sábado, 17 de janeiro de 2009

Amigos de Pelotas, um fenômeno de comunicação

O Amigos de Pelotas é um blog jornalístico, feito em Pelotas por pelotenses, e, mesmo que soe super-redundante, com notícias sobre Pelotas.

Rubens Amador Jr. (ou Rubens Filho) voltou à terra natal, após 22 anos rodando pelo Brasil. Começou em 4 de abril um blog pessoal, que teve tanto sucesso que os acessos foram aumentando de modo espetacular.

Em dezembro passado, foram festejados os 400 mil, cerca de 2 mil por dia. Se fosse nalguma capital, não chamaria a atenção, mas neste recanto do país, é um fenômeno. Até então, era preciso consultar jornais de Porto Alegre para ter notícias sobre Pelotas na internet.

Rubens (dir.) ganhou um prêmio de jornalismo, também escreve ficção e tem um belo estilo literário. Três "colunistas" do blog são fruto de seu talento imaginativo.

Hoje (17) o blog noticiou seu recorde de visitas: somente ontem, 2547 pessoas de 101 cidades brasileiras buscaram informação sobre a tragédia ocorrida com o time do Grêmio Esportivo Brasil. O Diário Popular dedicou toda sua edição de hoje ao mesmo fato, mas por ter seu site desativado somente os assinantes podem ler o jornal.

Outro fenômeno é a frequência de postagem, tão alta (e promete subir) que o blog já anunciou que tomará em breve um formato de jornal eletrônico. Até 2008, saía uma média de 10 posts por dia, que em 2009 já subiu para 15.

Rubens redige a maior parte do texto, mas soube conformar um corpo de cronistas que escrevem sobre cultura, gastronomia, esporte, cinema, psicologia. Eu me conto entre eles desde agosto passado. Foi ali que surgiu a ideia deste novo blog, somente sobre a cultura pelotense.

Num tom crítico e irônico, o Amigos de Pelotas veicula notícias atuais (sem limitar-se à cidade) e também algumas fictícias, que em si mesmas nos fazem sorrir e nos deixam pensando sobre as mensagens ocultas. A última dessas notas imaginárias (transcrita abaixo) saiu dia 4 de janeiro.

Brigada Militar fotografa OVNI
O equipamento de uma unidade móvel da Brigada Militar de Pelotas captou uma estranha gravação no último dia 31 de dezembro. Foi no final da tarde, na estrada do Laranjal, naquele momento tomada por motoristas que retornavam para a cidade. Inicialmente, os dois policiais que faziam a ronda dentro da viatura pensaram que era brincadeira. Mas então sentiram um vento forte balançar o carro. Alarmados, abandonaram o veículo e viram um disco voador, fotografado pelo soldado Azenha.

O OVNI permaneceu por 10 segundos sobre o antigo restaurante Estância do Saladero. Depois de três zigue-zagues rápidos, desapareceu no ar, sem deixar rastros. Para trás, ficou apenas a gravação, a foto e uma perplexidade sem igual. [...] Técnicos especialistas em linguagens de sinais conseguiram decodificar a gravação.
Os humanos são seres muito estranhos. Para começar, são multicolores. Há humanos brancos, pretos, amarelos, vermelhos, cinzas, marrons. São metálicos, formados por exoesqueletos duros, compactos, insensíveis ao toque. [...] Possuem também dois olhos imensos que se iluminam a noite inteira mas, apesar disso, vivem se chocando uns com os outros. Extremamente promíscuos, adormecem coletivamente em lugares chamados garagens ou estacionamentos. PS: possuem também módulos, frágeis e vulneráveis, que se deslocam sobre duas pernas, e até agora ninguém na nave descobriu qual a utilidade deles.
A notícia acima é falsa, mas pelo menos a gente avisa.
Fotos da web e Rubens (1)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Buscando Pasárgada

Pasárgada foi uma das capitais da antiga Pérsia.

Quando Manuel Bandeira soube — aos 16 anos de idade — que o nome significava “campo dos persas”, imaginou um lugar fabuloso, cheio de delícias. Diz ele:

Mais de vinte anos depois, num momento de fundo desânimo, saltou-me de súbito do subconsciente esse grito estapafúrdio: Vou-me embora pra Pasárgada!

Na época, perto dos 40, o poeta tentou usar para uma estrofe essa frase, um verso de sete sílabas, mas não conseguiu. Anos depois, em outra hora semelhante de tristeza e dor, o antigo desabafo saiu em forma de poema completo, sem esforço algum.

Não sou arquiteto, como meu pai desejava; não fiz nenhuma casa, mas reconstruí uma cidade ilustre, que hoje não é mais a Pasárgada de Ciro e sim a "minha" Pasárgada.

Qual a nossa Pasárgada? Para onde vamos ou sonhamos ir, como refúgio da dolorosa realidade? O Brasil é a Pasárgada de muita gente.

Um pelotense escreveu outras sete sílabas:

Vou pra Porto Alegre, tchau!

Já que todos querem ir pra longe de sua terra natal, eu proponho o seguinte heptassílabo:

Fico sempre aqui em Pelotas!

Vamos reconstruir aqui mesmo o nosso lugar dos sonhos?
Fotos: F. A. Vidal (1) e Ana T. Vidal (2), no Monte Bonito

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Anúncio impactante

O nome Surdinão já diz tudo sobre a loja, e é fácil de lembrar.
Mas quem vê o "logotipo" esquece o nome e tudo o mais, e não precisa de endereço. O anúncio é tão visível, todo o tempo, que todos sabem chegar, mesmo quem não gosta de surdinas ou turbinas. É na Av. Fernando Osório, esquina Rua Daniel Capdebosco, a segunda ao norte da Av. Salgado Filho.
Em Pelotas há poucos anúncios assim, mas este é o de maior impacto. Foto de F. A. Vidal.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Manuel Bandeira: homenageado da FLIP 2009

Rua antiga de Paraty (RJ)
Conforme o site da FLIP, há um mês foi marcada a data da 7ª Festa Literária Internacional de Paraty: ela transcorrerá da quarta-feira 1 ao domingo 5 de julho de 2009, na sempre bela localidade fluminense (esq.).

O autor homenageado este ano: Manuel Bandeira (1886-1968), pernambucano radicado no Rio de Janeiro, membro da Academia Brasileira de Letras desde 1940.

Os outros escritores homenageados em Paraty foram, desde 2003: Vinícius de Morais, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Jorge Amado e Nelson Rodrigues. Um motivo para escolher Bandeira é que em 2008 se completaram 40 anos de sua morte; por outro lado, mesmo sendo importante nas letras brasileiras, nunca recebeu muita atenção do meio editorial.

Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho ia ser arquiteto, mas aos 18 anos a tuberculose o afastou dos estudos; conhecendo a poesia, não a deixou mais. A doença também o acompanhou sempre, até morrer de uma hemorragia gástrica, aos 82. Para recordá-lo, os trechos finais de seu poema de 1930 (para maiores de idade) “Vou-me embora p’ra Pasárgada” (no vídeo abaixo, na voz do poeta).

Bandeira aos 68 anos
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
– Lá sou amigo do rei –
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora p’ra Pasárgada.
Paraty parece uma Pasárgada da literatura. Em julho vou-me embora pra lá.


Fotos TrekEarth (1) e Cosac Naify (2)
Vídeo: trecho de "O Poeta do Castelo" (1959), documentário de Joaquim Pedro de Andrade

Casa de Verão Municipal

Sem cerimônia alguma de inauguração, há uma semana começou a funcionar a Casa de Verão da prefeitura no Laranjal. O espaço é compartilhado por pelo menos três secretarias (Turismo, Cultura e Saúde) para atender turistas e se aproximar dos numerosos veranistas no nosso balneário.

Ao contrário do que o nome sugere, esta não é, portanto, uma casa de veraneio ou diversão, mas de trabalho e de atendimento. Se o Laranjal ainda fosse um distrito, aqui teríamos uma subprefeitura; hoje, há pelo menos um espaço aberto, num bairro que é bem distante do Centro e somente lembrado pelas autoridades no verão. Mas o prefeito Fetter está tentando mudar isto. Qualquer pessoa pode anotar num caderno de ocorrências queixas ou sugestões sobre os serviços municipais.

Neste domingo de tarde, havia uma atividade da Secretária de Saúde destinada às crianças, com aplicação de flúor e explicações sobre cobras peçonhentas.
Para adultos, informações sobre pontos turísticos de toda a zona, e uma exposição de uma dúzia de quadros do acervo da Secretaria de Cultura (esq.).
Às 17h o trânsito na avenida da praia ficou bloqueado pelo excesso de carros, e seguiam chegando mais, às centenas. No entanto, a Casa de Verão só estava com um público de uma dúzia de pessoas.

No piso superior, há um salão de reuniões, com espaço para umas 50 pessoas, e uma cozinha, que permite a realização de coquetéis e exposição de vídeos (dir.).

A Casa é facilmente localizável na avenida da praia, entre o restaurante Santo Antônio e a sorveteria Zum-Zum. Atende todos os dias da semana, até o fim do carnaval, das 9h às 19h. São em total 70 horas por semana, mas há reclamações pelo fechamento à noite, quando há grande afluxo de turistas.
Fotos de F. A. Vidal.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Uma agenda turística permanente

Ao longo do ano, já existe em Pelotas um calendário de permanente atividade cultural e turística. No entanto, falta-nos - além de uma atitude favorável ao visitante, e de querer mostrar o que temos de melhor - dar ênfase a seis ou sete grandes eventos por ano, com trabalho unificado em torno a eles, para concentrar as promoções e as inversões.

Fevereiro
O Carnaval é festa brasileira, mas Pelotas já teve um excelente e só precisaria recuperar essa tradição. Em 2008, a Academia do Samba ganhou com o tema do centenário do Esporte Clube Pelotas (dir.).

Abril 

A Semana Santa e a Páscoa permitem a realização de um festival de música sacra, em teatros e ao ar livre, aproveitando os talentos musicais da cidade.

Junho
À já consagrada Festa Nacional do Doce, orgulho de Pelotas, falta ainda mais vida, participação e criatividade. A caxiense Festa da Uva tem uns 800 minieventos de arte e cultura, dez vezes mais que a Fenadoce.
A Corte 2009 (abaixo) está formada pela rainha Juliana Büttenbender (23) e as princesas Jhoritza Souza (19) e Priscila Dias (19).
Agosto 
A Quinzena Gastronômica é uma iniciativa recente, mas pode crescer e diversificar-se, aproveitando parte da estrutura da Fenadoce.

Setembro 
A Semana Farroupilha, evento gaúcho, pode ter em Pelotas um foco mais robusto que no resto do Estado, com destaque para os personagens de Simões Lopes Neto, um festival de nativismo, rodeios e expofeira agropecuária. Seria um megaevento ainda maior que a Fenadoce, pois cobriria diversas áreas culturais.

Novembro 
Nossa Feira do Livro, que já é a segunda do Estado em volume de vendas, precisa superar seus traços comerciais, numa cidade eminentemente artística e intelectual, com três associações de escritores, um Conservatório de Música e o maior número de livrarias, após a capital.

Dezembro 
Fenatal, Cascata Luz, Feliz Cidade e outros eventos natalinos podem coordenar-se com espetáculos e festivais, para dar maior valor turístico à cidade.

As festas de devoção religiosa, como Navegantes e Guadalupe, não são comercializáveis, mas também podem requerir transporte, hospedagem e orientações aos romeiros. Ainda podem considerar-se num calendário unificado: Semana de Pelotas, Fecriança, festas coloniais, Festival de Teatro, festivais de bandas e de corais, rodeios, regatas, windsurf, torneio de tênis, eventos hípicos, concursos de beleza ou de talentos. Mesmo deixando de lado algum destes, um megaevento a cada dois meses identificado com Pelotas já daria vida permanente à cidade.


A idéia desta nota foi dada por Reginaldo Bacci, na reunião que noticiei no post anterior (leia).
Fotos da web (E.C.Pelotas e Fenadoce).

sábado, 10 de janeiro de 2009

Um instituto para desenvolver Pelotas

Em 20 de dezembro passado, iniciou-se a fundação do Instituto Leda Bacci para o Desenvolvimento (ILBD). Trata-se de uma antiga idéia do advogado pelotense Reginaldo Bacci (foto à direita), fã entusiasta da vocação turística e das possibilidades econômicas de nossa cidade.

A convocatória reuniu, na sala Chuí do Curi Palace Hotel, 35 pessoas entre 9 e 78 anos de idade (fotos abaixo), em sua maioria amigos de Reginaldo e descendentes da dra. Leda, advogada pelotense já falecida. Provenientes de diversas áreas, estes fiéis colaboradores se declararam dispostos a um trabalho silencioso e perseverante.

O estatuto, de 51 artigos, define como objetivos do ILBD: captar verbas públicas, formar parcerias com o governo municipal, promover ações para o desenvolvimento de Pelotas e região, pesquisar, debater, e ensinar o que for de ajuda para o crescimento local, entre outras atividades. O documento foi aprovado por unanimidade, assim como os nomes que serão parte da estrutura institucional de três conselhos.
  • No Conselho Diretor: Reginaldo Bacci, Presidente; Cleianara Acunha, Diretora Administrativa; Daniela Brisolara, Diretora de Projetos; José Ricardo de Freitas, Diretor de Captação; e Fábio Peres, Diretor de Comunicação.
  • Os 3 membros efetivos do Conselho Fiscal e os 3 suplentes também foram nomeados nesta reunião.
  • O Conselho Consultivo não ficou designado, mas incluirá pelotenses residentes no Brasil e no exterior.

    O Instituto será legalmente fundado em janeiro, com a inscrição dos estatutos em cartório. No fim de semana de carnaval, haverá outra reunião de todos os sócios fundadores. Participei deste encontro pioneiro que foi anunciado no blog Amigos de Pelotas, um apoiador independente desta iniciativa. Como estávamos na sala Chuí, fiz esta reflexão:

    O extremo sul do Brasil é reserva ecológica de nossas riquezas; também no sentido moral, nossa nação espera realizar suas potencialidades, e o sul reaparece como uma esperança. Ao longo do país, a corrupção toma conta e os líderes perdem confiabilidade, enquanto o povo observa a decadência mental, econômica e cultural. Paradoxalmente, nossa distância do centro nacional nos faz proclives a iniciativas que podem dar certo, como esta, que pode ser um modelo de organização para o crescimento de uma comunidade.
    Fotos de José Ricardo de Freitas.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Reinaugurada Biblioteca antes do Natal

Ao som de uma bem ensaiada Orquestra Filarmônica, o prédio restaurado de nossa Biblioteca Pública Municipal foi entregue à comunidade, dia 23 de dezembro de 2008. O local já sediou a Câmara de Vereadores, e para ser finalmente reformado precisou de muita ajuda financeira.
De manhã, houve a solenidade oficial com o prefeito Fetter, e às 21h o espetáculo da Sociedade Pelotense Música pela Música, com um vídeo de apresentação, iluminação especial e filmagem da TV Educativa RS.
Cerca de mil pessoas ouviram o concerto de 70 minutos do início ao fim. Orquestra, coro sinfônico e solistas ficaram no piso superior e a maior parte do público instalado na rua, defronte ao prédio, vendo as imagens no telão e ouvindo a excelente amplificação de som. Alguns dos trechos: Carmen de Bizet, O Mio Babbino Caro, Nessun Dorma, Aleluia de Haendel, o Brinde da Traviata.
Os solistas com microfones portáteis e parte do coro apareceram nas sacadas (foto abaixo). Não se perceberam falhas técnicas, nem na execução musical nem na filmagem. Um dos dois projetores não foi coberto da chuva a tempo e deixou de funcionar. Foi incômodo ficar de pé e molhar-se, mas um show destes não se pode perder, nem os instrumentos podiam expor-se à intempérie. Os parabéns vão à produtora Beatriz Araújo e ao maestro Sérgio Sisto.
A chuva começou de leve já no segundo trecho musical, e afugentou umas cem ou duzentas pessoas, mas a maioria agüentou firme, protegida ou não. Quando a música terminou, São Pedro foi embora com seus anjinhos.
A foto acima me recorda o musical "Os guarda-chuvas do amor", de 1964, um drama romântico que transcorre em Cherburgo, um porto francês muito chuvoso. O filme de Jacques Demy, cujos diálogos são totalmente cantados, é um dos primeiros de Catherine Deneuve, na época com 21 anos.
Fotos de F. A. Vidal.