sábado, 21 de novembro de 2009

O vandalismo nosso de cada noite

O novo Largo do Guarani, na Lobo da Costa, foi inaugurado em 15 de maio, gerando polêmica pela estética do desenho urbano e pelas mudanças no trânsito. Os arquitetos municipais quiseram destacar os prédios antigos e facilitar a caminhada turística.

Entendidos e não entendidos opinaram livremente no Amigos de Pelotas, contra e a favor, e sobrou para as lixeiras (leia).

De acordo às normas modernas, elas vêm duplicadas, em verde e laranja, para separar o lixo orgânico do "seco". Mas o povo ainda não conhece as normas de reciclagem nem a diferença entre orgânico e seco, e usa as lixeiras sem distinção.

Quase seis meses se passaram e os sofisticados protestos pareciam ter ficado no esquecimento. No entanto, a meio andar da Feira do Livro, começaram os ataques físicos às lixeiras, único elemento ali que pode ser destruído a pontapés.

Algum demônio analfabeto teria tentado atacar a Feira e se viu intimidado pelos guardas noturnos? Após uma dessas noites, não havendo vigilância neste trecho, uma lixeira laranja desapareceu (1ª foto, 8 de novembro).

Uma semana depois, em outro arrastão noturno, a lixeira verde que havia sobrado foi arrancada (2ª foto, 15 de novembro). Não foi preciso muita força, pois as estruturas são frágeis.

Estranhamente, quem passou hoje por ali viu - além de dois postes entortados, efeito dos mesmos brucutus - a lixeira verde de volta (3ª foto, 19 de novembro).

Sociólogos e historiadores relacionarão o ressentimento dos pobres com a opressão dos ricos; iconoclastas e estetas dirão que tais lixeiras só podiam ter como destino o lixo; anarquistas defenderão esta ação popular espontânea... mas a linha cronológica não tem nada de lógica.

O próximo passo da sequência devia ser que levassem o poste, mas agora teríamos que pensar na devolução da lixeira laranja.

Quando deixaremos de ser tão permissivos com as explosões de instintos selvagens? Quando nossas energias sairão em forma de palavras e gestos civilizados que ajudem a construir nossa cultura, em vez de destruí-la?
Fotos de F. A. Vidal

3 comentários:

Anônimo disse...

É evidente a inutilidade das lixeiras para guardar o lixo naquela via, uma vez que ele ganhou prestígio em forma de luminárias e destruição de patrimônio histórico.

Francisco Antônio Vidal disse...

A novela dos vândalos continua: hoje a lixeira verde estava acompanhada de uma laranja, que "viajou" de outro poste (o que está ao fundo na 2ª foto). A cidade da cultura também convive com os bárbaros.

Francisco Antônio Vidal disse...

Acredite se quiser: hoje a lixeira laranja foi trocada por uma verde. A dança das lixeiras está virando brincadeira.