terça-feira, 30 de novembro de 2010

Bicicleta na calçada: divertido mas perigoso

Não se costuma esquecer o perigo que os ciclistas sofrem nas ruas e até mesmo nas ciclofaixas (espaço dentro de ruas, como em nossa Andrade Neves), mas ninguém lembra o risco de que as bicicletas usem o espaço dos pedestres. Em Pelotas, é habitual que ciclistas invadam calçadas, e muitos pedestres não ficam por menos: também gostam de uma ciclovia (espaço afastado das ruas, destinado somente a bicicletas) para caminhar e correr (incrível, mas aqui em Pelotas é o que ocorre na Duque de Caxias e na Dom Joaquim).

Buscando incentivar o uso saudável da bicicleta, especialistas aprovam a insólita aplicação de ciclovias dentro das calçadas para pedestres (foto à dir.). Já existe uma em Blumenau (leia nota). Os tais especialistas devem ser europeus que não conhecem o Brasil, onde nem a lei nem o pedestre são respeitados.

Em nosso país a lei proíbe pedalar nas calçadas, a não ser que exista sinalização de ciclovia sobre ela (artigos 58 e 59 do Código de Trânsito). Os guardas municipais devem advertir sempre e, em caso de acidente ou agressividade, podem remover a bicicleta e até estabelecer multa (artigo 255). O DETRAN paranaense dá sugestões educativas para ciclistas, tanto adultos como crianças.

No Rio de Janeiro, há casos de pessoas feridas em atropelamentos na calçada por ciclistas (leia nota). O cronista Rubens Amador nos traz um conto de sua lavra que ilustra de forma dramática esse estranho dilema: de um lado do meio-fio a bicicleta é uma vítima; do lado de cá, pode ser uma assassina.

A velha senhora

Era uma mulher de idade, passara recentemente dos oitenta anos! Jovial e simpática, todos no edifício lhe queriam muito. Prestativa e conselheira; quando lhe solicitavam uma idéia sobre determinada coisa, ela ouvia pacientemente e opinava. Fisicamente era frágil, o que a deixava muito elegante. Dizia, brincando, “se tivesse 20 anos menos, seria modelo”. Embora usasse uma bengala como auxílio nas suas caminhadas diárias, aquele instrumento lhe dava um ar de nobreza e distinção.

Muito independente, preferiu morar só, desde que ficara viúva. O seu filho único fizera de tudo para que ela fosse viver com ele e sua família. Mas ela dizia que um casal tem de viver sua vida sem interferência física de outras pessoas, pois assim perderiam a espontaneidade nas naturais discussões. Jamais seria um empecilho, dizia, e tratava sua nora e netos com o maior carinho. Tinha uma rotina implacável: todas as manhãs, pelas 10 horas, inverno ou verão, saía para “ver as vitrines”, e percorria muitas quadras, cada vez para um lado diferente.

Pois em certa manhã, ao transpor a porta do edifício onde morava, bem no centro da cidade, abanando para o porteiro como fazia todos os dias, logo nos primeiros passos que ganhava a calçada, é violentamente atropelada por um marmanjão pedalando uma bicicleta sobre a calçada, e a jogando no chão. Quase juntos, chegam seu filho, chamado às pressas, e a ambulância. Com o burburinho estabelecido, o sujeito atropelador fugiu rapidamente. Quando pensaram nele, depois que a ambulância partiu para o hospital, já não havia mais sinal dele ou do instrumento que usou para levar à infelicidade a pobre senhora. Um dos que assistiram tudo, no grupo, falou com raiva: “Se esse desgraçado atropela meu filhinho de quatro anos que costuma sair do interior de casa correndo para a calçada, eu o mato”!

Já no hospital, examinada e radiografada, a acidentada teve um diagnóstico terrível após aquele atropelamento em cima da calçada, por aquele indivíduo mau-caráter e mal-educado: fraturara a bacia de forma irreversível. Ficara condenada a ficar para sempre deitada no leito. Realmente, o destino — aliado à irresponsabilidade daquele homem que a atropelou pedalando por sobre o passeio — trouxe-lhe o pior dos sofrimentos, pois a partir daquele dia nunca mais pôde ser independente, passear e visitar os seus amigos no edifício e fora dele. Isso sem referir a que também jamais poderia visitar, com os próprios pés, a seu filho, nora e netos que a adoravam. Aquele aparentemente pequeno acidente, mas tão irregular, porque seu causador infringiu uma norma fundamental: adultos têm de pedalar na rua e jamais nas calçadas, onde as pessoas, como aquela velha senhora confiou, e sentia que estava segura, por estar caminhando sobre o passeio.

Meses depois, a velha senhora teve interrompida sua vida, pois tornara-se uma pessoa muito infeliz. Jamais se conformou com a inutilidade que lhe foi imposta por aquele imbecil da bicicleta sobre a calçada, que sequer prestou-lhe qualquer socorro. Mas assim mesmo, até seu fim, em suas orações por si e pelos seus, ela sempre pedia, piedosamente, pelo ciclista assassino.

Rubens Amador
Imagens da web

2º Festival de Cinema e Animação Manuel Padeiro


A 2ª edição do Festival Manuel Padeiro de Cinema e Animação, que começa amanhã quarta (1), movimenta a cidade até o fim do sábado (4), por meio da presença de 21 cineastas oriundos de várias partes do Brasil. A população pelotense será posta à prova quanto a sua capacidade de acolher e orientar os possíveis turistas que o Festival atrair.

A produção fez um longo e organizado trabalho, não esquecendo de detalhes como gravar as entrevistas coletivas em áudio, revitalizar o Parque da Baronesa com lixeiras (dir.), pagar passagens e hospedagem para os selecionados, divulgação mediante uma revista impressa e pela internet. Somente faltou colocar cadeiras ao ar livre no Parque, e por isso cada um deverá levar a sua. O financiamento, obtido mediante a Lei de Incentivo à Cultura, contribuições de empresas e parcerias locais, projetou 25 mil reais em prêmios, para atrair o interesse dos cineastas brasileiros e manter um alto nível de qualidade nas obras e nas projeções dos filmes.

Cerca de 200 inscritos passaram por uma primeira etapa e foram selecionados 25 filmes de curta-metragem para a Mostra Competitiva, que entrega premiações por categoria (projeções dias 1, 2 e 3, na Baronesa, das 20h às 22h30). Há somente um classificado de Pelotas ("Do It", de Felipe Pires), que será visto na sexta-feira.

Outros 30 curtas ficaram para a Mostra Paralela (projeções dias 1, 2 e 3, no Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo, das 14h às 18h). Nesta série, há cinco trabalhos de Pelotas.

Para todos os filmes, as categorias são: Animação, Documentário, Ficção, Videoclipe e Vídeo Universitário. Veja a identificação de cada obra (categoria, origem, duração, diretor) no sítio da Programação. Há participantes de Porto Alegre e de outros Estados (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraíba, Bahia).

Além dessas 6 sessões de cinema, foram programadas 3 entrevistas coletivas com os autores da mostra principal (no I.A.D., às 10h, dias 2, 3 e 4). A Cerimônia de Premiação será dia 4, às 19h30, no auditório da UCPel. Finalmente, às 23h, no foyer do Teatro Guarani, a Festa de Encerramento do Festival, com Jam Session de músicos locais e som mecânico.

Ao redor dessas atividades relacionadas com cinema, haverá ainda: show e oficina de capoeira (dia 2, às 19h30), dança africana com o Grupo Odara e 4ª edição do projeto Poesia no Bar (dia 3, às 19h30). No Parque da Baronesa (esq.), o público será recebido por integrantes do Grupo Tholl. Sempre a céu aberto, a estrutura montada inclui:
  • Espaço-Arte Manuel Padeiro, com esculturas de Zezinho dos Santos;
  • Praça de Alimentação com comida vegetariana;
  • Loja do Festival, com venda de artigos personalizados, camisetas e artesanato;
  • Iluminação cênica, aplicada no entorno do Parque;
  • Sessões de Massoterapia, com profissionais do Sítio Saracura;
  • Fogueira Simbólica, em homenagem e reverência à memória dos escravos, seguidores de Manuel Padeiro.

Fotos: J.Gonçalves (1) e Lika Weymar (2)

1º Festival Manuel Padeiro

De 1 a 4 de dezembro de 2009, realizou-se a 1ª edição do Festival Manuel Padeiro. Os filmes da Mostra Competitiva foram projetados a céu aberto na zona rural de Pelotas, no 7º Distrito, onde ficava o Quilombo de Manuel Padeiro, formado em 1834 e destruído em 1848. O documentário registra aspectos do Festival.


segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Cafezal: do desjejum ao happy hour

Na Félix da Cunha, entre o Clube Comercial e o Conservatório de Música, existe há três semanas um novo café-bistrô, onde se pode conversar, fazer hora, estudar, tomar café da manhã, uma boquinha qualquer ou um happy hour.

O Cafezal dispensa o genérico "café", que já vem incluído no nome, sugestivo de abundância. De fato, o local funciona das oito às oito sem parar. Não fecha ao meio-dia, mesmo sem oferecer pratos de almoço.

Há principalmente salgados, alguns doces, torradas e bebidas para todas as preferências: cafés, refrigerantes, cervejas e licores. As mesas são todas circulares, o que facilita o encontro amistoso, ameniza a solidão e deixa o espaço sempre aberto a mais um que possa chegar.

Ainda em fase de instalação, o Cafezal é atendido por seu próprio dono (Carlos) e uma garçonete. Na terça passada (23), quem estava de tarde era a Natália, que gentilmente aceitou aparecer na foto, mesmo sendo tomada de surpresa. As boas iniciativas precisam de publicidade, mas em Pelotas não há quem faça divulgação de restaurantes de modo regular.

Pela proximidade com o Conservatório, no Cafezal podem-se encontrar a qualquer hora do dia alunos e professores de piano, violão, violino, flauta ou canto lírico. No intervalo entre recitais e masterclasses, mais de algum visitante ilustre poderá ser visto por aqui. Por exemplo, esta quarta (1) o violinista Tiago Ribas e a pianista Regiane Yamaguchi, vindos de Porto Alegre, talvez possam querer um café pingado ou uma torrada de frango, antes do concerto das 18h30min.
Fotos de F. A. Vidal

Manuel Padeiro, líder quilombola


Quando a equipe de Fernando e Duda Keiber, junto a professores da UFPel, projetaram um festival de cinema para Pelotas pensaram, como objetivos principais, em estimular a criatividade dos futuros cineastas e em que a cidade se beneficiasse desse foco cultural, também como centro econômico e turístico.
Já com tradição cultural e artística, Pelotas ainda precisaria desenvolver-se como referência regional e nacional na área cinematográfica. Foi em nossa cidade, há cerca de cem anos, que os primeiros filmes brasileiros foram rodados e a falta de recursos minimizou a criação de empresas e de novas obras. Ficamos como uma cidade de muitas salas de cinema, e hoje até isso mesmo chega à sua mínima expressão.

O projeto de um festival de cinema em Pelotas precisava de um traço próprio, diferente dos outros festivais que já existem, e isso devia apoiar-se também num nome de uma figura inspiradora ou patrocinadora da criatividade. O festival não seria numa sala de cinema moderna (em Pelotas só temos salas antigas e desativadas), mas usaria equipamentos modernos, com projeções ao ar livre, em espaços abertos.

O lugar escolhido foi o Instituto Trilha Jardim, no 7º distrito, denominado Quilombo, zona rural de Pelotas. Foi precisamente ali que apareceu a figura de Manuel Padeiro, um líder quilombola pelotense do século XIX (na grafia da época: Manoel Padeiro).

Manuel Padeiro foi escravo de Boaventura Rodrigues Barcelos (1776-1855), poderoso fazendeiro. Note-se, pelo nome, que ele se identificava mais com seu ofício (há registros que anotam "Manuel Pedreiro") em vez do sobrenome do patrão (em toda a América e o Caribe, os submetidos adotaram "filiação" portuguesa, espanhola, inglesa ou francesa). Em todo caso, tal nome não podia soar mais português, tanto pelo prenome como pelo ofício. À direita, escultura de Manoel Padeiro, feita por José Inácio Santos do Nascimento (blogue Sopapo do Padeiro), o Zezinho Santos.

Acredita-se que o líder africano tenha nascido na Costa do Ouro, de onde provinham muitos escravos. Transformou-se num Zumbi dos Pampas, formando grupos de resistência contra a escravidão, a 30 km do centro econômico de Pelotas. Os capitães-do-mato desistiam da caçada humana dos "fujões" ao adentrar a chamada Serra dos Tapes, terreno montanhoso compartilhado com os índios. Formou-se uma série de quilombos desde 1834, e o maior deles ficou conhecido pelo nome de seu líder, Manuel Padeiro, "considerado pelos seus o enviado de Oxalá" (citação do artigo de 2010 Remanescentes de quilombos pelotenses: paradigma emergente, dignidade humana e propriedade, dos autores Henning, Linhares, Gomes e Leal). Nesses redutos havia mulheres, mas a maioria eram homens (80% ou mais).

Como na região de Pelotas a população negra era muito mais numerosa que a branca, a hipótese de uma revolta em massa gerava muito medo nos fazendeiros e nas autoridades políticas, pois seria o fim do sistema escravagista. Os líderes negros eram vistos como criminosos, os escravos como perigosos e muitas vezes a rebeldia se transformava em uma espécie de guerrilha, com assaltos organizados, raptos, incêndios e assassinatos. Com a Revolução Farroupilha, iniciada em 1835, os senhores desviaram recursos para lutar entre eles, e muitos escravos fugiram. Pelotas era uma espécie de barril de pólvora prestes a explodir. A tensão relacionada com a rebeldia dos escravos se mantinha graças à comunicação solidária entre senzalas e quilombos. A informação provém do artigo de 2007 Pelotas na primeira metade do século XIX: uma cidade que a historiografia rotulou ou esqueceu, do historiador Caiuá Cardoso Al-Alam.

O trabalho citado acima (de Henning, Linhares, Gomes e Leal) conta que o término da Revolução Farroupilha, em 1845, possibilitou ao governo enviar militares ao quilombo de Manuel Padeiro, onde se estimava de 600 a 800 habitantes ("Memórias da Escravidão", Zênia de León, 1991). Em 1848, o Segundo Regimento de Cavalaria de São Leopoldo, composto de alemães voluntários, mais a guarda nacional e uma milícia local destruíram o quilombo, dizimando a população. A morte de Manuel Padeiro teria ocorrido naqueles dias. Hoje restam grupos quilombolas na região, estudados por pesquisadores, principalmente da UFPel.

Outros estudos sobre a história do quilombo de Manuel Padeiro:
  • "O Negro no Sul do país", de Mário Maestri (1997). Em: Joel Rufino dos Santos (Org.). Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Negro Brasileiro Negro nº 25.
  • "Pelotas e o quilombo de Manuel Padeiro na conjuntura da Revolução Farroupilha", de Flávia de Mattos Motta (1985). Em: Revista do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Porto Alegre, v. 13, p. 111-115.
  • "Escravidão e Resistência: Quilombo na Serra dos Tapes", de Dilson Marsico (1986). Em: A. Barreto (Org.). Cadernos do ISP n°10. Pelotas: Ed. UFPEL.
  • "Liberdade por um fio: história dos quilombos no Brasil", de João José Reis e Flávio dos Santos Gomes. Ed. Cia. das Letras (leia um trecho no blogue Sopapo do Padeiro).
Homenageando a história negra em Pelotas (das mais marcantes no Brasil escravocrata), a evocação do nome de Manuel Padeiro para um festival de cinema em Pelotas, em 2009, traçou uma linha paralela metafórica entre a reinserção deste "ídolo" – bom para uns, mau para outros – e o processo modernizador e democratizador do cinema, arte, técnica e modo de expressão de todas as camadas sociais. O antigo líder rebelde empresta, agora, seu nome a outro processo de libertação. Na arte, a dor e o sangue se transformam em coisas novas e reveladoras de um melhor ser humano, e a morte se transforma em vida, para que a humanidade não se destrua, mas sim se construa a si mesma.
A segunda edição do Festival Manuel Padeiro começa nesta quarta (1) e segue até sexta (3), com sessões de filmes às 14h no MALG e às 20h no Parque da Baronesa, ao ar livre (levar cadeiras e roupa de inverno). Às 10h dos dias 2, 3 e 4, coletivas com os cineastas dos filmes da noite anterior.
Imagens da web

domingo, 28 de novembro de 2010

UCPel ajuda a relaxar a tensão de vestibulandos

Quase quatro mil inscritos no vestibular da UCPel prestaram exames neste domingo (28) das 8h às 13h. De modo especial, o serviço de comunicação da Universidade emitiu matéria em seu portal (leia), que, normalmente, funciona de segunda a sexta.

Um dos pontos interessantes é que se planejou um passeio turístico pela cidade, oferecido a familiares e acompanhantes de vestibulandos, sob prévia inscrição (leia notícia de sexta 26).

É costumeiro que candidatos de outras cidades sejam acompanhados por pais e irmãos, com a boa intenção de dar força moral e diminuir o nervosismo. A tensão às vezes pode ser tanta - no vestibulando como nos familiares (uns contendo os outros) - que estes ficam precisando de alguma descontração, durante a prova. A ideia de relaxar passeando pela cidade veio como uma luva, atendendo vários objetivos ao mesmo tempo.

No roteiro de uma hora, a Praia do Laranjal e o centro histórico de Pelotas (Praça Osório e Catedral). Na orientação informativa, um aluno do curso de Tecnologia em Gestão de Turismo.

Na reportagem de hoje, é entrevistada a família da porto-alegrense Juliana Pasternak, candidata à Medicina, o curso mais difícil (22 por vaga). Pai, mãe e irmã nunca tinham vindo a Pelotas e gostaram muito do passeio. A tensão foi esquecida, mas, no fim da manhã, já não seria a mesma, ficando equilibrada com um otimismo que pôde ser transmitido à vestibulanda.

Se o esperado sucesso não vier desta vez, uma nova tentativa será vista com bons olhos, pois a cidade ficou sendo percebida como acolhedora, um lugar onde vale a pena viver. Muitos pelotenses, em seu afã por reclamar (herança de uma classe alta em decadência), não entendem como negativo que as mais bem fundadas críticas possam afastar parte dos visitantes - inclusive os que gostam de Pelotas - e gerar assim mais motivos para as lamentações.

A lista dos aprovados será divulgada quinta-feira (2), às 20h.
Fotos: UCPel

Onde falta boa educação os mal-educados é que mandam

Em outros tempos, a polícia servia para coibir abusos como o vandalismo urbano ou as faltas de respeito dos cidadãos uns com outros. Hoje esses pequenos delitos estão liberados e os bêbados e narcisistas não podem ser perseguidos. A repressão passou a ser o crime a ser limitado, e os criminosos ficam sem autocrítica nem limites sociais. Desde o tráfico de drogas até as arruaças noturnas, nada mais é castigado, nem pelo olhar da sociedade, nem sequer pela força pública nem pelos processos judiciais.

Antigamente, os comportamentos psicóticos e psicopáticos eram tão malvistos que as pessoas mais temerosas nem se atreviam a sonhar com eles, enquanto os sem-vergonha eram reprimidos com cadeia ou "hospícios". Hoje os loucos estão soltos e também não são corrigidos. O sentido da antipsiquiatria era que a sociedade os acolhesse e melhorasse, mas nada disso está sendo feito. Os atos de loucura mais inofensivos já são bem-vistos - até como arte - e os mais agressivos são tolerados, por medo. Qualquer dia voltaremos à necessidade de reprimir os comportamentos antissociais, mas ainda a corrupção e a covardia deixam os bandidos livres. Não posso fotografar os crimes mais graves, mas deixo o registro da violência guardada e não canalizada, a do vandalismo e do abuso dos seres mais primitivos sobre os mais bem-educados.

Após instalar-se uma boate barulhenta ao lado de minha casa, observo como cada fim de semana os vizinhos devem tolerar a falta de proteção das paredes, o batuque que ressoa pela madrugada e os jovens ébrios gritando descontrolados. Quem não sabe onde deixar as garrafas, larga pela calçada ou nas janelas e portas dos vizinhos. Quando há tempo, alguns bebem e gritam no meio da rua (a foto ao lado foi tomada às 6h15 de 12 de outubro). Terminado o barulho mecânico da madrugada, a cidade que tentava dormir deve tolerar as vozes ansiosas dos insones.

Os seguranças têm instruções de recolher o lixo jogado nas imediações, mas às vezes algum copo de cerveja escapa (foto maior). As crianças mimadas podem largar seus dejetos à vontade; os empregados limparão os rastos. O rabo do macaco sempre aparece, mesmo que use calças. Fica escondida parte da selvageria, mas o barulho ficou na memória de quem não pôde dormir, nem estudar, nem sequer ver um filme em paz.

O empresário, equivalente a um traficante de drogas, ganha dinheiro - bem consciente e sóbrio - embebedando os angustiados e abusando da paciência da vizinhança. Um dia essa paciência acabará e ele terá que ir a outro bairro, onde enfrentará o mesmo perigo. Por enquanto, prefeito, polícia e juízes só ficam olhando o problema aumentar. Falta de leis ou falta de coragem?
Fotos de F. A. Vidal

Pimenta Buena, Nada Original?


Neste domingo (28), a banda Pimenta Buena inaugura com música o novo espaço ao ar livre da Parrillada Mercado del Puerto, no lusco-fusco do entardecer, quando o dia lentamente se converte em noite.

O formato escolhido para este show-coletiva é o "pocket acústico", um "espetáculo de bolso", breve em duração e limitado em espaço físico, mas tudo em escala humana. De forma criativa e personalizada, o grupo difunde e promove seus próximos trabalhos. Ingressos (R$ 20) disponíveis por telefone (9241 3016) e tele-entrega.

No programa musical, a banda faz uma transição entre o antigo e o novo, com canções do segundo CD: Nada Original (acima) —que dá título ao disco EP (Extended Play ou miniálbum) — e Amar Es (vídeo).

A Pimenta Buena é uma coleção de fronteiras e transições: entre conceitos cosmopolitas e provincianos, entre a tradição e a originalidade, entre a poesia latina e as sonoridades brasileiras, entre espanhol e português (a começar pelo nome).

As letras em espanhol, escritas por Vicente, são revestidas pelos ritmos e melodias dos colegas brasileiros (João Corrêa, André Chiesa e Daniel Finkler), sob as intermináveis influências do pop, jazz, erudito, lounge, tango, rock e funk, especialmente dos anos 70. A incrível misturança deste coquetel dá um resultado que eles associam à pimenta: picante pero sabroso.

O grupo voltará a apresentar-se no projeto do Sindilojas Feliz Cidade, com um show mais longo e com entrada franca (9 de dezembro, 20h, Praça Osório).

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Signos de vida no Hipódromo

Fechado desde janeiro, o Hipódromo do Jockey Club de Pelotas (esq.) tem visto um renascimento das mãos de seu presidente Carlos Moreira Mazza (leia a nota).
O Diário Popular destacou o espírito otimista do acontecimento, simbólico da renovação de nossa cidade, e anunciou um Grande Prêmio para o domingo 5 de dezembro próximo (veja a notícia).
Neste domingo (21), a jornalista Gabriela Mazza escreveu, em seu blogue Adoro Melancia: diário de bordo do meu cotidiano, a emocionante crônica:

Criei-me correndo e brincando em meio às escadas e aos bancos do Hipódromo da Tablada. Minhas fotos de infância mesclam entre aniversários, natais, e fotos ao lado de cavalos, jóqueis e todo aquele universo que foi meu cenário de menina.

Posso dizer que, desde que me entendo por gente, meu pai faz parte dessa história. No ano passado, quando ele decidiu formar uma chapa e se candidatar à presidência do Jockey Club de Pelotas, fiquei receosa. Ele estava em plena luta contra um câncer, que já tinha levado seu rim direito.

Enquanto isso a antiga diretoria estava atolada em histórias muito malcontadas. O abacaxi não era pequeno e ainda por cima muito azedo. Cheguei a comentar se aquele seria um bom momento, já que imaginei que teria um desgaste além do imaginável. Pensei que não seria o melhor remédio.

Com seu estilo singular, meu pai me respondeu:

— Eu sou homem de morrer lutando!

Acatei sua decisão e durante este ano e meio o apoiei incondicionalmente. Foi uma árdua batalha pela revitalização do nosso querido “prado”. Liminares na Justiça e pressão por todos os lados.

Depois de muita água rolar por debaixo da ponte, este domingo foi marcado pela reabertura da Tablada. Apoiado por um grupo de fiéis escudeiros e pela força impressionante da minha mãe, eles conseguiram. O Jockey Club de Pelotas reconquistou a Carta Patente, ganhou novos ares e estava de volta, ainda mais especial.

Quando nos aproximamos de carro e vi aquele pavilhão repleto, comecei a me emocionar. Eu não imaginava que tanta gente estaria lá. Eram pessoas das mais variadas idades. Famílias inteiras, amigos, desconhecidos. Eram os velhos frequentadores do prado, que estavam órfãos do seu programa de domingo. Eram os jovens, empolgados com a retomada de um patrimônio de todos.

Percorri as velhas escadas da Tablada inebriada com a alegria daquele público. Vi lágrimas escorrendo dos olhos de gente para quem o Jockey era parte de sua vida. Entre abraços e sorrisos, enxerguei o quanto tinha valido a pena aquela batalha. Senti um orgulho enorme transbordar do meu peito.

Desci para comprar uma pipoca para Sofia. Contei que quando eu tinha a idade dela, sempre comia uma pipoca com mel, que era vendida atrás do pavilhão dos remates. Nos dirigimos para carrocinha e uma moça simpática nos atendeu. Pedi uma salgada para Sofia e nisso vi que ela tinha a tal da pipoca com mel, uma raridade entre os pipoqueiros modernos.

Comentei com a menina que quando eu era pequena sempre comia aquele tipo de pipoca, e que me dava um gosto de infância na boca. Falei que tinha um pipoqueiro que sempre ficava naquele local e que era uma referência para o meu tempo de criança. Foi então que ela brilhou os olhos e me disse:

— Era o meu pai!

Enchi os olhos de água e saí com a Sofia pela mão, saboreando aquele gosto maravilhoso de domingo.

Eu não disse pra ela, mas tive a certeza de que meu pai tinha feito a coisa certa!

Gabriela Mazza
Fotos de Nauro Jr (1, 2, 3, 5)

Minuta ou A La Minuta?

No Brasil se fez costume pedir bifes a cavalo, a pé, à milanesa e... a la minuta? ou à minuta? Ninguém sabe ao certo. Considerando a falta de acordo, até parece que não existe uma forma correta. Há quem acentue (à la minuta), mesmo sem saber o que é uma crase. Em francês existe crase? Essa expressão será, talvez, francesa? Investiguemos este mistério exclusivo do idioma português.

No nosso Café Aquários, por exemplo, o próprio cardápio-mural (não é qualquer restaurante que tem um cardápio-mural) duvida entre um "á la minuta carne" e um "à la minuta frango" (acima). Segue-se o que os fregueses mandam, e todos dizem "quero uma alaminuta". Vejam só que aí o termo ficou substantivado (com elipse do bife).

Mas como isso se escreve? Junto, ou separado? Com ou sem acento? À italiana ou à francesa?

Cada restaurante usa uma forma, dependendo do ouvido, da boa vontade ou dos conhecimentos do idioma. Este é um daqueles casos de pergunta pega-ratão para vestibulares e concursos. É brasileirismo e não está na Wikipédia (ainda). E mesmo que estivesse todos discordariam e apagariam a página.

Agrava-se o caso quando buscamos o plural (essa é para professores de cursinho): são duas minutas, ou duas a la minutas, ou alaminutas? Será com hífen? E o gênero? Quero "uma minuta", ou "um (bife) alaminuta"? Juntando todas as possibilidades, acharíamos dezenas de formas.

Um restaurante da Rua Tiradentes (próximo da Álvaro Chaves) pintou com ousadia na fachada o plural: alaminutas (dir.). Portanto, o singular se deduziria: uma "alaminuta", ou um "bife alaminuta". Mas isso seria escrever de ouvido, colocar por escrito o uso oral.

Resposta do Aurélio

A palavra minuta já existe no português há alguns séculos. É o feminino latino de minutus. Os dois provêm de minus (menor), que origina muitas outras palavras nossas: menos, minuto, miúdo, minúcia, minúsculo, miuçalha, diminuir, diminuto, esmiuçar. Como substantivo, significa: rascunho, algo feito com rapidez, no minuto.

Assim, o latim minutus se traduz ao português como: miúdo, diminuído, diminuto. Esse adjetivo denominou, em vários idiomas ocidentais, uma das divisões menores do tempo (virando então substantivo): o minuto (miudinho, pequeninho). Uma coisa breve, feita rapidamente, também se chama "minuta".

Seguindo o velho Aurélio de 1960 (também o Novo, conhecido como Aurelião, editado em 1975), "à minuta" é a expressão que deve aplicar-se aos pratos de restaurante feitos no momento, na hora do pedido. Assim como encomendamos bifes à milanesa (ao modo milanês), também pediremos filés à minuta (ao modo de uma minuta, de um rascunho, de algo rápido).

A forma inventada no Brasil "a la minuta" saiu por influência do francês: à la minute (feito no minuto). Para quem não sabe francês, minute é feminino. Aurélio (em 1960) já tentava corrigir essa cópia literal, registrando somente "à minuta", forma não usada pelo povo brasileiro. Ele escreveu, no verbete "minuta 2", que a forma feminina afrancesada seria "absurda", nessa expressão gastronômica. O dicionarista sugeria, assim, que a tradução mais correta seria "ao minuto", ainda mais distante do uso popular, mas não a registrou nem mencionou.

Apareceram, no caminho, outras versões ilógicas e deselegantes: a variação aglutinada "alaminuta", a italianizada "alla minuta", a afrancesada "à la minuta" e a mais absurda "ala minuta". Portanto, temos duas opções possíveis, com o mesmo significado:
  • ou dizemos em francês: à la minute,
  • ou em português: à minuta.
Ambas formas se aplicam tanto no plural como no singular: um bife à minuta ou vários bifes à minuta. Quando se tratar do substantivo "minuta", pode aplicar-se o gênero feminino, mesmo que os bifes ou filés estejam subentendidos ("quero uma minuta", ou "uma minuta de filé").

Se a coisa a ser comida estivesse no feminino, a expressão se manteria a mesma: uma sardinha à minuta, vários linguados à minuta, uma ou duas fatias de presunto à minuta. Foi a omissão desses deliciosos substantivos que nos levou à confusão: eles é que devem ser flexionados - os ingredientes (o filé, a picanha, o frango) - e não o modo de prepará-los.
Fotos de F. A. Vidal

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Tempestade em formação (2008)


Em janeiro de 2008, Paulo Ramalho registrou uma tormenta formando-se sobre Pelotas (clique para ampliar). Naqueles dias houve sérias inundações, como acontece em certos verões.
Imagem: Flickr

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Sanduíche bem acompanhado

Há oito meses, a quadra dos dez bares foi “visitada” por fiscais de três secretarias municipais, acompanhados da força pública (no Amigos de Pelotas os leitores fizeram 44 comentários). Ao longo dos meses, o sítio da RBS abriu um título para notícias sobre Barulho. Desde então a rua tem estado mais silenciosa e se pode caminhar normalmente à noite.

Este ano -mas basicamente em resposta a reclamações dos vizinhos - a fiscalização interditou casas noturnas, instaurou a proibição de estacionar na Gonçalves Chaves entre 22h e 6h e não permite mais que os bares sirvam bebidas nas calçadas. Na verdade, não há garçons nas calçadas nem mesas (exceto numa casa), mas alguns bares "emprestam" as garrafas e copos para que os clientes bebam usando o espaço público. É preciso dizer que no trecho entre D. Pedro II e General Teles não há somente bares, mas também edifícios de residências, lan house, farmácia e uma escola de idiomas.

Convivendo nessa heterogeneidade de sóbrios e ébrios, há -na linha do meio- um bar-café com nome de lanchonete: o Sandwich & Cia, que atende público de todos os horários (das 8h às 24h) e de todos os dias da semana. Até o século passado era um local de fotocópias, mas o dono apostou no ramo da alimentação, que já vinha sendo mais solicitado pelos estudantes. Ali se pode tomar café da manhã, conversar com calma, ver um jogo de futebol e até mesmo estudar, nem tudo no mesmo horário mas sempre com o normal respeito da convivência civilizada.

Bem na esquina da Gonçalves Chaves com a Dom Pedro II, o ponto tinha mesas na calçada, mas a recente proibição (antes era permitido?) pôs os clientes para dentro. No inverno isto não significou um grande problema, mas o verão obrigará a deixar as janelas sempre abertas.

O sentido multivariado e democrático do estabelecimento fica mais notório ao vermos que seus clientes podem ser alunos da faculdade, moradores vizinhos, taxistas da esquina e os mesmos festeiros noturnos que põem barulho na vida dos anteriores. Se o nome deste bar fosse “Cerveja e Cia”, não seria tão inclusivo: parece ser o sanduíche que promove o consenso pacífico.

Além de muita “loira gelada” e os velhos keep cooler (vinho com gás e saborizantes), a casa vende, da manhã até a meia-noite, refrigerantes da linha Pepsi, bebidas energéticas, café de máquina, salgados e doces terceirizados, e sua especialidade: os “sanduíches universitários” (R$ 4), assim chamados por seu volume e abundância de ingredientes, na medida da fome de alguém que estuda muito e necessita restaurar forças.

Os universitários tradicionais (os que estudam) e os trabalhadores com pouco tempo de almoço precisam nutrir-se com estes sanduíches de três fatias e com duas camadas de recheio. O pão de forma, bem macio mas consistente, é partido ao meio e envolto em plástico, uma metade sobre outra, aparentando ter seis níveis. Os recheios são de proteína animal, variando entre presunto, peito de peru, salame, frango, atum e coração de galinha, a maioria deles incluindo uma fatia de queijo. Não há recheios vegetais ou só com lácteos.

Nem todos esses seis tipos estão sempre disponíveis, mas sempre são confeccionados no dia e no local. O estado de conservação é bom, o que mantém o gosto dos ingredientes e a suavidade do pão. O de frango desfiado é o de recheio mais volumoso, com um pingo de ketchup que melhora o sabor e ganhando uma inesperada crocância com fios de alface fresca.

Sugestão para acompanhá-lo: a energética Gladiator, bebida gaseificada com cafeína e guaraná, nos sabores frutas selvagens ou frutas cítricas (lata de 473 ml, R$ 7). A ser dividida com alguma boa companhia, além do sanduíche.
Fotos de F. A. Vidal

domingo, 21 de novembro de 2010

Arroio Pelotas vem sendo perigosamente exaurido

E se o arroio Pelotas secar?Sob este título, o Diário Popular publicou na quinta-feira (18) um artigo do engenheiro-agrônomo pelotense Carlos Guilherme Rheingantz (leia).

A água, este produto cada vez mais raro no mundo, ainda abunda no arroio Pelotas, o maior manancial do município — tombado por projeto legislativo do saudoso Bernardo de Souza, ex-prefeito de Pelotas e ex-deputado estadual — , fazendo parte formal de nosso "patrimônio histórico" por sua importância ecológica, seu efeito social, sua potência turística e muitos outros atributos.

Em suas margens estabeleceram-se diversas charqueadas, que tanto renderam e renderão, para Pelotas. As primeiras lavouras comerciais de arroz foram por ele irrigadas, por volta de 1907, quando o coronel Pedro Osório investiu nesse produto do qual foi "rei", na Fazenda do Cascalho. Em seguida, ainda no Cascalho, foi construído o primeiro engenho de arroz do Brasil, com a produção escoada por chatas via arroio Pelotas.

O início da cultura do aspargo e do cultivo comercial de frutíferas de origem europeia, deu-se também no Cascalho, na década de 1930, desta vez por conta do genro de Pedro Osório, Paulo Affonso de Sá Rheingantz, às margens do arroio Pelotas.

Fonte de água para milhares de hectares de arroz, durante muitos anos com o dimensionamento das lavouras baseado na capacidade hídrica desse arroio respeitada pelos arrozeiros, não me lembro de alguma vez ter visto tanta terra lavrada, tanta maracha formada, tantos levantes construídos em suas margens, como neste ano.

É verdade que houve época em que diversos arrozeiros, quando as águas do arroio começaram a salgar, construíram verdadeiros, inconvenientes e antiecológicos diques, com sacos plásticos para adubo cheios de terra ou, muitas vezes, outros materiais, que lá ficaram assoreando seu majestoso leito.

Meio natural de sobrevivência de diversas espécies de peixes, de tartarugas e cágados, de jacarés, de lontras, de capinchos, enfim, de uma boa fauna e de uma flora ainda farta e bonita, o arroio Pelotas vem sendo exaurido por pescadores e caçadores, seguidamente com redes em parte ou toda a largura de seu leito. E, próximo às suas margens, cada vez mais areais estão sendo estabelecidos, merecendo um grande controle do Ibama para não se tornarem prejudiciais (assoreamento, concorrência hídrica, redução de fauna e flora etc).

Dezenas de residências, vários clubes sociais e esportivos, diversas charqueadas históricas utilizam suas margens, muitas vezes embelezando-as, tornando-se o arroio uma verdadeira pista para o turismo, para o saudável esporte aquático, importante para auxiliar o desenvolvimento sadio de nossas crianças e adolescentes.

A quantidade de água do arroio Pelotas e sua qualidade leve (exceto quando da aplicação indiscriminada de defensivos agrícolas na lavoura de arroz), possibilitam seu aproveitamento a curto prazo para o consumo humano, desde que tratada devidamente, deixando a região sem o perigo mundial da falta de água para sua população.

Morador em sua margem direita desde o ano de 1948, onde e quando nasci, mesmo nos 20 anos em que tinha endereço na cidade de Pelotas, não me lembro de ter visto seu nível tão baixo em plena primavera. É impressionante, até mesmo assustador. A probabilidade de salgar precocemente é muito grande (já está acontecendo na Lagoa dos Patos) como ocorreu em dezembro de 2008, interrompido pela grande enchente no final de janeiro de 2009, fato que deverá ser acelerado pela exagerada quantidade de levantes atualmente instalados em suas margens.

Chamo a atenção de seus moradores, do Ibama, dos partidos políticos - principalmente os ditos ecológicos -, dos ecologistas, das ONGs ecológicas, das instituições preocupadas com o meio ambiente, dos representantes políticos, que um grande e forte movimento deve ser implantado para evitar o mau uso das águas do arroio Pelotas, a devastação de sua vegetação marginal, a caça e a pesca indiscriminadas de sua fauna, o assoreamento de seu leito, para controlar e evitar que esse nosso fantástico filão de água se esgote.

E se ele secar?

Imagens da web


sábado, 20 de novembro de 2010

Passeio de barco pela Rota das Charqueadas

Este vídeo foi publicado na internet em fevereiro de 2009, com o texto transcrito abaixo. No passeio com guia turístico ao longo do Arroio Pelotas, realizado em 2006, participou parte da turma formada em 1965 pela Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, pertencente à UFPel desde 1969.

Grande parte da Turma de Engenheiros Agrônomos de 1965 da FAEM reuniu-se em Pelotas para comemorar os 40 anos de formatura. A festa quase virou um "kerb", pois se estendeu de 18 até 20 de março de 2006.

Para complementar a visita à Charqueada São João, foi feito um passeio de barco pela Rota das Charqueadas. Esta denominação dada ao passeio deve-se a que no auge do Ciclo do Charque havia cerca de 40 charqueadas estabelecidas às margens desse trecho do Arroio Pelotas, sendo que as construções de muitas delas lá permanecem, em diferentes estados de conservação. Durante o percurso passa-se também por núcleos habitacionais hodiernos estabelecidos às margens do arroio.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Uma orquestra ao ar livre, acalanto que desperta

No dia de fechamento da Feira do Livro, segunda-feira (15), a Banda Musical do Gonzaga deu os acordes de despedida ante os curiosos e românticos que não são afastados pela persistente chuva, pois gostam da liberdade que se sente na Praça Osório e do encontro social que ocorre em torno aos livros. Adultos e crianças, ricos e pobres, saudosistas e futuristas, todas as tribos e todas as artes são representadas neste espaço.
A imagem mostra como duas crianças vivem seu profundo interesse pela música: o mais velho se debruça sobre o cenário e a menorzinha detém suas agitadas brincadeiras, ambos de olhos, ouvidos e pele sensíveis às vibrações de todas as cores imagináveis. Com este acalanto que mantém o espírito desperto e a alma acariciada, eles recordarão esses sons, quando no futuro alguém lhes vier dizer que venham ver a banda passar.
Foto de F. A. Vidal

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Fotos alusivas ao Espírito Santo

Desde 2007, Francisco Vargas tem registrado em fotografias detalhes da natureza e do patrimônio arquitetônico pelotense. Agora ele apresenta sua décima exposição, no Espaço Arte Chico Madrid. A sala da Sociedade Sigmund Freud está aberta à visitação de segunda a sexta, manhãs e tardes.

Sempre interessado em observar o lado espiritual do ser humano, como se nos sugerisse ver a vida com os olhos de Deus, Francisco volta agora os olhos para o Criador e nos mostra o Sagrado, em vitrais, sinos, figuras de santos e diversas imagens religiosas.

O fotógrafo visitou templos no Estado brasileiro do Espírito Santo, em dupla alusão à santidade divina. Como turista, peregrino, artista e pesquisador, foi conhecer a Catedral de Vitória, de formas góticas, o Convento de São Francisco, o Santuário de Santo Antônio, a Capela de Santa Luzia, a Igreja dos Reis Magos (construída no século XVI, no município de Serra) e, em Vila Velha, o Convento da Penha, de 450 anos de antiguidade.

O apreciador das fotografias não somente terá informação histórica e geográfica sobre detalhes destas antigas igrejas católicas, mas sentirá a necessidade de deter os olhos e descansar a alma, sem saber exatamente por quê. Algum possível vazio interior o fará meditar nos significados dos símbolos ou simplesmente nas formas visíveis, evocando a presença do invisível.

Mesmo contando apenas com recursos visuais, um bom artista consegue apontar o foco a elementos ocultos, sugeridos indiretamente. O essencial é invísivel aos olhos, no dizer do Pequeno Príncipe, mas não é impossível percebê-lo com outros olhos, esses sugeridos por Francisco Vargas. É o que também faz um bom psicólogo ou um bom conselheiro espiritual.
Fotos: F. A. Vidal (1) e E. Devens (2)

Poesia no Bar, 3ª edição

Para hoje (18-11) está anunciada a terceira edição do Poesia no Bar, um dos imaginativos projetos da Pimentero Producciones. Desta vez, os marca-textos contendo versos serão entregues aos presentes por declamadores de poesias, sem apresentação musical. Entre 20h30 e 21h30, no Papuera Bar (Alberto Rosa 51, defronte ao I.A.D.).

O projeto artístico pretende acrescentar um sentido romântico às noites musicais ou de conversas que os pelotenses já conhecem. As poesias são expressadas em marca-livros com identidade visual de Nativu Design em parceria com Revista Seja e Companhia dos Técnicos.

A vez anterior foi na quinta 16 de setembro, no restaurante Mercado del Puerto (abaixo à dir.), quando o cantautor uruguaio Vicente Pimentero apresentou músicas ao violão durante uma hora, num show que intitulou "Solito Nomás" (à esq., a imagem de divulgação).
A maioria das canções são dele mesmo (como Nada Original, e Indiferencia), e vale a pena escutar as letras com calma, inclusive lê-las e repeti-las como textos a ser recitados, pela sua beleza literária (é preciso se concentrar no ambiente dos bares noturnos, e saber um pouquinho de espanhol).
As músicas de outros autores (como Perfidia, e Eu Sei que Vou te Amar), ele também as renova com expressividade própria, seja cantando algo romântico em ritmo de soul, ou transformando um samba em candombe.
No final dessa segunda edição, o artista distribuiu frases poéticas em marcadores de livros, um dos ingredientes do Poesia no Bar (o outro é entregar os versos pela voz, sejam eles cantados ou recitados).
A poesia pode entrar pelos olhos ou pelos ouvidos, mas seu destino é o espírito. Por isso também é preciso estar disposto a escutar poesia com o coração para que ela tenha algum efeito em nós.
Vicente diz que entrega marca-livros com versos, mas me parece mais exato (e poético) dizer que o presente consiste em versos, sejam eles escritos, cantados, declamados, ou mesmo sentidos ou sonhados. Também não é estranho que os marcadores tragam frases bastante apropriadas à pessoa que os recebe, e num preciso momento da alma.
Na concepção e na realização de cada ideia como o Poesia no Bar, participam Vicente Pimentero (vocalista do Pimenta Buena), Daniel Moreira (idealizador do blogue Revista Seja) e Valder Valeirão (da Nativu Design).
Eles têm a poesia nas veias, que não é simplesmente aquele sentido literário para compor versos, mas a capacidade criativa para ver o mundo de formas novas, para perceber as soluções onde todos veem os problemas.
A primeira edição do Poesia no Bar foi dentro do "Cult Bazar", evento realizado no Bar João Gilberto no dia 11 de agosto. As próximas versões seguirão circulando pelos bares de Pelotas.
Segundo Daniel, o projeto está distribuindo versos de poetas locais e regionais (por enquanto), para proximamente criar um blogue que - além de divulgar estas poesias que circulam nos bares - também garimpe poemas de toda a América Latina.
Imagens: de divulgação e F. A. Vidal (foto 3)

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Danúbio, o filme, chega a Pelotas

O documentário "Danúbio", projeto da Cinematográfica Pampeana, será exibido no Instituto João Simões Lopes Neto amanhã (18), às 19 horas. A sessão tem entrada franca e será acompanhada pelo artista plástico Danúbio Gonçalves (fotos), cuja trajetória é contada no filme, e pelo diretor Henrique de Freitas Lima.
Primeiro episódio da Série Grandes Mestres, sobre artistas gaúchos, "Danúbio" será mostrado também na sexta 19, no Museu Dom Diogo de Souza, em Bagé, terra natal do pintor e gravurista de 85 anos. A primeira apresentação foi na Capital do Estado, em agosto deste ano (leia nota). O projeto recebeu o apoio do FUMPROARTE, da Prefeitura de Porto Alegre.
As primeiras cenas do filme foram gravadas na Capital, onde Danúbio atualmente reside, em Torres e em Bagé. A filmagem se deslocou também para o México, para mostrar como a sua obra ganhou as fortes influências dos gravadores Leopoldo Méndez (1902-1969) e Mario Reyes, hoje com 84 anos. Aparecem no filme grandes nomes das artes do Sul, como Alfredo Nicolaievski, Anico Herscovitz, Miriam Tolpolar, Maria Tomaselli, Helena Kanaan, Wilson Cavalcanti e Paulo Chimendes.
Henrique de Freitas Lima conheceu Danúbio Gonçalves através do pelotense José Antonio Mazza Leite, que levou o artista à pré-estreia do filme de Lima "Concerto Campestre" (2004).
Rodado em Pelotas, o longa-metragem reconstituiu a época áurea do charque, adaptando ao cinema a novela de Luiz Antônio de Assis Brasil. Na época, o cineasta doou ao Museu do Charque, dirigido por Mazza Leite, a maquete da charqueada (feita a partir da gravura clássica de 1828 de Jean-Baptiste Débret), adereços e figurinos do filme.
Posteriormente, Henrique teve a colaboração de Danúbio em outra filmagem, relacionada com Simões Lopes Neto, e a convivência fez o artista revelar o desejo de ver sua trajetória filmada por Henrique. O convite foi aceito e o projeto saiu do papel.
Como criador na década de 50 da série Xarqueadas - gravuras que lhe renderam os prêmios mais importantes de sua carreira - Danúbio foi o doador principal do pequeno Museu do Charque. Desde 1993, este empreendimento de um grupo de abnegados tenta manter viva em Pelotas a herança da atividade que gerou e deu forma à cultura local (veja histórico). O Museu do Charque está localizado na Charqueada Santa Rita, às margens do arroio Pelotas.
Imagens de divulgação (1 e 3) e F. A. Vidal (2)

Quatro recitais com músicos visitantes


Professores do Conservatório de Música da UFPel criaram a série “Artistas Convidados”, com músicos de renome que oferecerão aulas magistrais e quatro concertos. Já bastante movimentada, a programação cultural da cidade ganha com estas atividades ainda maior brilho e interesse. Todas com entrada franca.

Na sexta-feira (19), a destacada pianista norte-americana Réne Lecuona (dir.) ministrará uma aula magistral (9h-12h) e fará um recital às 19h30min com:

  • trechos de Visions Fugitives de Prokofiev, Sonata Apassionata de Beethoven, Balada nº 4 de Chopin, e obras de norte-americanos contemporâneos: Mouthpiece XIV de Erin Gee (nascida em 1974) e Imprimitivity de Lawrence Fritts, nascido em 1952 (ambas obras compostas em 2010).

Assista neste vídeo a pianista Rene Lecuona interpretando a redução orquestral (acompanhamento de orquestra sinfônica) para o primeiro movimento do Concerto para Piano em lá menor de Grieg, com Sarah Maktabi como solista, em seu recital de graduação, em 2007.

Nos dias seguintes deste ciclo, a renomada flautista Odette Ernest Dias (vídeo acima, com Roberto Rutigliano na bateria), francesa naturalizada brasileira, ensinará sobre interpretação da flauta transversal e fará dois recitais.

  • As três aulas serão quarta 24, às 9h (MALG) e 15h (Conservatório) e quinta 25 às 9h (Conservatório).
  • Os recitais serão na quinta 25, 20h (como solista, na Catedral do Redentor) e domingo 28, 19h (com diversos acompanhantes, no Conservatório).

Na quarta 1 de dezembro (18h30, no Conservatório), um último recital de violino e piano trará os convidados Thiago Ribas e Regiane Yamaguchi, violinista e pianista brasileiros.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Schlee ganhou o Fato Literário

Aldyr Schlee recebeu ontem (15), no Clube do Comércio em Porto Alegre, o prêmio Fato Literário 2010, na categoria Personalidade (veja a notícia).

O reconhecimento premia o conjunto de sua obra literária, tanto na quantidade de produção como na qualidade conceitual. É referência nesse contexto o livro que escreveu mais recentemente: Os Limites do Impossível (veja nota).

As candidatas que concorriam com ele são escritoras mais jovens e de diversas origens: Lya Luft (veja biografia), Kathrin Rosenfield (breve currículo) e Verônica Stigger (minicurrículo). É de se notar que as três autoras possuem pós-graduação na área de Letras, enquanto Schlee (bacharel em Direito) é um escritor e tradutor por talento e carisma pessoal, tendo sido premiado em diversos concursos internacionais literários.

Em fevereiro passado, esboçou-se aqui no blogue uma sã polêmica sobre a qualidade de nossos escritores, com o blogueiro defendendo o maior nível da obra de Schlee (leia o post). Repete-se hoje a possibilidade de avaliar nossa criação literária e de aproveitar o legado que os autores nos deixam e os traçados que sugerem para pensarmos a cultura dos povos e o melhoramento do ser humano.
Foto de Nauro Jr. (RBS)

Ivan Lins, 40 anos de carreira

Segundo a Wikipédia, o cantor e compositor carioca Ivan Lins ficou conhecido já no início de sua carreira, em 1970, quando Elis Regina difundiu a música Madalena (letra de Ronaldo Monteiro de Souza), de seu disco "Agora".

Qual versão merecia maior sucesso, a mais afinada ou a mais espontânea? A do homem ou a da mulher declarando sua paixão por Madalena? Compare as duas versões, que fazem parte da saudade dos brasileiros com mais de quarenta anos.


Madalena, o meu peito percebeu
que o mar é uma gota, comparado ao pranto meu.
Fique certa:
quando o nosso amor desperta,
logo o sol se desespera
e se esconde lá na serra.

Madalena, o que é meu não se divide,
Nem tão pouco se admite
quem do nosso amor duvide.
Até a lua se arrisca num palpite:
Que o nosso amor existe,
forte ou fraco, alegre ou triste.

O cantor era formado em Engenharia Química, mas desviou-se para engenhar outras químicas: projetou-se, no Brasil, revestindo as letras engajadas de Vitor Martins com melodias pianísticas e, nos Estados Unidos, mediante as vozes de grandes figuras, como Ella Fitzgerald, George Benson, Sara Vaughan, Barbra Streisand.

Aos 65 anos, Ivan Lins apresenta-se em Pelotas esta noite. Vamos ouvi-lo cantar e tocar mais uma vez "Somos todos iguais nesta noite" (1977).

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Professor Plínio Graef faleceu sábado (13)

Morreu na tarde deste sábado (13), em Pelotas, o professor Plínio Graeff. O educador dedicou boa parte da vida ao trabalho em duas instituições tradicionais em Pelotas, os colégios São José e Gonzaga. O professor deixa a esposa, Maria Luiza, e duas filhas, Cristiane e Alessandra (leia a notícia).

Esta foi a primeira informação sobre o falecimento do professor de Matemática e treinador de basquete, ocorrido sábado; o enterro foi ontem, domingo (14). A notícia foi dada brevemente pelo Diário Popular na internet, e saiu na edição impressa de segunda-feira (15). Nenhum outro veículo (nem impresso nem virtual) mencionou o fato.

Hoje (15), a seção esportiva "Bola pra frente" comentou a morte de Plínio, o Irmão Agostinho, ex-religioso lassalista. O colunista Sérgio Cabral menciona a atuação dele no antigo Colégio Gonzaga, reconhecendo sua firmeza e rigidez. "Difícil tirar um sorriso do professor Plínio Graeff, mas quando ocorria este momento, era de vibração e de muita felicidade para os seus alunos e para os seus pupilos", diz o jornalista sem papas na língua. Ainda segundo esta nota, "Plínio esteve doente por muitos anos e em certo momento conseguiu driblar as dificuldades do câncer" (leia).

Em função do centenário do São José, o Diário Popular está publicando uma série de cadernos sobre a história do colégio, com textos de Camila Almeida. No número 6 (dezembro de 2009), um artigo foi dedicado ao ex-professor e ex-diretor (esq.), na época com 77 anos.

O texto menciona detalhes biográficos, como sua origem do município gaúcho de São José do Inhacorá (veja histórico). O filho de agricultores foi estudar num seminário católico em Canoas, formou-se em Pedagogia em Pelotas, na Faculdade Católica de Filosofia, antecessora da UCPel. Habilitou-se para lecionar Filosofia e História, mas sempre preferiu a matemática e o esporte. Na década de 1970 conheceu a colega Maria Luíza na Escola Fernando Treptow, foi trabalhar no São José, onde ela também dava aulas, e nessa época oficializaram a união. Plínio introduziu o basquete no tradicional colégio de meninas, que até então jogavam somente vôlei. Fez construir o ginásio e participou em outras inovações, como a Olimpíada das Cores.

A breve reportagem do Caderno não menciona a anterior vida religiosa de Plínio, o Irmão Agostinho, nem sua atuação no Gonzaga, a tradicional escola católica de Pelotas, em versão masculina. O também centenário Ginásio Gonzaga (GG - Galinha Gorda) rivalizava com o Ginásio Pelotense (GP - Gato Pelado), criado pela maçonaria para formar jovens liberais e livre-pensadores. Mas com o São José havia uma distante consonância, quase um amor platônico, que Plínio encarnou e realizou, deixando os votos religiosos e entrando na vida matrimonial.

Quem viveu no ambiente lassalista conheceu aquela autoridade absoluta que atemorizava os meninos e os fazia envergonhar-se por infrequências, travessuras ou desleixos no estudo, na vestimenta ou na pontualidade. A bondade e o intelectualismo dos padres jesuítas, que deixaram o Gonzaga na década de 1920, tiveram no Irmão Agostinho uma imagem contraposta, quase mitológica, comparável à de personagens literários.

No entanto, o amor bem vivido suavizou aquele estilo áspero e destemperada, e transformou o durão em patriarca admirável, o que não é uma pequena aprendizagem nem pouco ensinar aos discípulos e discípulas que o sobrevivem. Nos faz lembrar a sábia letra Volver a los Diecisiete, de Violeta Parra (abaixo), segundo a qual é o carinho sentido na alma que nos dá estabilidade, criatividade, bondade e liberdade. Uma lição teórica da poetisa chilena e uma bela aula de vida do professor gaúcho.

Petróleo em Pelotas, um sonho antigo

Este sábado (13), a imprensa gaúcha publicou informação dada pela Petrobras a Fernando e Miriam Marroni, deputados pelotenses (federal e estadual): existe uma possibilidade de se achar petróleo perto de Pelotas, na bacia hidrográfica que vai de Florianópolis ao arroio Chuí (veja nota RBS). A suspeita nasceu de um relatório sísmico, mas somente uma perfuração se saberá se há petróleo e gás no litoral gaúcho (em dois poços entre Tavares e São José do Norte).

Num artigo especial para este blogue, o cronista Rubens Amador recorda que há 70 anos já se vinha buscando petróleo na região, com fundadas esperanças, e não se tratava de análises teóricas, mas de perfurações com os métodos existentes naquele tempo (veja histórico da exploração de petróleo no Brasil).

Em 1939, o empresário gaúcho Curt Rheingantz foi autorizado por Getúlio Vargas a buscar petróleo (veja decreto presidencial de 1941); na época, somente os particulares o faziam, inclusive multinacionais. No entanto, o mesmo Getúlio criou, na segunda gestão, uma empresa estatal para esse fim, deixando todo o trabalho parado na Zona Sul e toda a esperança arquivada... até hoje. (Veja os textos de Rubens Amador).

Diz o velho aforismo: “Onde há fumaça, há fogo!” Quero prestar com este artigo uma justa homenagem, talvez a primeira, que lembrará o nome de um antigo lourenciano de nascimento — mas pelotense de coração — e que foi grande comerciante, de iniciativas várias.

No setor de olaria em grande escala, produzia derivados, como fossas, telhas, tijolos, manilhas etc. Depois foi um dos nossos maiores lojistas, com ferragens e afins, como a famosa Ferragem Rheingantz. Foi criador e proprietário de uma das maiores fábricas de chapéus de nosso Estado, a Fábrica de Chapéus Rheingantz, quando este acessório era usado por todos os cavalheiros, fossem ricos ou pobres. Foi um grande empregador em todas as suas iniciativas, e a Pelotas de então desfrutava de um grande parque econômico, e que esse empreendedor nato, foi um dos maiores, por justiça.

Pois foi esse senhor, chamado Curt Guilherme Rheingantz, cuja amizade tive o privilégio de desfrutar por mais de vinte anos. Até quando, em avançada idade, se viu impossibilitado de se locomover, o visitamos até seus últimos dias, pois eu e minha esposa, todos os sábados pela tarde, éramos muito bem recebidos por ele e sua esposa, Dona Maria Mourgues Rheingantz, igualmente já falecida.

Mas o que desejo enfatizar neste trabalho é o seu pioneirismo também no setor de petróleo. Pois este grande cidadão brasileiro, há muitos anos, pesquisou e executou várias perfurações como pioneiro, em busca do precioso ouro negro, acreditando — e ignoro em que se baseou — na existência de petróleo em nossa região. Despendeu avultada importância nesse propósito.

É certo que na época os equipamentos não tinham a tecnologia de hoje, mas sei – contado por ele mesmo – que executou inúmeras perfurações importantes lá em Arroio Grande, nas margens da Lagoa Mirim, próximo ao farol da Ponta Alegre. Ali ele conseguiu, associado a um cidadão alemão (de nome Von Delreid ou algo assim), que era gerente da secção de ferros da Bromberg (outra forte empresa que deixou Pelotas), perfurar até a profundidade de 1200 metros! Por meses eles trabalharam ali, com um locomóvel (foto) importado da Alemanha gerando energia para o empreendimento.

Quando a terra começou a sair de forma oleaginosa e o contentamento de todos aumentava, surge um decreto de Getúlio Vargas (Lei 2004, de 1953), proibindo a qualquer entidade particular pesquisar nosso solo em busca de petróleo, que passava a ser exclusividade da então novel Petrobrás. Curt Rheingantz e seu companheiro deixaram, com muito dinheiro e tristeza, ali sepultado – com 1200 metros de cano até hoje enterrado na região – o sonho de ambos.

Mas uma coisa ele jamais abandonou – disse-me – da certeza de que em nossa região havia petróleo! Descendente de alemães, chego até a pensar que algum estudioso do assunto dessa origem racial tenho lhe descrito camadas de solo nosso, que seriam dotados de petróleo.

Tudo isto me veio à lembrança neste sábado, ao deparar-me com manchete de capa do Correio do Povo, o meu jornal, dizendo: Petrobras anuncia indícios de petróleo na costa gaúcha. E logo abaixo: “A Petrobras confirmou ontem a possibilidade da existência de petróleo e gás natural na Bacia Pelotas. (...) A estatal também começa a analisar a possibilidade de instalar sua base de operações em Pelotas”.

Como disse no começo: “Onde há fumaça, há fogo!”. O pioneirismo desse sonho talvez muito bem embasado, não esqueçamos, pertence ao cidadão Curt Guilherme Rheingantz, grande empresário e desbravador, nosso compatriota, de operosa existência. Que lhe façamos justiça. Este cronista pretende lembrá-lo, pois é mais do que merecedor, pelo que fez e sonhou para Pelotas e região.

Rubens Amador
Imagens da web
Consulte a fonte da 1ª foto