segunda-feira, 19 de julho de 2010

Descuidos com a arte, desde 2005

O artista plástico Alexandre Lettnin, comentando uma denúncia sobre o descaso à cultura (leia a nota no Amigos de Pelotas), escreveu um desabafo, que transcrevo a seguir (com uma frase minha entre colchetes). Aquela nota teve uma repercussão (leia).

A expressão "contra-a-cultura" é uma ironia ao projeto de financiamento, de autoria da gestão do prefeito Fetter Jr. O Procultura foi criado, como disse Henrique Pires em maio passado, como uma conta no banco, aberta mas sem fundos. Recentemente, uma emenda do deputado Marroni obteve 100 mil reais para financiar projetos no município de Pelotas.

Aos 39 anos, o pelotense Alexandre Lettnin, formado em Artes na UFPel, onde já foi professor, tem experiência em ateliês de cidades brasileiras e europeias (veja seus blogues Lettnin e Alex Ilustra).

Um governo contra-a-cultura

Eu gostaria de registrar, com pesar, o descaso com que a prefeitura municipal trata os artistas visuais pelotenses nestes seis anos de governo.

Galeria extinta A primeira grande humilhação sofrida pela categoria foi o fechamento da sala Sete ao Cubo [2003-2005, na Quinze de Novembro 560; veja vídeo abaixo] descumprindo o devido edital, o que revoltou não somente a mim, mas todo o grupo de artistas selecionados: amargamos a devolução dos portfólios sem nenhuma explicação plausível, sendo que a secretária de cultura jamais tivera a delicadeza de providenciar uma sala com intuito de cumprir o edital (um total desrespeito)!

Sala semifechada Na época, a cidade, após passar mais de 12 meses sem espaços de arte, viu surgir uma precária sala no Grande Hotel, repleta de pilares, portas e janelas: qualquer indivíduo que entenda um mínimo sobre arte contemporânea sabe que isso interfere demais no trabalho exposto (como expor arte em um prédio tombado, onde não se pode pôr um prego na parede nem conceber obras com materiais perecíveis?). É claro que os primeiros artistas a expor nesta sala eram todos amigos de integrantes da Secretaria da Cultura, pois o novo edital sairia somente quase um ano depois de a sala estar aberta ao público (corrigindo: quase aberta, pois, por vezes, era necessário bater na porta e esperar alguém abrir, para finalmente fazer a visitação).

Espaço sem edital No hall do Grande Hotel foram dispostas paredes de madeira preta que serviram, durante alguns anos, a exposições itinerantes vindas de Porto Alegre, através de uma parceria com o MARGS. Ou seja, o melhor espaço era proibido aos artistas da casa. Antes de este espaço ser extinto, foi feita uma parceria com o IAD e alunos formandos expuseram.

Desavenças Observando a nebulosa ocasião em que a secretária da cultura e sua equipe (SECULT) abandonaram seus cargos após desavenças, se tem ideia de o quanto este governo está em dissonância com o tema da arte. O atual secretário parece que pouco sabe sobre a arte contemporânea. Logo, tudo continua de mal a pior: novas salas foram adaptadas em prédios tombados, onde é impossível expor com liberdade a arte atual! (...) Será que em alguma época desta cidade a Secretaria da Cultura tinha sido tão invisível e sem criatividade? Cabe pesquisar.

O cidadão atento que presenciou o intenso fomento cultural da década de 80, as boas iniciativas da década de 90 e o esforço dos governos anteriores, em prol da arte nesta cidade, assiste a tudo triste e desiludido.

Alex Lettnin, artista

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