quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O Liberdade segue em Porto Alegre


De 1 a7 de fevereiro, o documentário "O Liberdade" vai encher de música o Cine Santander Cultural em Porto Alegre, nas sessões das 17h (veja trailer). O longa-metragem pelotense, que já esteve um mês na Casa de Cultura Mário Quintana, será precedido, nesta reposição, pelo curta porto-alegrense "Fez a barba e o choro", de Tatiana Nequete (veja sinopse). Dois filmes análogos, nos quais o tema que se documenta é a própria trilha sonora.

"O Liberdade" já foi destacado em 4 ocasiões, em festivais de cinema no Brasil: o prêmio mais recente foi em dezembro de 2012, como melhor roteiro de longa-metragem no 3º Festival de Cinema de Petrópolis (RJ). Também já foi visto em festivais no México, Uruguai, Colômbia, Venezuela, França e Estados Unidos.

O cineasta Rafael Andreazza e o ator-personagem-músico Avendano Jr.
Em uma retrospectiva, Zero Hora destacou o crescimento da produção de filmes gaúchos, e entre estes "O Liberdade" (veja o artigo O mundo do cinema em 2012). O reconhecimento da imprensa gaúcha veio também pelo Correio do Povo.

O DVD pode ser comprado no Bar Liberdade, no Studio CDs e na Livraria Mundial, ou pelo sítio da Livraria Cultura. Veja mais informações sobre este e outros filmes no blogue da Moviola Filmes.
Imagem: Facebook Moviola

POST DATA 
5-2-13
A Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul escolheu como Destaque Gaúcho os filmes "O Liberdade" e "Espia Só", considerados contribuições para a cultura cinematográfica no Estado (veja nota).
Veja a completa reportagem de Zero Hora sobre o filme pelotense.

Festival SESC vai à comunidade


O Festival Internacional SESC de Música, em sua terceira versão (14-26 janeiro de 2013), prosseguiu com os recitais em espaços comunitários, todos fora do centro de Pelotas. A série chama-se “Festival na Comunidade”, e busca justamente descentralizar a programação e possibilitar um acesso mais amplo por parte da população quer não vai às salas de concerto. Por duas semanas, músicos chegados de vários lugares do Brasil e do mundo para aprender e lecionar no Festival se apresentaram diariamente em igrejas, hospitais e mesmo ao ar livre.

Quinteto de Sopros na Igreja N. Senhora da Luz
Em certos lugares, não haveria público algum se não fosse pelo recital; por exemplo, na Igreja Nossa Senhora da Luz (dir.), que foi aberta na manhã de terça (15-01) especialmente para o concerto do Quinteto de Sopros (veja notícia do SESC e vídeo do Diário Popular).

O público foi escasso nesta igreja, mas desfrutou ao máximo da música, como informa a reportagem da TVE de Porto Alegre (vídeo acima). O mesmo quinteto se apresentou no Hospital Espírita, no Expresso Embaixador e na Igreja São José, sempre de acordo ao programa.

O Quinteto de Metais tocou no Instituto Filadélfia, nas doquinhas do Quadrado, na Igreja São Cristóvão, no centro comercial Zona Norte e na comunidade Martim Lutero. Foram 9 recitais anunciados, mas houve pelo menos mais dois que surpreenderam o público: eufônios numa linha de ônibus dia 24 (veja notícia) e oboés no saguão da UCPel dia 25 (foto abaixo).

Alunos da oficina de oboé tocam no saguão da UCPel, na sexta (25-01).
Fora desta série de recitais em bairros, outros foram programados em locais mais centrais. O Diário no Festival no Facebook publicou imagens na Praça Coronel Pedro Osório sábado 19 de janeiro e do recital barroco na Catedral São Francisco de Paula domingo 20.

Todos os recitais do Festival são de boa qualidade técnica, a música é selecionada para agradar a públicos variados, e a oportunidade é única em Pelotas. A cidade tem cursos de música mas seus alunos não se apresentam fora das salas habituais nem fora do calendário letivo.

No entanto, ainda o público da periferia pelotense não adere com intensidade a este evento que se identifica com a música erudita. Além de conhecer e gostar, as pessoas devem também informar-se dos lugares dos concertos, para o qual é preciso ler jornal, ou ter internet, ou ir ao SESC pedir a programação.

Daí que os concertos-surpresa tenham um bom efeito emocional e educativo. A proximidade com os músicos transmite a vida intensa que vibra por trás de um espetáculo, de um ensaio e de uma composição.

Quando existem novas oportunidades de acesso à música, as pessoas podem conscientizar que as possibilidades de expressão e de aprendizagem são infinitas e que a arte, junto com sua beleza, permite transformar sociedades.
Fotos: Diário Popular

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Lígia Antunes Leivas

Lígia Antunes Leivas
(1944-2013)
Ante o sensível falecimento da escritora Lígia Antunes Leivas, ocorrido anteontem (28), a professora Loiva Hartmann lembrou-se de um poema da amiga e escreveu um comentário, a modo de despedida. Leia reportagem do Diário Popular.

Em entrevista com o português Carlos Leite Ribeiro, em 2009, Lígia falou sobre sua vida. O testemunho finaliza com o poema Sob o céu de Pelotas, em homenagem ao bicentenário da Princesa do Sul.

Veja outros textos de Lígia no blogue do Centro Literário Pelotense, na Biblioteca Virtual do Escritor Contemporâneo e a palestra sobre Camões que proferiu no Colégio Municipal Pelotense, também em 2009 (vídeo 1 de 9 minutos e vídeo 2 de 10 min). 


Quisera ser pássaro, sem ter de dizer adeus

Pelo vidro da janela a paisagem viaja embaçada.
(Os olhos embaçados ou o vidro embaçado? ... )
Afinal, em que destino embarquei ao entrar por aquela porta?

Já não sei mais nada ... Já faz tempo demais.
No bilhete que ficou jaz uma única palavra.

Quisera que nenhuma saudade me afligisse;
quisera que nenhuma dor me atingisse.

Quisera ser pássaro sem ter de dizer adeus ...
Lígia Antunes Leivas

Sem adeus, minha querida amiga e companheira de todas as jornadas culturais, da vida.   
Planarás no tempo e no espaço, na vida que se esvai aos poucos, desde o nascimento, em todos os seres vivos. 
Como em minha poesia Cálice, tua preferida, sorvemos fel muitas vezes, outras encontramos aquele coração gêmeo do nosso e, então, esquecemos as agruras e planamos na vida, nesta ou em outra! 
Tem a certeza de que não haverá encontro, reunião ou abraço, em que não estejas conosco.
Loiva Hartmann

Lígia apresenta seu diploma de Embaixadora Universal da Paz
(reunião do CLIPE em 4 de outubro de 2010)

domingo, 27 de janeiro de 2013

Degust Art, 2ª edição

Alunos do Centro de Artes da UFPel apresentam esta quinta (31) a segunda edição da DEGUST ART, Mostra de Arte Comestível. Às 18h serão apresentadas as obras, como numa vernissagem normal, e serão no mesmo encontro literalmente comidas pelo público.

Trata-se de uma atividade multidisciplinar entre os cursos de Artes, Museologia, Gastronomia, Arquitetura e outros. A coordenação é dos professores Helena Kanaane e Wilson Miranda. Segundo informação da Câmara de Extensão do Centro de Artes, o público externo à Universidade também tem a possibilidade de criar e expor.

Vários conceitos artísticos se renovam com esta experiência. As artes plásticas e culinárias dialogam de novas formas. A inauguração se faz sinônimo de finalização. De modo inusual nas artes, uma mesma mostra relaciona elementos culturais e históricos, numa mesma obra.

O conceito de "espectador" deixa de ser alguém que somente observa e se amplia para as sensações de tato, paladar e olfato. O que avaliamos ao comer? O conhecimento de quem é o autor da obra visual-culinária modifica a sensação do sabor?

A estética como um prazer espiritual se estende à necessidade fisiológica da alimentação. Se a criatividade permitir, elementos sonoros ou musicais também farão parte do prazer da degustação, como já ocorre em restaurantes e barezinhos.

A primeira edição do evento foi em novembro de 2011. Veja o trabalho de Jordana Corrêa.

A exposição será aberta ao público apreciador de arte, que poderá ter a experiência de comer as obras dos artistas. O Centro de Artes fica na rua Alberto Rosa nº 62.

POST DATA: 29-01-13
Diário Popular noticiou segunda (28): Projeto une gastronomia e arte.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Roda e samba no Munaya


O Coletivo Munaya é um centro cultural alternativo que realiza diversas atividades artísticas. Desde abril de 2012, a casa da Tiradentes 2332 tem usado o seu estúdio de gravação, o seu café e o seu pátio em festas e espetáculos. Também rolam exposições, trabalho de moda e um cineclube.

O show deste domingo (27) começa às 18h30 e tem uma triplicidade de rodas: será rodada uma cena do curta-metragem "A Bomba", com direção de Duda Ribeiro e Caio Mazzilli, e produção do Sotaque Coletivo (v. a página FB do filme e no vídeo acima o teaser).

A tal cena será uma roda de samba, com o público como protagonista. Uns puxando o samba, outros rodando o filme, e o resto curtindo o som e a rodada de cerveja (v. página do evento). Quem quiser aparecer já venha com roupa de morro carioca, própria para batucar uma caixa de fósforo. O malandro é um brega desalinhado, numa noite de verão.

Os músicos são Dija Vaz, Eugênio Bassi e Thiago Araújo, que no vídeo (abaixo), todo filmado no pátio do Munaya, cantam trecho de "A Voz do Morro", do eterno Zé Kéti. Completando o fundo musical, o Blues via Satélite, do grupo "Graveola e o Lixo Polifônico". A noite custa R$ 8.
Imagem: Facebook

POST DATA
Domingo 27-01-13
Duda Ribeiro postou a seguinte nota, minutos antes da hora marcada: 
Pessoal, sensibilizados ao acontecido em Santa Maria, nós da organização da Roda de Samba e da gravação do filme e o Coletivo Munaya chegamos à conclusão de adiar o evento. [...] Pelo fato de muitas pessoas terem parentes por lá e hoje não ser um dia para tal vibe. Pedimos desculpa a quem já havia se programado. [...] Assim como agradecemos a compreensão. Mas nos mantemos juntos para dar força ao povo de Santa Maria.  
A data que será transferida o evento ainda está sendo avaliada em conjunto. Até breve!

Colunista previu vitória de Eduardo 3 anos antes

Roberto Soares
Em 22 de outubro de 2009, um articulista do Amigos de Pelotas lançou um palpite adiantado para as eleições para Presidente da República em 2010 e para Prefeito de Pelotas em 2012. Veja a seguir o texto do advogado Roberto Soares, copiado do link original (não mais disponível), com a expressiva quantidade de 50 comentários, a maioria anônimos (84%). 

Em agosto de 2010, Roberto mudou a predição, rendendo-se às evidências, no artigo Os próximos atos. Antes do segundo turno, reconheceu a falha do palpite de 2009, em O prazer de errar. Ainda restava a profecia para as municipais, que hoje conhecemos.

O oráculo pelotense

José Serra deve vencer a eleição presencial do próximo ano. É possível dizer também que Eduardo Leite será prefeito de Pelotas em 2012, com Eduardo Macluf de vice, diz Roberto
Roberto Soares

Falar de Lula, Yeda, Fetter, tudo isso já está batido, démodé, ultrapassado. Vamos falar do futuro. Ano que vem, por exemplo, teremos eleições presidenciais. Façam suas apostas. A minha já fiz. Independentemente de quem seja o seu (ou o meu) candidato a presidente no ano que vem, a disputa eleitoral, a meu ver, já está definida. Serra é a “barbada” das eleições presidenciais de 2010. Só não vê quem não quer. Vamos aos fatos.

No cenário político atual, não há ninguém com mais predicados do que ele para ocupar o lugar de Lula. Serra, à semelhança de Lula, soube esperar sua vez. Perdeu quando tinha que perder. A bem da verdade, a derrota veio-lhe a calhar, na medida em que criou um oportuno distanciamento entre ele e o governo FHC. Com ela, Serra se desvinculou do ex-presidente e seu claudicante segundo mandato, marcado por irregularidades e crises.

Serra sempre soube manter o nível e a serenidade. Abdicou quando tinha de abdicar (2006), já que concorrer contra um candidato à reeleição – exceto em se tratando do governo estadual do Rio Grande do Sul – é quase sempre derrota na certa.

Na disputa do ano que vem, seus adversários não lhe fazem frente. Marina Silva não tem projeção. Dilma Rousseff não tem carisma (mesmo que tenha a máquina estatal a seu lado). Ciro carece de fibra moral.

Serra, contudo, submeteu-se ao salutar exercício de humildade que as derrotas podem impor aos políticos, e soube aproveitar o tempo entre as eleições para amadurecer como administrador. E até agora tem demonstrado que é possível, mesmo sendo do PSDB e ocupando um governo estadual, não se meter em lambanças e operações espúrias, a exemplo de certa colega de partido...

Uma coisa, contudo, Serra, inegavelmente não tem: carisma. É um “Nixon honesto”, ou um “Homer Simpson sem graça”. Pesa a seu favor, contudo, o fato de ao menos ser autêntico: não posa de “carismático” como fazia o picolé de chuchu Geraldo Alckmin, com seu sorriso apatetado e cara de professor substituto de ensino religioso.

O tucano só perderá essa parada se morrer ou abdicar antes. No mais, não se vislumbra nenhum outro contendor (ou contendora) a altura. Claro que, do povo brasileiro pode se esperar qualquer surpresa, mas essa fatura já está liquidada.

De lambuja, e revendo projeções que havia feito entre amigos, adianto que, já em 2012, Eduardo Leite (esq.) será eleito prefeito de Pelotas, sendo Eduardo Macluf seu vice. Já sei até o nome de alguns membros do secretariado. 

Podem me cobrar depois. Se eu estiver certo, podem me chamar de o “oráculo pelotense”.
P.S.: Que fique claro que não estou fazendo aqui campanha para José Serra nem para ninguém, mas conjecturando, com base no atual quadro, a hipótese mais provável de se concretizar. Basta maturidade para interpretar o texto.o 

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Eduardo vai a aula para marcar o ritmo


O sítio da Prefeitura anunciou a participação de Eduardo Leite numa oficina de pandeiro com o músico carioca Celsinho Silva, às 14h de hoje (23) na UCPel, dentro da agenda do 3º Festival Internacional SESC de Música. Notícia inesperada em Pelotas, onde a classe política mantém distância com a cultura e uma imagem de seriedade e rigidez.

Família de Eduardo faz samba e chorinho
O jovem prefeito, que tomou posse há 22 dias, é pandeirista amador em grupo musical familiar, composto por irmãos e primos. Na adolescência também estudou saxofone, sem sucesso, segundo reportagem de Zero Hora.

Um bom administrador tem mão firme para conduzir o ritmo, assim como deve fazer que os demais se entrosem como conjunto. Daí que esta aula seja providencial, como diversão, como aula de liderança e como divulgação de imagem pública.

Pandeirista desde 1976, Celsinho Silva — filho de Jorge José da Silva, o Jorginho do Pandeiro — fundou o grupo "Nó em Pingo D'Água" em 1978 e a Camerata Carioca em 1979, trabalha com Paulinho da Viola desde 1980 e leciona pandeiro na Escola Portátil de Música desde a sua criação, em 2000. O vídeo acima foi gravado no Japão em 2012, onde Celsinho dá aulas do instrumento, desde 2002.
Foto: Facebook

POST DATA
23-01-13, 22h
Celsinho e Eduardo em plena aula, hoje (23)
No vídeo abaixo, Eduardo explica à reportagem do Diário Popular sua presença no Festival. Mesmo sendo oportuna a aula e excelente o professor, o que ele quis foi mostrar a importância que as escolas e os alunos devem dar à música como atividade que ajuda ao pensamento e ao desenvolvimento da pessoa.

Se houver mais grupos musicais em Pelotas, preparados nas escolas públicas e particulares, a nossa vida pessoal e social melhorará e o Festival SESC terá servido como contribuição a uma sociedade mais humana. De fato, os cursos de música da UFPel têm tido maior procura desde que o Festival começou em Pelotas, em 2011.


O gesto do prefeito chamou a atenção sobre o Festival e mostrou que é bom mostrar em público nossas preferências, para favorecer certas políticas. Sua função não é fazer música (sem descartar que um prefeito é como um maestro que marca o ritmo das ações coletivas), mas estimular os futuros músicos e os professores. Neste sentido, uma única foto de um prefeito participante e criativo serviu como emblema publicitário para uma interessante campanha educativa.

Veja também o vídeo da ASCOM, relatado pela jornalista Joice Lima.
Foto: Y. Lopes (DP)


terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Classical Beatles


Esta terça (22), a Orquestra UNISINOS Anchieta, dirigida por Evandro Matté, apresenta parte de seu repertório rock-pop, com músicas dos Beatles. A agrupação de cordas de São Leopoldo (RS) também vem interpretando arranjos de Alexandre Ostrovsky para tangos e melodias do cinema, que vem apresentando desde a primeira edição do Festival SESC. Em 2011 ele arranjou alguns clássicos do rock e em 2012 armou este show somente com Beatles.

Quem ainda não conseguiu entradas de cortesia na Gonçalves Chaves 914 poderá entrar, chegando ao Teatro Guarani uns minutos antes. A entrada é permitida às 21h, e ao começar o concerto ninguém mais é autorizado. Também pode-se presenciar o ensaio geral às 17h, no mesmo lugar e com entrada livre.

Neste vídeo, gravado em agosto de 2011 em Porto Alegre, popurri com Eleanor Rigby, Let it be, All my loving e Hey Jude, incluindo convidados (sopros e percussão) e os cantores Rafael Gubert e Tita Sachet.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Sexteto de jazz interpreta Piazzolla

capa do cd "Visiones" (2008)
Joice Lima escreveu uma crítica musical do show de terça (15) no Guarani: Piazzolla versus Piazzolla (abaixo). Jornalista, escritora e atriz, ela sai momentaneamente do papel de redatora de notícias oficiais e faz um texto autoral, em primeira pessoa (transcrito do sítio da Prefeitura), que mostra por que é tão respeitada em vários meios: imprensa, arte e política. 

Escalandrum se transformou num grupo de tributo a Piazzolla, pois toca somente obras dele, com a particularidade de que as rearranja para sexteto misto (piano, contrabaixo, bateria e três sopros). Contribui, de modo único, simultaneamente à sonoridade da música argentina e à do jazz. 

O nome foi criado mesclando as palavras escalandrún (em espanhol, um tubarão que prefere as profundezas; do italiano scalandrone) e drum (em inglês, tambor). A família Piazzolla pescava, por esporte, o escalandrún, conhecido no Brasil como tubarão cinza, hoje em risco de extinção (leia o protesto de um ecologista e uma nota de um blogue sobre tubarões sobre a pesca desta espécie)

O baterista conversa, o pianista arranja, todos fazem solos e tocam como um.
Mais de mil pessoas lotaram o Theatro Guarany, na segunda noite do 3º Festival Internacional Sesc de Música, de Pelotas. Sentada na segunda fila, a vice-prefeita Paula Mascarenhas marcou presença, entre dezenas de músicos pelotenses, visitantes e comunidade em geral, todos apreciadores de música.

Os desavisados, aqueles que foram para assistir "o show do neto do famoso compositor Astor Piazzolla" (1921-1992) e desconheciam a proposta do grupo argentino Escalandrum, pareciam surpresos, alguns diriam que "chocados", logo no início do espetáculo. Afinal era tango ou jazz? Justamente. Era tango. E era jazz. Repetia-se, assim, com o neto, a sina do avô. Ao menos no princípio...

Piazzolla avô foi muito criticado pelos tocadores de tango mais conservadores da Argentina pelas suas propostas inovadoras no ritmo, no timbre e na harmonia. Muitos diziam que o que ele fazia não era tango. Ele não se importava. Se era preciso rotular, dizia que era música contemporânea. Depois que ele esteve em Nova Iorque, as composições passaram a conter uma forte influência do jazz.

O sexteto contém um trio de sopros: saxos e clarinete baixo.
Com Daniel "Pipi", Piazzolla neto, o caminho foi inverso. Ele integra o grupo de jazz Escalandrum desde 1999 e foi só em 2011, para homenagear os 90 anos do nascimento do avô, que decidiram gravar um disco com o consagrado repertório de Piazzolla. Jazz e tango de mãos dadas. Mas o grupo não se contentou em apenas reproduzir as famosas canções. Desta vez os papéis se invertiam. O jazz prevalecia.

As canções que compõem o CD Piazzolla plays Piazzola foram inundando, uma a uma, o Theatro Guarany, e envolvendo, encantando - como por mágica - a plateia. Lunfardo; Buenos Aires Hora Cero; Vayamos al Diablo [vídeo abaixo]; Oblivion; Tanguedia, Fuga 9; Escualo; Romance del Diablo; Milonga del Angel (outra conhecida dos fãs, que não está no CD) e, talvez a mais popular entre as composições do argentino, Libertango. Todas com arranjos ousados e repletas de sessões de improvisação - uma das mais fortes características do jazz.

Daniel Piazzolla, o tambor das profundidades 
Conduzindo o espetáculo, como um mestre de cerimônias, "Pipi", na bateria, ia introduzindo as composições do avô, com breves comentários, explicando a origem e os temas das canções, e apresentando os músicos, amigos seus antes mesmo de serem colegas de palco. Gustavo Musso no sax alto e soprano; Damián Fogiel no sax tenor; Mariano Sivori no contrabaixo; Nicolás Guerschberg no piano e Martín Pantyrer no sax barítono e clarinete baixo.

Talvez pelo vínculo de amizade de anos entre eles, o caso é que a afinidade se exprimia no palco e, apesar de todos os improvisos (propositais, obviamente), o sexteto mostrava uma coesão extraordinária. Seis em um. Um show de profissionalismo e qualidade artística. Visceral, orgânico, bonito de ouvir. A plateia captou, vibrou, aplaudiu com entusiasmo, pediu mais. O bis veio com Adiós Nonino, outra das mais populares de Piazzolla, que ele compôs para homenagear o pai, quando este estava morrendo. Chave de ouro.

"Me sinto flutuando, de tão maravilhosa", ouvi dizer uma mulher, enquanto saía do teatro. Talvez a frase não estivesse bem construída, mas certamente era perfeita para expressar o sentimento de muitas pessoas que estiveram no Theatro Guarany na noite de 15 de janeiro de 2013. Uma daquelas noites que devem ficar na memória, na gaveta dos momentos doces.

Escalandrum foi um escândalo, no bom sentido. Escalou a resistência inicial de alguns. Um privilégio para Pelotas tê-los aqui. Gracias, chicos.

Joice  Lima
com colaboração de Eugênio Bassi.
Fotos: J. Tomberg


POST DATA
O mesmo texto apareceu quinta 17 no Diário Popular (online e edição impressa), sem a menção de Eugênio, e no Diário da Manhã sem a menção de Joice.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Grandes ideias em pequeno formato

As seis integrantes do Grupo Superfície criaram esta obra da série "Multiplicações" (2012).
Uma coletiva com 30 expositores esteve presente no Corredor Arte na virada do ano, desde a semana do Natal até o dia da Epifania. A exposição “Grandes ideias em pequeno formato” trouxe obras em pequenas dimensões (30 x 30 cm), num desafio que o MAPP colocou a seus associados. Em suporte e técnica de livre escolha, cada artista devia colocar em pequeno formato suas ideias, originalidade e capacidade de síntese.

Autorretrato de Helena Badia
Como apertar no espaço de uma página o trabalho de uma vida ou os pensamentos que normalmente pedem expansão e liberdade? O desafio não consiste somente em podar ou encolher, mas sim em poder resumir a essência, seja numa parte que represente o todo (recorte), ou numa versão simplificada de algo maior (miniatura). São duas formas criativas de entrar na camisa de força e não parecer preso. Para mostrar uma figueira, traremos uma folha ou um bonsai? Em ambas há uma operação de síntese, que é a busca do essencial pela retirada dos detalhes.

Os artistas conceberam trabalhos em pintura, cerâmica, mosaico, fotografia, aquarela e tapeçaria, todos datados em 2012. A mostra também esteve, dois meses antes, na inauguração do novo Espaço de Arte Daniel Bellora, concebido e organizado por Tânia Bellora, uma das expositoras.

Minitapeçaria de Túlio Oliver
Túlio Oliver, por exemplo, criou uma tapeçaria com um motivo natural simples (esq.). Em tamanhos maiores, ele faz o mesmo com uma imagem complexa, como a figura do santo patrono de Pelotas, São Francisco de Paula; neste caso, fez uma produção semelhante adequando o conceito, por simplificação, ao espaço menor.

Por sua parte, o Grupo Superfície (6 integrantes) produz quadros em grandes dimensões e, depois da conclusão da obra, realiza recortes que formam quadros pequenos. O mesmo procedimento criativo para um mural cabe em espaços menores, e o resultado deixa a impressão de que se vê uma janelinha de algo bem maior. Helena Badia fez outro recorte, corporal neste caso, também sugerindo ao espectador a existência de uma janela (acima).

Um terceiro procedimento (intervenção) foi usado por Eduarda Franz, que trabalhou diretamente com o formato pequeno de uma antiga fotografia do centro de Pelotas (abaixo). O conceito original não foi recortado nem simplificado; ao contrário, ganhou uma riqueza além dos inúmeros detalhes que já possuía.

Além dos já citados (Eduarda, Grupo Superfície, Helena, Tânia, Túlio), os participantes foram: Adalberto Vilela, Arlinda Nunes, Ceci Victória, Clara Macedo, Cristina Almeida, Deborah Blank Mirenda, Elenise De Lamare, Gabriela Santos, Inês Martinez de Oliveira, Jussana Silveira, Leniza Severo, Maria Clara Leiria, Maria Cristina Leonardo, Michele Iannarella, Nauri Saccol, Norma Alves, Olga Reis, Raquel Grinberg, Rosa Alice Bender e Vera Souto.

Com 12 anos de atividade, o Movimento dos Artistas Plásticos de Pelotas se define como uma sociedade sem fins lucrativos, que congrega artistas plásticos e artesãos de todas as tendências. A entidade privada busca divulgar talentos artísticos da região (os novos e os já consagrados) por meio de atividades de intercâmbio propostas à comunidade local, como exposições, cursos, palestras, encontros e oficinas.

Eduarda Franz realizou intervenções sobre uma antiga fotografia, deixando-a como cartão postal.
Imagens: F. A. Vidal

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Prefeito Leite entrou no Sete de Abril


Prefeito, vice-prefeita, secretária de cultura e assessores visitaram o Teatro Sete de Abril, interditado em março de 2010, para ver com seus próprios olhos a situação estrutural e as decisões a serem tomadas. Tudo era já sabido, pelas informações prévias dos técnicos, mas a visita mostrou à comunidade o interesse pessoal do prefeito pela reabertura do teatro, o que significa a vontade política de que as coisas aconteçam (dizem os fazendeiros que o gado engorda sob o olho do dono).

No governo Fetter, a Prefeitura emitiu alguns vídeos de fundo publicitário, para promoção dos serviços municipais. Com o governo Leite, a mesma Assessoria de Comunicação (ASCOM) está produzindo vídeos jornalísticos de um minuto com notícias diretamente relacionadas com o prefeito, o que tem também um sentido de divulgação mas se faz mais cotidiano e verossímil.

Quanto ao Sete de Abril, Fetter Jr. avançou na comunicação com o Ministério da Cultura no último ano de seu governo, mas sempre foi claro que seu interesse era pelo prédio e não pelas atividades culturais nem pelos artistas. Ainda em 2010, eu mesmo me dirigi, máquina fotográfica em mão, à direção do Teatro para pedir uma visita de conhecimento, em nome da comunidade, e a diretora Annie Fernandes me explicou que os procedimentos eram demorados e não era possível nem necessário que o público visitasse o interior do Teatro, e muito menos tomar fotos. Essa era a postura do governo Fetter, de não vibrar com a ansiedade das pessoas pelo estado de seu teatro.

Em 2013, o novo prefeito vem mostrar que, pelo menos, tem a mesma ansiedade. Veja a notícia Prefeito faz visita técnica com texto e 7 fotos. Os jornais diários da cidade foram chamados para que a população conhecesse o estado do Teatro, e ambos fizeram reportagens especiais.

Com o descuido, a madeira apodrece e a cultura se ressente.
O Diário da Manhã seguiu o tom otimista da ASCOM, com a manchete: "Recuperação do Theatro começa em 60 dias". Um parágrafo na capa esclarece que o prédio foi aberto "para visita da imprensa". O jornal fez matéria própria, com fotos especiais (o de praxe é veicular as notícias emitidas pela Prefeitura).

Veja as fotos de Eduardo Beleske para Zero Hora.

O Diário Popular usou um tom trágico e alguns trocadilhos teatrais: Theatro Sete de Abril vive o drama real do abandono. 

Abaixo da manchete de capa, a chocante fotografia de Marcel Ávila faz o "resumo da ópera": a preciosa casa está caindo aos pedaços, e piora a cada dia. Seria por isso que a gestão anterior não deixava ninguém entrar?

Na edição impressa, o título da reportagem frisa que a falta de manutenção estraga o material, dia a dia: "Os efeitos da interdição crescem e aparecem".

Próximo a um tom poético (impróprio neste caso), o editor web do Diário introduziu nessa manchete uma rima e duas palavras simbólicas: Os efeitos da interdição crescem no silêncio e na escuridão. O sítio do jornal abunda em fotos mas o conteúdo não atribui responsabilidade a ninguém; no máximo, o apodrecimento do Teatro se deve ao clima de Pelotas e à demora da burocracia. Portanto, bola pra frente.
Foto: M. Ávila (DP)

Nauro autografa em Porto Alegre

Em Zero Hora, Roger Lerina divulga o lançamento em Porto Alegre do livro de Nauro Jr. "Náufrago de um Mar Doce". O repórter fotográfico, agora escritor de palavras, ainda deverá autografar na Feira do Livro do Cassino (quinta 31 de janeiro). O que o jornalista porto-alegrense pode não saber é que Nauro é pelotense adotivo, e tão bom filho, que todos acham que ele nasceu aqui mesmo... até os pelotenses. 

Depois de autografar o livro em sua Pelotas natal, além do Rio e de São Paulo, o autor de 43 anos estará a partir das 19h30min desta quarta-feira (16) no mezanino da Livraria Cultura do Shopping Bourbon Country.

Misturando realidade e ficção com pitadas de autobiografia, a história acompanha o incrível relato do pescador Nico, perdido em meio ao "mar de dentro" - como os ribeirinhos locais chamam a Lagoa dos Patos - depois de uma tormenta.


O convite a seguir, escrito por Nauro, é bem mais cálido e entusiasta. Por conta da expressão "minha amada Satolep" ele passa a impressão de ser nascido em Pelotas (e como é o coração que manda, ele é pelotense de verdade). Quem  ler o texto abaixo ficará com vontade de pegar o primeiro Embaixador para a Capital, mesmo que já tenha o livro. 

Paulo Rossi fotografou o Náufrago e seu pai.

Amigos, amigas, amigos dos amigos, inimigos que gostam de literatura, desafetos que querem me criticar, parentes, pescadores de peixes, pescadores de sonhos, pescadores de ilusão, fotógrafos, canetinhas, gente que precisa de motivos para falar mal de mim, pobres, ricos, remediados, xavantes e áureos cerúleos desgarrados, gremistas e colorados, homens, mulheres, os que não querem ser nenhuma coisa nem outra, colegas que querem me defender como um multimídia, ex colegas, colegas dos ex-colegas, amigos virtuais e cosmopolitas em geral:

Depois de lançar o livro na minha amada Satolep, em São Paulo e Rio de Janeiro, dia 16 estarei dando todos os motivos que vocês precisam para opinar sobre mim.

Finalmente vou lançar o meu livro Náufrago de um Mar Doce na capital de todos os gaúchos.

Espero encontrar a todos por lá pra bater um papo e espero também que este convite se transforme em um viral no face. Valeu.


Veja o documentário jornalístico da Globo Lagoa dos Patos, que mostra cidades desde Viamão até Rio Grande, passando por Pelotas, e Mestre Batista no fundo musical.

Um documentário gaúcho, com visão mais humanística e cultural, sobre a Laguna conhecida como Mar de Dentro: Velejando a Lagoa dos Patos (Alberto Blank Schwonke, 2008).

Veja também Um Mar Quase Doce, com enfoque científico biológico (Ulrich Seeliger, 2008).

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Ensaio aberto da OSPA, com pouco público

Emmanuele Baldini ensaia Piazzolla com a OSPA.
O ensaio da OSPA, aberto ao público, foi a primeira atividade do 3º Festival SESC de Música, ainda que sem as formalidades de um concerto noturno. Das cinco às sete da tarde, no Teatro Guarani, o regente Evandro Matté e os músicos que atuaram no concerto de abertura afinaram detalhes do programa desta noite (14).

O concerto que abre o Festival está a cargo da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, que tocará duas obras de Beethoven (Abertura Coriolano opus 62 e Sétima Sinfonia opus 92) e "Quatro Estações Portenhas", para violino e orquestra, de Astor Piazzolla. O solista é o italiano Emmanuele Baldini (v. minibiografia), que atualmente faz parte da OSESP, na função de spalla (chefe dos primeiros violinos).

Mesmo com reduzido público, Evandro Matté pediu um microfone para ser ouvido e dar pequenas explicações sobre o programa, sem se referir aos aspectos propriamente musicais das obras. Ciente de que o público de um ensaio aberto tem maior conhecimento e maior interesse musical que o que vai aos concertos formais, o regente teve este gesto como uma especial gentileza aos presentes.

O Secretário desfrutou o ensaio completo em primeira fila.
Num breve comentário, Matté agradeceu a presença do Secretário de Estado da Cultura, Luís Antônio de Assis Brasil (dir.), que veio oficialmente a Pelotas para assistir à abertura do Festival (veja nota).

O Secretário foi um espectador modelo, quanto ao interesse e à educação: ficou o mais perto possível do palco, esteve do começo ao fim, não gerou ruídos ou distrações para o resto (como levantar-se, conversar, comer ou beber), sinais de que estava entendendo e gostando do ensaio.

A primeira obra a ser preparada foi a que finalizaria o programa, com o solista Emmanuele Baldini. As Estações Portenhas foram compostas por Piazzolla separadamente, de 1965 a 1970, para seu quinteto (bandoneón e cordas). O arranjo que aqui se preparou, para violino e orquestra, foi feito após a morte do argentino, por um compositor russo que buscou remarcar as ligações com a obra de Vivaldi, como se Piazzolla tivesse reescrito a seu modo as famosas Quatro Estações do barroco. Após algumas correções feitas pelo regente, o solista se retirou e a orquestra revisou as outras duas obras.

Houve provas de som e luz, com o programa em dois telões.
A assistência a este ensaio foi bem menor do que se esperaria, considerando o alto interesse do Festival e do concerto de abertura: pouco menos de uma centena de pessoas (menos de 10% da lotação do Teatro Guarani).

Dois fatores, em ação conjunta, aumentam o público de um ensaio aberto: a qualidade da música e a capacidade auditiva dos espectadores. Quanto melhor a orquestra, mais se aproxima o ensaio à sonoridade definitiva do show, e isto atrai mais apreciadores da música de alta qualidade. A OSPA é um bom conjunto no contexto brasileiro, mas em Pelotas os ouvidos que podem distinguir e desfrutar dessa qualidade sonora parecem não ser mais que uma centena, hoje (abaixo).

Um ensaio aberto é uma ocasião para aprender detalhes sobre a música e sobre os intérpretes, mesmo que se presenciem pequenas interrupções ou repetições. O regente fala aos músicos, e os técnicos fazem seu trabalho ao mesmo tempo, caminhando ou testando luzes. Todos eles usam roupas informais, mas mantêm a concentração no trabalho. O público pode entrar e sair, mas, como o interesse é alto, quase ninguém o faz. Não é necessário aplaudir, mas quando as coisas saem bem, a plateia mostra seu reconhecimento.

Muito poucos quiseram comparar o ensaio com o concerto.
O concerto de abertura esgotou entradas uma semana antes, deixando de fora muitas pessoas interessadas, que esta noite não foram ao Guarani tentar uma vaga de última hora. Curiosamente, isto deixou o teatro com algumas cadeiras vazias.

A organização do SESC deveria considerar que uma proporção de pessoas que compra entradas (inclusive em concertos caros) não vai ao teatro, por diversos motivos (às vezes, baixo interesse pela música). Qual essa proporção em Pelotas?

O respeito máximo deveria ser dado, como fez o regente neste ensaio, a quem realmente aprecia a qualidade do espetáculo, por exemplo:
  • permitindo espectadores de pé, 
  • colocando um ou dois telões fora da sala,
  • abrindo a geral do teatro, espaço acima dos camarotes, que foi fechado há uns 50 anos,
  • advertindo sobre a possibilidade de vagas de última hora. 
Se o interesse pelos concertos no Guarani for realmente tão alto, não se explica tão pouca gente no ensaio aberto nem se pode deixar de lotar o teatro sob o pretexto de cumprir regulamentos cujo fim é melhorar o atendimento ao público. Se somente se conta com 1200 cadeiras, a organização deve entregar pelo menos 1400 convites e não desestimular a entrada de mais pessoas.

Por outro lado, o Festival SESC merece uma sala com boa ventilação e cadeiras cômodas e silenciosas, para que o evento siga melhorando e atraindo visitantes. Com o tempo, o concerto de abertura e o de fechamento teriam que ser feitos num espaço para mais de 2 mil pessoas e de boa acústica. Assim, ou o Guarani melhora sua estrutura (e o SESC facilita a entrada do público) ou ficará somente para os concertos dos grupos acadêmicos.
Fotos: F. A. Vidal

Pinturas de Marly Gonçalves

Detalhes de Paris num dia de outono (Marly Gonçalves, 2011)

Marly do Nascimento Gonçalves expôs, em dezembro de 2012 no Corredor Arte, 26 quadros com cenas do cotidiano urbano e rural, flores e figuras humanas. Nesta postagem, destaque para uma cena parisiense e uma paisagem rural.

Obras de Marly no Corredor Arte
Esta foi sua primeira mostra individual, após algumas participações em mostras coletivas do grupo de pintura do SEST-SENAT. Foi em 2009 que Marly ingressou nesse grupo e se iniciou na técnica de pintura a óleo com direção de uma instrutora.

Em 2012, Marly expôs um trabalho na coletiva "200 anos de Pelotas", realizada no Bistrô da SECULT (v. fotos da mostra). O grupo do SEST-SENAT era coordenado por Guiomar Neves, que orientava as participantes nas técnicas artísticas (veja nota). Essa foi a terceira exposição do grupo em associação com a SECULT, sendo a primeira na sala conhecida como Bistrô.

A primeira mostra individual de Marly foi a 254ª exposição do Corredor Arte, projeto de saúde mental que faz parte da Política de Humanização do Hospital Escola da FAU-UFPel. Localizado no acesso principal de entrada ao Hospital (rua Prof. Araújo, 538), o Corredor Arte está permanentemente aberto à visitação.

Cena de uma propriedade rural (Marly Gonçalves, 2011)
Imagens: Corredor Arte

domingo, 13 de janeiro de 2013

Calçadão do Laranjal virou shopping popular

O negócio cresce quando se junta a fome com a vontade de vender.
Em 2012 o assim chamado calçadão do Laranjal ganhou espaços de lazer, que estão sendo usados pela comunidade, mas o que não se esperava era que esta via de 2 km se desenvolvesse como uma galeria comercial a céu aberto.

Há três anos contei 31 vendas fixas funcionando no caminho dos pedestres e dos banhistas do Laranjal. Este domingo (13) de janeiro, constatei nada menos que 55 pontos comerciais, instalados seja na areia ou nos lugares para estacionamento de carros (os estacionados saem de cena quando não há público). Além desses pontos, havia algumas "bancas institucionais", sem fins de lucro, como ocorre em feiras e shoppings (bombeiros, Secretaria de Saúde, SESC e doação de animais).

As 55 vendas incluíam 47 pontos de alimentação (desde simples carrinhos até casas instaladas na areia, passando por vans e trêileres de vários tamanhos), um aluguel de parapente aquático com skate e 7 bancas de produtos artesanais. Cerca de 10% do espaço para banhistas e dos estacionamentos estava ocupado por negociantes informais e suas cadeiras. Alguns carros do público estacionavam também de modo informal, em lugares indevidos, avançando sobre o espaço de circulação da avenida.

A contagem dos pontos comerciais foi feita passando de carro, e omitiu os carrinhos que transitavam pelo calçadão ao lado dos pedestres. Não foi verificado quais teriam autorização legal, função que compete a fiscais da Prefeitura. Alguns chegaram este ano ou no ano passado; outros levam décadas.

Um trêiler e suas cadeiras podem ocupar a vaga de dois ou três carros.
Estava à venda a comida rápida que o povo gosta: kreps (crepes no palito), pastéis, cachorros-quentes e panchos, churrasquinhos, camarão, milho, churros, batatas fritas, doces, sanduíches e lanches diversos, além de refrigerantes e cerveja.

Os nomes dos pontos identificavam a origem popular dos comerciantes: Capetinha, Rei do Pancho, Churraskito do Dindo, Pastelaria Paladar, Choupana Bar, Ringo III, Só Lanches II, Katrina's Bar, Krep's do Idemar, Krep's da Tia Rosa, Maneka-Dog, Lanches Shrek, Fera, Rei do Krep's, Saboroso, O Poderoso. Por outro lado, a falta de nome em 20 destes 55 pontos de alimentação denunciava a informalidade dos negócios (eufemismo para clandestinidade).

Tanto se o comércio fosse do tipo informal ou autorizado pela Prefeitura, o fato é escandaloso, pois um caos no respeito às leis e à convivência se instalou gradualmente, com tolerância do povo e do governo. O mesmo fenômeno já se vê nas calçadas do centro de Pelotas e nas áreas centrais das avenidas Bento Gonçalves e Duque de Caxias.

Para os diretamente envolvidos, tudo está bem: para os vendedores, trata-se de um meio de subsistência, e o público comprador agradece a possibilidade de comprar o que mais precisa por preços acessíveis. Prefeitura não consegue solucionar, vereadores apoiam os vendedores, e o ponto turístico de Pelotas vai sendo ocupado pelos mais ousados. Leia sobre o conceito de favela, que pode aplicar-se à expansão do comércio ilegal.

O que era um espaço turístico virou um corredor de camelôs. Foto de 2010 ainda é atual.

Fotos: F. A. Vidal (1-2), Amigos de Pelotas (3)

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Uma odisseia audiovisual: debates sobre Kubrick

O Zero 3 Cineclube começa o ano com um novo ciclo, desta vez focado no trabalho do diretor norte-americano Stanley Kubrick (1928-1999). O retorno dos ciclos de cinema no Centro de Artes da UFPel (Alberto Rosa 62) é este sábado (12), com a exibição de "O Grande Golpe", suspense noir de 1956.

Nos próximos seis sábados, até 23 de fevereiro, serão debatidos filmes do cineasta nova-iorquino, em ordem cronológica de produção: dos anos 60, Dr. Fantástico e 2001; dos 70, Laranja Mecânica; O Iluminado, dos 80; De Olhos Bem Fechados, dos 90 (clique no cartaz à direita). Todos são verdadeiros clássicos, em gêneros diferentes, mostrando a versatilidade e o perfeccionismo do diretor.

A obra toda de Kubrick - 13 longas em 47 anos - também pode ser descrita como uma grande sequência de suspense, com muitas pausas, surpresas e golpes bem dados. O Zero 3 tomou o subtítulo do filme "2001: uma Odisseia no Espaço" e o aplicou com exatidão à carreira do cineasta: "Uma odisseia audiovisual".

Neste ciclo especial dedicado a um autor, o cineclube traz uma promoção oferecida somente para alunos do Centro de Artes da UFPel: sorteio de 6 horas no estúdio de produção musical "A Vapor" (v. informação). Também haverá sorteio de revistas Teorema e degustação de Garage Bakery. Sessões sempre às 15h, com entrada gratuita (tomar senhas a partir das 14h 45min).

O primeiro filme desta "odisseia de imagens e música", The Killing, conta a história de um grande plano tramado por Johnny Clay (vivido pelo ator Sterling Hayden) para o assalto de um hipódromo. Enquanto o grupo de ladrões se organiza, a mulher de um deles planeja outro golpe para ficar com o roubo de Clay. A narração se concentra em como o "crime perfeito" é preparado e em como as pessoas e o acaso fazem que tudo fracasse.

O suspense prende o espectador justamente pelo modo de relato não linear, desde mais de um ponto de vista, como um quebra-cabeça que somente se entende quando todas as peças são colocadas. Por sua técnica narrativa revolucionária, "O Grande Golpe" foi o primeiro filme de grande reconhecimento na carreira de Stanley Kubrick, se bem ficou esquecido depois de suas obras cada vez mais inovadoras e inquietantes.

Não seria exagerado dizer que o escritor Aldyr Garcia Schlee se inspirou neste recurso multifocal (do uso de diversos pontos de vista), que foi ousado no filme de Kubrick e é ousado na literatura, para a concepção do livro de contos "El Día en que el Papa fue a Melo" (Ediciones de la Banda Oriental, 1991). Foi um exercício narrativo, mais do que o relato de uma história, para mostrar o vertiginoso contraponto psicológico à realidade social supostamente objetiva (um golpe de luva na cara do positivismo).

Cartaz dinamarquês
The Killing significa a matança, mas este título não foi traduzido literalmente nem no Brasil ("O grande golpe") nem em Portugal ("Um roubo no hipódromo"). Em outros idiomas o título teve um incrível número de variações. Na América hispânica, por exemplo, ficou como Casta de malditos. Veja outras versões, segundo o IMDB, e seus significados, todos diferentes, como se as palavras ao redor do mundo tentassem buscar o mesmo efeito de terror do filme original.
  • Atraco perfecto (Espanha): Assalto perfeito.
  • Rapina a mano armata (Itália): Assalto à mão armada.
  • L'ultime razzia (França): O último ataque.
  • Die Rechnung ging nicht auf (alemão): Não abra o bilhete.
  • Coup manqué (Bélgica): Tiro em falso.
  • I klopi (grego): O roubo.
  • Det store gangstercup (dinamarquês): O grande roubo.
  • Spelet är förlorat (sueco): O jogo está perdido.
  • Peli on menetetty (finlandês): O jogo terminou.
  • Son darbe (turco): Golpe final (tiro de misericórdia).
Veja abaixo a cena da luta no bar do hipódromo, em que um homem contratado arma confusão enquanto ocorre o roubo. O brigão é o lutador e enxadrista Kola Kwariani (1903-1980). Na primeira fila do público que observa (1.18) está, como extra, o humorista Rodney Dangerfield (1921-2004). A locação é o hipódromo de Bay Meadows, que existiu na cidade de San Mateo, California, de 1934 a 2008.
Imagens da web (2-3) e Zero3 (1)

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Recuperada antiga sede do Jockey Club

Construído estimativamente na década de 1830, o palacete situado na Sete de Setembro com Félix da Cunha foi propriedade de Domingos de Castro Antiqueira (1774-1852), o Visconde de Jaguari, e ali residiu seu neto, Domingos Soares de Paiva (n. cerca de 1834, m. 1900). 

O Visconde morava no casarão da esquina em diagonal (hoje sede do SANEP), onde se diz que Dom Pedro II teria pernoitado em 1846 (v. referência). Segundo o artigo de Rodrigues e Santos (UFPel, 2011), que abunda em referências históricas e arquitetônicas sobre a casa do neto do Viscondeo Imperador teria ficado neste casarão, certamente de construção posterior.

O Visconde de Jaguari fez  (ou deixou) a casa para seu neto. 
Desde 1948, este prédio serviu de sede social ao Jockey Club de Pelotas, que passou a alugá-lo para cobrir dívidas, até a sua venda em leilão, em 2003. Nos anos 60, foi alugado por partes, para cobrir dívidas do clube. Em 2003, foi comprado por Dario Lorenzi, que o reformou, mantendo traços da construção original. O térreo foi destinado ao Cartório Lorenzi, inaugurado em dezembro de 2012.

Leia a seguir reportagem de Júlia Otero, publicada ontem (9) no sítio de Zero Hora (v. texto completo). 


O prédio foi o primeiro em Pelotas a ser parcialmente financiado com recursos privados pelo Projeto Monumenta, que recupera fachadas e coberturas. Hoje ali funcionam o 4º Tabelionato de Pelotas, reinaugurado no final de 2012, e uma casa de festas com lugar para 300 pessoas.

A recuperação do edifício trouxe à tona outros detalhes esquecidos — ou criados — pelo passar do tempo. Um deles é que Dom Pedro II teria passado uma noite na casa quando o local pertencia a uma família nobre da região.

Dejane e Dario Lorenzi, artista e tabelião
Com 870 metros quadrados, o prédio foi erguido em meados de 1830 e, em 1948, vendido ao Jockey Club. "Era a sede social, fazíamos festas de eleições do clube, os associados podiam franquear o local para eventos particulares", lembra Jarbas Plinio de Mello, que trabalhou por mais de 30 anos no Jockey Club.

No entanto, dívidas forçaram a instituição a alugar espaços do prédio. "Tinha uma barbearia, boate, restaurante, bar e até jogatina nos fundos", lembra Dejane Lorenzi, artista plástica que acompanhou a restauração.

Pelo fato de ter abrigado diferentes estabelecimentos comerciais, a casa sofreu diversas intervenções. "Na construção original, não tinha churrasqueira, mas como foi alugado para um restaurante, no andar térreo havia mesas e churrasqueiras que tivemos de remover", recorda Rudelger Leitzke, arquiteto responsável pelo projeto.

Restaurante Diehl alugou o piso superior
"Queríamos deixar o corrimão da escada apenas de madeira, da forma original. Raspamos e tinha mais de 10 cores ali: azul, rosa, amarelo e por aí vai", conta Dejane, que exibe uma foto da fachada do prédio, também colorida (dir.).

Há 10 anos, o Ministério Público entrou com uma ação para demolir o imóvel, em razão de problemas na estrutura. "Fizemos um laudo dizendo que o prédio poderia ser recuperado, barrando a intenção do Ministério Público", lembra o professor de arquitetura e urbanismo da UFPel, Sylvio Jantzen.

Por conta de dívidas, em 2003, a casa foi a leilão. E o tabelião Dario Lorenzi vislumbrou a oportunidade de adquirir um prédio próprio. Na época, o Projeto Monumenta, de caráter nacional, escolhia em conjunto com a prefeitura projetos de restauração privados. "Depois de comprar a casa, consegui um financiamento de R$ 370 mil para restauro da fachada e da cobertura, que parcelei em 10 anos. O restante da reforma, tirei das minhas economias", calcula Lorenzi, que não sabe precisar o valor total da obra.

Vitral do piso superior foi preservado
Considerado patrimônio histórico da cidade, o prédio não foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Por isso, foi possível fazer modificações nas áreas internas.

As salas brancas estão bem equipadas: com internet, ar condicionado, parte do arquivo computadorizado e salas individualizadas. A lembrança do passado está espalhada no imóvel: na fechadura, na porta, nas janelas, na parede, no vitral do salão de festa e em toda arquitetura externa.

As grandes portas originais de madeira são abertas todas as manhãs, mas, para manter o interior do prédio climatizado, há portas automáticas de vidro que funcionam com sensores. Dentro, a sala principal conta com atendimento em guichês, separados por madeiras de reconstrução da própria obra mesclados com materiais atuais. Os funcionários atendem de branco, combinando com as paredes e a decoração em madeira e tonalidades claras.

O segundo andar é dividido entre quatro salões, compostos por mesas e cadeiras e com janelas grandes em cada compartimento. Os móveis também são antigos, que contrastam com os banheiros, de arquitetura moderna, com pias ovuladas e torneiras finas.
Júlia Otero
Recursos privados e do governo federal permitiram recuperar o palacete de um charqueador.
Fotos de Marcel Ávila