segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Professor Plínio Graef faleceu sábado (13)

Morreu na tarde deste sábado (13), em Pelotas, o professor Plínio Graeff. O educador dedicou boa parte da vida ao trabalho em duas instituições tradicionais em Pelotas, os colégios São José e Gonzaga. O professor deixa a esposa, Maria Luiza, e duas filhas, Cristiane e Alessandra (leia a notícia).

Esta foi a primeira informação sobre o falecimento do professor de Matemática e treinador de basquete, ocorrido sábado; o enterro foi ontem, domingo (14). A notícia foi dada brevemente pelo Diário Popular na internet, e saiu na edição impressa de segunda-feira (15). Nenhum outro veículo (nem impresso nem virtual) mencionou o fato.

Hoje (15), a seção esportiva "Bola pra frente" comentou a morte de Plínio, o Irmão Agostinho, ex-religioso lassalista. O colunista Sérgio Cabral menciona a atuação dele no antigo Colégio Gonzaga, reconhecendo sua firmeza e rigidez. "Difícil tirar um sorriso do professor Plínio Graeff, mas quando ocorria este momento, era de vibração e de muita felicidade para os seus alunos e para os seus pupilos", diz o jornalista sem papas na língua. Ainda segundo esta nota, "Plínio esteve doente por muitos anos e em certo momento conseguiu driblar as dificuldades do câncer" (leia).

Em função do centenário do São José, o Diário Popular está publicando uma série de cadernos sobre a história do colégio, com textos de Camila Almeida. No número 6 (dezembro de 2009), um artigo foi dedicado ao ex-professor e ex-diretor (esq.), na época com 77 anos.

O texto menciona detalhes biográficos, como sua origem do município gaúcho de São José do Inhacorá (veja histórico). O filho de agricultores foi estudar num seminário católico em Canoas, formou-se em Pedagogia em Pelotas, na Faculdade Católica de Filosofia, antecessora da UCPel. Habilitou-se para lecionar Filosofia e História, mas sempre preferiu a matemática e o esporte. Na década de 1970 conheceu a colega Maria Luíza na Escola Fernando Treptow, foi trabalhar no São José, onde ela também dava aulas, e nessa época oficializaram a união. Plínio introduziu o basquete no tradicional colégio de meninas, que até então jogavam somente vôlei. Fez construir o ginásio e participou em outras inovações, como a Olimpíada das Cores.

A breve reportagem do Caderno não menciona a anterior vida religiosa de Plínio, o Irmão Agostinho, nem sua atuação no Gonzaga, a tradicional escola católica de Pelotas, em versão masculina. O também centenário Ginásio Gonzaga (GG - Galinha Gorda) rivalizava com o Ginásio Pelotense (GP - Gato Pelado), criado pela maçonaria para formar jovens liberais e livre-pensadores. Mas com o São José havia uma distante consonância, quase um amor platônico, que Plínio encarnou e realizou, deixando os votos religiosos e entrando na vida matrimonial.

Quem viveu no ambiente lassalista conheceu aquela autoridade absoluta que atemorizava os meninos e os fazia envergonhar-se por infrequências, travessuras ou desleixos no estudo, na vestimenta ou na pontualidade. A bondade e o intelectualismo dos padres jesuítas, que deixaram o Gonzaga na década de 1920, tiveram no Irmão Agostinho uma imagem contraposta, quase mitológica, comparável à de personagens literários.

No entanto, o amor bem vivido suavizou aquele estilo áspero e destemperada, e transformou o durão em patriarca admirável, o que não é uma pequena aprendizagem nem pouco ensinar aos discípulos e discípulas que o sobrevivem. Nos faz lembrar a sábia letra Volver a los Diecisiete, de Violeta Parra (abaixo), segundo a qual é o carinho sentido na alma que nos dá estabilidade, criatividade, bondade e liberdade. Uma lição teórica da poetisa chilena e uma bela aula de vida do professor gaúcho.

5 comentários:

Anônimo disse...

Perfeita a definição da personalidade que nos deixa. Numa época em que ética, correção pessoal, responsabilidade, e comprometimento com a comunidade escolar eram ensinadas aos jovens, prof. Plínio cumpriu com maestria seu papel. Certamente, os hoje maduros ex-alunos, se dão conta da importância no impor limites à exuberância infantil e juvenil. A sociedade moderna está pagando o alto preço de ter deixado de lado esses valores.
O prof. Plínio não será esquecido. Permanecerá em seus atos de educador, que refletem, em suma, seu respeito pelo ser humano e suas potencialidades.
Educar é formar, é orientar, é apontar caminhos.
Prof.ª Loiva Hartmann

Francisco Antônio Vidal disse...

Aos oito ou dez anos de idade, eu não percebia amor nem respeito na rigidez da disciplina germânica. Sentia mais o medo, que me imobilizava. Talvez alguns colegas precisaram de uma autoridade assim para não desviar-se; no meu caso eu já trazia o superego incorporado.
Mas é inegável que a chegada da figura feminina pacificou a dureza do professor. Somente então é que apareceu a capacidade de ensinar, de aprender e de viver.

Francisco Antônio Vidal disse...

Airton Moraes também fez uma descrição da pessoa e do professor Plínio.
colunadoairton.blogspot.com/2010_11_21_archive.html

盛豐 disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

Uma vez ele me pegou atirando aviaozinho de papel e me fez fazer um trabalho de 10 páginas sobre o Santos Dumont. Quando eu entreguei na segunda feira eu percebi na hora pela expressão dele de risadinha de safado que ele nem lembrava mais. Todo mundo respeitava... Tu falava "la vem o Plínio" e saia todo mundo correndo