sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Poemas sociais de Nathanael Anasttacio

O designer profissional Nathanael Anasttacio está preparando um segundo livro de poemas, "Teoria do Te-Vira", que será lançado na Feira do Livro, em novembro de 2011. "Inquilinos da Intolerância" (2008) foi o primeiro, poemas assinados com o pseudônimo de Condessa de Lilith. "Designado", seu primeiro trabalho escrito, versou sobre a implantação do curso de Design na UFPEL, uma história social mediada pela visão autobiográfica.

O texto de Nathanael critica as incoerências do antissocial mundo moderno e não deixa de ironizar sobre isso em nossa Pelotas de 200 anos, uma capital regional sempre moderna e sempre fora do seu tempo. Estruturado em peças de fácil leitura, o livro denuncia o abandono humano vivido em todas as áreas: na política e na arte, no amor e no sexo, no abuso de drogas, na solidão e na convivência social.

Infiltração

Ele não serve para casar comigo ...
Tem amizades densas com outros rapazes

Infiltrado com sua farda entre a marcha
Ele responde ao peso da espada ... inclinando os ombros
E desaprovo tal conduta ... pois apenas ele faz isso

Infiltrado no batalhão cercado de moços atraentes
E então desço em trajes finos a escadaria do hall ...
levanto as saias do longo vestido evitando beijar o chão

Ele não serve como marido
Vejo algo em seu olhar que esconde intenções
Sempre que outros jovens se aproximam
Sempre espreitando o mover-se de outros homens

Taciturno ... falseia ao falar em público
E o tecido das minhas vestes caras trama o que sinto e digo
E ele sempre se afasta assustado como inseto descoberto antevendo a morte
E apenas sorrio ... desdenhando o escarnecido

Ele não serve para casar comigo
Já notei como admira a beleza dos outros meninos
E infiltrado está ... onde desejou estar

Passo todo o baile observando ... ave de rapina mergulhando os olhos

E vejo o que ele pensa e deseja ... e tenho pena
Tão bem infiltrado em seu disfarce quase perfeito

Esperando meu dote para casar comigo ...
E meu cinismo jocoso incentivando tal espera
E inundo o espaço amplo ... minha sessão de piano
Toco uma música triste que o provoca e desperta

Tal qual uma dama ele sai sorrateiro
Noto sua ausência prolongada e quando volta arredio
... outros amigos entram no salão por outras portas

Encosto-me na coluna de mármore gelado
Tenho uma visão ampla e aristocrática
Um grupo ri ... outro serve de motivo
Alguns planejam impressionar ... mas poucos entendem o porquê disso
Infiltrados na corte ... tentando ascender

Respeitando minha dinastia ... o nome e propriedades da família
Eu não gostaria de gerar descendentes com o sangue dele
Ideia que minha alma repudia

E quietamente observo a bebida agir em meu alvo ...
Suas frases quentes sempre mirando os olhos do alpha macho
Eu peguei sua essência ... e me embriago vendo o que os outros ignoram

Como a água suja se infiltra permitindo o surgimento do mofo
Eu aposto ... sugiro e acho sentido nisso
A valência do caso está em impedir

Ele não serve para casar comigo ... pois ao invés de amá-lo eu teria uma rival

Deixo a cerimônia retirando-me aos meus aposentos
Para a nobreza as festas sempre começam mais tarde e terminam mais cedo
Os comensais esbanjam sorrisos
Tal qual um animal em sua gula demonstram querer mais

E então sofro em meus anseios
E detenho-me pensando aos risos

Ele não me serve como marido ... pois nenhum deles nunca serviria
Pois não me desejam como uma pessoa ... nem tão pouco como companhia
Desejam apenas uma chave ... para ascenderem em hierarquia

Os bailes da corte sempre me agoniam pelo mascaramento da hipocrisia ...

Imagens da web

2 comentários:

Mario Osorio Magalhães disse...

Parabéns ao autor. Belo poema.

Unknown disse...

Nathanael.

Que maravilha de texto!Lendo, senti o cheiro dos pefumes fraceses, oovi o barulho das saias volumosas a deslizar pelo salão.
abraços.