quinta-feira, 24 de junho de 2010

Operação Viagra (conto)

Domingo (20), ficou autorizado comercializar o medicamento genérico do Viagra (leia notícia), e hoje (24) soube-se de um projeto que permitiria aos farmacêuticos receitar remédios (leia).
Com esses motes, o cronista pelotense Rubens Amador nos traz um conto seu que foi escrito quando o Viagra havia saído à venda por primeira vez, em 2007.
O grupo se reunia todos os dias na praça da cidade para jogar damas, em mesas de cimento que a municipalidade mandara fazer. Eram oito companheiros que durante os jogos conversavam sobre tudo. O último tema que andava em pauta era o Viagra.

Reginato dizia maravilhas do produto, desde a vez que ganhara duas amostras de um médico para quem trabalhara de pedreiro. Apesar de seus 79 anos, teve oportunidade de testar o remédio, e, segundo ele, “com excelentes resultados”. Só falavam em Viagra e no seu preço. “Tem, e não temos!”, filosofava Xisto. Juca, carteiro aposentado, “broto” de 81, era o mais entusiasmado. Dizia que, quando recebesse o 13º, iria “lavar a égua”.

– Estamos em janeiro – ironizava Ciríaco.

O Guedes perguntava, ansioso, se em operado da próstata o Viagra dava ponto. Havia desencontradas opiniões. Jacó, 85, de muito boa saúde, era comunista e discursava:

– Capitalismo é isto: a ciência fica ao serviço do lucro, e não oferece felicidade aos “cidadões” pelados como nós. O Estado deveria bancar a panaceia para os seus velhos. Rouba-se tanto! Cada ladrão do colarinho branco é causador da recessão sexual do velho!

O mais soturno daqueles amigos só ouvia e observava. Perguntou para os demais:

– Que tal a gente fazer um assalto a uma drogaria e roubar todo o Viagra do estoque?

Todos riram. Ele repetiu:

– Estou falando sério. Cada um de nós tem uma profissão. Por exemplo, caberia ao Juca, que era chaveiro, a micha. O Limeira, ex-eletricista, tomaria conta da energia. Que acham?

Houve uma pausa entre todos e passaram a pensar sério. O Guedes disse:

– Acho uma boa. Já pensaram: mil Viagras para cada um?

Jonas atalhou:

– A gente ia remoçar.

Duas da manhã. Os oito amigos já estavam com a porta da drogaria aberta. O eletricista desligou os alarmes. O Xisto espreitava na esquina. Cada um tinha uma tarefa. Ao Pompílio, 82, ex-guarda-livros, e o mais escolarizado de todos (1ª série ginasial) caberia a tarefa de, uma vez tudo pronto, entrar no depósito da drogaria e roubar todas as caixas de Viagra, que iria alcançando aos demais.

Uma velha Brasília, com o imposto vencido e má de chapa, transportaria a carga preciosa. O segredo todo estava no tempo. Como em “Rififi”, o famoso filme francês. Não havia tempo a perder.

Acendida a lanterna que avisava Pompílio do momento de ele entrar em cena, este dirigiu-se, quase correndo, entrando na drogaria com o dedo nos lábios: Silêncio! Foi indo pé ante pé, até que chegou ao interior do depósito.

Ali ele ficou maravilhado vendo aqueles milhares de remédios em prateleiras muito bem arrumadas. O assaltante calouro ficou extasiado ante tanto medicamento. Lembrou-se dos parentes doentes; da asma da mulher do Xisto; dos enfermos lá da vila; da sua Digoxina.

Os companheiros tremiam ante a demora do Pompílio. Pega e vem! – ouviu alguém balbuciar. Aí como que acordou, ante aquela fartura toda, e lembrou-se do assalto. O assalto! Olhou para uma pilha de caixas. Ao lado tinha outra, e outra... confundiu-se... olhava para a porta da frente e voltava a olhar às pilhas de medicamentos, suando. Fazia um tremendo esforço e não lembrava do nome do remédio que tinha ido buscar. Desistiu. Retornou meio envergonhado, e disse entre dentes:

– Esqueci o nome...

Limeira olhou o relógio e gritou:

– Prá Brasília!

Deu um negócio neles, e cada um queria entrar primeiro. Fugiram. No outro dia, fingiam que jogavam damas, na praça, para não despertar suspeitas. Ninguém falava. Ninguém se olhava. Os jornais mancheteavam:

Drogaria arrombada, mas intacta

Pompílio, em casa, arrasado, de duas em duas horas tomava uma colherinha de Memoriol, que o namorado de uma neta sua – empregado de farmácia – lhe “receitara”, a pedido seu.

Imagens da web (2-5) e Corredor Arte (1)

2 comentários:

Alexandre Silva disse...

Muito legal o conto! :D
Como seria se ele tomasse um generico, estilo Ah-Zul? - http://www.grupemef.com.br/noticias_completa.php?not_id=346 - :D

Abs,

Anônimo disse...

podem mandar algumas amostras
para morada
rua nova do pomar nº10
funchal 9060-244
obrigadas