sexta-feira, 30 de julho de 2010

Passarinhos na festa aquática

Nos dias quentes que tivemos em junho, os pardais puderam fazer festa no pequeno lago da Praça Osório, mesmo lugar em que, no verão passado, havia peixes morrendo, devido à sujeira.
Após denúncias feitas pela mídia, foi retirada a água, para uma limpeza do espaço. No entanto, o lago segue sujo, com lixo na superfície e água turva. Foram trazidos alguns peixes, e os pássaros poderiam até dizer que o banho está gostoso, mas quem respira ali dentro é que sabe da pureza da água.
Nós, humanos, até gostaríamos de brincar como os passarinhos, e na infância conseguimos infringir algumas proibições. As praças excitam e evocam essas liberdades naturais, mas esta somente permite que observemos a festa dos pássaros. O lago foi concebido com sentido educativo, para aprendermos a conviver com a natureza, mas hoje só podemos invejar os pardais e ficar tomando banho de sol. O que precisamos é que nos ensinem a conviver entre humanos.
Foto de F. A. Vidal

Conchas na areia - em busca da mãe boa

SEIO BOM – SEIO MAU foi o título escolhido por Eduardo Devens para uma série de fotografias de conchas e caramujos, tomadas na praia do Cassino nos últimos dois anos.

O nome se inspira em dupla vertente: o simbolismo feminino das conchas e do mar, e os textos psicanalíticos de Melanie Klein sobre as vivências de amor e ódio nos primeiros anos de vida. Eduardo é médico epidemiologista, com especialização em psicoterapia psicanalítica, e fotógrafo amador.

As 22 obras foram apresentadas por primeira vez no anfiteatro da Sociedade Sigmund Freud, onde ficaram de 9 de junho a 14 de julho, e têm convite para serem expostas em Curitiba.

Devens (pronúncia francesa: devã) batizou as imagens com especial carinho, ingrediente principal de sua criatividade e de seu trabalho terapêutico. Elas se chamam como mulheres (Mirela, Gisele, Luiza, Julia, Monique) ou têm descrições sugestivas (Menina, Avó, Branca, Negra, Cabocla, Índia, Gordinha, Envergonhada). Outros nomes passam pela visão do profissional (Mastectomia, Câncer, Silicone). Daí que ouso dizer que Eduardo é também um médico "amador", pois ama o que faz e ama as pessoas que trata, como um artista ama sua obra.

Ivana Nicola Lopes, Doutora em História da Arte, escreveu a seguinte análise deste trabalho de Eduardo Devens.

"As fotografias de Eduardo Devens são impregnadas de realidade e fantasia. Formas sonoras, pois em seu ventre trazem o som do mar, elas nos provocam... O que dizem? Qual o seu som? Formas sensuais, arredondadas, pontiagudas, em relevo, todas em seu habitat: o mar azul, o céu límpido, a areia molhada.

(...) Desde os primórdios de nossa civilização, em tempos atávicos, as deusas e suas imagens servem para pedir que tanto a terra e o mar dêem seus frutos quanto o próprio ventre da mulher permita o milagre da vida. A mulher dá ao mundo uma criança que precisa de alimento e ela própria o fornece. A terra juntamente com o mar e a areia criam as conchas que nascidas, lembram os seios femininos, com seus mamilos inchados para oferecê-los em um gesto de amor. É o seio-concha bom.

Algumas fotografias de Eduardo Devens com as conchas recortando o céu delicadamente azul, parecem mamilos pétreos apontando para o infinito. Mamilos duros e inchados, prontos para receber aquele que saiu de suas entranhas. Amor e dor se mesclam neste gesto. Será uma dor de concha?...

A forma concha também pode fazer alusão à posição fetal, enroscada em si, arredondada.

Outras imagens nos mostram conchas em estado de erosão, em ruínas, devido às intempéries naturais. O ar, o sal, a vida mesmo, as transformaram. Com estas mesmas imagens, o fotógrafo as intitula de mastectomizada. É a concha-dor. Pedaços que não voltam. Esta é, sem dúvida, o seio mau.

Ainda há o seio-concha envelhecido e desgastado pela ação do tempo e da gravidade. E aqui reside, além do tema conchas associado aos seios, um outro aspecto muito importante na obra de Eduardo e que subjaz com a mesma intensidade: o fator tempo. Caetano Veloso já o homenageava dizendo que ele é o senhor de todos os destinos. Não há como escapar da ação do tempo que a tudo e a todos afeta. O tempo nos aniquila, mas também enobrece, o tempo é o senhor dos destinos"...
Imagens: E. Devens

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Sete Imagens abriu 2010 com dois curtas

Esta tarde, a primeira sessão de 2010 do projeto Sete Imagens apresentou dois curtas-metragens: "E se um pedaço de carne voasse pela janela", de Eduardo Resing, e "Só", de Eleonora Loner Coutinho, ambos alunos do curso de cinema da UFPel. Este ano, foram selecionados oito filmes produzidos em Pelotas, que serão projetados e debatidos na última quinta de cada mês, de julho a novembro.
O primeiro curta - o de nome longo - conta o que acontece quando um jovem atira pela janela do seu apartamento um pedaço de carne, numa cidade em que há muitos cachorros sem dono. O relato apresenta os três personagens homens, as ações de cada um, e os três desfechos pessoais. O primeiro joga a carne, com a boa intenção de alimentar um cachorro que passa; o segundo é o dono, que mora no mesmo edifício, e o terceiro é quem mora na casa defronte, um neurótico obsessivo que se irrita com a desordem feita pelo animal nos sacos de lixo. Em somente 8 minutos, o diretor apresenta, com recursos simples, o inesperado conflito e sua tripla resolução. A história desnuda erros, angústias e carências dos humanos, deixando em segundo plano o tema do maltrato animal.
O curta de nome curto se baseia num livro virtual escrito em 2008 por Alércio Pereira Júnior em seu blogue Um Eu Pensante. O Amigos de Pelotas divulgou o texto em 2009 (leia a nota). Por convite de Eleonora, Alércio escreveu também o roteiro de "Só".
Trata-se de um solitário depressivo, que sente a proximidade da morte e mediante o sexo tem a vida por um fio. O final não é explícito mas já estava sugerido no relato, que deixa o espectador pensando desde o início ao repentino fim. Boas imagens no Valverde (dir.), com alguns problemas técnicos (áudio e nitidez visual).
Os colegas de turma Eduardo e Leonora já haviam produzido juntos a websérie satírica "O Recheio Varia" (esq.), publicitada em 2009 como uma novela de internet em 4 episódios. Veja estes filmes de Eleonora no seu blogue-portfólio.
Foto de divulgação (DP)

terça-feira, 27 de julho de 2010

CAPS Escola ameniza o sofrimento psíquico e social

Esta terça-feira (20), o CAPS Escola da UCPel celebrou seu nono aniversário e o Dia do Amigo, em festa que reuniu profissionais, usuários e familiares dos sete centros da cidade.

A decoração verde-amarela ressaltou como tema a defesa da brasilidade, segundo informou o sítio da UCPel. A sede ficou pequena para a quantidade de pessoas que chegou. “Em meio a tanta gente não se identifica quem é usuário ou familiar. E essa é a proposta da festa: a inclusão social”, salientou a assistente social Márcia Rodrigues.
A principal atração foi o desfile de criações em vestuário das usuárias do CAPS Escola. A Oficina de Moda tem fins terapêuticos e é orientada por Márcia Belani, aluna do curso de Tecnologia em Design de Moda. A própria Márcia (dir.) participou no desfile modelando uma das criações.

A festa foi animada pelo grupo Feliz Arte, da Oficina de Música, outra técnica de apoio emocional. Um usuário declarou:
Chegamos com muitos problemas pessoais e de família, e a música nos ajuda a voltar para a realidade. Hoje faço música, feira do artesanato aos domingos e apresento programa de rádio. A gente consegue se encontrar; essa é a nova vida que aprendemos a ter aqui.
O aniversário também serviu para fechar o primeiro semestre. Lilian Rodrigues despedia-se do CAPS, após um ano e meio como psicóloga estagiária. Ela explica que, além da teoria, ali se trabalha uma nova proposta para a saúde mental:
Aprendemos a tratar um transtorno desde uma visão conjunta do ser humano. O interessante foi ver a evolução e a inserção de muitos na sociedade e no mercado de trabalho, que passaram a não depender mais do CAPS.
Uma das propostas dos Centros de Atenção Psicossocial é conscientizar a população para que as pessoas com transtornos mentais sejam mais acolhidas, cuidadas e tratadas como sujeitos com direito de estar em convívio social, recebendo apoio especial para sua reinserção na sociedade (leia descrição do projeto).
Com fim terapêutico, os CAPS realizam, além de tratamento psicológico individual e grupal, oficinas de pintura, artesanato, moda, música, programa de rádio, entre outras.
A UCPel já possuía um centro de atendimento clínico, ainda em funcionamento (leia descrição), e abriu o CAPS Escola em 2001, iniciando uma parceria com a Secretaria Municipal de Saúde, que hoje mantém alguns centros nos bairros. Os governos posteriores não deram tanto apoio a este projeto, que faz parte do processo antimanicomial mundial, destinado a extinguir a hospitalização de doentes mentais.
A coordenadora Valéria Nogueira diz que o CAPS Escola tem ampliado seus serviços.
Além do compromisso dos profissionais com o fortalecimento do modelo de reabilitação psicossocial, essa ampliação deve-se também, à parceria entre a Prefeitura e a UCPel, que possibilita subsídio e a troca de conhecimento, que é mola propulsora de muita produção.
Os CAPS contribuem à saúde mental da sociedade mediante seu trabalho de desfazer preconceitos contra a loucura e de utilizar as próprias forças coletivas do afeto e da sociabilidade. Isso não anula os transtornos mentais (neuroses e psicoses) nem as patologias sociais (como o delito, a mendicidade e a drogadição), mas ameniza seu impacto e reabilita as pessoas mais suscetíveis à ajuda.
Fotos: Wilson Lima (UCPel)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Poética do vazio na Praça Osório

Sob o título "Fotografando ausências", o estudante Vinícius Kusma expôs uma dezena de imagens sugerindo vazios espaciais ou subjetivos (leia nota).

Uma dessas fotos mostrava a roda de brinquedo, na Praça Coronel Pedro Osório, sem criança alguma ao redor.

Em si mesma, a roda solitária faz pensar em nosso passado ou em nossas crianças de hoje. Onde brincamos, na infância? Ficamos com vontade de brincar mais? Deixamos as crianças brincar? Por que esta fotografia teria sido colocada logo ali, dentro da Prefeitura Municipal?

O fotógrafo deve ter visto a roda ainda em funcionamento, em 2009, ou já estragada. Não é incomum os brinquedos públicos ficarem deteriorados, pois não são usados somente por crianças pequenas, mas também por adolescentes e até por adultos. Parece legítimo recuperar a criança interna, mas é preciso achar formas adequadas ao corpo adulto.

No verão passado, esta roda foi retirada da praça, para conserto, e ainda não voltou. A Prefeitura deve ter outras compreensíveis prioridades.

As crianças não entendem o porquê da demora. Quando passam correndo, ocupam o lugar que a roda deixou, até mesmo correndo risco de se ferirem. Os adultos falam de uma roda que existiu ali, um dia.

No inverno, o espaço foi preenchido pela chuva. Ficou a ausência daquela ausência.

Voltará a roda a girar? Será uma roda que só funciona no verão? Para onde vão as rodas que não giram mais? Para onde vai nossa alegria da infância?
Fotos de F. A. Vidal

sábado, 24 de julho de 2010

A cidade coisificada no espelho

Victor autografa participação no livro
"Blog Amigos de Pelotas" (7-11-09)
Em 19 de outubro de 2009, aniversário de Glória Menezes, Victor Schroeder (esq.) escreveu no Amigos de Pelotas o artigo abaixo (leia o post completo; grifos meus). 

O jovem geógrafo sugere que o pelotense vê sua cidade... sem enxergar-se a si mesmo dentro dela. Uma crítica certeira e até dolorosa, que os leitores não pareceram entender na essência.

Fica a ideia positiva: uma cidade são as pessoas que a habitam, suas vivências e suas criações. Os prédios ficam iguais; nós é que fazemos a história, com nossas mudanças. Se Glória cresceu e brilhou fora, então não é parte de Pelotas. O melhor de uma cidade somos nós, alegres ou tristes, repetidores ou artistas, modernizadores ou saudosistas.

A história da cidade como fetiche
Glória Menezes visita Charqueada São João
Enfim, Glória Menezes voltou à cidade de sua infância. Ou não. A sua tristeza em ver que as casas continuam lá, mas o encanto e a simbologia se foram. Uma boa lição para quem pensa que reformar prédios é trazer de volta toda a glória (com ou sem trocadilhos, à vontade) para Pelotas.

É preciso ter em mente que muito do que se vende como “preservação da história, das tradições” não é mais do que um produto. Pelo simples fato de que a história é humana, feita de momentos, sentimentos; mesmo os prédios possuem uma alma dada por aqueles que o habitam.

Os casarões antigos nunca simbolizarão o que fomos, pois quem foi na verdade foram aqueles que viveram naquela época. São preservados – e precisam ser – como memória importante, embora incompleta, do passado, de um momento somente possível naquele instante. [...]

É de impressionar a “descoberta arqueológica” feita no Mercado Público, do início do século XX [ladrilhos hidráulicos da reforma anterior]. Não são os originais, já que o primeiro Mercado Público, lá do século XIX, foi destruído.

Se o amigo leitor foi aluno do Colégio Gonzaga, como eu, olhe bem para os ladrilhos e faça força. Sim, aqueles ladrilhos com desenhos de cubos, fazendo uma espécie de ilusão ótica, são os mesmos que eu e você ficávamos olhando durante as aulas de Religião. E eles continuam lá no Gonzaga.

Glória Menezes também é do início do século XX. Daqui a pouco será tombada também.

Soprano Luísa Kurtz e sua mãe, Sílvia
Faríamos melhor em Pelotas se, para além das homenagens com nomes de sala, formássemos novos atores. Se, para além dos tombamentos, construíssemos novas praças, novas escolas, dando a elas nomes de visionários de hoje – novos Pedro Osório, novos Joaquim Oliveira. Se, para além de tentar recuperar velhos dias de glória, buscássemos a qualidade de vida agora.

Sorrisos de criança,
amores de namorados,
cheiro de café fresco,
tarde ensolarada com um mate:
o que realmente faz Pelotas, não se tomba.

Victor Schroeder

Extratos de comentários ao post

Leitor 1 Desde que cheguei a Pelotas procuro entender por que o jovem tem horror às homenagens. Gasta-se muita energia homenageando o velho; por que o pelotense não tem condições de escolher seu futuro e dizer para os que lhe sugam as energias: "não mais"!!

Leitor 2 O progresso não passa nem pela negação autofágica do passado nem pela sua mitificação. Mas também não passa pela glorificação messiânica do futuro. Mas de novo o patrimônio histórico sempre será eleito como bode expiatório. De fato, as casas têm alma e para muitos a fúria iconoclasta se justifica porque já não se pode voltar ao passado e punir os charqueadores (pelo jeito os eternos vilões). Vamos deixar ruir a cidade e as casas "assombradas" por estas almas penadas de nossa história vergonhosa, a fim de exorcizar seus fantasmas e assim, livres, caminharemos rumo ao futuro nos braços do progresso.

Leitor 3 Victor: Concordo plenamente contigo quando falas sobre valorizar o presente e tentar fazer AGORA o futuro, mas não culpe a preservação da história por isso. Sorte a nossa que pelo menos o passado é valorizado, há bem pouco tempo nem ele era.

Victor Obviamente não sou contra a preservação do patrimônio. A mensagem é que ações podem ser melhores homenagens aos pelotenses do passado do que APENAS preservar casarões.

Fotos: F. A. Vidal (1; 4), Nauro Jr. (2), Cadernos do Cetres (3)

Medusas no entardecer

A artista plástica Norma Alves tomou estas fotos no Laranjal, há duas semanas, com a luz enviesada do entardecer. Como as medusas — aqui mais conhecidas como mães-d'água — são de ambiente marinho, elas somente chegam a nossa praia, distante uns quarenta km do Oceano Atlântico, quando as correntes salgadas e o vento avançam pela Lagoa dos Patos.

Água, areia, oceano, medusa, mãe-d'água são elementos ligados à simbologia feminina. Outros nomes populares das medusas no Brasil são: água-viva, chora-vinagre, mãe-joana, urtiga-do-mar, vinagreira.

Enquanto as lulas, moluscos inofensivos e apetecíveis, têm certa consistência e se defendem mudando de cor, as mães-d'água são gelatinosas e se deixam levar pelas correntes. Suas defesas são a transparência, que as faz parecer invisíveis, e as células urticantes, que causam irritação e queimaduras.

Meu pedaço de universo é aqui

A letra de Taiguara (1945-1996) Universo no teu corpo, de 1970, parece dedicada ao amor de uma pessoa, em contraposição ao desamor de uma sociedade. Quem acha um amor estável, recupera a esperança que o mundo não pode dar.

Mas também pode aplicar-se a qualquer amor, inclusive ao da terra natal. Para quem gosta dela, esse é seu melhor pedaço de universo. Ouça aqui a inesquecível versão original com voz e orquestra, remasterizada.

Eu desisto: não existe essa manhã que eu perseguia,
Um lugar que me dê trégua ou me sorria,
Uma gente que não viva só pra si.
Só encontro gente amarga mergulhada no passado
Procurando repartir seu mundo errado
Nessa vida sem amor que eu aprendi.

Por uns velhos vãos motivos,
Somos cegos e cativos
No deserto do universo sem amor.
E é por isso que eu preciso
De você como eu preciso;
Não me deixe um só minuto sem amor.

Vem comigo:
Meu pedaço de universo é no teu corpo.
Eu te abraço, corpo imerso no teu corpo,
E em teus braços se unem versos à canção
Em que eu digo
Que estou morto pra esse triste mundo antigo,
Que meu porto, meu destino, meu abrigo
São teu corpo - amante, amigo - em minhas mãos.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Primeiras pinturas de Henrique Amaral


Henrique Almeida Amaral é um pintor autodidata que, desde esta segunda (26) e até 13 de agosto, apresenta sua primeira exposição, “Da Forma à Forma”, na Galeria de Arte da UCPel. Ele começou desenhando segundo padrões formais, tomou as tintas em 2003, e desde então seus traços se libertaram das correções e retidões – segundo ele, ligadas à influência paterna.

Nesta nova fase, cores e formas sem lógica não parecem deixar uma mensagem clara, num ar de ingenuidade psicodélica, talvez misturando surrealismo com impressionismo. Sua mão é fisicamente muito firme, treinada com instrumentos duros e formalistas como o lápis, mas seus conteúdos são voláteis e desconectados como os sonhos, convidando o espectador não a pensar, mas a voar, fugir, enlouquecer, imaginar o impossível.

Diz Henrique criar suas obras a partir de uma visão crítica da sociedade, "procurando transpor angústias e reflexões frente ao cotidiano, transformando-as em um reflexo da complexa forma de vida que levamos”. Ele espera instigar o público da Galeria, segundo disse à reportagem da UCPel.

A Galeria de Arte fica no saguão do Campus I e está aberta nos horários da Universidade: de segunda a sexta das 8h às 22h, e sábados até 13h.
Fotos: Wilson Lima (UCPel)

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Fotografando e sentindo ausências

Vinícius Silveira Kusma, estudante da UFPel, expôs uma dezena de fotos em preto e branco na Sala Frederico Trebbi, entre maio e junho deste ano.

“Fotografando ausências: uma poética do vazio” era o título de sua proposta, que parecia mostrar, basicamente, imagens de lugares vazios ou com ausências evidentes, como uma praça sem pessoas ou uma bicicleta abandonada. No entanto, seu objetivo foi mais poético e filosófico: pensar e fazer pensar, mediante as imagens.

Segundo ele, a ausência não é um simples componente visual, mas uma condição existencial, um ponto de vista humano - seja individual ou coletivo - ou até mesmo uma escolha pessoal.

Para ele, as ausências atuam de modo transformador, pela subjetividade, sobre os sentimentos e as realidades do ser e do estar. Fotografar ausências, que é a essência de seu projeto, busca que os espectadores possam pensar e perceber o caos de possíveis vazios na vida, a maioria deles inconscientes.

De acordo ao portal de notícias da UFPel, Vinícius cursou as disciplinas de Fotografia e de Projeto Fotográfico do IAD e está no quarto semestre do curso de graduação em História.

Vendo a nave central do saguão, não pude deixar de relacionar a mensagem do artista com o contexto da mostra. O espaço continha um grande vazio no meio, e a falta de pessoas sugeria que as ausências estivessem ali mesmo, na assim chamada casa do povo. Um grupo de visitantes, em vez de passar pela nave central, já vazia, circundou a exposição e se dirigia à escada (esq.).

Por outro lado, a imagem da bicicleta (acima) lembra o trabalhador no chão, e a casa do salva-vidas, o posto alto de um político. Estas associações confirmam a intenção do artista, de chamar a atenção sobre a força subjetiva e a mobilidade das ausências.

Hoje, esta exposição não mais ocupa a Sala Frederico Trebbi, mas parece ser uma presença na memória de quem lá esteve.
Imagens de F. A. Vidal

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Grupo de câmara de Rio Branco, Acre

Esta noite apresentou-se, por primeira vez em Pelotas, a CamerAcre Uirapuru, agrupação de música de câmara formada por alunos e professores da Universidade Federal do Acre (UFAC). O grupo nasceu em 2009, da mão do professor Marcelo Brum, pianista graduado no Conservatório de Música da UFPel.

Após concluir um mestrado no Rio de Janeiro, Marcelo foi trabalhar em Rio Branco e, por convite de uma universidade peruana, montou uma orquestra de câmara, com os músicos que encontrou na Universidade.

Como o curso de Licenciatura em Música era muito novo (nasceu em 2007), ainda não tinha alunos formados, e muitos músicos eram autodidatas e não contavam com professores para seus instrumentos (atualmente, a UFAC somente tem aulas formais de piano e de violão). Assim, a camerata ficou de início com um violonista, um flautista, um violoncelista, um percussionista, cantores e pianista. E o que começou de improviso hoje é um projeto que segue ampliando-se em alcance, exigência e qualidade (leia descrição da turnê).

O jornal rio-grandino Agora registra hoje a apresentação feita ontem (20) na Escola de Belas Artes (leia artigo), onde o grupo deu a partida de sua turnê pelo sul do Brasil. O próximo espetáculo em Pelotas será neste sábado (24) no I.A.D.

Eles viajaram mais de 4 mil km para chegar aqui (não 40 mil, como saiu no Diário Popular de hoje). O professor Marcelo Brum (esq.) falou sobre este projeto na TV acreana (veja entrevista).

O recital desta fria noite preencheu metade do auditório Milton de Lemos, com um público que ficou impressionado com a dedicação, criatividade e amor dos músicos pelo seu ofício.

Na primeira parte (dir.), quatro integrantes da agrupação (que conformam o Subtilior Ensemble, fundado em 2008) apresentaram música renascentista europeia: um trecho para alaúde e seis canções antigas (séculos XIV-XVII, de Tromboncino, do Cancioneiro de Elvas e do Llibre Vermell), com acompanhamento de percussão histórica.

Na segunda parte, apresentou-se o conjunto completo (a CamerAcre Uirapuru, que se constituiu em 2009). Seu repertório concentra-se em música brasileira erudita (inspirada na Amazônia, especialmente) e popular. Eles mesmos fazem os arranjos, considerando quem são os atuais componentes e suas capacidades: Ciro Quintanna no violão, Máximo Lopes no violoncelo, João Gabriel Brito na percussão, Douglas Marques (cantor e alaudista, que fundou o Subtilior Ensemble), Marcelo Brum no piano, e as vozes de Luthiene Bittencourt e Afonso Portela. O flautista do grupo não pôde vir na turnê ao sul, e sua parte foi interpretada, nesta ocasião, por Gabriela Roehrs.
Os oito músicos criaram, surpreendendo o público de saída, uma ambientação com cantos de pássaros, mediante percussões, assobios e diversas onomatopeias. A selva sonora serviu de preâmbulo para que Luthiene cantasse sete das Lendas Amazônicas, de Waldemar Henrique (leia artigo sobre as Lendas), sempre com acompanhamento do conjunto.
Seguiu-se o Trenzinho Caipira, de Villa-Lobos, em arranjo de Marcelo Brum para 5 instrumentistas e trio vocal. O programa foi completado com três canções populares, arranjados para a mesma formação: Vira Virou, Conversa de Botequim e Pinga com Limão. A plateia aplaudiu com emoção, devolvendo aos músicos o entusiasmo demonstrado por eles.
Fotos: Talita Oliveira (1) e F. A. Vidal (3-4)
Vídeo: Pinga com Limão (Coral da U. F. de Viçosa, MG)

terça-feira, 20 de julho de 2010

Campello, um talento expandido

Campello homenageou a bela princesa da Fenakiwi, de Farroupilha (RS)
Volnei Francisco Campello Rodrigues é um desenhista que vive de sua arte, daqueles autodidatas cujo talento sai por vários poros. Especializado em retratos e caricaturas, também faz painéis e telas em diversas técnicas, em geral sob encomenda e sempre com rapidez.

Einstein, por Campello
Um retrato sem cores, por exemplo, pode sair em 15 minutos; uma caricatura, em 5. Os personagens podem ser cidadãos comuns, uma princesa da Fenakiwi (abaixo) ou celebridades como Einstein (esq.) ou Jesus Cristo com os Apóstolos (última imagem).

Campello cresceu no bairro Nossa Senhora de Fátima, saiu de Pelotas aos quinze anos, rodou por diversos países e hoje, aos 54 anos, está radicado em Porto Alegre.

Em busca do passado e da cidade natal, chegou por acaso a este blogue e comentou a nota sobre Os Velascos (leia), grupo musical que ele conheceu em suas origens, nos anos 60.

Autocaricatura de Campello
Seu talento plástico foi descoberto já aos seis anos de idade, no grupo escolar Carlos André Laquintinie, como ele mesmo me contou num email:
  • Foi justo em Pelotas que comecei a acreditar que tinha talento. Em minha primeira aula de artes com dona Maria, lembro que desenhei a figura de um índio de perfil e o mesmo foi muito elogiado. Fui pego pela mão por dona Maria e junto com o desenho fui levado de sala em sala e sendo anunciado como um aluno supertalentoso.
    A partir daí os pedidos de trabalhos nunca mais pararam, pelos colegas e pelas professoras. Trabalhos no quadro-negro e desenhos para mimeógrafo eram muito solicitados.
Suas palavras inspiram uma reflexão sobre nós mesmos. Os caminhos do reconhecimento nos levam, às vezes, a girar por cidades e países, como se buscássemos o que o lugar natal não nos dá. Outras vezes, seguimos ligados às raízes geográficas e podemos crescer com a mesma seiva que nos alimentou na origem. Qual o melhor caminho?

Painel de Campello para a Pousada Brisa, em Gramado
Caricatura para um convite de casamento

A resposta está dentro da pessoa:

— se temos asas no coração, produzimos muito mais na conexão segura com o cordão umbilical, na rede de apoio mais conhecida, que pode ampliar-se como uma copa de árvore;

— se temos asas nos pés, preferimos respirar ares diferentes, evitando a asfixia e a fixação, para não ficarmos como "as pedras que choram sozinhas no mesmo lugar" (medrosas, segundo Raul Seixas).

Francisco Campello parece que tem asas no coração e nos pés.

Os do primeiro grupo se alimentam da chuva; os outros a ignoram, em busca de sóis e ventos. Todos têm talentos, mas as suas vocações se separam. A cidade natal, onde chove muito e há muitas pedras, sairia ganhando se uns e outros se conectassem e se unissem.
Imagens do orkut


A Última Ceia, do ângulo especial de Francisco Campello

Fotos de Chico Madrid


Frio máximo de inverno (acima) e aventura máxima de verão (dir.), nas fotos de Frederico Francisco, o Chico Madrid. Ele faria 29 anos hoje (Dia do Amigo). Estas imagens foram expostas pelo portal do Diário Popular (veja galeria).

Fred faleceu por uma complicação de saúde, em julho de 2009. Deixou fotos e textos no blogue Farofino.

Seu último trabalho foram registros na Patagônia argentina, no verão passado. A série "Viagem ao fim do mundo" estará em exposição de 21 de julho a 18 de agosto, na sala que levará seu nome artístico, na Sociedade Sigmund Freud (leia nota).

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Descuidos com a arte, desde 2005

O artista plástico Alexandre Lettnin, comentando uma denúncia sobre o descaso à cultura (leia a nota no Amigos de Pelotas), escreveu um desabafo, que transcrevo a seguir (com uma frase minha entre colchetes). Aquela nota teve uma repercussão (leia).

A expressão "contra-a-cultura" é uma ironia ao projeto de financiamento, de autoria da gestão do prefeito Fetter Jr. O Procultura foi criado, como disse Henrique Pires em maio passado, como uma conta no banco, aberta mas sem fundos. Recentemente, uma emenda do deputado Marroni obteve 100 mil reais para financiar projetos no município de Pelotas.

Aos 39 anos, o pelotense Alexandre Lettnin, formado em Artes na UFPel, onde já foi professor, tem experiência em ateliês de cidades brasileiras e europeias (veja seus blogues Lettnin e Alex Ilustra).

Um governo contra-a-cultura

Eu gostaria de registrar, com pesar, o descaso com que a prefeitura municipal trata os artistas visuais pelotenses nestes seis anos de governo.

Galeria extinta A primeira grande humilhação sofrida pela categoria foi o fechamento da sala Sete ao Cubo [2003-2005, na Quinze de Novembro 560; veja vídeo abaixo] descumprindo o devido edital, o que revoltou não somente a mim, mas todo o grupo de artistas selecionados: amargamos a devolução dos portfólios sem nenhuma explicação plausível, sendo que a secretária de cultura jamais tivera a delicadeza de providenciar uma sala com intuito de cumprir o edital (um total desrespeito)!

Sala semifechada Na época, a cidade, após passar mais de 12 meses sem espaços de arte, viu surgir uma precária sala no Grande Hotel, repleta de pilares, portas e janelas: qualquer indivíduo que entenda um mínimo sobre arte contemporânea sabe que isso interfere demais no trabalho exposto (como expor arte em um prédio tombado, onde não se pode pôr um prego na parede nem conceber obras com materiais perecíveis?). É claro que os primeiros artistas a expor nesta sala eram todos amigos de integrantes da Secretaria da Cultura, pois o novo edital sairia somente quase um ano depois de a sala estar aberta ao público (corrigindo: quase aberta, pois, por vezes, era necessário bater na porta e esperar alguém abrir, para finalmente fazer a visitação).

Espaço sem edital No hall do Grande Hotel foram dispostas paredes de madeira preta que serviram, durante alguns anos, a exposições itinerantes vindas de Porto Alegre, através de uma parceria com o MARGS. Ou seja, o melhor espaço era proibido aos artistas da casa. Antes de este espaço ser extinto, foi feita uma parceria com o IAD e alunos formandos expuseram.

Desavenças Observando a nebulosa ocasião em que a secretária da cultura e sua equipe (SECULT) abandonaram seus cargos após desavenças, se tem ideia de o quanto este governo está em dissonância com o tema da arte. O atual secretário parece que pouco sabe sobre a arte contemporânea. Logo, tudo continua de mal a pior: novas salas foram adaptadas em prédios tombados, onde é impossível expor com liberdade a arte atual! (...) Será que em alguma época desta cidade a Secretaria da Cultura tinha sido tão invisível e sem criatividade? Cabe pesquisar.

O cidadão atento que presenciou o intenso fomento cultural da década de 80, as boas iniciativas da década de 90 e o esforço dos governos anteriores, em prol da arte nesta cidade, assiste a tudo triste e desiludido.

Alex Lettnin, artista

Pinturas sobre Pelotas, fora do óbvio

O Ateliê Giane Casaretto expõe, durante o mês de julho, diversas obras de alunas e da professora Giane, em torno ao tema da cidade de Pelotas, que comemora mais um aniversário da fundação da Freguesia São Francisco de Paula.

Nesta ocasião, algumas das artistas souberam sair do típico, como Maria Helena Braga, que pintou a Colônia Z3 (acima) e Edy Bezerra, que se inspirou em bares noturnos como o Depósito Gomes Carneiro e imprimiu à pintura uma interessante atmosfera, delirante e apaixonada (dir.), bem longe dos estereótipos que se têm da cidade.
Também podem apreciar-se algumas camisetas da série EstampaHidráulica (veja nota), de Gracia Casaretto Calderón, ao mesmo tempo a mais jovem e a mais avançada aluna do Ateliê.
A exposição pode ser visitada até o dia 30 de julho, na rua Quinze de Novembro 871.
Fotos de F. A. Vidal

domingo, 18 de julho de 2010

Dicas sobre pousadas rurais

Duas alunas do curso de Tecnologia em Gestão do Turismo da UCPel criaram, há uma semana, um meio efetivo de divulgação para as pousadas rurais de Pelotas: uma página na internet (veja o sítio).

A iniciativa pertence a Izair de Vasconcelos Leal e Ana Cristina Berne, e a ideia surgiu na disciplina de Projeto Experimental I, do primeiro semestre do curso de técnico em Turismo, sob orientação da professora Cristina Porciúncula.

De início, a página apresenta o Restaurante Gruppelli e três pousadas: do Monte (dir.), do Moinho e Águas Claras (abaixo).

As estudantes constataram a falta de informação sobre restaurantes e pousadas rurais de Pelotas e a necessidade de promover o turismo neste nicho pouco explorado. Elas visitaram e fotografaram as pousadas, organizaram a informação e executaram o projeto do sítio virtual. Segundo o portal da UCPel, as acadêmicas sentiram a falta de patrocinadores para a iniciativa.

Há poucos anos, existe em Pelotas uma publicação impressa específica do esporte e lazer rural: a Revista Trilhas (ainda não está na internet). Seu diretor dispôs alguns dados sobre pousadas no blogue Fé na Trilha e Pé na Estrada.

Veja, por exemplo, algumas distâncias a partir do Centro de Eventos da Fenadoce:
  • Pousada do Monte - 11,6 km pavimentado + 5 km de terra
  • Sitio e Pousada Águas Claras - 11,6 km pavimentado + 7 km de terra
  • Cachoeira do Paraíso - 11,6 km pavimentado + 18 km de terra
  • Templo das Águas - 31 km pavimentado + 6 km de terra
  • Restaurante Gruppelli - 31 km pavimentada + 12,5 km de terra

Fotos: Pousadas Rurais

sábado, 17 de julho de 2010

Telas pintadas para bordar, de Túlio Oliver

Túlio obtém efeitos de luz e sombra até mesmo no bordado (antiga Igreja da Luz).
O artista plástico pelotense Túlio Oliver apresentou na Galeria de Arte da UCPel a série "Telas de Tapeçaria Pintadas para Bordar", em homenagem às tradições e a locais históricos de Pelotas, recordados em mais um aniversário da cidade (leia notícia).

O artista apresentou telas concluídas, outras a meio andar ou por começar, somente com o desenho sobre o qual seria feito o bordado.
Entrevistado pela reportagem da UCPel, ele contou que seu objetivo com isto era "instigar o público a lançar um olhar sobre a obra e - por que não? - sentir-se impelido a completar o que falta. Vai haver uma série de ideias quando as pessoas olharem essas telas”.
A proposta de trazer telas inacabadas também pode ser vista como um convite aos espectadores - que potencialmente também são artistas e artesãos.

“Pintando e bordando” - como diz Túlio com bom humor - ele destacou belezas nossas como a torre do Grande Hotel, a Fonte das Nereidas (acima à esq.) e medalhões inspirados nas antigas pinturas do Teatro Guarani. Até os pêssegos de Pelotas fizeram parte da temática.
Outras homenagens dignas de exportação: imagens da antiga Igreja da Luz (imagem superior), flores inspiradas nas guirlandas da Catedral, e o padroeiro São Francisco de Paula (dir.), bordado em estilo bizantino, com fios de ouro e prata.
“O bordado é um artesanato relaxante, confortante e alvissareiro. O mundo hoje borda como nunca”, salientou Túlio.
Artista e pesquisador, ele reuniu pontos de bordado pelotenses, ao longo de vinte anos, e criou o "nó gaúcho", que leciona em cursos e oficinas de bordado e tapeçaria. É preciso fazer notar que Túlio imprime delicados efeitos de luz e sombra em todas suas obras, e aqui é impressionante ver como ele os consegue também no bordado (observe-se especialmente a imagem da Igreja da Luz).
Fotos: Wilson Lima (4) e F. A. Vidal (1-3)

POST DATA
Veja comentários sobre outros trabalhos do artista: Amanhecer, pinturas de Túlio Oliver (2009) e Grandes ideias em pequeno formato (2013).

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Explicação das festas juninas

Na última quarta-feira de junho (30), o padre Adelar José Rosa (dir.) falou sobre as origens e significados das festas juninas, ante psicólogos da Sociedade Sigmund Freud, em sua maioria colegas da especialização em terapia psicanalítica.

O estudioso começou explicando que não se trata de festas nascidas no Brasil, mas trazidas pelos portugueses, sendo de origem pagã e milenar. Os europeus comemoravam há muitos séculos o solstício de início do verão no hemisfério norte e a Igreja Católica cristianizou a data, centrando-a em São João Batista, o primo de Jesus, que teria nascido em 24 de junho. Ficou com o apelido de festa joanina, que derivou para "junina", como se fosse pelo mês de junho (veja na Wikipédia).

No Brasil, os santos "juninos" mais recordados são, além de João Batista: Antônio de Pádua (dia 13) e os apóstolos Pedro e Paulo (dia 29). Antônio nasceu em Portugal, fez-se frade agostiniano e se radicou em Pádua, na Itália, passando à ordem franciscana; é conhecido como santo casamenteiro e solucionador de conflitos e coisas perdidas (no entanto, as simpatias para arranjar marido são superstições populares).

O apóstolo Pedro era pescador, discípulo de Jesus (nosso Estado leva seu nome, desde que era a Província de São Pedro). No Rio Grande do Sul, os brigadianos - por policiar a cidade em duplas - ficaram com o apelido popular de "pedripaulo".

A Igreja recorda Pedro e Paulo no mesmo dia, como líderes da evangelização no primeiro século, mas eles não foram martirizados juntos, como poderia supor-se. Nem são os únicos santos do mês; o catolicismo recorda vários (média de oito) em cada dia do ano.

Nas festas juninas brasileiras não há traços paulinos (do santo chamado Paulo), mas elas foram mais fortes no interior do Estado de São Paulo, o que marcou as datas como se fossem somente caipiras.

No Brasil, as crenças e tradições tomaram elementos europeus (como a quadrilha francesa) e se renovaram segundo cada zona. O folclore nordestino foi mais forte que os costumes paulistas, e aqui no sul nossas tradições se mesclaram com elementos caipiras e europeus.

Para não esquecer a psicanálise, o palestrante mencionou o sentido fálico da brincadeira do Pau Ensebado, que nas festas juninas os homens mais ousados trepam, à cata de um prêmio (não citou a função masturbatória masculina, representada nesse ato). Se o mastro fosse um monumento, talvez se pudesse falar de um signo de poder falocêntrico.

O Casamento na Roça é uma encenação em que um par de namorados é forçado a casar-se, por uma gravidez inesperada. Na palestra, tal costume foi relacionado com o sentido pró-familiar do famoso Santo Antônio, que também patrocina o dia dos namorados no Brasil. No entanto, como qualquer católico sabe, a Igreja não valida casamentos por força.

O interesse popular estaria focado, segundo Freud, no ato sexual dos pais, cuja visão é proibida à criança. O riso nervoso se faz prazeroso quando o padre autoriza e o delegado, com rifle na mão, obriga os noivos a assumir, em público, o papel dos pais.

O casamento caipira entre a ex-BBB Gyselle Soares e seu namorado francês (dir.) foi justamente no dia de São Pedro e São Paulo, em junho de 2008, mas parece que na ocasião não houve rifles nem pedripaulos.

Ao longo da reunião aqui comentada, Adelar ilustrou os conceitos com exemplos em imagens e música, obtendo a atenção e a motivação de todos. O momento de maior silêncio e concentração foi quando no fundo musical se ouviu um canto gregoriano - elemento genuinamente religioso e não festivo. No vídeo abaixo, o Intróito Spiritus Domini, com os monges espanhóis de Santo Domingo de Silos.
Imagens da web e F. A. Vidal (1)

terça-feira, 13 de julho de 2010

Inovações fotográficas de Tânia Bellora

Até quinta-feira (15), Tânia Bellora expõe no Corredor Arte a série “Impressões e imagens”, fotografias fora do convencional, com intervenções digitais artísticas, destinadas a tirar o espectador de suas referências cotidianas.

Tânia tem uma sensibilidade perceptiva que nunca se havia expressado em atividades artísticas, até 2009. Ela começou produzindo imagens de modo arrojado e sem preocupação maior com a técnica. A exposição foi na Galeria de Arte da UCPel (veja nota).

Uma segunda exposição - “Impressões: imagens em fototela” - foi feita em fevereiro de 2010, no Laranjal Praia Clube, com algumas das fotos que agora traz ao Corredor. Algumas delas foram reproduzidas nas telas artesanalmente pelo carioca Sergio Ronaldo (da Fototela&Cia, sediada no Rio de Janeiro).

De acordo com Tânia, suas obras têm como base a fotografia, mas utilizam formas distintas de impressão e de manipulação gráfica. As imagens desta nota mostram exemplos de fotografias que após a intervenção digital ficam parecendo quadros de pintura.
“A liberdade de criação, numa perspectiva de reinventar e inovar a linguagem fotográfica, tornou-se para mim uma atividade prazerosa”, diz a artista, cuja formação é na área do Direito.
A imagem à direita originou-se numa fotografia modificada pela artista, que originalmente a tomou em Punta del Diablo, praia atlântica uruguaia.
As novas técnicas, aliadas a sua curiosidade e flexibilidade, têm levado a resultados que a surpreendem como criadora e também ao espectador, especialmente ao que somente a conhecia como juíza ou como corretora de imóveis.
Evidência de que o espírito humano busca a beleza e termina expressando-se de uma forma ou de outra, mais cedo ou mais tarde.
Imagens: T. Bellora