sexta-feira, 28 de março de 2014

Amilton Fernandes, celebridade esquecida


Conversando com Kleiton e Kledir num de seus programas em 2011, Rolando Boldrin citou um ator pelotense com que havia contracenado em 1964 na novela "O Direito de Nascer": Amilton Fernandes (1919-1968). Ele foi um dos primeiros galãs da TV brasileira, ou pelo menos o primeiro herói de novela que se fez nacionalmente famoso (v. post Boldrin recebeu Kleiton e Kledir).

Apesar de ter sido uma celebridade por alguns anos e de ter morrido de modo inesperado, não se encontram dados biográficos sobre a origem e os anos jovens de Amilton Fernandes. Os mais velhos não o recordam bem e as gerações atuais nem ouviram falar dele.

Inícios da TV no Brasil

Amilton e Guy Loup, casal central
em "O Direito de Nascer" (Tupi, 1964)
Wikipédia apresenta uma lista de seus trabalhos no início da televisão brasileira, final da década de 1950. Com figuras como Lima Duarte e Paulo Gracindo, Amilton viu nascer a televisão, quando todas as transmissões ainda eram feitas ao vivo, antes da criação do videoteipe (v. histórico). Em 1958, ano em que Amilton estreou na TV, usou-se a gravação de imagens por primeira vez no Brasil, primeiramente sem a possibilidade de edição e montagem. Nos anos seguintes, o ator participou em diversas novelas e séries.

A radionovela "O Direito de Nascer", originalmente escrita em Cuba (v. Wikipedia em espanhol), foi levada ao ar no Brasil em 1951, com mais de dois anos de duração (confira aqui trecho de 2 min) e vozes como a de Paulo Gracindo (1911-1995). Em 1964 foi adaptada como telenovela (audiovisual) pela TV Tupi, no horário das 21h30 (v. Wikipédia).

A fama

Em dezembro daquele ano, o país sob o governo militar, a televisão era uma novidade no Brasil e o público assistiu ao "Direito" com ainda maior entusiasmo do que a radionovela. Os capítulos de TV iam ao ar ao mesmo tempo em São Paulo e no Rio de Janeiro, somente. Em agosto de 1965, o final teve tanto sucesso que o episódio final foi representado no Maracanã e seguiu sendo repetido diversas vezes ao vivo, ante milhares de pessoas, em visitas às capitais em que os atores eram aclamados como ídolos (ouça aqui a música tema com fotos da telenovela).

Leila Diniz e Amilton em
"O Sheik de Agadir" (Globo, 1966)
Imediatamente após "O Direito de Nascer", Amilton Fernandes seguiu na Tupi, com "O Preço de uma Vida", mas o sucesso não pôde ser repetido, apesar dos ingredientes muito semelhantes.

Em 1966, o ator passou à Globo, sendo um dos protagonistas de "O Sheik de Agadir", com Yoná Magalhães e uma jovem Leila Diniz (1945-1972), que teria trágica morte aos 27 anos (como Amilton, que morreria aos 48).

Sem pausas entre as consecutivas produções, o galã permaneceu na Globo, ainda no papel típico do moço rico e bonito de "A Rainha Louca" (1966).

Em 1967, foi passado ao novo horário da novela das oito, "Sangue e Areia" (v. Wikipédia), onde seria o vilão, enquanto o casal romântico seria feito pelas recém-chegadas aquisições da emissora (provenientes da TV Excelsior): Tarcísio Meira e Glória Menezes. Esta última, outra celebridade que nasceu em Pelotas (v. post Glória Menezes faz 75 anos).

O desenlace

Amilton fez o vilão Dom Ricardo,
de Sangue e Areia (Globo, 1968)
Durante o segundo mês desta novela, o ator ficou ferido num acidente de trânsito na zona norte do Rio de Janeiro. Hemofílico, não resistiu às seis cirurgias a que foi submetido, vindo a falecer dois meses depois, em abril, poucos dias antes de completar 49 anos de idade. A novela não podia parar e o roteiro teve que ser reformulado por Janete Clair (v. lista de personagens).

"Sangre y Arena" é um romance de 1908, do espanhol Vicente Blasco Ibáñez, que deu origem a vários filmes de sucesso. O título alude ao drama de um toureiro, dividido entre o amor e a morte, a pobreza e a fama. A adaptação da Globo pôs Amilton Fernandes como um rival amoroso do herói, com atitudes violentas.

Fora do mocinho que se acostumara a fazer, o ator conhecido por sua elegância e gentileza pode ter-se desacomodado do papel de assassino, a tal ponto de perder o controle da vida pessoal e se deslocar, inconscientemente, a uma situação de vítima. É uma possível interpretação dos motivos ocultos para aquele acidente, que levou embora esta celebridade do nosso meio e de nossa memória.

O blogue Astros em Revista reúne mais de 90 fotos de Amilton Fernandes em sua fase célebre, a única da qual temos registros. Veja um trecho de 1 minuto de "O Sheik de Agadir" (Globo, 1966-1967), com o beijo de lado entre Amilton Fernandes e Iris Bruzzi.

Um comentário:

Anônimo disse...

Segundo relatos ouvidos, Amilton Fernandes teria morado no Capão do Leão, no local onde hoje é a Panificadora Otto.
Profª Beth