quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Luiza Silva Yuk


A jovem pelotense Luíza Silva Yuk formou-se como bailarina na Escola Dicléa Ferreira de Souza e passou a atuar, em 2007, na Companhia Jovem da Escola do Ballet Bolshoi do Brasil, em Joinville, Santa Catarina (veja reportagem no jornal A Notícia, dessa cidade). Desde então já se apresentou em países como Itália e Rússia.

Hoje ela celebra ter sido aprovada na seleção para a companhia pré-profissional Coastal City Ballet, ligada à escola Pacific Dance Arts, de Vancouver, Canadá. Ganhou uma bolsa de estudos, mas ainda precisa de apoio para financiar transporte e alimentação durante um ano. Um dos vídeos que ela apresentou para inscrever-se foi a variação do ballet clássico Paquita (acima).

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Cor local (crônica)

O seguinte artigo foi originariamente publicado no livro Página Dois, de Mario Osório Magalhães, e agora formalmente refeito por seu autor, para este blogue.

Aguardo ansiosamente o retorno de um colega que saiu a passeio. Chega esta tarde de Montevidéu e deverá trazer na mala, entre os seus cachimbos, Simenon, a minha preciosa encomenda. Quer dizer: uma meia-dúzia de livros policiais de Georges Simenon, em edição espanhola, de bolso, em papel jornal.

Hemingway recorda, em Paris é uma festa, que nenhuma leitura o deliciava mais, naqueles tempos de escritor iniciante, do que “os primeiros belos livros de Simenon”. Não duvido que, escritor consagrado, tenha mantido e até reforçado a opinião, mesmo porque Simenon foi crescendo em mérito e quantidade, transformando-se num dos autores mais férteis da literatura universal, com cerca de 300 títulos.

Ando, portanto, em boa companhia. Posso ignorar aqueles que lhe torcem o nariz pelo fato de o escritor belga haver-se dedicado, em parte, a um gênero literário que ainda é considerado, preconceituosamente, menor: a novela policial (ou policíaca, como nos livros espanhóis).

Só lamento é que a Nova Fronteira, que vinha editando a sua obra na proporção de pelo menos um livro por mês, tenha interrompido essas publicações, obrigando-me agora a apelar para a boa vontade de um colega, tornar-lhe mais pesada a mala, misturar-lhe aos próprios os cachimbos de um terceiro.

* * *
Estes parágrafos acima foram publicados no meu livro de crônicas "Página Dois" em 1981 — precisamente há 30 anos. Graças aos sebos, viagens ao Prata e à editora L&PM, que tem dado a lume títulos inéditos de Simenon, desde há cerca de meio ano consigo contemplar na minha estante, no espaço de três prateleiras, a obra completa que diz respeito ao comissário Jules Maigret (todos os seus 76 títulos).

* * *
Nas suas investigações, com frequência o detetive percorre pequenas cidades da França. Lembro-me de que, numa dessas andanças, ele comenta o fato de que os moradores desses lugares têm a tendência de julgar que certos usos, costumes e acontecimentos só se verificam em suas cidades, em nenhum outro lugar do mundo.

Sempre que escrevo os meus artigos relacionados a Pelotas pergunto-me se não estou representando o papel de um dos tais cidadãos observados por Maigret.

Já me garantiram, por exemplo, que não é só aqui que se trata determinado sanduíche de recheada e bolo inglês de quéque; que a passeata do Gato Pelado não é o único caso universal de rivalidade entre dois educandários; que em outros espaços do país também se chama a água que sai da torneira de água da pena.

Ainda assim, para não perder o hábito, indago hoje ao leitor: a não ser na França, em que outro recanto do mundo dá-se a uma funerária o nome de casa de pompas fúnebres?

Onde mais, me responda, os moradores encaminham todos os seus negócios, resolvem todos os seus assuntos num café central e ainda há pouco conheciam as Lojas Brasileiras como Quatro e Quatrocentos?

Não sei o leitor, mas é claro que Maigret murmuraria, entre dentes, mastigando o cachimbo:

Certamente, em outros pequenos lugarejos...

Mario Osorio Magalhães

Imagens:
1 Georges Simenon (1903-1989)
2 Bruno Cremer (1929-2010) como o Comissário Maigret
3 Empresa de Pompas Fúnebres, em Pelotas
4 Magazine BRASCON, antes Lojas Brasileiras e "Quatro e Quatrocentos"

Laranjal em agosto

A artista plástica Norma Alves esteve no Laranjal este domingo, quando as condições do tempo transitavam das sombras frias do inverno a um clima de meia estação.

Vários elementos da natureza passaram pelo céu em pouco tempo, com a rapidez suficiente para transformar a praia numa grandiosa tela de cinema. Os personagens eram aves, árvores e nuvens, e todo o reino vegetal, o animal e o mineral, como aparece na foto à direita, tomada do Facebook da artista.

Quem teve máquina fotográfica à mão, pôde tomar boas imagens, pois elas estavam dando sopa, e eram fugidias. Mas uma câmera cinematográfica em 360 graus teria sido ali mais útil. E se registrasse os movimentos do vento e mudanças de temperatura, ainda melhor.

Esperemos que alguém invente esse aparelho, e enquanto isso vamos desfrutando da visão que o nosso Laranjal nos proporciona.

domingo, 28 de agosto de 2011

Piano Presente, para difundir a música brasileira

A pianista Joana Cunha de Holanda, doutora em Música pela UFRGS e professora no Conservatório de Música da UFPel, desenvolve um projeto pioneiro de divulgação de música para piano, composta no século XXI por autores brasileiros. No vídeo acima ela explica os objetivos do "Piano Presente", um CD a ser lançado proximamente.

A maioria das obras (90%) ainda não foi gravada em disco, apesar de já ter sido estreada, muitas vezes pela própria Joana, em salas de concerto no Brasil e no exterior. O CD reúne compositores de várias gerações e regiões. A partir do mais jovem: Marcílio Onofre (João Pessoa, 1982), Bruno Ruviaro (São Paulo, 1976), Tatiana Catanzaro (1976), Rogério Constante (Porto Alegre, 1974), Alexandre Lunsqui (São Paulo, 1969), Rogério Vasconcelos Barbosa (1963) e Marisa Rezende (Rio de Janeiro, 1944), esta última com verbete na Wikipedia.

Os recitais de lançamento do Piano Presente serão gratuitos, com o disco à venda, e quem apoiar financeiramente o projeto (até 18 de setembro) terá direito a diversos graus de retribuição. Veja como colaborar (doações desde R$ 10).

Meia-noite em Paris chega a Pelotas

Desde esta sexta (26) o Cinema Arcoiris de Pelotas exibe Meia-Noite em Paris, o mais recente filme de Woody Allen. O diretor nova-iorquino rodou todo o filme na capital francesa mas as falas são em inglês e em diversos sotaques, configurando um etnocentrismo americano com cenários parisienses.

Midnight in Paris mostra personagens voltados ao passado, tentando resgatar o lado romântico de épocas antigas, mas sob o risco de cair num buraco sem fundo. O protagonista se vê enfrentado ao realismo e ao modernismo, mas prefere refugiar-se em sua imaginação fértil, numa cidade de alta riqueza artística, povoada de arquitetura do século XIX, num clima chuvoso e enevoado.

Reviver durante a madrugada um passado glorioso, que foi verdadeiro mas hoje não existe? Ou despertar para um cotidiano que conserva o idealismo e onde as reminiscências seguem presentes, mas que aos poucos vai sugerindo a possibilidade de sair do narcisismo?

Além das semelhanças visuais da situação, o problema é inegavelmente próximo a nossa sociedade local, presa numa série de impasses: conservação ou criatividade, vaidade ou erotismo, realidade ou sonho, passado ou futuro.

A melhor escolha talvez não seja entre branco ou preto, e sim se mova numa transição gradual e equilibrada, mas não faltam as mentes bifurcadas e briguentas, que preferem ver o mundo dividido em dois bandos.

sábado, 27 de agosto de 2011

Dia do Psicólogo

A Livraria São José enviou aos psicólogos a saudação acima, pelo dia da profissão no Brasil. A data é celebrada há 49 anos, recordando-se a regulamentação profissional em 27 de agosto de 1962.

No Rio Grande do Sul, o Conselho Regional de Psicologia tem somente duas subsedes no interior: Sul e Serra (Pelotas e Caxias do Sul). Somente em nossa cidade, há cerca de 600 psicólogos inscritos. As conselheiras locais convidaram a uma confraternização (veja notícia).

Na sede do 7º CRP, em Porto Alegre, a comemoração deste ano inclui uma palestra com Débora Noal, psicóloga gaúcha que viaja com os Médicos Sem Fronteiras, e um show com o cantor André Quatorzevoltas (MPB com humor), mineiro residente em Brasília (o sobrenome é materno).

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Moviola estreia "O Liberdade" em outubro



"O Liberdade" é o primeiro longa-metragem da produtora pelotense Moviola Filmes. O filme é um documentário que testemunha a essência musical do Bar e Restaurante Liberdade, e descreve a variedade de pessoas que ali trabalham ou passam grande parte de suas vidas.

Foi projetado inicialmente como um média-metragem, com financiamento do fundo municipal ProCultura, mas o material recolhido foi de tal riqueza que derivou num trabalho maior.

A Moviola está finalizando os preparativos para a estreia, que está marcada para a quinta-feira 6 de outubro, às 20h, no Teatro Guarani.

Os curtas de divulgação (teasers) podem ser vistos no canal de vídeos Filmes da Moviola. Eles mostram os cantores, músicos, donos, trabalhadores e outros personagens ligados ao Liberdade, em locações especiais como a Biblioteca Pública Pelotense e o Teatro Guarani. O interior do bar será visto pelo público somente no longa-metragem.

Um dos que personificam a alma do Liberdade é o cantor e cavaquinista Roberval Castro Silva (imagens). Ele toca há muitos anos com o Regional de Avendano Jr. e diversos seresteiros de Pelotas.
Imagens: Moviola

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Escritor espanhol "en pelotas"

Em tom burlesco, o escritor Camilo José Cela escreveu deselegantes comentários sobre o nome de nossa cidade. Naquele artigo ("En pelota en Pelotas", semanário ABC, 24-11-95), o autor se aproveitava dos múltiplos sentidos de "pelota" em espanhol (leia as definições).

O escritor galego confirmou que andava perto daqui e quis palestrar "em Pelotas" mas não conseguiu (leia aqui o relato de um blogueiro espanhol).

Em 2003, o professor Mario Osorio Magalhães publicou um artigo com a nobre intenção de resgatar os elementos culturais daqueles sarcasmos de Cela, e agora revisou seu texto e o envia como colaboração a este blogue sobre Pelotas.

Abaixo, veja uma foto da estátua que o município de Padrón, província de La Coruña, erigiu em 2004 a seu filho ilustre, autor de "La bola del mundo" e "Diccionario secreto".



Sobre um prêmio Nobel em Pelotas
Só conhecia por ouvir falar; nunca havia lido o texto que o escritor espanhol Camilo José Cela (1916-2002) dedicou a Pelotas, lá pelos idos de 1995. Mas um dia o meu caro e sempre lembrado amigo Gilberto Gigante enviou-me uma cópia do original, em castelhano, proporcionando-me a oportunidade de comentá-lo.

Trata-se de um artigo de jornal, e talvez o leitor esteja bem lembrado do seu conteúdo. Na ocasião, ele foi traduzido e reproduzido pela imprensa de Porto Alegre, com bastante destaque até, uma vez que o autor, estrangeiro e famoso (foi prêmio Nobel de Literatura em 1989), faz nele uma série de ironias com esta cidade que desempenhou a função, durante o século dezenove, de verdadeira – embora não oficial – capital da Província. Capital, entre outros detalhes (como, por exemplo, a diversidade étnica), em virtude de seu excepcional desenvolvimento urbano, econômico, político, social e cultural.

As brincadeiras de Cela referem-se a dois aspectos: às conotações etimológicas, bastante controvertidas, da palavra pelota em língua espanhola, e a uma das representações simbólicas que ainda hoje se associam à nossa cidade, no imaginário do Brasil.

No primeiro caso, a ironia gira em torno de um significado da expressão, que o nosso Simões Lopes Neto, em 1911, já classificava como forçado e tolo jogo de palavras: o de andar nu (em pelo, pelado), e traz embutida uma menção ao formato das glândulas sexuais masculinas — isto é, dos testículos. Daí o próprio título do artigo: “En pelota en Pelotas”. Depõe o autor, no corpo do texto, que a expressão “en pelotas”, com minúscula e no plural, embora incorreta, está sendo cada vez mais utilizada no idioma de Cervantes.

No segundo caso, remete-se — todo mundo sabe, nem é preciso que esclareça — à fama gay, uma notoriedade que, tenho certeza, para a maioria dos habitantes locais é exagerada e negativa. Então, diz que os afeminados de Pelotas (a tradução, quase literal, é minha) “triunfaram nos ambientes mais exclusivos de Nova Iorque, o que não é fácil porque a competição é muita, é tanta como a exigência dos consumidores, e a seleção, muito dura”...

O artigo em causa, porém, não é composto apenas de gracejos, mas também de equívocos e — para redimi-lo — de informações que considero valiosas.

São equívocas as afirmativas de que Pelotas é “um belo porto do estado brasileiro do Rio Grande do Sul”, com “refinaria de petróleo”. Vai ver, nem é um engano; quem sabe, no âmbito do seu realismo fantástico, Cela quis dizer, nas entrelinhas, que alguns rio-grandinos também conquistaram Nova Iorque...

Mas são valiosas, para o conhecimento da produção folclórica que Pelotas inspirou, no passado, duas quadrinhas que transcreve, transmitidas por um seu “companheiro de pretéritas farras”, parece que uruguaio. A primeira, sob a forma de milonga oriental, diz assim:

En Pelotas yo nací, / en Pelotas me crié / y en Pelotas conocí / a la que hoy es mi mujer.

A segunda, sob a forma de carnavalito andino, informa que

Pelotas es un estado, / un estado de Brasil, / mí tío que es brasileiro / va en Pelotas desde abril.

Camilo José Cela conclui esclarecendo que Pelotas não é um estado, imprecisão “que se deve compreender, porque o cantor não sabia”. E havia, antes, classificado como muito bons aqueles versos.

Não me parecem bons. Parecem-me úteis, mas pelo que já disse: confirmam que, por motivos de natureza muito nobre — sua qualidade de vida, física e espiritual —, Pelotas era bastante conhecida fora do Brasil, uma vez que foi o centro da região da Campanha e o eixo de ligação do Rio Grande do Sul com o mundo hispânico.

Do mesmo modo, já que me atrevi a julgamentos de valor literário, devo dizer: tampouco me parece ser este o melhor texto do premiado e finado autor. Mas para isto já me havia alertado, na correspondência que acompanhou a cópia, o notável cronista bissexto, meu caro ex-colega e sempre lembrado amigo Gilberto Gigante.

Mario Osorio Magalhães
Imagens da web

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

IV Jantar com Arte, no Centro Ágape

Inovando na integração das diversas artes e saberes, o Espaço de Arte Ágape propõe os Jantares com Arte, reuniões de vinte pessoas interessadas na gastronomia, na arte e na amizade.

Em cada ocasião, um gourmet convidado cria um cardápio e serve os comensais numa das salas do Centro, chamada Ateliê dos Sonhos.

Nesta quinta-feira (25), o 4º "ágape dos sonhos" será conduzido por Mara Rosângela Casa, empresária formada em Relações Públicas, cujo interesse pela culinária revela seu sentido do bom gosto e da habilidade para receber amigos.

Mara elaborou um cardápio (dir.), que preparará momentos antes do jantar, enquanto os comensais chegam e visitam a exposição que na mesma tarde tem sua vernissagem no Ágape: "Objetos Sonoros", de Chico Machado.

Valor total, com a bebida: R$ 40. Reservas: 3028 4480.

domingo, 21 de agosto de 2011

Miloca, um predecessor do orgulho gay

O cronista Rubens Amador descreve, em dois episódios, um personagem de nossa cidade que em sua época oscilou entre a aceitação e a rejeição social, pelo homossexualismo assumido e pela aberta promiscuidade. Com talento e simpatia, inseriu-se no meio pelotense sem renunciar a sua irreverência desavergonhada, mas hoje, em tempos de paradas gays, talvez não chamasse tanto a atenção. Sobre a amizade com um cantor famoso leia este artigo de Henrique Pires.

Clodovil (1937-2009)
Quem não o conheceu, seu nome já ouviu! Era um tipo gay assumido, gordote, lábio leporino costurado, que gostava de parecer uma mulher nos gestos, na fala e nos modos! Todos os que o conheceram vão concordar num ponto: era extremamente simpático. Comunicativo, estava sempre brincando com a sua situação de “maricas”, e era objeto de bom humor, mal surgisse com sua figura de andar serpenteante.

Conhecia e era conhecido por todo o mundo. Era um tipo que todos gostavam, inclusive as famílias, pois, embora se comportasse femininamente, agia sempre com todo o respeito. Serviçal, era cavalheiro com as damas. Toda Pelotas o saudava, e não tinha inimigos. Quase todos o respeitavam, também, apesar de sua presença diferenciada. Mas no conjunto era um tipo engraçado.

Seu nome tornou-se um sinônimo... Um adjetivo... Foi anfitrião de famoso cantor popular de sucesso nacional ainda hoje, e que era seu amigo, lá na velha casa dele, para os lados da Rafael Pinto Bandeira, onde alugava quartos, precedendo aos motéis.

Sou sabedor de duas passagens do Miloca, memoráveis. A primeira ocorreu às vésperas de uma Sexta-Feira Santa. Eu me encontrava no Mercado Público, na peixaria, à procura de camarões. Havia muitas pessoas. Entre elas, com um balaio, apareceu o Miloca. Um grupo de rapazes começou a debicar do nosso personagem. Pronunciavam alto e com voz efeminada: “Miloca, Miloquinha”, e outros gracejos nitidamente dirigidos a ele. Todos riam comedidamente. Ele firme, como se não estivesse ouvindo nada.

Como as piadinhas continuassem, ele voltou-se para o grupo e disse em alto e bom som:

— O quê, querem mexer comigo? Lembrem-se que vocês muito treinaram aqui neste campinho!

E batia com a mão direita sobre a região glútea. Acabou a gozação. A turma se afastou depressa, todo mundo tapando o rosto com a mão, para não ser reconhecido. E Miloca continuou sua compra de pescado com a naturalidade de sempre.

A outra, foi dileto amigo que me contou. Disse-me ele que advogado já falecido, muito conhecido nas lides forenses da época, lhe contara, pois assistira o fato! Miloca não ligava muito para certas situações sociais. Só as básicas. Em certa ocasião, no foro velho, Miloca era testemunha numa briga de vizinhos. Ele não compreendia que aquele ambiente era austero, e exigia certa postura sóbria. Não diferenciava as situações. Para ele, estar num bar ou no foro, dava tudo na mesma.

Sentado, enquanto aguardava ser chamado para depor, datilógrafo à sua frente, ele se mexia na cadeira, cumprimentando servidores de cafezinhos, com sorrisos, enquanto estes faziam que não era com eles. Depois, já abanava para pessoas que conhecia, entre funcionários e outros, tal sua popularidade. Estava inquieto, mas autêntico, como sempre. O jovem Juiz que presidia a sessão pigarreava a todo momento, como a chamar-lhe a atenção para que se comedisse.

Emiliano Queiroz fez a Geni em 1978,
na primeira montagem da Ópera do Malandro.
É chegado o momento do Miloca depor. Todos ficaram na expectativa conhecendo a sua sinceridade. Começou a qualificação, e o novel magistrado pergunta-lhe o seu nome todo. Ele responde: “Emílio de Tal!”.

— Onde mora?

Pra quê... Contou o advogado que narrou esse episódio a meu amigo, que ante a pergunta do magistrado, Miloca se remexeu na cadeira, e sorrindo bradou, enquanto olhava para os circunstantes:

— Ele vai lá em casa toda semana, e agora pergunta onde é que eu moro!

E meneando a cabeça num ar de orgulho feminino ferido, completou:

— Onde já se viu uma coisa destas?

O novel Juiz suspendeu logo a sessão, enquanto todos seguravam o riso com grande dificuldade.

Esse foi o popular Miloca, que embora já tenha desaparecido há alguns anos, seu nome, como que um tributo a alguém que o mereça, ainda é lembrado quando alguém - por galhofa - recorda aquela personagem que, creio, “será imortal enquanto dure”, parafraseando Vinícius.

Rubens Amador
Fotos da web

Festival de Música 2012 confirma atrações

O II Festival Internacional SESC de Música de Pelotas transcorrerá de 9 a 21 de janeiro de 2012, sob a direção artística de Evandro Matté.

Em somente 13 dias, professores estrangeiros dirigirão 30 oficinas de instrumentos e canto, e os pelotenses poderão apreciar 43 espetáculos musicais e atividades de inclusão cultural.

Os músicos ocuparão as salas de concertos e teatros, darão aulas em escolas, tocarão na Catedral e no calçadão, em hospitais e outros locais comunitários. Poderá ouvir-se música erudita e semipopular, jazz e choros brasileiros.

Atrações já confirmadas: Orquestra Sinfônica Acadêmica, Banda Sinfônica Acadêmica, Grupo de Sopros Cuatro Vientos (Argentina), Orquestra UCS de Caxias do Sul, Orquestra FUNDARTE, Orquestra UNISINOS, Quinteto Persch (v. notícia no portal do SESC-RS).

Um dos espetáculos programados é a miniópera cômica "Rita", de Gaetano Donizetti (soprano Carla Domingues, tenor Flávio Leite, barítono Homero Velho). A apresentação será no Teatro Guarani, quinta 12 de janeiro às 21h. Em um ato teatral, o espetáculo lírico conta a história de um casal e um terceiro personagem. Veja abaixo o segmento inicial, representado em abril de 2010, na Universidade de Massachusetts, por Kate Saik como Rita e orquestra regida por Matthew Bertuzzi.
Foto de L. P. Carapeto


sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Poemas sociais de Nathanael Anasttacio

O designer profissional Nathanael Anasttacio está preparando um segundo livro de poemas, "Teoria do Te-Vira", que será lançado na Feira do Livro, em novembro de 2011. "Inquilinos da Intolerância" (2008) foi o primeiro, poemas assinados com o pseudônimo de Condessa de Lilith. "Designado", seu primeiro trabalho escrito, versou sobre a implantação do curso de Design na UFPEL, uma história social mediada pela visão autobiográfica.

O texto de Nathanael critica as incoerências do antissocial mundo moderno e não deixa de ironizar sobre isso em nossa Pelotas de 200 anos, uma capital regional sempre moderna e sempre fora do seu tempo. Estruturado em peças de fácil leitura, o livro denuncia o abandono humano vivido em todas as áreas: na política e na arte, no amor e no sexo, no abuso de drogas, na solidão e na convivência social.

Infiltração

Ele não serve para casar comigo ...
Tem amizades densas com outros rapazes

Infiltrado com sua farda entre a marcha
Ele responde ao peso da espada ... inclinando os ombros
E desaprovo tal conduta ... pois apenas ele faz isso

Infiltrado no batalhão cercado de moços atraentes
E então desço em trajes finos a escadaria do hall ...
levanto as saias do longo vestido evitando beijar o chão

Ele não serve como marido
Vejo algo em seu olhar que esconde intenções
Sempre que outros jovens se aproximam
Sempre espreitando o mover-se de outros homens

Taciturno ... falseia ao falar em público
E o tecido das minhas vestes caras trama o que sinto e digo
E ele sempre se afasta assustado como inseto descoberto antevendo a morte
E apenas sorrio ... desdenhando o escarnecido

Ele não serve para casar comigo
Já notei como admira a beleza dos outros meninos
E infiltrado está ... onde desejou estar

Passo todo o baile observando ... ave de rapina mergulhando os olhos

E vejo o que ele pensa e deseja ... e tenho pena
Tão bem infiltrado em seu disfarce quase perfeito

Esperando meu dote para casar comigo ...
E meu cinismo jocoso incentivando tal espera
E inundo o espaço amplo ... minha sessão de piano
Toco uma música triste que o provoca e desperta

Tal qual uma dama ele sai sorrateiro
Noto sua ausência prolongada e quando volta arredio
... outros amigos entram no salão por outras portas

Encosto-me na coluna de mármore gelado
Tenho uma visão ampla e aristocrática
Um grupo ri ... outro serve de motivo
Alguns planejam impressionar ... mas poucos entendem o porquê disso
Infiltrados na corte ... tentando ascender

Respeitando minha dinastia ... o nome e propriedades da família
Eu não gostaria de gerar descendentes com o sangue dele
Ideia que minha alma repudia

E quietamente observo a bebida agir em meu alvo ...
Suas frases quentes sempre mirando os olhos do alpha macho
Eu peguei sua essência ... e me embriago vendo o que os outros ignoram

Como a água suja se infiltra permitindo o surgimento do mofo
Eu aposto ... sugiro e acho sentido nisso
A valência do caso está em impedir

Ele não serve para casar comigo ... pois ao invés de amá-lo eu teria uma rival

Deixo a cerimônia retirando-me aos meus aposentos
Para a nobreza as festas sempre começam mais tarde e terminam mais cedo
Os comensais esbanjam sorrisos
Tal qual um animal em sua gula demonstram querer mais

E então sofro em meus anseios
E detenho-me pensando aos risos

Ele não me serve como marido ... pois nenhum deles nunca serviria
Pois não me desejam como uma pessoa ... nem tão pouco como companhia
Desejam apenas uma chave ... para ascenderem em hierarquia

Os bailes da corte sempre me agoniam pelo mascaramento da hipocrisia ...

Imagens da web

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Falsa preferencial, acidente de verdade

A combinação de asfalto e álcool vitimou, no passado fim de semana, um inocente fradinho protetor de esquina. Após a meia-noite desta sexta (12), alguém que atropelou a preferencial da Rua Tiradentes fez um carro avançar para cima do Moreira.

Para facilitar o trânsito da zona do porto à zona norte, a Santa Cruz foi asfaltada e virou preferencial. No entanto, três exceções obrigam a parar e esperar: Dom Pedro II, Tiradentes e General Neto. O motorista que tiver suficientes neurônios funcionando não cairá nestas armadilhas urbanas, mesmo que perca um minuto na viagem.

Para proteger as casas de esquina contra os maus motoristas, em alguns pontos da cidade são colocados minipostes de material pesado. Em épocas antigas, esses pontos de referência serviam para amarrar cavalos e charretes, e ficaram conhecidos como fradinhos, por sua baixa altura e forma monolítica e arredondada.

Hoje, esses guardas mudos simbolizam o que a sociedade faz com a estupidez humana: sem tocá-la nem alterá-la, mantém as vidas e o patrimônio a salvo dos excessos noturnos, nas horas em que o álcool sobe ao cérebro e desliza pelas ruas asfaltadas.
Foto: F. A. Vidal

terça-feira, 16 de agosto de 2011

II Exposição de Arteterapeutas

A mostra II Arte de Arteterapeutas, no Centro Ágape, traz produções artísticas, em pequeno formato, de 10 artistas brasileiros que são arteterapeutas. Uma diferença com os "artistas puros" é que os arteterapeutas criam objetos de arte com emoções mais vivas e conscientes, como o faria um educador ou um psicólogo, para buscar a harmonia pessoal interna, e não tanto a perfeição da obra criada.

Paralelamente à exposição, também no Ágape, a arteterapeuta argentina Angélica Shigihara realiza o minicurso O poder e o acontecer do criar, sobre como a criatividade pode melhorar o desenvolvimento pessoal e ser aplicado com sucesso na educação e na saúde.

Exposição: 9-12h e 14-18h, da terça 9 ao sábado 20 de agosto.

Curso: 19 e 20 de agosto, com o custo de R$ 90 (9h de duração).

Encerramento das duas atividades: diálogo com artistas expositores, sábado 20, 17h 30min.

Informações: 3028 4480 e no blogue Ágape.


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Percepções de Luiz Carapeto


O Espaço Arte Chico Madrid da Sociedade Científica Sigmund Freud inaugura, nesta terça-feira (16), a mostra fotográfica "Percepções". Em dezessete imagens, Luiz Paiva Carapeto mostra sua pessoal visão da praia do Laranjal e sugere como a pessoa pode interagir com seu ambiente cotidiano, especialmente o da beira da Lagoa, que traz sempre toda uma carga de variadas emoções para o pelotense.

Nesta vernissagem será o momento de conversar informalmente com o artista sobre este e outros temas. A exposição permanece 4 semanas, no 3º andar do Edifício Everest (Princesa Isabel, 280).

Pinturas de Antônio Cláudio Ribeiro

O artista plástico Antônio Cláudio Ribeiro apresenta a série de pinturas “As coisas e o tempo”, em exposição no Bar João Gilberto.

Natural de Vila Pereira (MG), Antônio reside desde 2001 em Rio Grande, onde se formou em Artes Plásticas. Há 3 anos frequenta o atelier da artista Nauri Saccol, em Pelotas, tendo participado de exposições coletivas e individuais.

Sobre o tema "As coisas e o tempo", ele mesmo escreve:

Abordo-me ao tempo
Que nos acalenta,
Que nos acorrenta
Aos elos das coisas
Que vão e que vêm
Nas correntezas das horas,
Que nos atacam
E não nos deixam
Entender as coisas
E o tempo.

Violonista mexicano Francisco Gil


O violonista mexicano Francisco Gil, que se encontra em turnê pelo Brasil, fará recitais em Pelotas (segunda-feira 15) e em Rio Grande (terça 16). A realização é do Conservatório de Música de Pelotas em parceria com a academia Espaço Musical JD de Rio Grande. O músico também oferece masterclass para estudantes de violão e uma palestra sobre o violão e o cenário violonístico na América Latina.

O concertista lança este ano seu quinto disco, com obras do espanhol catalão Isaac Albéniz (1860-1909), uma das quais é o Capricho Catalán (vídeo acima), original para piano, adaptado por Gil para violão.

Ouça interpretações de Francisco Gil no My Space e no Sound Cloud.

domingo, 14 de agosto de 2011

Gilda de Souza Soares

O professor Mário Osório Magalhães recorda, em sentida crônica, a pessoa de Gilda Litran de Souza Soares, compositora pelotense, nascida em 12 de maio de 1913 e falecida em 28 de março de 1974. Era neta, pelo lado materno, do pintor Guilherme Litran e, pelo paterno, do Visconde de Souza Soares. Estudou o primário no Colégio São Francisco, o secundário com professor particular e Piano no Conservatório de Música.

Compôs a canção "Minha Querência", considerada como um verdadeiro hino popular do Rio Grande do Sul. Seu sobrinho Leopoldo Souza Soares Rassier (1936-2000), também pelotense, ficou conhecido por outra música emblemática do nativismo romântico, "Não podemo se entregar pros home". É ele quem canta a música de dona Gilda no vídeo abaixo.

Dona Gilda

Quando me avisaram, no entardecer de um sábado, que eu havia tirado primeiro lugar naquele concurso literário e que, no dia seguinte, o meu ensaio sairia publicado no jornal, senti-me com mais de 30 anos e prestes a entrar na Academia. Sonhei, naquela noite, sonhos de grandeza, mas amanheci, felizmente, com os meus 15 anos. Nesse mesmo domingo, porém, no meio da manhã, troquei o pijama pelo fardão: através do telefone, a minha querida amiga dona Gilda Litran de Souza Soares dava-se ao trabalho de me cumprimentar pelo êxito e me incentivar mais uma vez.
Gilda Litran de Souza Soares

Era a própria gentileza e bondade, a dona Gilda. Não um poço: um manancial, uma vertente... Jorrava bem-querer e sentimento, dos mais puros, mesmo em pleno asfalto — na Biblioteca Pública e, depois, no Arquivo Municipal, longe da querência. Clareava em nossos diálogos as dúvidas literárias do piá, mas sem pretensão e sem qualquer pressa — como o sol, devagarinho, vem (vai) rasgando a escuridão.

Quando foi a última vez que nos vimos não me lembro. Outro dia, remexendo nas estantes, encontrei, num exemplar de um pequeno livro que escrevi há muitos anos, uma dedicatória dirigida a ela. Não sei se mandei outro exemplar, com outra dedicatória, quem sabe um pouco mais afetuosa; mas é provável que nunca tenha chegado às suas mãos, pelo menos autografado, esse livrinho escrito precocemente pelo seu jovem discípulo e admirador. É muito provável que eu jamais tenha lhe dito, por tímido que era, o quanto ganhava com a nossa convivência. Tenho certeza que não correspondi à expectativa que ela depositava em mim.

Lembro-me — e também não sei quando — que a partir de um dia os nossos caminhos se distanciaram. Ela se aposentou, os meus anseios se desviaram momentaneamente das coxilhas e galpões e foram pousar em diferentes planícies. Algum tempo depois, quando voltei de novo os olhos para o chão, dei-me conta de que ela havia morrido. Comecei, aí, a perseguir sua lembrança.

Hoje, ligo o rádio ou a TV e, pela voz do cantor, escuto a dona Gilda: Meu Rio Grande do Sul, meu lindo pago, meu chão, minha querência eu te trago na forma do coração...

Recordo-me que um dia observei um dos meus filhos ocupado em recortar, como tarefa de casa, um mapa do Rio Grande por regiões, e depois refazê-lo, colando, feito um quebra-cabeça. No início desta crônica senti, também, o coração partido. Mas aqui, no seu final, já juntei peça por peça, e agora, aquietado num canto, tomo um mate. Meio sem fôlego, é certo. Afinal, não foi pra divertir ninguém que o Patrão Velho lá de cima inventou o adeus sem despedida.
Mario Osorio Magalhães

Foto fornecida por Leonor Souza Soares


Acima, "Minha Querência", composição de Gilda Souza Soares, na interpretação de Leopoldo Souza Soares Rassier. Ouça também esta música cantada por Sérgio Sisto, com acompanhamento da Orquestra Música pela Música, e a versão sertaneja de Osvaldir&Carlos Magrão.

POST DATA

2-11-14
Esta postagem sobre dona Gilda foi citada no livro de Carmen Reis, lançado na Feira do Livro sábado (1-11), "Souza Soares: a Saga de uma Família Portuguesa no Brasil". Sobre a autora e sua pesquisa sobre as origens familiares, confira a nota Genealogia dos Souza Soares, portugueses no Brasil.

sábado, 13 de agosto de 2011

Marcovaldo em Gramado: Melhor Música

O curta-metragem pelotense "Marcovaldo" ganhou o prêmio de Melhor Música no 39º Festival de Cinema de Gramado. O filme concorria na Mostra Gaúcha com outros 19 filmes (18 de Porto Alegre e um de São Leopoldo). A premiação foi recebida, na quinta (11), pelos diretores Cíntia Langie e Rafael Andreazza (dir.).

A trilha sonora original de "Marcovaldo" tem sete músicas, elaboradas em conjunto pelos pelotenses Eduardo Varela, Zé Menna e Tato Ribeiro (a dupla "Zé e Tatu") e Davi Mesquita. Também participaram nessa trilha o músico Edu DaMatta e a banda Canastra Suja.

O filme estreou em outubro de 2010 no Teatro Guarani (leia nota neste blogue), e desde lá vem arrecadando prêmios em diversos festivais:
Veja o Making Of de Marcovaldo, um curta de Eduardo Resing, Eleonora Coutinho e Leonardo Peixoto.


Premiação Trezentas Onças de 2011

Esta sexta-feira (12) o Instituto João Simões Lopes Neto entregou uma nova edição do Prêmio Trezentas Onças (leia no Diário Popular a matéria assinada por Max Cirne). Durante um século, três personalidades ligadas à obra do escritor pelotense receberão anualmente este destaque, instaurado em 2005.

Nesta ocasião as pesquisadoras Lígia Chiappini e Alda Jaccottet e e o empresário Theo Bonow (a partir da esq., na foto) receberam a honraria, que está inspirada no conto de Simões (leia neste blogue Trezentas Onças para a cultura de Pelotas).

Desde 27 de julho de 2011, o Instituto conta com um novo conselho e nova diretoria, presidida pelo advogado Antônio Carlos Mazza Leite (v. nota no Diário Popular).
Foto: Moizés Vasconcellos

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Telhas de Nely Rodeghiero

Às vésperas de completar 80 anos, Nely Rodeghiero transforma o que quiser em um objeto decorativo. Telas, troncos, discos de vinil, sobras de construção, embalagens, pedras, espelhos e telhas servem de suporte para sua expressão. Paisagens, prédios históricos, pontos turísticos de Pelotas são lembrados por Nely.

Professora aposentada, Nely tem a arte como uma terapia que protege contra a depressão. Ela começou a pintar após ter ficado viúva, e até hoje enfrenta a vida com a máxima alegria. Além disso, sua mente está sempre repleta de ideias e seu espírito tem uma incansável disposição para realizá-las.

As 26 telhas, expostas até 24 de agosto no Corredor Arte, são apenas uma parcela da trajetória de misturas e invenções de Nely Rodeghiero, que é recebida com carinho, e interesse pela comunidade do Hospital da UFPel/FAU.
Imagens: Completa Comunicação

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Olhos de Lata e a fotografia artesanal

Uma das contribuições mais interessantes do Festival de Inverno de Pelotas 2012 é a do grupo de pesquisa em fotografia Olhos de Lata, formado por Juliana Charnaud, Luisa Planella e Graziele Gomes.

Nesta fase de lançamento, elas programaram três atividades (veja detalhes no blogue do Festival): uma mesa-redonda (8 de agosto, 15h), uma oficina de Fotografia na Lata (9 de agosto, 14h) e uma oficina de Pintura com Luz (10 de agosto, 16h).

A Fotografia na Lata ou Câmera Pinhole (do inglês pin hole, furo de alfinete, pronunciado pin-hôul) é uma técnica de fotografia artesanal, que usa o fenômeno natural chamado Princípio da Câmara Escura, sem uso de lente nem interferência de processos digitais ou analógicos.

Uma lata ou recipiente qualquer pode transformar-se numa câmara escura, desde que possa ser totalmente isolado da luz externa, exceto por um pequeno furinho. A luz que entrar pelo orifício projetará uma imagem da paisagem externa (dir.).

Esta oficina será dada a 12 pessoas, a R$ 25 cada inscrição, na Casa do Trabalhador (Santa Cruz 2454). Os participantes receberão papéis fotográficos e produtos químicos para revelação.

Na Pintura com Luz (Light Painting), a técnica de fotografar em baixa velocidade permite desenhar com qualquer fonte luminosa. Trabalha-se a velocidade do obturador e a abertura do diafragma.

Na oficina de Light Painting, os alunos devem levar câmera para fotografar e alguma fonte de luz, como lanternas ou velas.

São apenas 12 vagas e a participação custa R$ 15. Local: Biblioteca da SMED (Andrade Neves 2282). Inscrições: pelo sítio do Grupo Olhos de Lata e fones (53) 8435 9240 e 8434 4505.
Fotos: divulgação

As referências sentimentais da geografia urbana

Continuando o que escrevi ontem (Uma padaria sobrevive nos sonhos): o grande ponto de referência do Bairro da Luz — corrigindo-me: da Zona Norte — era a Panambra (dir.).

A Panambra ainda existe (faço votos que esteja cada vez mais sólida), ainda é um referencial daquela região; mas, exclusivo, só até surgir — e depois se impor no espaço urbano, e mais tarde no esportivo (no culto ao corpo, à boa forma física) — a Avenida Dom Joaquim.

Dizia-se, por exemplo, que tal lugar de uma das ruas longitudinais do centro ficava, depois da Avenida, a tantas quadras da Panambra... Raramente se indicava que seria na altura da Pinto Martins, ou na esquina da Padre Felício, ou até mesmo perto da Capela da Luz, que dera nome ao bairro...

Afirmei que eram raros os pontos de referência da cidade. Explico-me melhor: eram raros, estes pontos que menciono, porque todos os outros — inclusive a Avenida Dom Joaquim — representam sinalizações muito óbvias, comparáveis às de qualquer outra cidade.

O porto, na região sul; o cemitério e o quartel, no Fragata; a estátua do Colono, nas Três Vendas (esq.), não se diferenciam, neste sentido, de qualquer avenida, trapiche, aeroporto, quartel, delegacia, prefeitura, campo santo ou monumento que exista pelo mundo afora.

Além das funções específicas que desempenham, esses elementos do patrimônio público sempre serviram, em todos os lugares, de parâmetros, de indicativos, de orientações — enfim, são pontos naturais de referência (e esta é, mesmo, a melhor expressão).

O extraordinário é que uma concessionária de automóveis tenha exercido, um dia, esse papel mais sentimental. E que uma entidade hoje etérea — incorpórea como os sonhos (mas não exatamente os reais “bolinhos de chuva” que fazia) — aponte a uma jovem usuária o lugar exato onde descer do ônibus. Enfim, que uma antiga padaria, onde não há mais padaria, siga prestando ainda hoje esse serviço. Um serviço que se mantém útil, para aquela moça, e para mim, mais do que útil, lírico.
Mario Osorio Magalhães

Fotos: F. A. Vidal

domingo, 7 de agosto de 2011

Uma padaria sobrevive nos sonhos

O professor e historiador Mario Osorio Magalhães envia ao blogue uma crônica sobre a carga afetiva que as pessoas depositam em alguns (poucos) pontos de referência urbanos.

Na primeira parte, mostra o caso da Padaria Gaúcha, uma referência física do passado (foto 1) que segue existindo em função da memória dos cidadãos. Paradoxalmente, essa referência-fantasma sobrevive na lembrança de modo paralelo a uma espécie de "filha" (foto 2), defronte à antiga casa, na mesma rua e com o mesmo nome.

Na segunda parte (amanhã), o cronista cita o caso da Panambra, um ponto físico do presente que é, aos poucos, superado (na lembrança dos cidadãos) por uma referência vizinha, mais jovem e moderna: a Avenida Dom Joaquim.
Muitos ainda se lembram, naturalmente, que era assim que se chamava; mas creio que ninguém, hoje em dia, absolutamente mais ninguém, seria capaz de tratar, de forma corriqueira (e coloquial), como Bairro da Luz a atual Zona Norte. A não ser que esteja relembrando, com algum contemporâneo, um determinado episódio ou fato antigo, ocorrido por lá... Até aí, tudo bem, se entende. Caso contrário, é porque está, de fato, caducando.

Esse argumento me ocorreu, outro dia, quando ouvi uma jovem, no ônibus, dizer à sua vizinha de banco que ia descer na altura da Padaria Gaúcha.

Não existe mais, como se sabe, a Padaria Gaúcha original — na Avenida Domingos de Almeida, direção bairro-centro —, em cujo ponto de ônibus a jovem pretendia descer. Durante longos anos, foi a Padaria um desses fortes, e raros, pontos de referência na geografia prática e sentimental da cidade — neste caso específico, relativamente ao bairro Areal.

Eram bem moças as duas passageiras, mas não faz muito tempo que a padaria fechou (cedeu lugar a uma nova agência Banrisul). É provável, portanto, que essa referência se mantenha de pé, sadia, ainda por um período razoável. Poderia dizer, com outras palavras, que, na condição de memória, ainda goza (para utilizar uma expressão moderna) de uma boa expectativa de vida... Ao contrário, aliás, da expressão Bairro da Luz, morta e sepultada para sempre.

De todo o modo, naquele fim de tarde andava, digamos assim, meio nostálgico (embora não solitário, pois me conduzia, como os outros passageiros, coletivamente; e, aliás, sei muito bem que solidão e nostalgia só às vezes se confundem: está bem explicado no excelente livro de Moacyr Scliar, Saturno nos Trópicos).

Talvez por isso, aquela frase que me chegou aos ouvidos, entre ruídos de freio, buzinas, canos de descarga, não ficou em mim apenas como a afirmativa, muito simples, que era: prolongou-se um pouco mais, rebuscou-se um tanto mais, sob a forma de crônica... e uma crônica de morte anunciada.
Mario Osorio Magalhães

Fotos: F. A. Vidal

Feira da Serra Gaúcha 2011

Em seu terceiro ano, transcorre de 5 a 14 de agosto a Feira da Serra Gaúcha, um evento comercial pelotense que aproveita o tempo frio para a venda de roupas adequadas à estação.

Segundo ocorreu em 2009 por primeira vez (veja o post), cerca de 50 pequenos lojistas oferecem confecções, sapatos, artesanato, vinhos, queijos e salames, tudo muito apropriado ao inverno.

A Feira é realizada no ginásio Primeiro de Maio (Av. Fernando Osório 964), defronte à praça do mesmo nome (onde se situa o conhecido monumento Ao Colono). Aberta das 14 às 21h.
Foto: F. A. Vidal

POST DATA
29-03-13
A Feira da Serra Gaúcha anuncia sua presença em Pelotas de 1 a 12 de maio de 2013, no mesmo local e horário de funcionamento.
11-08-13
Os intensos frios de agosto trouxeram a Feira por segunda vez este ano a Pelotas, da sexta 2 ao domingo 11.
4-05-14

Retorna a tradicional Feira da quinta 1 ao domingo 11 de maio.

Monquelat, pesquisador de livros e de histórias

O livreiro Adão Fernando Monquelat ficou nacionalmente conhecido em 1992, quando - graças a suas pesquisas - foi reeditado o primeiro romance gaúcho (e segundo no Brasil), "A Divina Pastora", de José Antônio do Vale Caldre e Fião, originalmente publicado em 1847 (abaixo, a capa de 1992).

Foi ele quem localizou em Montevidéu o único exemplar até hoje conhecido desse livro. O nome de Monquelat está na Wikipédia (v. A Divina Pastora) e num artigo de Paulo Monteiro, escrito em 2005 (leia).

Suas atuais pesquisas focam nas origens da nossa cidade, e são publicadas no blogue O Povoamento de Pelotas, junto ao professor Valdinei Marcolla.

Em 2010, a jornalista Daniela Xu o descreveu como um "fazedor de amigos e de livros", em entrevista publicada no blogue Desgarrados de Satolep (sobre pelotenses afastados do rebanho).


Há 30 anos, Monquelat abriu no centro de Pelotas um sebo que de início se chamava Livraria Lobo da Costa. À jornalista ele explicou o motivo da mudança de nome para Livraria Monquelat. Leia a seguir parte da entrevista (veja o post completo). Ali na Rua General Teles 558, o livreiro recebe amigos e outros pesquisadores para compartilhar o chimarrão e muita conversa.


— Monquelat, quando começou essa paixão pelos livros?

— Com os gibis. Iniciei uma coleção na década de 40 e 50. Tinha como heróis o Super-Homem, Durango Kid, Zorro, Kid Limonada e Kid Colt. Guardava-os em caixas de madeira que antes armazenavam champanhes Georges Aubert e Michelon. Eram todos cadastrados e valeriam uma fortuna hoje.

— O que aconteceu com os gibis?

Minha mãe colocou fogo na coleção quando tomei bomba em uma prova de Latim. Meus heróis viraram cinzas. A partir daí começou meu interesse pela literatura.

— Por que abriste um sebo?

Por necessidade própria. Na época, Pelotas tinha apenas um sebo mas, sem catalogação, sem organização, era muito difícil a procura por um exemplar específico. Também porque sou fascinado por sebos, tenho um gosto pessoal de frequentá-los. É algo que sempre me fascina.

— A Livraria Monquelat sempre teve esse nome?

Não. O primeiro nome era Lobo da Costa mas, como ficava na rua Dom Pedro II sempre me perguntavam por que o nome da livraria não tinha o mesmo nome da rua. Cansado de explicar que era por causa de uma predileção pelo poeta pelotense [Francisco Lobo da Costa] troquei o nome para Monquelat. Também foi na mesma época do lançamento de A Divina Pastora. Dois fatores que me fizeram optar pela troca do nome.

— Além de livreiro tens fama de escritor, e dos bons. Quais são tuas obras publicadas?

Novos Textos Simonianos; Maiêutica; Fóquiu & Company; Antologia Poética e Alguma Prosa, sobre Lobo da Costa; Coletâneas e Notas Bibliográficas de Poetas Pelotenses, de 1804 a 1864; Notas à Margem da História da Escravidão; O Desbravamento do Sul e a Ocupação Castelhana. E a mais recente publicação é em 2010, pela Editora e Gráfica da UFPEL: "Senhores da Carne: Charqueadores, Saladeristas y Esclavistas".

— Já te sentiste um Desgarrado de Satolep?

Não, nunca! Me considero um cidadão do mundo. Quem está no mato não consegue ver as árvores. É preciso sair da cidade para conseguir ver as árvores. Na rotina tu te perdes. Morei em Curitiba, em São Paulo e Porto Alegre. Se hoje tivesse que fazer a opção de sair, eu iria para Montevidéu, no Uruguai. Visito a cidade há 41 anos. Me sinto em casa lá, já poderia ser jubilado.
Foto: D. Xu

sábado, 6 de agosto de 2011

Memórias da Tradição, em Bagé

A artista plástica pelotense Maria Lúcia Drummond, já apresentada aqui no blogue, está expondo a série de quadros "Memórias da Tradição", dentro da temática nativista que vem desenvolvendo há alguns anos. A mostra se encontra na Casa de Cultura Pedro Wayne, na cidade de Bagé.

Após vários anos de formação no Ateliê Giane Casaretto, Maria Lúcia vem mostrando seus trabalhos em Pelotas, Rio Grande, Porto Alegre e cidades uruguaias. Selecionada por edital da Secretaria de Cultura de Bagé, nesta ocasião ela reúne 15 pinturas em pastel seco, abordando conteúdos da vida campeira, como as vestimentas, costumes e objetos de casas rurais gaúchas.

Em "Domador" (acima), imagem utilizada no convite para a exposição, a artista evoca com extrema delicadeza visual a doma de cavalos, que é, em contraste, um exemplo das mais duras atividades típicas do ambiente rural. O couro rachado e as esporas desgastadas sugerem que muita violência ali já se desempenhou e, não obstante, o homem rude deve ter conseguido contribuir à construção de uma comunidade mais pacífica e próspera.

A vernissagem realizou-se na sexta-feira 29 de julho, com presença da diretora da Casa, Carmem Lúcia Barros, e de Sapiran Coutinho de Brito, Secretário Municipal de Cultura (dir.).

A exposição se inclui dentro das festividades dos 200 Anos de Bagé, comemorados em 17 de julho de 2011. A Casa Pedro Wayne está aberta das 13h às 18h30 (Av. Sete de Setembro 1001) e esta mostra pode ser visitada até a quarta-feira 17 de agosto.
Imagens: F. A. Vidal (1) e M. L. Drummond

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Festival de Inverno de Pelotas

O Festival de Inverno de Pelotas será realizado em agosto de 2012, em comemoração aos 200 anos da fundação de Pelotas como Freguesia de São Francisco de Paula (em 7 de julho de 1812). Para apresentar à comunidade pelotense este evento multiartístico, haverá uma Edição de Lançamento, durante seis dias seguidos, desde hoje sexta (5) até quarta 10 de agosto de 2011.

Com este Lançamento, os organizadores (Teatro do Chapéu Azul) pretendem avaliar as potencialidades da ideia do Festival (leia a proposta), aproximando artistas, ativistas culturais, instituições públicas e investidores interessados em viabilizar o Festival de Inverno em 2012 e nos anos seguintes.

As atividades incluem cerca de 40 eventos, entre debates, oficinas (de dança, canto e de fotografia), festas, shows musicais e teatrais, exposições de artes visuais e projeção de filmes, a maioria delas disposta na agenda cultural do blogue (coluna da direita). A iniciativa busca integrar todos os públicos (diversas idades e diversos estratos sociais), unificando duas características clássicas da vida pelotense: o interesse pela arte e o predomínio do clima frio.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Pelotense, participe na vida cultural

Procuram-se jornalistas de qualquer idade, com ou sem título, para escrever sobre arte, história e costumes de Pelotas.

Para enriquecer o conteúdo e agilizar as postagens, o blogue convida os leitores a escrever textos e enviar imagens, dentro da nossa linha editorial.

Já temos várias fontes de informação e um colunista (Rubens Amador), mas neste 3º ano de atuação queremos ver também a participação ativa dos pelotenses na vida cultural da cidade.

Aceitam-se crônicas sobre temas relacionados com Pelotas, reportagens atuais ou históricas, e análises críticas sobre a cidade e seus habitantes, nas áreas humanas, científicas e artísticas.

O colaborador também pode seguir as orientações do editor, como repórter (redigindo ou fotografando). Escreva ou telefone ao editor (dados na figura ao lado, clique para ampliar).

Se algum estudante de jornalismo contribuir de modo estável e frequente, poderá contar com um certificado de participação.
Arte de Nathanael Anasttacio