segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A reforma ministerial de Fetter

Demorou mas saiu. Esta tarde, um esperançado e orgulhoso prefeito Fetter deu posse ao novo secretariado (leia notícia) e inaugurou um organograma próprio desta gestão. O salão nobre e o saguão da Prefeitura ficaram cheios de interessados em acompanhar a cerimônia (ambas fotos tomadas durante o discurso final).

Um pouco mais enxuta, a estrutura agrupa as 15 pastas e outras unidades em 4 câmaras setoriais (administrativa, ações urbanas, ações sociais, e desenvolvimento e emprego). Há seis anos que o prefeito pensava nesta renovação formal, inicialmente com o desejo de somente 9 grandes secretarias.

Na área que mais interessa a este blogue, a SECULT ficou com um empresário da área informática; o estilo de Fetter é designar gestores com sua filosofia, e não necessariamente especialistas nas áreas. A escolha pode ler-se também como uma declaração de frieza com o setor cultural e artístico.

O grupo de secretários e assessores seguirá por dois anos, até o fim do atual mandato, quando Pelotas já terá comemorado o bicentenário da fundação da Freguesia de São Francisco de Paula (7 de julho de 1812). O próximo governante herdará esta organização, o que não impede que a modifique, mas já se pode ver, pela engenharia política realizada, que o atual prefeito luta para eleger o sucessor. Fetter compôs o grupo de segundo escalão com nomes de sete partidos, provenientes das mais diversas áreas públicas e privadas; dessa grande aliança sairá um candidato forte à sucessão.

A reduzida ala feminina evidencia o machismo do gestor: somente duas mulheres estão nesse nível e ambas ficaram em áreas tidas como assistenciais. Proveniente da Secretaria Estadual da Saúde, Arita Bergmann é uma assistente social com vasta experiência em saúde pública, podendo considerar-se a estrela de todo este gabinete. Na pasta de Cidadania e Assistência Social, Berenice Nunes, psicóloga pelotense com grande familiaridade no setor assistencial. Ainda deve-se mencionar nesta equipe a professora Elisabeth Marques Dias, assessora especial do prefeito para a área social e ex-secretária de Cidadania.
Fotos: F. A. Vidal (1) R. Amaral (Prefeitura)

O boateiro (conto)

O seguinte relato satírico de Rubens Amador foi publicado no Diário Popular de 10 de março de 1984. Era o último ano de governo do general Figueiredo, mas a história se situa vinte anos antes, quando as liberdades eram mínimas. Na época, herói era quem se atrevia a falar em público e ainda sobrevivia.

Estávamos no período mais duro da Revolução. Apesar disto o homem não tinha emenda. Se estivesse em um velório, por exemplo, logo puxava o primeiro pelo braço e ia dizendo, baixinho, com aparente mistério:
— Amanhã o dólar vai triplicar. Esta me veio de fonte limpa!
Em outra rodinha, já dizia que tinha ouvido na TV que o General Normélio estava mobilizando a tropa – sempre olhando para os lados, como se estivesse revelando um segredo de Estado. Se estivesse no futebol, puxava assunto com o vizinho do lado e já lascava:
— Me disseram que ouviram, em Edição Extraordinária, que os americanos estão desembarcando na Amazônia.
O outro abanava a cabeça, solene e grave, e já se virava para o amigo ao seu lado, para passar a última, “de fonte fidedigna”, quentinha.

E assim o nosso personagem ia espalhando boatos na feira, no café, no prado, enfim; onde encontrasse interlocutor, lá vinha ele com “a última de fonte muito autorizada”. O homem se tornara uma espécie de virulenta epidemia de boatos. A tal ponto, que o coronel comandante da Praça da Cidade, informado das mentiras espalhadas pelo boateiro, mandou prendê-lo.

Quando, trêmulo, o fofoqueiro (não passava disto) entrou acompanhado de dois praças no gabinete do militar-chefe, este encarou-o e bradou:
— Então você é que é o famoso boateiro, não?
— Céus, logo eu que sou inimigo de fofocas, meu coronel! Deve haver algum engano.
Aquela contestação lhe saiu com voz diferente da habitual. A boca seca. O militar levantou-se, e foi desenrolando uma espécie de édito da Idade Média, enquanto, lendo-o, minuciava:
— Dia 2, no Café Torrado, às 9 horas da manhã, você afirmou que a Casa da Moeda estava falimentar. Dia 8, no Cine Fagulha... (e narrava novo boato inventado pelo preso.) Dia 17, às 15 horas, na sala do conhecido dentista José Gralha, você deu sua “última quentinha”.

Nosso anti-herói ouvia o detalhado relatório, branco como uma folha de papel almaço sem pauta.
— Mas, coronel... — tentou armar mais um desmentido.
— Tem mais — atalhou o oficial, alteando a voz —: dia 30, no velório do Dr. Teodorico, você falou em certa bomba que iria explodir na praça.
O homem, frente ao comandante militar da cidade, tremia, ante aqueles minudentes relatos dos inventos maldosamente por ele espalhados.
O coronel dirigiu-se aos dois praças que escoltavam o preso:
— Amanhã, ao amanhecer, vamos fuzilar este boateiro inconsequente!
Um forte mau-cheiro se fez sentir na ampla sala.
— Levem-no, e ligeiro! — ordenou o oficial, acercando-se da enorme janela, aberta de par em par.

Cinco horas da manhã. Ouvia-se o cacarejar de um galo. No horizonte, o sol começava a surgir. No pátio da unidade militar, tudo encenado: quatro tamboreiros, sete soldados com seus fuzis ante um tronco de grossa árvore nos fundos do quartel, e que serviria para amarrar o “condenado”.
Tratava-se, já viram, apenas de um susto que o comandante queria dar naquele empedernido boateiro. As próprias balas seriam de festim, de onde só sairiam estampidos, nada mais. A cena, patética e silente! O fofoqueiro tremia feito um “béribéri” na última potência. O coronel desembainhou sua espada e ordenou com voz firme:
— Atenção... Apontar... Atirar!
Assim que os tiros se fizeram ouvir, nosso anti-herói caiu pesadamente... desmaiado, com palidez cadavérica, consequência do susto enorme. Em poucos minutos, porém, já estava de pé, braguilha toda molhada, enquanto o próprio coronel o desamarrava e dizia-lhe, com ênfase:
— Olha, hoje foi só uma encenação, seu fofoqueiro, com os fuzis sem bala, mas na próxima....
— Pode deixar, meu coronel, jamais de minha boca sairá qualquer boato. Juro pelo que há de mais sagrado!
Pelos muros do quartel evolavam-se as risadas da soldadesca.
O mitômano, recomposto e já vestido e humilhado, posto para fora da unidade, caminhava a cerca de quinhentos metros do quartel, quando se encontrou com um padeiro, conhecido seu, na faina de distribuir pães àquela hora da manhã.
— Ezequiel, vem cá, ouve aqui a última!
E, entre misterioso e novidadeiro, falou entre dentes:
— Nosso exército anda pelas “caronas”. Olha, eles não têm nem balas para os seus fuzis... Quem te fala sabe o que está dizendo...
Imagens da web

domingo, 30 de janeiro de 2011

A intensa semana acadêmica da Psicologia

A 28ª Semana da Psicologia foi, provavelmente, a mais intensa em conteúdo e extensa em atividades, entre todas as semanas acadêmicas da UCPel, em 2010.

Como num congresso de estudantes, profissionais de Pelotas e de Porto Alegre palestraram a alunos daqui sobre assuntos que a Universidade não cobre, sob o título geral "As Novas Perspectivas da Psicologia".

Na semana de 18 a 22 de outubro, o Diretório Acadêmico programou 8 horas por dia — das 14h às 22h, com um curto intervalo às 19h.

Foram 26 palestras e duas oficinas com profissionais de fora da UCPel, mais uma apresentação musical (com o grupo Feliz Arte, do CAPs Escola). O auditório do Campus II ficou lotado e muitos interessados ficaram de fora, pois o salão sequer comporta a totalidade do corpo de estudantes de Psicologia.

O encontro foi acompanhado pela Assessoria de Comunicação (leia notícia), que divulgou a notícia para outros meios de comunicação; no entanto, esta foi considerada somente de interesse interno, já que as inscrições eram poucas e destinadas aos alunos do curso.

Uma aluna de terceiro ano que assistia por primeira vez a uma semana acadêmica garantiu que em nenhum momento sentia sono ou cansaço:

— É muito produtivo. Vemos assuntos que em cinco anos não conseguiríamos ver. A partir da Semana, tenho certeza de que esta é a profissão que quero. Só tenho dúvida em qual área, pois a psicologia está em tudo.

É verdade que alguns temas foram bastante específicos, destinados a quem trabalha ou deseja desenvolver-se na área "psi":
  • "A Psicologia Clínica em Hospital Psiquiátrico” (com a psicóloga Beatriz Mechereffe),
  • “Abordagem Clínica de Pacientes Borderline, Perversos e Psicóticos” (com o psicanalista Jorge Velasco),
  • “Pré-entrevista diagnóstica” (com o psiquiatra Paulo Kelbert),
  • “A interdisciplinaridade da Neurologia e Psicologia” (com a neurologista Denise Medina).

Por outro lado, assuntos de interesse mais amplo — que toda a comunidade extrauniversitária ganharia muito em conhecer — também foram tratados:

  • “A sexualidade nas relações” (com a psicóloga Marlise Flório Real),
  • “Psicoterapia nos relacionamentos amorosos” (com a psicanalista Marciara Centeno),
  • “Processo da Doação de Órgãos” (com a assistente social Aline Winke),
  • “Oficina de Arteterapia” (com a artista plástica Daniela Meine),
  • “A Função Paterna” (com o psiquiatra Eduardo Méndez).

A reportagem da UCPel citou especialmente o trabalho do psicólogo Ricardo Valente, que acompanha dependentes de crack na Comunidade Terapêutica Renascer, no Monte Bonito. Ele falou aos estudantes sobre “Os desafios da dependência química no universo Psi”.

Em conclusão, os benefícios desta Semana Acadêmica teriam repercutido positivamente se, com melhor planejamento e abertura, tivesse sido disposto o auditório principal da Universidade, pelo menos para os temas de maior interesse comunitário. Afinal, Pelotas é a maior cidade da Metade Sul e suas lideranças merecem aprender com os conhecimentos universitários que aqui se desenvolvem.
Fotos: W. Lima (UCPel)

sábado, 29 de janeiro de 2011

Casa solitária


Em zona rural de Rio Grande próxima a Pelotas, Cristiane Neves fez este expressivo registro, em que a casa ermitã contrasta com seu coletivo ao fundo — uma cidade extensa e inalcançável — e todos os que habitam na terra se distanciam de um mundo superior imenso. Simbolismos universais que tocam a alma do espectador.
Foto: Flickr

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Renascer, dois anos de fundação

A Comunidade Terapêutica Renascer (fone 53-3305.7053, ctrenascer.pel@hotmail.com) publicou a nota abaixo no Diário da Manhã, ontem (27-1), ao completar dois anos de funcionamento.


Cadu deu testemunho pessoal.
Em 27 de janeiro de 2009 nasceu um sonho. Um grupo de pessoas preocupadas com o aumento do consumo do crack em nossa cidade e a falta de vagas para o tratamento de dependentes resolveram fundar a Comunidade Terapêutica Renascer, que não vem poupando esforços para ajudar familiares e dependentes a superarem e vencer a guerra contra essa pandemia que assombra nossos lares.

A Renascer, em seu aniversário de dois anos, agradece a todos que acreditaram na seriedade de nosso trabalho e não mediram esforços para ajudar nossa instituição durante esses dois anos.
Foto: Jô Folha (DP)

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Os Fulanos voltam a Pelotas

Os Fulanos são uma dupla cômica que, desde 1997, tem crescente sucesso ao longo do Brasil. Pelotense e pedritense, Décio Ferret e Pul Barreto começaram apresentando-se na rua, passaram a vender discos de piadas, participaram em shows da TV Globo e, com vídeos na internet, ganharam a fama nacional.

A dupla recuperou, no fim do século XX, o estilo do antigo radialismo, com muitos truques vocais e aquele deboche politicamente incorreto, hoje questionado socialmente. Homenageiam os velhos locutores e 'A Voz do Brasil", usam a plateia para motivar o riso fácil, e brincam descaradamente com o falso machismo gaúcho. Esta noite eles se apresentam no Teatro Guarani, na cidade que os viu surgir teatralmente.

Mesmo sendo agressivos em temas delicados (homossexualismo, religião, invasão da privacidade), Os Fulanos agradam à maioria com sua simplicidade, franqueza e ousadia. Mas a vulgaridade é tamanha que não me foi fácil achar, para colocar neste post, um vídeo que fosse ao mesmo tempo engraçado e sem palavrões (clique abaixo).

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Porto de Pelotas há cem anos

Na época das charqueadas, Pelotas era o principal centro econômico e comercial do Rio Grande do Sul. Seu porto acompanhava esta liderança e era o mais movimentado do Estado até meados do século XIX.

Com a frase acima, o médico Ronaldo Bastos publicou — em seu blogue Porto Alegre, uma história Fotográfica — duas fotos do antigo porto pelotense, antes de sua construção oficial. As imagens são de 1912 (acima) e de 1895 (abaixo). Pesquisador fotográfico há 45 anos, Bastos atualmente é colunista no programa Câmera 2, da TV Pampa de Porto Alegre.

A exploração comercial do Porto de Pelotas foi concedida pela União ao Estado do Rio Grande do Sul em 1928 e as obras foram iniciadas em 1933. O projeto inicial era de 3 armazéns e 464m de cais (leia descrição oficial e o verbete na Wikipédia), que é a estrutura existente até hoje. O início das operações foi em 12 de janeiro de 1940 (há 71 anos, portanto).

Ao redor deste porto de água doce, pouco profundo, construiu-se um bairro de fábricas e depósitos (hoje denominado Bairro São Gonçalo). Com a decadência econômica da cidade, o velho bairro do Porto transformou-se em ruínas e vem sendo recuperado pouco a pouco, com projetos da Universidade Federal de Pelotas.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A casa que foi "visitada" duas vezes pelo trem

O descarrilamento de um vagão no bairro Fragata, na madrugada de 6 de novembro de 2006, acordou a população e deixou alarmados os vizinhos da linha do trem. A manchete do Diário Popular no dia seguinte foi: "Vagão descarrila e assusta moradores". Mas deveria ter sido: Trens infernizam a vida da população mais humilde.

O fato não pode ser banalizado, pois o contexto é de perigo constante, sem que o governo e a empresa concessionária melhorem a situação (apitos dia e noite, interrupções do trânsito urbano, acidentes e até suicídios).

Segundo a notícia do jornal (leia), o fato ocorreu pouco depois das 2h, quando um dos vagões de um trem vindo de Santa Maria caiu a uns 20 metros da Av. Dom Pedro I, derrubando um poste e a cerca de uma casa. Parte da carga (50 toneladas de soja) ficou espalhada pela rua, formando um tapete amarelo, e alguns vizinhos aproveitaram para se servir dos grãos.

Com o estrondo, a dona de casa Cátia Beatriz Oertel, de 38 anos, acordou e saiu sobressaltada de sua casa, na rua Frederico Bastos. Deparou-se com o vagão tombado a menos de cinco metros de seu portão.

— Foi um susto muito grande, não desejo isso para ninguém — comentou.

Também em pânico, o resto dos parentes saiu para ver o que acontecia, indiferentes à chuva. Era a segunda vez em 12 anos que um trem descarrilava diante da casa da família, que vive ali há 60 anos. Da primeira vez o imóvel foi completamente destruído.

— Depois disso tenho vontade de ir embora — disse a mãe de Cátia, dona Honorina, de 75 anos.

Em março de 2010, houve um descarrilamento maior (esq.) próximo à Vila da Quinta, em Rio Grande (veja a matéria).

A América Latina Logística (ALL) administra por concessão as ferrovias do norte da Argentina e as do sul do Brasil que pertenciam à extinta RFFSA. Como não transporta pessoas, as estações ficaram desativadas, a população é excluída das decisões e a empresa utiliza material velho ou em mau estado.

Em Pelotas, o prefeito Fetter tem consciência do problema e planeja, como medida paliativa, tirar a linha férrea do setor urbano. Mas o problema de fundo é bem maior.
Fotos: DP

domingo, 23 de janeiro de 2011

Zum Zum, avó das sorveterias de Pelotas

Em 1972, um comerciante uruguaio abriu uma sorveteria que marcou novo estilo em Pelotas: fabricava e vendia sua produção, trazia combinações imaginativas de sabores e oferecia umas 30 variedades, mais do que qualquer sorveteria brasileira. Na época, ainda não se conhecia o hoje onipresente self-service ou buffet; os sorvetes eram servidos somente no balcão.

Apesar de que os pelotenses preferem os tradicionais docinhos e o clima frio não facilita a venda de sorvete, a nova loja foi aceita como um ponto de encontro da juventude e das famílias.

Quanto ao nome, a onomatopeia de zumbido não foi compreendida (abelhas gostam de mel; não de gelo), mas deu certo pelo sentido social, o zunzum das conversas. Com o tempo, novas sorveterias surgiram, com os mesmos elementos à europeia, trazidos pelos castelhanos.

Quase 40 anos depois, o sorvete da Zum Zum conserva as suas marcas mais perceptíveis: a contextura cremosa e o sabor açucarado.

Apesar de algumas variedades terem sido descartadas por baixas vendas, ainda saboreamos algumas que chegaram para ficar, como leite condensado, doce de leite — a famosa especialidade platense do dulce de leche — e rum com passas.
  • O sambayon — mistura de sabayon (forma francesa de zabaione) e "sambaião", que é uma receita musical brasileira — ainda é bem aceito, pela gostosa mescla de vinho, gemas e lascas de chocolate.
  • Chocolate com menta esteve na Zum Zum mas não pegou entre nós, apesar do sabor profundo e até do aroma que exalava.
  • O sorvete de café é outra variedade que europeus e castelhanos gostam, mas que os brasileiros - inexplicavelmente - não aprovaram.

É de se destacar a oferta de seis sabores dietéticos (esq.), feitos com adoçante artificial. Para quem pode abusar da saúde — pois o sorvete já contém gordura e açúcar — há vários complementos da mais marcante doçura, como bombons, cremes, musses, confeitos granulados, fios de ovos, chocolate em calda e doce de leite puro.

A melhor opção é deixar esses adornos de lado, pois desvirtuam o sabor do sorvete artesanal e aumentam o preço na balança. Se houvesse tipos de biscoitos, wafers e bolachas, ajudaria na digestão, mas os acompanhamentos coloridos atendem mais aos olhos do que a uma satisfação real.

A fórmula de negócio da Zum Zum se baseia em duas raízes do tradicionalismo: culto ao pioneirismo e persistência no tempo. Concentrando-se em agradar ao consumidor, obtém suficientes lucros no verão que lhe permitem fechar a casa nos meses de inverno. O lado menos desenvolvido é a criatividade. Uma possível ideia promocional - coerente com o tradicionalismo - seria relacionar os 40 anos da sorveteria com os 200 anos de Pelotas, mas, dado esse esquema fleumático, o fato não será aludido ou comemorado em 2012.

Nos anos 80, a febre dos bufês de sorvetes que inundou o Brasil deu um impulso a este tipo de negócio. A Zum Zum adotou o bufê de balança, sem mudar o seu estilo (somente renovou o aspecto interno da loja).

Se diversificasse a oferta, ampliasse o espaço ou melhorasse o antigo visual (dir.), a empresa ainda poderia enfrentar o “frio” interesse pelotense pelo alimento gelado. No entanto, a Zum Zum aposta basicamente na boa qualidade e na ultraespecialização: sorvete e nada mais.

Para os clientes que preferem não servir-se (e pagar um pouco menos) há atendimento em balcão a preços fixos para a casquinha, o cascão e dois tamanhos de copos descartáveis (veja os preços na foto abaixo). O copão comestível (foto 2) vai somente na balança (hoje, o preço é R$ 2,59 cada 100 gr).

A avó de nossas sorveterias ainda abriu duas filiais em Pelotas, buscando o habitat de seu consumidor, o de mais alto poder aquisitivo. Mas, no fim das contas, o público pelotense só entra nas sorveterias quando faz muito calor e elas passam a maior parte do tempo vazias.

A sorveteria Zum Zum funciona - desde 1972 - na Rua Quinze de Novembro 624, todos os dias de calor, de setembro a abril, aprox. de 12h a 22h. As filiais ficam na Av. Bento Gonçalves 3407 (o chamado Shopping Lobão) e na Av. Antônio Augusto Assumpção 8953 (Laranjal).

O artigo acima saiu no Amigos de Pelotas há dois anos, com o título A pioneira dos gelados que aquecem o verão (leia os comentários) e foi modificado para esta publicação. As fotos foram tomadas terça-feira (18).

Fotos de F. A. Vidal

sábado, 22 de janeiro de 2011

Poemas de Florêncio Lunelli

O padre Florêncio Francisco Xavier Lunelli, nascido há 84 anos em Bento Gonçalves (RS), vem publicando livros de crônicas e de temas religiosos. Em 2010, ele lançou "Vigário e Aprendiz de Poeta", coletânea de 54 poemas, ilustrados com fotografias (Editora da UFPel). Um deles é sobre Drummond, falecido em 1987 aos 85 anos - referência permanente para Lunelli e para todos os poetas (e aprendizes) brasileiros.

Sua obra anterior foi "Vigário, Tropeiro e Pescador" (2006) e mereceu o comentário de Francisco Dias da Costa Vidal, publicado pelo Diário Popular (leia aqui). O mesmo crítico escreveu no Diário da Manhã o seguinte artigo sobre esta recente produção literária do padre Florêncio.


Colorido, leve, inspirado, o livro Vigário e Aprendiz de Poeta nos conquista em vê-lo, abri-lo e ir apreciando seu inspirado conteúdo que reflete um espírito simultaneamente poético e espiritual de seu nobre autor, o conhecido e apreciado sacerdote Pe. Florêncio Lunelli, cujo influxo humano e espiritual se fez tão conhecido na região sudeste deste Estado Gaúcho.

Esta autoapresentação do título bem que reflete a modéstia do autor, uma de suas notáveis virtudes, aliás presente em sua obra, que também encerra uma outra qualidade: a da sintonia com o espírito do gaúcho desta área na vastidão do território nacional.

E é conjugando a palavra com a imagem, o verbo com a figura, que Florêncio nos vai introduzindo na sensibilidade de sua criação, a qual, além de verbal, se faz “imaginosa”, não apenas no sentido literal como também integral do termo, tão bem concretizada neste belo e inspirado livrinho. Somente em mirá-lo, já nos revela a enorme sensibilidade de quem, sintonizando com a alma gauchesca, no-la desdobra numa das muitas e admiráveis dimensões de pampeana vastidão.

Abrindo essas páginas regionalistas cujas características o autor soube sempre preservar cultivando e descrever verbalizando com sensibilidade invulgar, avaliamos um enriquecimento compartilhado na inspiração do autor. E, com ele, penetramos no admirável espírito gauchesco que ele tão bem sabe expressar captando e descrever relatando, com sensitividade comunicativa.

Nestas coloridas e afetuosas páginas, o autor se revela, mais uma vez, um poeta de rara sensibilidade e um gaúcho de intensa brasilidade, não apenas contida mas também expandida neste seu admirável livro. Trata-se, em verdade, também de um escritor gaúcho, inspirado por nosso “pago-natal”!

Francisco D. C. Vidal
Drummond de Andrade
Partiu Drummond de Andrade
mas ainda permanece,
ele entrou na eternidade,
seu espírito não se esquece.

Apesar da muita idade,
sua veia não arrefece,
vai criando com felicidade
musa inspiradora que não perece.
Passando por esta vida,
se tornou figura querida,
suscitando muito amor,

e sua obra será tida,
nas penadas da lida,
como de nosso poeta maior.
Florêncio Lunelli

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Primeiro Subway em Pelotas

Anuncia-se para a primeira quinzena de fevereiro a abertura em Pelotas da Subway, lancheria fast food de franquia norte-americana, a terceira com mais locais no Brasil.

Em março de 2010 foi o primeiro anúncio (leia notícia), depois a previsão foi para dezembro, mas houve atrasos burocráticos e agora será finalmente satisfeita a curiosidade do público. As obras estão avançadas, na esquina da Bento Gonçalves com Edmundo Berchon (dir.), bem no meio do caminho entre o MacDonald's e o Habib's.

O empresário Felipe Lang tem estado muito preocupado de que tudo saia bem - como costuma sair a Quinzena Gastronômica, outro de seus empreendimentos em Pelotas. Em terreno de 450 metros quadrados, o prédio terá 188 m2. O empreendedor planeja expandir o negócio em 2012, com uma segunda loja no Shopping Pelotas, em construção na avenida Ferreira Viana (leia notícia), a somente um quilômetro dali.

Sexta (14), Lang solicitou - mediante o programa municipal Desenvolver Pelotas - melhoria do pavimento da rua Edmundo Berchon, onde estará o acesso ao drive thru do restaurante (onde os motoristas fazem seus pedidos sem descer do carro).

Será colocado asfalto sobre as pedras irregulares (foto abaixo), sem a menor necessidade, nesse trecho que é basicamente residencial: um desacerto estético, urbanístico, ecológico e financeiro. Mas as maiores reclamações serão com a perda da tranquilidade noturna, pois se anuncia funcionamento de madrugada.

Os restaurantes Subway começaram em 1965, vendendo subs (sanduíches do tipo submarino), que é como os norte-americanos chamam a baguete (nosso cacetinho) ou os pães longos, introduzidos nos Estados Unidos por imigrantes.

As franquias da empresa começaram em 1974 e hoje a rede é considerada de tão rápido crescimento que é difícil dizer quantos restaurantes existem no mundo, pois a cada dia abre mais de um.

Hoje (20), o sítio da Subway informa haver 33.953 em 95 países. No Brasil são 554 locais, 26 deles no Rio Grande do Sul (incluído o de Pelotas, na Avenida Bento Gonçalves 3002).
Fotos de F. A. Vidal (1 e 3)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Capitólio, um drive-in sem filmes


Hoje à tarde o antigo Cine Capitólio estava com muito movimento... de carros. Por algum motivo, o local é preferido para estacionar, mesmo que não se veja filme algum.
Os guichês externos estão depredados, e o interno é o que funciona normalmente (sob a escada). No antigo saguão de entrada há vagas para veículos, e a grande sala de projeção está cheia, como não ocorria quando o Capitólio era cinema. A iluminação é penumbrosa, como se o filme já fosse começar, mas não se usam lanterninhas, somente os faróis dos clientes.
Sem elevadores, as motos e os carros não podem ir ao piso de cima; ele ficou exclusivo para seres humanos, que hoje o ignoram totalmente. O único acesso é a escada de mármore, e quem lá sobe - talvez para usar os banheiros - verifica que o foyer ou mezanino está intacto e a antiga Sala 2 ainda está com suas cadeiras, abandonada mas semipronta para funcionar.
Se algum pelotense quisesse alugá-la, ela poderia ressuscitar à vida social e cultural. Enquanto a vida real continua no chão, é lá que residem os fantasmas do Capitólio, os filmes que já ninguém vê.
Foto de F. A. Vidal

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Vó Maneca ganha seu talk show

O desenhista André Luís Porto Macedo, criador do Libório e do Betinho, está desenvolvendo em animação, desde novembro passado, a sua personagem Vó Maneca.

Criada em 2003 junto à neta Dódi, em forma de tira de jornal, a endiabrada Vó Maneca chamou a atenção por tratar de temas incomuns para uma velhinha de 90 anos: sexualidade, política, futebol e religião.

Agora ela ganha um talk show como o do Jô, onde entrevista celebridades brasileiras e mundiais. A dupla pelotense Kleiton & Kledir não escapou das brincadeiras (vídeo abaixo).

Macedo conta em seu sítio profissional (veja) que, naquela época, uma crise de produção o fez abandonar o traço preciso e limpo e, rabiscando sem compromisso, redesenhou personagens de forma irregular, surgindo assim a personalidade atípica da Vó Maneca. Em alguns aspectos, a velhinha humorística faz lembrar as norte-americanas Momma (Mel Lazarus, 1970) e Lola (Steve Dickenson e Todd Clark, 1999).

Num dos textos, Vó Maneca era uma consultora que aconselhava a melhorar o currículo. As sugestões dela eram usar o Curriculum Incrementator para trocar o nome das profissões:
  • Especialista em Marketing Impresso (boy do xerox)
  • Supervisor Geral de Bem-Estar, Higiene e Saúde (faxineiro)
  • Oficial Coordenador de Movimentação Noturna (vigia)
  • Distribuidor de Recursos Humanos (motorista de ônibus)


segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Excesso de público e/ou falta de atendimento

Por estes dias, época de férias e baixo movimento bancário, o Correio tem estado com muito público. Hoje à tarde, a espera média era de uns 40 minutos, e os 25 assentos disponíveis davam descanso a somente metade do necessário.

Como a empresa é pobre, não tem muitas cadeiras nem pessoal que ensine a matar a charada de como pedir a senha (há cinco filas no dispensador, e o usuário deve adivinhar a sua). O encarregado da segurança orientava as pessoas que pediam ajuda.

A situação parece reflexo das muitas devoluções de dinheiro de um concurso revogado em dezembro, da própria empresa estatal, que teve um milhão de inscritos em todo o país para 6500 vagas (leia notícia). Também muitos CPFs eram iniciados ou desbloqueados.

Tudo bem explicável, mas a direção da agência não se mostrava minimamente sensibilizada pelo problema sofrido pelo público. Pelo contrário, os funcionários é que se ressentiam pela pressão, impedidos de parar um momento para ir ao banheiro ou a um cafezinho, e até mesmo a direção proibia tomar fotos do recinto, como se fosse um local secreto. A empresa pública não deseja ser observada ou criticada?

O fato é que o público não se queixava, acostumado ao mau atendimento e até temeroso de represálias, como se estivéssemos já num país socialista. Em Cuba, reino do partido único, a fórmula para não espantar turistas é esta: estrangeiros são atendidos em primeiro lugar, enquanto o povo espera uma solução política.
Foto de F. A. Vidal

domingo, 16 de janeiro de 2011

Imagem urbana devolvida por um edifício

Cristiane Neves é de Rio Grande e anda sempre com uma câmera Nikon. Ela diz que as imagens a chamam e ela só as registra, intuitivamente. Numa das vezes que veio a Pelotas, viu esta imagem criada por um importante edifício daqui. É um dos detalhes que chamam a atenção do visitante.
Flickr

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

As 5 postagens mais visitadas

O portal Blogger começou a informar estatísticas (acesso de posts e origem de público) em julho passado. São seis meses e meio de medição até esta meia-noite. Podemos informar quais as notícias mais visitadas individualmente, e seu número de acessos. Os altos índices das cinco primeiras podem atribuir-se a buscas dos leitores no Google e de indicações feitas no Twitter.
  • Um encontro com Getúlio Vargas (24-8-10)
    681 visitas
    A crônica de Rubens Amador sobre uma das visitas de Getúlio a Pelotas foi publicada no aniversário da morte do ex-presidente, e não parou de receber visitas até o fim do ano, umas 5 por dia em média. Mas não gerou comentário algum. A marca ficou nos 681 acessos e ainda custará a ser superada.
  • O único cinema de Pelotas (16-6-09)
    423 visitas
    Uma descrição do Cine Art (dir.), feita há um ano e meio, despertou o interesse cinéfilo: certamente por seu caráter emblemático de único cinema local. Apesar das atuais críticas a sua qualidade, este conjunto de 3 pequenas salas ainda se equilibra comercialmente, mas entrará em verdadeira decadência quando um futuro shopping center nos trouxer cinemas grandes e modernos.
  • Abertura da Fábrica Cultural Música pela Música (13-10-09)
    309 visitas
    A sede própria da Sociedade Pelotense Música pela Música finalmente foi inaugurada em 2009, com uma série de pocket shows, destinados a mostrar a versatilidade da Fábrica Cultural e de nossos artistas. O primeiro post deste blogue (Reinaugurada Biblioteca antes do Natal, 8-1-09) foi dedicado a uma das apresentações da Orquestra e Coro Sinfônico, mas não teve muitos acessos.
  • O carrinho do Pingo Doce (8-10-09)
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    O gosto popular pelos carrinhos de doces atraiu também leitores a esta nota. Depois dela, apareceu um segundo carro no Calçadão, esquina General Neto, evidenciando o sucesso quantitativo do Pingo Doce, que assumidamente não busca a alta qualidade mas a alta produção.
  • Alice Ávila, 1º lugar no Top Mirim (20-12-10)
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    Uma menina negra de 4 anos foi escolhida como a mais bonita do Brasil, com todo mérito. Em cerca de um mês, a notícia esteve recebendo uns 10 acessos diários em média (o dobro do post mais visitado). Os poucos comentários sugerem que o interesse dos leitores se centrou na beleza e graça da pequena, e não no significado étnico do prêmio.

A partir de hoje, confira os posts mais visitados nos últimos sete dias: na coluna da direita, bem abaixo.

Foto de F. A. Vidal

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Vi o Dr. Mozart bravo!

O cronista Rubens Amador evoca um conflito que viveu na condição de empregador, no verão de 1958. O caso foi julgado pelo Dr. Mozart Victor Russomano (1922-2010), fundador da Justiça do Trabalho em nossa cidade (leia currículo).

O episódio foi recordado por Amador quando o admirável jurista pelotense recebia o sétimo doutorado Honoris Causa (leia notícia), em 2005.

Na época dos acontecimentos narrados, a Junta de Conciliação e Julgamento (hoje, 1ª Vara do Trabalho de Pelotas) funcionava - recorda o articulista - na Félix da Cunha esquina Sete de Setembro (dir.).

Foi esse o lugar da "brabeza" do juiz.


Em trinta e cinco anos que fui comerciante estabelecido, fui levado à Justiça do Trabalho uma única vez. O motivo da coluna de hoje me veio à memória por ocasião de mais esta justa homenagem que a PUC-RS concedeu ao Ministro Mozart Victor Russomano. Preito mais do que merecido para um homem bom e culto.

Tinha eu um empregado — já havia quase 7 anos — que, pretendendo receber uma indenização, agiu de forma grosseira. Certa manhã, atendia eu a dois clientes. Um deles era João Doumid, excelente criatura, hoje falecida. O outro era um cidadão meio áspero, considerado opiniático, embora bom sujeito. Pois naquele momento o aludido empregado veio pegar o serviço, atrasado uma hora. Passou por nós, que estávamos na recepção, a ninguém cumprimentou, e foi dirigindo-se à oficina. Interpelei-o:

— Sr. Fulano, o fato de não cumprimentar ninguém é caso de educação. Mas o senhor me deve uma explicação por que chega atrasado.

Ele foi curto e grosso na resposta que, entendia, se encaixava nos seus propósitos:

— Se o senhor quer que eu venha na hora, dê as voltas que tenho que dar!

Olhei para os clientes e perguntei-lhes:

— Os senhores ouviram?

Ambos assentiram com a cabeça e, então, voltei-me para o empregado e disse-lhe que juntasse suas coisas, se retirasse, e que estava despedido por sua resposta insólita. Ele o fez. Dias depois, recebi uma intimação da Justiça do Trabalho. Era meu advogado e grande amigo, o Dr. Rubens de Oliveira Martins.

Quando chego ao tribunal, vejo que o Juiz seria o Dr. Mozart Victor Russomano, com quem nunca havia falado, mas que já o admirava. Estava impecavelmente vestido; ele seria o mediador da pendência (o fato já deve ter-se perdido no escaninho de suas lembranças), o que muito me agradou, pois conhecia de sua capacidade. Sua figura me impressionava muito por sua cultura impar, por todos reconhecida. Acompanhavam-me, minhas testemunhas.

Estávamos na frente do Tribunal à espera de sermos chamados, quando o Enedino Tavares (ex-player do Grêmio Esportivo Brasil, nos anos 40), que era, penso, o meirinho da Junta, chega-se até nós e convida aos atestantes a passarem para a “sala das testemunhas”. João Doumid prontamente acatou o convite enquanto o outro, com soberba, respondeu ao oficial que não entraria, e que iria ficar ali na porta. Tavares, que era afável, delicadamente insistiu, dizendo-lhe ser aquilo praxe processual, e que cumpria ordens do Juiz. A testemunha manteve-se rígida:

— Ficarei aqui na porta, não entro!

O oficial então comunicou o fato ao Dr. Mozart. Quando olho, vinha com fisionomia contraída, passo apressado, o Dr. Mozart, então uma figura jovem e elegante como ainda hoje o é, e me assustei; porque a testemunha era minha e a reconhecia em erro.

— O senhor é obrigado a obedecer a ritualística processual. Posso mandar conduzi-lo, sob vara, até a dependência indicada. Mas não vou fazê-lo, bem assim como vou dispensá-lo de testemunhar. Queira retirar-se.

Tudo pronunciado com notória severidade, o que fez com que o homem se encolhesse, creio que envergonhado, ante a reação do Juiz, Dr. Mozart Victor Russomano. Neófito nessas questões trabalhistas, pensei logo: "Estou ferrado, logo com a minha testemunha...” Desenvolveu-se a sessão. Veio a deliberação: tive ganho de causa por três a zero! O que equivalia dizer que além do Meritíssimo, votaram a favor de minhas razões, os dois vogais: o dos empregados e o dos empregadores. Não deixou dúvidas.

Desde aquela distante época, daquele incidente provinciano, sou admirador deste homem de qualidades hoje reconhecidas universalmente. Recondidamente, confesso que o admiro, sobre tudo por me ter feito Justiça um dia.

Rubens Amador

Após a publicação desta crônica (em 3-11-2005), o autor recebeu do Dr. Mozart este bilhete:

12.XI.2005
Prezado amigo,
Muito obrigado pelo seu amável artigo no "Diário". Confesso que o fato estava por mim esquecido, sob os escolhos de meus 38 anos de magistratura! Mas o conto ficou pitoresco e espero que minha "brabeza" para com sua testemunha tenha sido discreta e transitória... Abraço cordial de Mozart Victor Russomano
Fotos: F. A. Vidal (1) e RBS (2)

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Fila para saúde: não há piedade para o pobre

Há alguns meses, o fluxo de público que pede cartão do SUS (Sistema Único de Saúde) subiu ao dobro do usual, mas a Secretaria de Saúde não dispôs melhorias no atendimento. Numa pequena sala do térreo do velho centro da Lobo da Costa (sem relação com o Programa "Doenças Sexualmente Transmissíveis", que funciona no piso superior), dois funcionários dão 60 números cada manhã e atendem caso a caso, das 8h às 14h.
Em 10 minutos, somente com a cédula de identidade, um novo cartão é fornecido. Pela importância do documento, as pessoas toleram esperar até 3 horas, com duas cadeiras disponíveis, no sol da manhã (ou sob chuva). Esta manhã a situação foi considerada normal.
Como estão chegando 80 pessoas diariamente, o excedente deve voltar no dia seguinte. Em casos de alta urgência, as pessoas que chegam após as fichas serem dadas podem ser atendidas no mesmo dia, mas ficam mesmo assim no fim da fila. Há uma sala de espera, mas ninguém quer ficar longe de onde os números são chamados.
O povo achava demais o desconforto e até fazia piada, mas não tinha a quem reclamar. Os pobres e os doentes são tratados sem o respeito devido - mesmo em democracia - por políticos, médicos e chefes em geral.
Foto de F. A. Vidal

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Concurso literário discute turismo no Laranjal

As notícias veiculadas na mídia contribuem para o turismo no Laranjal? A instigante pergunta é o ponto de partida para quem quiser participar da 4ª edição do Prêmio Praia do Laranjal, que em 2011 traz esse título (leia nota). O concurso literário, que abrirá inscrições nos próximos dias, é organizado pela Secretaria de Cultura e o INBRAJA (Instituto Nacional Brasileiro Senador Joaquim Augusto de Assumpção).

Como os meios de comunicação contribuem para o turismo em nossa praia? As manchetes do noticiário podem atrair ou afastar visitantes? As reportagens devem mostrar os problemas e as virtudes do balneário?

A curiosidade dos organizadores aponta a uma dúvida principal: como aumentar o turismo nas praias de Pelotas? Nas entrelinhas parece ler-se: "menos crítica; mais alegria de viver". Além de qualidade literária, espera-se que os participantes contribuam ao debate com ideias e soluções.

A sujeira da água, a falta de banheiros e a ocupação das areias com vendedores são alguns dos clássicos problemas do Laranjal (balneários Valverde, Santo Antônio e dos Prazeres). Se a imprensa os omitisse, seria suspeita de não mostrar a realidade que os cidadãos requerem melhorar. Essas notícias que mostram o lado feio estão dirigidas aos pelotenses, não aos turistas.

Com certeza elas não contribuem ao turismo diretamente (supondo que os turistas as vissem e se assustassem), mas sim ajudam indiretamente, pois buscam que a cidade seja um melhor lugar para viver. O que contribui diretamente ao turismo é a informação positiva sobre Pelotas, veiculada pelos pelotenses ou por folhetos sobre história, geografia e cultura.

Em 2010, a 3ª edição do concurso versou sobre o Trapiche do Valverde. As inscrições estiveram abertas até fevereiro, em maio anunciaram-se os premiados (3 contos, 2 crônicas, 3 poesias e um documentário audiovisual) e a entrega dos troféus e diplomas realizou-se no aniversário de Pelotas, dia 7 de julho (leia nota).

Em 2008, o tema foi totalmente lírico: "Laranjal, a praia dos meus sonhos". A cerimônia final foi em 2 de julho daquele ano e teve a presença de escritores de várias outras cidades. Premiaram-se 3 crônicas, um conto e 3 poesias. Ainda outros 10 trabalhos receberam menção honrosa (leia nota). Foi um ponto de partida auspicioso.

Os organizadores têm identificado publicamente os autores mas não divulgam as obras. Para que não ocorra como os professores que guardam em segredo os melhores trabalhos - para que os próximos alunos não os copiem - pedimos o direito de publicar aqui no blogue o melhor que os pelotenses escrevem sobre Pelotas.
Fotos Flickr: Francisco Farias (1-2) e Ítalo dos Santos (3)

domingo, 9 de janeiro de 2011

Flores e mulheres abrem 2011 no Corredor Arte

Nauri Saccol, Vera Souto e Graça Antunes, integrantes do Movimento dos Artistas Plásticos de Pelotas (MAPP), apresentam a exposição “Flores” até o dia 17 de janeiro no Corredor Arte da FAU.

A proposta delas é alegrar a vida das pessoas que trabalham e necessitam dos serviços do hospital. “Viemos para falar de flores, numa homenagem à vida", disseram à coordenação do projeto.

Nestas datas alusivas às mudanças e renascimentos, as artistas também pretendem anunciar um novo ano "em que possamos colher e oferecer os frutos de amor, fé e esperança a todos que por aqui passarem”.

As flores são um tema clássico nas artes e, mesmo não contendo novidade no conteúdo, sempre são bem-vindas num hospital, um lugar onde a sensibilidade está à flor da pele e as novidades boas são colocadas por vozes humanas que falam em nome da esperança: a vida continua e se renova em nós.

Se bem costumam ser o típico ponto de partida para os aprendizes, as flores contêm um simbolismo universal que sugere às mentes mais criativas um leque amplo de associações: visuais, verbais, afetivos, sociais, eróticos e espirituais. Neste caso, o trio de artistas do MAPP veio dizer algo próprio, dentro do velho tema.

Vera preferiu as cores vivas, exceto num quadro de ambientação outonal (dir.), onde folhas se confundem com flores - tanto em formatos como em colorações - e até o vaso adquire uma "pele" com nervuras. A sugestão é de que o outono da vida tem uma exuberância de ideias e emoções, sem diminuir a qualidade da beleza física.

Nauri imaginou flores levemente estilizadas (acima esq.), com detalhes antropomórficos nos gineceus (a parte central, rodeada pelas pétalas). Justamente o ponto feminino sugere olhos, lábios e ouvidos, focos da sensibilidade na comunicação humana. Será que na doença ou na saúde pensamos nesses pontos sensíveis?

Graça trouxe suas mulheres gordas, vestidas de estampas florais, mas para revelar que as verdadeiras flores e frutos somos nós, que contemos as sementes do amor generoso e da criatividade produtiva.
Imagens: Corredor Arte

sábado, 8 de janeiro de 2011

Onde fica esta paisagem?

Com um pequeno avião e uma boa máquina, Felipe Rodrigues documenta aspectos de nossa cidade e revela o que nunca poderíamos ver com nossos próprios olhos, nós que não podemos voar.
Algum pelotense reconheceria nesta foto a famosa e perigosa estrada para o Laranjal, as imediações do Recanto de Portugal, os meandros do Arroio Pelotas, o Canal São Gonçalo - que todos chamamos de rio? Eu pelo menos pensei, à primeira vista, que fosse na Europa ou em canais do sul do Chile.
Foto: F. Rodrigues (SkyscraperCity)

domingo, 2 de janeiro de 2011

Post nº 700: os mais comentados em 2010

Há quase um ano, este blogue chegou à marca dos 400 posts falando sobre Pelotas e seus costumes, história e patrimônio cultural. Com a presente nota, a de nº 700, já estamos com o dobro do trânsito de leitores (de uns 100 acessos diários, passamos à atual média de 200 por dia).

No entanto, a participação escrita dos leitores diminuiu muito. No primeiro ano do blogue, os primeiros 400 posts renderam 461 comentários (média superior a 1). Os seguintes 300 posts (de janeiro de 2010 até hoje) trouxeram somente 221 comentários (média de 0,7).

No dia dos 400 posts (20 de janeiro de 2010), fiz uma lista dos temas mais comentados no primeiro ano do blogue (leia a nota). Nessa avaliação, os preferidos dos leitores tiveram 23 e 22 comentários (atualmente têm 24) e são recordistas até hoje. Ambos trataram de literatura.

Entre as postagens de 2010, a que suscitou mais reações ("Poema-canto ao Laranjal", veja abaixo) foi sobre um escrito da poetisa Beatriz Araújo, parecido ao que ocorreu em 2009 ("Poetisa escolheu Pelotas para viver"). Os outros mais comentados são os seguintes (três deles se relacionam com literatura).

Em conclusão, enquanto o número de leitores foi crescendo gradualmente (duplicando a cada ano), a curva dos comentários tomou a direção contrária (caindo à metade, a cada ano). Apesar disso, o interesse dos comentaristas se manteve concentrado na mesma área, a literatura. Ao parecer, os novos leitores do blogue dão suas opiniões por fora (no Twitter, por exemplo) e os antigos não sentem o mesmo interesse de antes.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Uma canção de esperança, para nós

Lyber Bermúdez, músico uruguaio residente em Pelotas, ganhou este ano o segundo lugar no 24º Musicanto, festival de nativismo sul-americano realizado em Santa Rosa (RS), representando ao mesmo tempo seu país natal e a cidade que o acolheu.

Foi sua segunda participação destacada nesse encontro, sempre com seu gênero preferido, o candombe uruguaio (veja definição).

A música Candombe para Vos fala inicialmente de uma paixão sem destinatário preciso, mas com um sentimento muito claro: quando o coração precisa de amor, ele pede a sua recuperação.

Si pido, es para que vuelvas. Si pienso, es porque te extraño.
Si lloro, es porque tu no estás. Me lastima tu ausencia sin parar.
O problema está na essência da alma humana e já foi colocado por poetas e cientistas, pela arte e pela religião, em todas as épocas. A letra de Lyber Bermúdez sintetiza esse sofrimento, que não responsabiliza o outro mas o chama, como a voz de um mendigo.

Si miro, será en tu mirada. Si espanto, será la tristeza.
Si siento, sentiré el corazón, que palpita incesante por vos.

Ay, pasión, escucha mi canción!
Ay, mi amor, un candombe para vos.
Enquanto a frustração segue e a esperança não morre, a música funciona como um presente (assim como a arte em geral). Como já diz a letra, a oferta da canção contém uma súplica e serve como autoconsolo, obtendo assim uma reparação gradual, nunca completa. No final, o desespero, a obsessão e a fatiga são superados e resolvidos no encontro amoroso.

Si duermo, yo sueño contigo. Si canto, reflejo mi alma.
Si sufro, [
es] porque no aguanto más: tengo el cuerpo cansado de esperar.
Si grito, gritaré tu nombre. Si corro, es para tus brazos.
Si llegas, termina mi dolor. Nuestro amor reflorece sin temor.
O presente em forma de camdombe também é para nós, neste início de 2011. Há mais informações (inclusive uma versão desta música com áudio ao vivo) no blogue de Lyber Bermúdez, mas se o leitor quiser ouvir uma gravação de estúdio deixe seu endereço nos comentários, pedindo uma cópia. Em todo caso, a música será incluída no próximo CD de Lyber.