quinta-feira, 3 de março de 2011

Variações sobre Frida Kahlo, no hospital

Em seus exercícios para desenvolver a técnica e o pensamento, o Ateliê Giane Casaretto costuma estudar, cada ano, a obra e a personalidade de um ou dois grandes criadores da humanidade. Sua exploração mais recente foi com a pintora Frida Kahlo (1907-1954), cujo centenário foi comemorado há três anos e mesmo até 2010 seguia despertando homenagens.
Os cerca de vinte quadros que resultaram desta prática didática estiveram na exposição de fim de ano do Ateliê e agora uma pequena mostra deles, selecionada por Giane, pode ser apreciada no Hospital São Francisco de Paula, no Espaço de Arte organizado por Orayl Barcellos de Araújo.
Ontem (2) ele colocou as sete obras que ficarão ali até fim de março (dir.) e hoje pela manhã acrescentou as etiquetas de identificação e preço. Em setembro passado ele reinaugurou este espaço (veja nota) e não tem deixado de renovar as mostras mensais.

Frida Kahlo esteve hospitalizada várias vezes mas soube processar o sofrimento mediante a arte plástica, que exercia mesmo deitada ou imobilizada pelo gesso, numa atitude que é modelo de superação para todo ser humano que passa por situações angustiantes ou deprimentes.
Por isso parece tão significativo que estas obras tenham encontrado este lugar, e além disso pudessem expressar duplamente sua mensagem de amor e de vida: a da criadora mexicana e a mediada pelas artistas pelotenses.
Vera Holthausen é uma dessas artistas, que têm uma distância cultural em relação ao México dos anos 1930 e 1940, mas mantêm a identificação com a vivência do gênero feminino. A metáfora das flores de cacto (esq.) sugere o contraste dramático entre dor e beleza, entre aspereza e sensualidade. Se a natureza nos mostra essa contraposição numa planta do deserto mexicano, por que não também num ser humano? Quem subsiste no deserto armazenando gotas de água nas vísceras é um artista da sobrevivência, e muitos de nós gostaríamos de saber como é possível desenvolver esses mecanismos. A mantilha em vermelho e preto (abaixo) traz um contraste mais radicalmente emocional entre o mais apaixonado erotismo e a mais negra tristeza, num verdadeiro retrato psicopatológico.

Fazer um retrato pintado não requer somente boa técnica e talento gráfico, mas uma intuição que permita tocar as profundidades, e mostrar sem palavras o que é invisível ao público médio. Na primeira imagem desta nota temos um exemplo de retrato feito com sensibilidade.
Giane Casaretto foca diretamente no rosto de Frida, em cores menos vivas que as usadas pela pintora mexicana e num estilo que, sem ser naïve, conserva o lado primitivo que neste caso é parte da personalidade retratada. Assim, o olhar de Giane está fora da aparente ingenuidade em que se refugiou Frida para sair da dor, mas não deixa de ver os tormentos que se instalaram no corpo e na alma da artista mexicana.
Fotos de F. A. Vidal

Um comentário:

Carla Menezes disse...

Me identifico muito com Frida Kahlo por saber o que é dor e superação. Entre 32 cirurgias e intensas limitaçoes, expressava meu intenso desejo de liberdade em cada borboleta pintada. Elas por si falavam o que nao queria calar dentro de mim. Cada tela produzia uma libertação do êxtase duplo que me rodeava, a dor e a alegria de Ser e de Estar, simplismente.
Parabens Giane Casaretto pela iniciativa de divulga-la e nos dar essa oportunidade de aprecia-la, parabens a todas as tuas alunas, e parabens Vidal, por ter esse espaço ilustre.
Carla Menezes