total, mas se distinguem na forma dois tons expressivos de um mesmo autor.

  • Pelotense não conhece Pelotas - postado no Amigos em maio de 2009.
    O título é uma negação, em presente do indicativo, sem sugerir saídas.
    Algumas frases foram enxugadas [entre colchetes] transmitindo a mesma ideia em menos espaço, e outras foram acrescentadas (em verde), adotando o estilo crítico do site.
    O parágrafo final desta 1ª versão é coerente com o título, e culpa a pobre visão das autoridades.

  • Pelotenses: conheçam Pelotas! - Diário Popular, na internet e na edição impressa, outubro 2009.
    O título está no afirmativo do imperativo, estimulando soluções.
    As frases são mais extensas, o que sugere que o texto, sendo base do citado acima, tenha sido escrito antes, ainda que publicado depois. Entre colchetes, as partes que ficaram só nesta versão. Em verde, as que talvez foram retiradas da versão original para sair nesta.
    Os dois parágrafos finais são concordantes com o título, vislumbrando soluções em conjunto com a comunidade.
O desconhecimento

Uma das maiores barreiras para o desenvolvimento turístico local está no desinteresse do pelotense em conhecer sua própria “casa”. As informações [sobre eventos, roteiros, atividades de lazer e de cunho turístico] que ele repassa aos seus visitantes são [quase] nulas.

Diversas pessoas me dizem que nunca comeram bolinhos de siri [e pastel de camarão] na Colônia de Pescadores Z3;
- nunca viram o pôr do sol nas Doquinhas ou o nascer do sol no Laranjal (acima);
- jamais entraram no Sete de Abril (esq.) [para assistir às peças e concertos gratuitos];
- não sabem descrever as charqueadas [e sua relação com a história local];
- nunca provaram a comida deliciosa do restaurante Gruppelli;
- nunca fizeram trilha ecológica no ecocamping;
- nunca beberam um cafezinho no Aquário (abaixo);
- e nem mesmo entraram numa doçaria.
Eu conto nos dedos as pessoas que conheço que já visitaram os museus Leopoldo Gotuzzo e Carlos Ritter.

Dentro da Semana do Turismo, em setembro passado, num passeio organizado pela Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer, três vereadores declararam não conhecer bem os detalhes físicos e históricos da cidade (leia a notícia).

O desinteresse

O pelotense se interessa muito pouco pela sua [cultura e memória pública]. [É indiferente quanto às suas raízes]: sobre as influências portuguesa e francesa dos casarões, as influências charrua e minuana em nossa veia gaúcha, a influência africana em nossas danças [e a influência italiana e alemã em nossa tradição colonial]. E isto vale para pobres e ricos, [velhos e jovens]. A 'aristocracia' acumula indiferença o ano inteiro para partir para Punta del Este no verão e sair nas colunas sociais dos jornais. Para os pobres sem informação, sendo o preço dos deslocamentos e eventos com artistas locais caríssimos para eles, os limites são ainda maiores.

Entendo que este desinteresse também está associado a fatores como: criminalidade [e desemprego], eventos repetitivos, e preços exorbitantes para visitar as charqueadas ou fazer passeios com agências de viagem pela Zona Colonial. Isto tudo, associado aos índices de sensibilização patrimonial e incentivo turístico abaixo de zero, desestimula ainda mais os pelotenses a sair “peloteando” por aí. [Mas precisamos prestigiar nossa cidade com tudo o que ela oferece].

O interesse

Quando fui professor de turismo e patrimônio cultural em um projeto do CDL de Pelotas, no final de 2008, percebi que as crianças pobres - de escolas municipais do Pestano, do Porto, do Areal, do Fragata e da Colônia Maciel - possuíam um profundo interesse em conhecer nossa cidade. Elas falavam com orgulho da Praia do Laranjal (esq.), mas muitas delas, inclusive com idades de 13 a 15 anos, nunca haviam estado na praia, no Centro Histórico ou na Zona Rural.

Pude compreender que seus horizontes eram tão limitados quanto a percepção de nossos gestores turístico-culturais, que não associam que o processo de transformação turística é bem maior do que ficar discutindo cultura e turismo em mesas de bar e seminários acadêmicos.
[FIM DA 1ª VERSÃO]

A solução

[Os gestores públicos e sem fins lucrativos do turismo, da cultura e da educação deveriam iniciar urgentemente um programa de incentivo social para os pelotenses conhecerem sua cidade. Um projeto de cunho turístico-patrimonial planejado, sinérgico e participativo, discutido, orientado e implementado concretamente pelo Poder Público com o apoio de diversas instituições e empresas. Um programa deste porte geraria orgulho e sentimento de pertencimento ao pelotenses que aprenderia a participar da construção de uma cidade melhor, bem cuidada, preservada e harmoniosa].

[Os nossos turistas estão chegando. Precisamos recebê-los com alegria, entusiasmo e conhecimento sobre nossa cultura. Mas para isso é preciso que a comunidade pelotense participe tanto do processo de construção do turismo, quanto dos reflexos positivos gerados pelo setor na economia local].

[Por exemplo, se cada bairro e cada etnia possuíssem o seu próprio museu e projetos de valorização da sua identidade, e a relação dessa identidade local com a identidade de Pelotas, isto já representaria um grande passo à frente no desenvolvimento do turismo e da qualidade de vida dos pelotenses, gerando oportunidades de emprego e renda com base no que Pelotas tem de melhor: cultura].
[FIM DA 2ª VERSÃO]

2 comentários:

Anônimo disse...

Esse menino só choveu no molhado, típico discurso acadêmico. Arruma um cargo pro rapaz que ele sossega.

Anônimo disse...

Realmente, é de abismar, a omissão de educadores e instituições culturais, governos, na formação/informação das novas gerações, sobre o patrimônio artístico cultural de Pelotas e região.
Não se ama ou cuida, o que se desconhece.
Currículos ultrapassados, falhos, inócuos para a construção da cidadania: a criança, o jovem, o universitário, a comunidade em geral, deveriam ser os atores principais na divulgação dessa riquíssima região, na qual, história e patrimônio cultual são a característica.
Paixão por Pelotas! Vamos colocar mais energia na divulgação de nossos valores, patrimônio cultural do país.
Prof.ª Loiva Hartmann