domingo, 31 de agosto de 2014

A Espanhola e o Ebola, epidemias mortais

Nosso colaborador cronista Rubens Amador publicou no Diário da Manhã impresso de domingo passado (24-08-14) a crônica seguinte, onde sugere que a gripe espanhola e os recentes surtos da febre ebola poderiam ter em comum um mesmo fator de risco: a exposição ao ar livre de cadáveres de vítimas de guerra.


Fonte: SlidePlayer
A terrível influenza não tem origem certa, mas se associou à Espanha porque naquele país, neutro na 1ª Guerra Mundial, a imprensa noticiou abertamente sobre a epidemia, enquanto os demais países (afetados pela guerra e pela doença) estavam sob censura. Na Espanha, era chamada "russa"; na Rússia, era "siberiana".

A gripe espanhola foi a pior pandemia da história da humanidade (v. slide à dir.). Também chegou ao Rio Grande do Sul, e a Pelotas, como menciona nosso cronista. Em 1918, nossa cidade tinha uns 78 mil habitantes (v. artigo de L. A. Gill) e Porto Alegre, 192 mil.

A historiadora Janete Abrão informa em palestra (v. vídeo 34 min., slide 33) que, em 1918, houve somente em Porto Alegre 1316 óbitos pela gripe espanhola (12 mil na cidade do Rio, 5 mil em São Paulo), estimando-se em 300 mil mortos em todo o Brasil, em todos os Estados (entre 1 e 2 % da população morreu). Em Pelotas pode ter sido entre 800 e 1000 pessoas, comparável a 4 mil mortos em 2014. 

Um novo vírus apareceu em 1976 perto do Rio Ebola, no Congo, ganhando o nome ebolavírus. A grafia ébola é do francês, idioma oficial do Congo, e sua pronúncia é eboláSobre esta epidemia surgida na África, v. a nota de Médicos sem Fronteiras, o artigo Ebola e a falência moral do capitalismo e a reportagem da Revista Veja.


Cuidado com a pandemia

Curiosamente, pelo que leio sobre o Ebola, não encontrei até agora nenhuma conotação com algo muito importante que deve ser pensado, acho eu. Refiro-me à famosa Gripe Espanhola, de 1918. Foi atribuída àquela tragédia universal, como causa, os corpos insepultos durante a Primeira Guerra Mundial, de 1914-1918. Milhões de seres se putrefizeram na atmosfera, contaminando-a seriamente, tal como acontece com a branda e lenta poluição de hoje pelas chaminés das fábricas e dos automóveis.

"Gripe A" de 1918 matou, em todo o planeta,
mais que a 1ª Guerra (que teve 16 milhões de mortos)
A Gripe recebeu esse nome porque falsamente surgiu na Espanha (leia um resumo). Foram considerados mortos pela gripe “espanhola”, no mundo daquela época, de 20 a 100 milhões de pessoas!

Os sintomas eram terríveis: a pele da pessoa assumia uma coloração castanha arroxeada, os pés ficavam pretos, o doente começava a tossir sangue, deixando a saliva tingida. Sobrevinha uma sufocação por falta de ar, e a vítima entrava em agonia até a morte, por ter seus pulmões inchados por um muco sanguinolento.

Agora questiono o seguinte: Lá na Nigéria, Libéria, Serra Leoa, Guiné, Monróvia e adjacências, está acontecendo um terrível morticínio por questões políticas terroristas, de onde resulta também ficarem milhares de corpos insepultos. Há poucos dias, vi na televisão o depoimento de um homem que fugia do pavor pelas mortes praticadas por guerrilheiros islamitas fanáticos, que ele e sua mulher conseguiram vencer a fadiga, em difícil fuga, com fome e sede, mas que sua mãe morrera no caminho, e ele teve de abandonar seu corpo na estrada. E que essa via estava juncada de cadáveres. Naquele setor da África, há enormes condições pró-vírus, por enquanto uma epidemia, com já quase dois mil mortos, tal a miséria que lá impera.

E aqui venho perguntar: não terá o Ebola certa similitude com a Gripe Espanhola? Só que agora manifestando-se com outro vírus peculiar? Face ao perigo de outra pandemia, vários países estão tentando circunscrever o foco do vírus (já morreu um médico espanhol, e dois colegas seus americanos que, contaminados, já foram recambiados em câmaras muito especiais para serem tratados nos EUA), mas o resto da humanidade teme que possa acontecer outra pandemia como a trágica Gripe Espanhola.

Ebola mata 90% dos contagiados,
entre estes alguns médicos e cuidadores.
Em Pelotas, milhares de pessoas morreram com a “espanhola”. Não havia caixões suficientes, nem médicos, nem hospitais. Os corpos eram transportados em carroças para sítios distantes, pois não havia lugar no cemitério local de então.

Foi uma tragédia universal. Tudo – se afirma – uma trágica decorrência da guerra de 1914-18, quando as condições sanitárias ainda eram muito precárias e pouco se sabia de como enfrentar uma agressão virótica daquela magnitude, com milhares de corpos insepultos.

Para se ter uma idéia da letalidade do vírus da chamada Gripe Espanhola, ele só pôde ser tratado 77 anos depois de aparecer, quando o Dr. Jeffrey Tautenberg – um norte americano – o isolou no ano de 1995, tornando possível uma vacina. O mundo agora conhece o vírus da terrível Gripe Espanhola, que leva a sigla H1N1.

Para concluir estas considerações de um leigo no assunto, baseado apenas em leituras, insisto: O vírus Ebola, no meu entender, surgiu devido aos corpos insepultos e a uma precária higiene, o que aconteceu também na 1ª Guerra Mundial de 1914-18. Na miséria dos países africanos onde hoje o Ebola nasceu e prolifera, reina pouca sanidade, e os corpos se espalham pelas ruas e estradas, ante as mortes abundantes de contaminados.

O ebolavírus é tão letal e contagioso que os
pesquisadores devem usar proteções especiais.
O perigo é enorme, um dos maiores deste século, pois se tal vírus ganhar o resto do mundo, neste momento em que se desconhece tudo sobre ele, talvez ainda leve outros 2 anos para se chegar à etiologia do vírus em laboratório.

Enquanto isso, por certo, milhões de pessoas serão infectadas, em outra pandemia, apesar do progresso científico de hoje.

Rubens Amador

Imagens da web

sábado, 30 de agosto de 2014

A humanidade está jogando a vida no lixo

Nos últimos minutos desta sexta (29-08), o professor da UFPel Ney Roberto Bruck postou o seguinte relato, e concluía com um pedido de socorro: salvemos as vidas indefesas, e ajudemos a que sobrevivam.


O inesperado acaba me atraindo mais que o tédio do previsível, e é por isso que trabalho com psicologia das emergências. Vou contar uma coisa que aconteceu quarta-feira [27-08] e ainda está acontecendo.

Na frente da minha casa tem um container de lixo. Olho pra ele da janela de onde trabalho. E seria totalmente impossível imaginar que eu pudesse chorar dentro deste container.

Uma senhora me chamou dizendo que tinha um gatinho miando ali dentro. Era quase noite e fui até ali e de fato tinha um miado. Com a ajuda de um amigo que estava comigo na frente da casa, iniciamos a busca com um rodo e lanterna, tirando pacotes de lixo de um lado para outro e logo depois tirando os pacotes pra fora. Sem saber ao certo de onde vinha o miado, pensamos que o gatinho se deslocava no meio do lixo revirado. O tempo passando e nada de achar, decido entrar dentro do container e retirar tudo pra facilitar a busca.

De repente o mistério termina... acho um saco de plástico fechado, com 3 gatinhos recém nascidos dentro. Bah, não deu pra segurar e sabe quando vem aquela vontade de chorar sei lá de onde? É que todo mundo sabe que eu sou muito forte.

Atravessar a rua e panos com bolsa de água quente. Com o apoio e objetividade da Greice e do veterinário da Úrsula, que indicou uma loja que ainda estava aberta, providenciamos uma mamadeira pequena (que não deu certo) e um leite em pó próprio para esta situação (que deu certo). Estão sobrevivendo muito bem, tomando este leite com conta-gotas (veja em vídeo) e agora já iniciando na mamadeira. Inclusive fazendo xixi e cocô e miando muito, que parecem ótimos sinais de vida!

Ney R. Bruck
Fonte: Facebook

POST DATA
25-09-14
As três gatinhas resgatadas pelo professor Ney sobrevivem há um mês com alimento da mamadeira que aparentemente deu certo, neste caso com um símbolo político-ideológico (Facebook). 
Nossas ideias nos são instiladas muito cedo, com as primeiras gotas de leite materno, e as sorvemos como se delas dependêssemos. Muito mais tarde poderemos fazer um discernimento.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Andréa Pontes, a atleta da resiliência

Andréa Pontes redirecionou sua vida após acidente em 2007.
A atleta paraplégica pelotense Andréa Pontes vai receber uma indenização de R$ 10 mil por danos morais. Durante o check in para um voo da companhia Gol [em 2013], ela foi informada de que, apesar de ter comprado as passagens, não poderia entrar na aeronave. "A funcionária da empresa primeiro disse que havia uma restrição no sistema, e depois que eu não apresentava condições vitais para viajar", afirma Andréa, de 31 anos, que é da Seleção Brasileira de Paracanoagem e também advogada. (v. notícia da Rádio Gaúcha).

Não cabe mais recurso da ação ante o tribunal de Brasília (a notícia teve destaque no Correio Braziliense, esta semana). Ironicamente, 10 mil reais é o preço de um caiaque novo de competição.

A canoagem realizada por pessoas com deficiências físicas é denominada paracanoagem (v. história deste esporte). Andréa foi descoberta pela treinadora Diana Nishimura em dezembro de 2012 no Lago Paranoá e desde então vem destacando-se internacionalmente. Ela já era, aos 24 anos, uma destacada voleibolista, quando um acidente de carro a deixou sem movimento nas pernas. Teve que deixar outro sonho, o de ser delegada de polícia.

Hoje a ex-aluna do Colégio São José é a melhor atleta feminina do Brasil na paracanoagem e com chances de vir a ser campeã mundial nos Jogos de 2016 (v. a notícia de 2013 Pelotense disputará mundial de paracanoagem). Como ela contou ao Diário Popular, fez-se amiga do juiz ministro do Supremo Joaquim Barbosa, que a estimulou a não abandonar os estudos de Direito (v. reportagem de janeiro de 2014 Do Direito à Canoagem).



Foto: R.Gaúcha (1), DP (2)

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Armandinho vem a Pelotas

Alexandre Beck autografa hoje (28-08) na Livraria Vanguarda do Shopping Pelotas os volumes 2 e 3 do Armandinho, que trazem as tirinhas publicadas no Facebook em 2012 e 2013. O desenhista já havia publicado dois volumes antes destes: o Um e o Zero, com tiras de 2011 e 2010. O personagem nasceu em jornais de Florianópolis em 2009, e seu pai mora em Santa Maria (RS) desde 2012.

Revista Samuel comparou o menino sábio brasileiro com o filosófico Calvin norte-americano (v. Wikipédia) e a Mafalda argentina, a criança que criticava a sociedade materialista do pós-guerra (ambos foram publicados por cerca de uma década, no século XX). Com a naturalidade das crianças, Armandinho denuncia as faltas éticas e anti-humanas do mundo adulto e tenta viver os valores de amor e respeito que deverão orientar a humanidade no futuro.

Durante esta semana, o autor se encontra em Pelotas, em visita a algumas escolas e para uma sessão de autógrafos, conforme ele mesmo informou na página do evento. Nesta ocasião dedicou desenhos à Princesa do Sul (abaixo).

No século XVIII, a região próxima ao "Arroio das Pelotas" era conhecido como Rincão das Pelotas.
É uma sorte poder comprar os livrinhos na livraria (mesmo que soe óbvio demais), pois o usual é que eles são comprados só pela internet (R$ 25). Leia entrevista com Alexandre no Diário de Pernambuco, reportagem no Diário Catarinense e resenha na Página do Enock.

O 28 de agosto é lembrado às vezes como o Dia do Livro, por ser o dia de Santo Agostinho, patrono do livro e da leitura, desde que sua conversão religiosa, no ano de 386 d.C., ocorreu pela leitura de um versículo da Bíblia escolhido ao acaso (Romanos 13, 13-14). Leia sobre a conversão de Agostinho.


POST DATA
29-08-14
Veja álbum com 237 fotos do lançamento.
3-09-14
O Diário Popular divulgou reportagem sobre o trabalho de Alexandre Beck no vídeo abaixo:

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Dia do Psicólogo 2014, 7ª região

Esta manhã, o Conselho de Psicologia gaúcho (7ª zona nacional) emitiu a nota abaixo, "O Compromisso Social na Construção da Psicologia", sobre a importância atual dos psicólogos no bom desenvolvimento da sociedade brasileira (leia no portal do CRP). 

Sábado (30-08), a subsede Sul, que atende os profissionais de Pelotas e região, terá um programa de palestras sobre a atuação psicológica em diversas áreas. Confira as atividades do projeto A força do diálogo em 40 mobilizações, em razão dos 40 anos do CRP-RS e alusivas ao Dia do Psicólogo.

Também em Pelotas, a Sociedade Científica Sigmund Freud programou a palestra "Narcisismo e redes sociais", com o professor Ricardo Azevedo da Silva. Confira no vídeo abaixo o texto de Walmir Monteiro sobre o lado mais subjetivo e sensível do ser psicólogo no acompanhamento de pessoas.


Neste 27 de agosto, Dia do Psicólogo, o Conselho Regional de Psicologia destaca as mudanças pelas quais a profissão vem passando nos últimos anos.

Historicamente, a atuação dos psicólogos esteve restrita à Psicologia Aplicada, executada em consultórios particulares, escolas e empresas, e o trabalho dos psicólogos era acessado apenas por aqueles que dispunham de recursos para custeá-los.

Contudo, nas últimas décadas, a Psicologia tem proposto outros modos de atuação, compreendendo os aspectos subjetivos que são constituídos no processo social e que constituem os fenômenos sociais, através de práticas que se comprometam mais com a transformação da realidade de seu país do que com a adaptação das pessoas aos discursos de normalidade hegemônicos.

Assim, a partir da década de 1980 podemos identificar uma ampliação na forma de pensar e fazer Psicologia no Brasil, sustentada pela ideia de levar a profissão aonde houver demanda, em diferentes contextos, de modo que ela contribua para processos de democratização e garantia de direitos da maioria da população.

Este compromisso social assumido pela profissão está implicado diretamente na defesa das políticas públicas, na promoção dos direitos humanos e também nas formas de atuação mais tradicionais.

As práticas do psicólogo não repousam na neutralidade. Estão implicadas eticamente com as escolhas teóricas e técnicas que são feitas. São práticas que sempre colaboram com um projeto de sociedade. A Psicologia está a serviço de uma sociedade menos desigual e violenta, menos moralista e mais ética, menos normativa e mais plural.

O CRP-RS não trabalha apenas para psicólogos sociais ou institucionais, como às vezes é compreendido, mas por um projeto de sociedade na qual diferentes formas de ser e viver sejam possíveis. Para isso, aposta na sua força do diálogo e em ações de mobilização pelo estado.

Alessandra Xavier Miron
Psicóloga
Conselheira do CRP-RS


Conservatório de Música precisa de conservação

O músico, compositor e diplomata pelotense Luiz Carlos Lessa Vinholes escreveu o artigo abaixo, com algumas recordações do Conservatório de Música na década de 1950. A Casa fundada em 1918, municipalizada nos anos 30, e depois gradualmente incluída na UFPel, se encontra hoje como uma unidade menor, dependente do Centro de Artes, e com aulas espalhadas por quatro sedes da Universidade.

Também está negligenciado o tradicional prédio do século XIX onde já por 96 anos funciona este símbolo cultural em Pelotas e bastião da música erudita. Há seis anos, a Universidade adquiriu piano novo e iniciou reforma do auditório (v. postagem); há cinco, comprou novas cadeiras (leia postagem de 2009) e, há quatro, a Prefeitura repintou as fachadas (v. postagem de 2010).

Faltou, no entanto, restaurar a estrutura do velho casarão e o Salão Milton de Lemos teve que ser interditado, em 2012. A nova reitoria tenta manter atividades no local, mas a propriedade ainda é do município e os custos de conservação são muito altos. Veja recente reportagem da RBS sobre o Conservatório de Música da UFPel.

Salão Milton de Lemos em 2011, antes da interdição, já com as novas cadeiras
(hoje estas cadeiras se encontram no auditório da Lobo da Costa, sede Canguru).

O Conservatório de Música é ícone de Pelotas

Tiro da estante pequeno álbum que há décadas guarda parte da história de 1952 do Conservatório de Música de Pelotas. Suas páginas têm fotos, programas e dedicatórias de intérpretes que se destacaram no cenário mundial de meados do século 20.

Para mim este álbum é muito especial, pois, com minha ida definitiva para São Paulo em 1953, ele passou a ser, sem que eu quisesse, testemunha da despedida de minha cidade natal.

Folheando suas páginas, entre tantos outros, vejo e recordo a:
    Conservatório ficou com um dos seus 3 pianos de concerto
    e nenhuma cadeira no auditório (foto de 2014).
  • Anselmo Zlatopolsky, violinista nascido na Rússia, que veio “em tenra idade para o Brasil, onde mais tarde obteve sua naturalização” tornando-se spalla do Quarteto Haydn, que Mário de Andrade criou quando fundou o Departamento de Cultura de S. Paulo; 
  • Nicanor Zabaleta, o harpista espanhol considerado “o primeiro harpista do mundo” (v. biografia) depois de apresentar-se aos nove anos de idade, estudar em Paris com Marcel Tournier e ser solista das mais experientes orquestras do Velho Continente; 
  • o pianista Sebastian Benda, nascido na França, “descendente da dinastia de músicos iniciada no século XVIII, incluindo Franz e George Benda, compositores da corte de Frederico o Grande” (leia neste blogue crônica sobre Benda, escrita em abril de 1953;
  • Guido Santorsola, italiano de nascimento, exímio executante de viola da gamba (v. Wikipedia), que no Brasil foi aluno de violino de Zaccaria Autuori e de composição com Agostinho Cantú, no Conservatório Dramático e Musical paulista, falecendo em Montevidéu, depois de desenvolver intensa atividade como compositor e regente no Teatro Sodre
  • o Trio Pró-Arte formado por Maria Amélia de Resende Martins, piano, George Retyi-Gazda, violino, e Jacques Ripoche, violoncelo, ela uma das responsáveis pela fundação, na década de 1940, da Sociedade Pró-Arte, no Rio de Janeiro, que, empresariando grandes artistas, promoveu recitais e concertos de parceria com instituições das principais cidades do Brasil; 
  • Walter Gieseking, pianista francês nascido em 1895, aluno de Eugenio Gandolfo, que viu sua carreira interrompida com a guerra de 1914 e que mais tarde, embora contra sua vontade, teve que tocar para Adolfo Hitler (v. Wikipedia).
De Sebastian Benda vale lembrar que foi diretor do Departamento de Música da Universidade Federal de Santa Maria e, mais tarde, do mesmo departamento da Universidade Federal da Bahia. Também em 1952, sob a regência de H. J. Koellreutter, conhecido mestre de compositores brasileiros, tais como Claudio Santoro, Edino Krieger e Guerra Peixe, Benda foi solista da orquestra da Sociedade Orquestral de Pelotas. Koellreutter, por sua vez, regeu o Coral do Conservatório apresentando a singular cantata “Negrinho do Pastoreio”, para vozes femininas, de Eunice Catunda, anos depois regida por Lourdes Nascimento, mestra de gerações de cantoras e cantores pelotenses.

Lendo notícias recentes, tomei conhecimento das tratativas que visam retirar o Conservatório do local que ocupa. Preocupa-me, pois se não levarem em consideração o seu passado, destruirão parte da história de Pelotas, em prejuízo das gerações futuras. O Conservatório, no prédio em que se encontra há quase um século, é ícone da Princesa do Sul.
Luiz Carlos Vinholes

Projeto PROFORMUS, do Conservatório, promove recital esta quarta (27-08), 19h, na Biblioteca Pública.
Texto: Diário Popular
Fotos: ASCOM (1), RBS (2), Facebook (3)

POST DATA
3-09-14
Leia reportagem Conservatório recebe apoio da Câmara.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Bafômetro de caminhão deu prêmios a alunos do IFSul

O professor Igor deu orientação ao projeto dos guris (Jarbas e Augusto).
Jarbas Carriconde, Felipe Pinz e Augusto Silva, alunos de Eletrônica no Instituto Federal Sul-Rio-Grandense, criaram um mecanismo de bafômetro ligado a um motor de caminhão para melhorar a segurança do motorista. Se o grau de álcool é inadequado para dirigir, o veículo não funciona (v. notícia de ZH).

O projeto, que foi orientado pelos professores Rafael Galli e Igor Barros, denomina-se “Bafômetro como controle de ignição em veículos automotivos” (v. detalhes em nota do IFSul, junho de 2014). A proposta foi premiada  em março passado na 12ª FEBRACE (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia, São Paulo) e estará em setembro próximo na 10º FENECIT (Feira Nordestina de Ciências e Tecnologia, Recife), informou o Diário Popular. Já havia estreado em 2013 na MOSTRATEC (Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia, Novo Hamburgo), segundo notícia do Diário da Manhã.

Os jovens inventores no Caldeirão do Huck
No sábado 9 de agosto, a ideia ganhou nota dez (e um cheque de 30 mil) no quadro "Jovens Inventores" do programa de Luciano Huck e destaque no Jornal do Almoço da segunda 11 (v. vídeo da RBS, 5 min). A ABRIC (Associação Brasileira de Incentivo à Ciência) também deu à invenção o prêmio de excelência em iniciação científica.

Os três estudantes têm 19 anos, são nascidos em cidades da região de Pelotas, e têm pai ou avô caminhoneiro. Alguns empresários já mostraram interesse na invenção nacional.
Fotos: Diário da Manhã (1), GShow (2)

POST DATA
7-09-14
Leia no Diário Popular Os segredos do Laboratório 14.

Farroupilha, a guerra que não perdemos

O cantor e compositor Joca Martins publicou ontem (25-08) "A guerra que não perdemos" (letra de Rodrigo Bauer; música de Joca e Negrinho Martins), canção que enaltece o ser gaúcho e o lado positivo da derrota militar farroupilha em 1845. O mês gaúcho é setembro, desde que se comemora no dia 20 o início da Revolução de 1835. Se o Rio Grande do Sul não se transformou numa república separada do Império, pelo menos ainda tem o povo mais consciente, mais unitário e mais aguerrido, patrimônio moral e cultural que contribui a um Brasil maior e melhor.


Que povo canta com garra o hino do seu Estado?
E que rebrota mais forte em cada guri pilchado?
Se alguém venceu uma guerra, se vê naquilo que traz,
Nem mesmo ganhar a guerra nos vale mais do que a paz!

A Semana Farroupilha, de novo, acende essa chama...
Nossa Cultura está viva, pois essa gente lhe ama!
A vitória, dia a dia, é nossa e nós merecemos;
Por isso comemoramos a guerra que não perdemos!

Quem diz que nós festejamos
Uma guerra que perdemos
Não vê que, nela, ganhamos
A identidade que temos!

Dez anos peleando juntos de uma história vitoriosa;
Impondo o próprio respeito que garantiu paz honrosa!
O gaúcho ergueu a espada porque o Império o feriu,
A mesma espada que há tempos já defendia o Brasil!

A juventude gaúcha renova a nossa paixão,
Vai se afastando do vício quem gosta da tradição...
Criamos os nossos filhos do jeito que nós crescemos,
Alicerçando os valores da guerra que não perdemos!

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

As 50 postagens preferidas, de 2009 a 2014

Quando o contador de visualizações do "Pelotas, Capital Cultural" marcou 500.000, na sexta 11 de julho, consultei a estatística interna para ver quais as notas preferidas dos leitores. Nestes 2 mil dias o blogue tem sido visitado por brasileiros que pesquisam sobre nossa cidade.

Com tais números, a média diária de pageviews do blogue, nestes 5 anos e meio, calcula-se em 250 (em 2009 começamos com 50, e hoje são 500 por dia). Como no dia citado tínhamos 1573 postagens, a atual média por postagem é de 318 visualizações.

Veremos a seguir as 50 postagens mais visitadas (representam 3% dos conteúdos do blogue). Em conjunto, elas concentraram 107 mil acessos (21% do total), oscilando entre 1040 e 7600 visitas. O blogue aponta ao interesse dos leitores pelotenses (que acredito não serem mais de mil). Portanto, uma visualização superior a 1000 é excepcional, e faz pensar que o post foi mais visitado por internautas não pelotenses.

Confira o número de acessos de cada matéria no dia dos 500 mil (11-07-14).

Grafitagem artística de Felipe Povo nos tapumes do antigo casarão Mendonça
7606 ― Ingleses na cidade de Pelotas (13-06-11) foi escrita simplesmente para preceder a pesquisa de Rubens Amador A batalha do Graf Spee no Rio da Prata, que saiu no dia seguinte. No entanto, despertou o maior interesse no blogue e ainda está aumentando a visitação, enquanto o segundo artigo, mais longo e profundo, está em 30º lugar (1476 vistas).

6802 ― Casarão e senzalas (5-11-10) sucedeu a nota do dia anterior sobre a reabertura do Casarão nº 6, despertando maior preferência pois levantou a ideia (não certa) sobre a existência de senzalas e torturas aos escravos nesta residência em pleno centro da cidade.

5781 ― Pôr do sol, agora sem hífen (31-10-09) buscava explicar uma ortografia duvidosa.

5738 ― Corte da FENADOCE 2012 (23-10-11) atraiu interesse nos 200 anos de Pelotas.

3911 ― Minuta ou A La Minuta? (24-11-10) foi à etimologia para corrigir um erro comum.


3255 ― Clube de leitura virtual: Caio Fernando Abreu (1-05-11) mostrou uma novidade literária (um clube virtual de leitura, pioneiro na cidade, aberto por Simone Xavier Moreira) sobre o consagrado escritor gaúcho.

3246 ― Dia do Psicólogo (27-08-11) atraiu grande número de leitores no ano seguinte (em 2012 faziam 50 anos da regulamentação da psicologia, enquanto a nota  Dia do Psicólogo 2013, que atualizou informação sobre essa data, não gerou tanto interesse.

3220 ― Yolanda Pereira, 100 anos de nossa eterna Miss Universo (20-06-10) foi publicada no centenário de Yolanda e citada pelo sítio Pelotas Mais, alavancando o já difundido interesse por ela.

3058 ― Dois pintores na Galeria de Arte da UCPel (22-11-09) mostrou brevemente pinturas de Eugênio Braga e Marcos Silva na galeria da UCPel.

2740 ― UFPel tem sua primeira turma de Psicologia (24-10-11).

Mercado das Pulgas, iniciado em 2014: depósito de lembranças perdidas no século passado
2624 ― O Castelo do Major
2588 ― O único cinema de Pelotas
2409 ― Corte da Fenadoce 2011
2376 ― Pelotas, Minha Cidade (poema), de autoria de Sérgio Siqueira.
2206 ― O carrinho do Pingo Doce

2186 ― O historiador Alfredo Ferreira Rodrigues
2006 ― Diário da Manhã completa 30 anos
1904 ― Modelo do futuro Shopping Pelotas
1890 ― Alice Ávila, 1º lugar infantil no Top Mirim
1759 ― Pelotense, conheça Pelotas!

1752 ― Telas pintadas para bordar, de Túlio Oliver
1699 ― Corte da FENADOCE 2013
1684 ― Um encontro com Getúlio Vargas, crônica de Rubens Amador.
1677 ― Poesia no Bar, 3ª edição
1622 ― São Francisco de Assis, um falso vitral, sobre trabalho artístico de Rita Westendorff.

1604 ― Poema de amor por Pelotas, com "Minhas casas, tantas casas", de Pablo Rodrigues.
1561 ― Porto de Pelotas há cem anos
1535 ― Rua Santa Cruz, início e fim
1524 ― Abertura da Fábrica Cultural Música pela Música
1476 ― A batalha do Graf Spee no Rio da Prata

1411 ― Ouça rádios de Pelotas
1397 ― Fachada da Confeitaria Nogueira
1352 ― Joquim, segundo Vítor
1333 ― A casa mais antiga de Pelotas
1319 ― Dueto dos gatos (humor)

1294 ― Gilda de Souza Soares, crônica de Mario Osorio Magalhães.
1289 ― Figura do Gato-Pelado foi criada por Aldyr Schlee
1258 ― Duas belas pelotenses, Karen de los Santos e Charlene Quadrado.
1256 ― Pinturas de Cláudia Oliveira da Rosa
1229 ― Cubismo urbano, pinturas com spray, conceito e obras do artista André Winn.

1189 ― Primeiro Subway em Pelotas
1136 ― Feira da Serra Gaúcha
1131 ― Cultura negra e educação quilombola
1107 ― Um pórtico polêmico
1097 ― Melanie Fronckowiak, de modelo a ídolo

1095 ― Banda da Escola Ferreira Vianna
1080 ― Síntese da história de Pelotas
1068 ― Rua Yolanda Pereira
1043 ― Os barões do charque
1041 ― Renascer, dois anos de fundação

Teatro Avenida funcionou de 1927 a 1984. Restam as paredes e a saudade. Foto de C. Queiroz (DP)
Neste corpo de 50 matérias de maior interesse, os dois temas que mais chamam a atenção se referem:
  • à História da cidade (10 posts) e 
  • Mulheres pelotenses (Yolanda Pereira, Gilda Souza Soares, Melanie Fronckowiak, Alice Ávila, e rainhas da Fenadoce, somando 9 posts).
Secundariamente, interessam também aos leitores: Música (6 posts), Literatura, poesia e linguística (6 posts), Artes plásticas (5 posts), e alguns personagens históricos masculinos, como Joaquim Fonseca e Getúlio Vargas.

Compare a atual estatística com as pesquisas de anos anteriores: As 5 postagens mais visitadas (2011) e Os mais visitados em 2012.

domingo, 24 de agosto de 2014

Joaquim Moncks na Academia Rio-Grandense de Letras

Pelotense Joaquim Moncks
Joaquim Luiz dos Santos Moncks ingressa na Academia Rio-Grandense de Letras, em cerimônia solene no Palácio do Ministério Público, em Porto Alegre. Veja abaixo o convite aberto à comunidade, com hora marcada para as 18h desta quinta-feira (28-08).

O poeta e advogado pelotense, nascido em 29 de setembro de 1946, tem nove livros publicados desde 1973 e outra meia dúzia no prelo. Seus textos poéticos ou em prosa encontram-se disponíveis no Recanto das Letras.

Joaquim Moncks atua hoje como coordenador nacional da Casa do Poeta Brasileiro (v. blogue da POEBRAS) e pertence também à Academia Sul-Brasileira de Letras, à Academia Literária Gaúcha e à Estância da Poesia Crioula. Fez carreira na Brigada Militar, aposentando-se como tenente-coronel, e participou na política nacional como deputado estadual constituinte.

A ARGL, que usa a sigla ARL (v. sítio virtual), é a academia literária mais antiga do Estado e do sul do Brasil, fundada em 1901 por 25 escritores, entre os quais o jornalista Francisco Caldas Júnior (1868-1913), o historiador Alfredo Ferreira Rodrigues (1865-1942), o jurista Alcides de Mendonça Lima (1859-1935) e outros (v. Wikipédia).

Convite aberto à comunidade para a posse de J. Moncks
para a centenária Academia Rio-Grandense de Letras
Entre os 40 patronos da Academia, todos gaúchos, encontram-se dois pelotenses: Francisco Lobo da Costa (cadeira 12) e João Simões Lopes Neto (cadeira 20).

Atualmente a Academia Rio-Grandense tem 32 nomes, entre os quais podem citar-se: o pelotense Alcy Cheuiche, Flávio Loureiro Chaves, Voltaire Schilling, Luiz Antônio de Assis Brasil.

Joaquim Moncks vem ocupar a cadeira 19, cujo patrono é o santa-mariense João Cezimbra Jacques (1849-1922), que foi militar, professor, indigenista, tradicionalista, pesquisador em história e antropologia (v. biografia). O acadêmico anterior a Moncks nesta cadeira foi o advogado e poeta alagoano José Francelino de Araújo, falecido em 27 de novembro de 2009, aos 85 anos, em Porto Alegre (v. biografia no Obituário ZH, 4-12-09).

No opus mais recente ("Bula de Remédio", 2011), encontramos textos breves e de alta sensibilidade, dirigidos diretamente ao coração do leitor, lembrando também a sonoridade nerudiana, livre, sensual e cheia de vogais. Esta linguagem amorosa e cotidiana também nos remete aos epigramas de Mario Quintana, no que se refere ao poder de síntese e ao efeito espiritual sobre o leitor.

Metáforas e o miado dos gatos

Denunciadoras da Poesia,
metáforas são como gatos escaldados.

Dificilmente aparecem aos donos,
somente aos vizinhos!

O pão de todos os dias

O afeto é o sal do pão cotidiano.
A lágrima une a massa
com que ele é feito.

Olha só!
A saudade construiu o poema!

Vício de origem

Gosto de beber poesia:
pura água da fonte.

Lambuzar de amor a cara suja.

E sair assobiando
uma canção de ninar.

O abraço olha para trás

Coisa boa esta:
a de brincar com a infância,
essa criança moribunda dentro de nós.

O abraço revolve
o passado e o presente.

Devolve-nos a alegria
de estar no mundo...


POST DATA
30-08-14
Veja álbum de 32 fotos da posse.
Veja 2º álbum 112 fotos da posse e álbum 152 fotos Amigos trouxeram o abraço.
19-09-14
Veja segmento da fala do novo acadêmico.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

O livro dos espelhos (poemas-canções)

Danilo Kuhn e a Verve, sem o baterista Ilton Ornelas
Danilo Kuhn da Silva (n. 26-05-1983) é músico, compositor, professor de música, escritor e produtor cultural. Participa de festivais nativistas e de música popular desde 2001, tendo sido premiado em alguns deles. É graduado em Música pela UFPel e tem mestrado pela Universidade Federal do Paraná, com pesquisa em composição e gêneros musicais gaúchos.

Em sua cidade natal, São Lourenço do Sul, trabalha como coordenador pedagógico na Prefeitura Municipal e dá aulas em sua própria escola de música. Como exercício do talento literário, Danilo escreve contos e crônicas. Proximamente lançará versão impressa das Crônicas Afônicas (leia post deste blogue com a crônica Escravos do Passado).

Junto a três alunos, também atua como líder da banda Verve (acima), palavra que significa "inspiração, talento, força". Além de cantar e tocar, Danilo é o autor das letras, que ele mesmo musicaliza como canções de rock, por exemplo: "Sonhando acordado" (ouça com a Banda Verve).

Outros poemas seus se transformam em canções nativistas (ouça O poeta e o garimpeiro). Uma coletânea com esses textos poéticos já foi publicada no Livro dos Espelhos (à venda por R$ 15, diretamente com ele, contate pelo Facebook).

Sonhando Acordado
Danilo Kuhn
Nos espelhos dos seus olhos
eu não consigo me ver,
minha imagem não se forma,
se desfaz antes de nascer.

Sua sombra me acompanha
e até me faz companhia,
mas você, sempre distante,
só nos sonhos se aproxima.

Quando estou ao seu lado,
estou sonhando acordado.

Você não entende meus olhos,
não ouve o que eles falam;
quando me faltam palavras
os meus olhos não se calam.

Minha presença invisível
aos poucos se revela
e deixa os meus sonhos entrarem
pela fresta da sua janela.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Schlee é patronável em Porto Alegre

Acima: Maria Carpi, Celso Gutfreind e Airton Ortiz. Abaixo: Cíntia Moscovich e Aldyr Schlee.
A Câmara Rio-Grandense do Livro (CRL) escolheu esta quarta (20-08) os 5 patronáveis (candidatos a patrono) da 60ª Feira do Livro de Porto Alegre, que transcorrerá de 31 de outubro a 16 de novembro de 2014. Os autores eleitos foram três homens (Airton Ortiz, Aldyr Garcia Schlee, Celso Gutfreind) e duas mulheres (Cíntia Moscovich e Maria Elisa Carpi).

Airton Ortiz é destacado jornalista nascido em Rio Pardo (v. bibliografia). Radicado em Pelotas, o jaguarense Aldyr Schlee tem carreira de 30 anos como contista (v. postagens neste blogue). Celso Gutfreind é psicanalista especializado em infância e tem pesquisa sobre o uso terapêutico do conto (leia mais). Também porto-alegrense, Cíntia Moscovich é jornalista com mestrado em Teoria Literária (v. Wikipédia). A poetisa e advogada Maria Carpi, de Guaporé (saiba mais), também é conhecida como mãe de Fabrício Carpinejar.

A primeira etapa do processo de escolha do patrono foi exclusiva para associados da CRL, patronos de feiras anteriores e ex-presidentes. Desde agora até 9 de setembro, os associados e diretoria da CRL, patronos da Feira e representantes da comunidade cultural poderão votar em um dos patronáveis. Como novidade de 2014, a CRL disponibilizará 100 urnas para que os votantes dividam seus votos com outras pessoas em seus nichos de atuação. Assim diz o presidente da CRL, Marco Cena:
Os votantes poderão usar o seu voto para mobilizar a sociedade na escolha do patrono, levando a decisão para um número maior de participações.
Fonte: Correio do Povo e blog de Roger Lerina

POST DATA
18-09-14
Airton Ortiz foi escolhido patrono da 60ª Feira do Livro de Porto Alegre (v. notícia). O Correio do Povo fez este título: Ortiz vai lutar pela leitura como arma para a liberdade.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Pedro Munhoz, a rebeldia da tristeza

Pedro Munhoz e seus convidados: bailarina Carol, cantor Cícero do Crato e griô Dilermando
Pedro Munhoz é um cantautor latino-americano bem especial: nasceu no Rio Grande do Sul, compõe em português e utiliza ritmos e instrumentos brasileiros. No entanto, o nome hispânico, a ideologia socialista e a linguagem musical o aproximam mais de um chileno como Victor Jara ou do cubano Silvio Rodríguez.

Nos anos 90 esteve radicado em Pelotas, onde lançou seu primeiro disco (Encantoria). Na sexta passada (15-08) apresentou aos pelotenses as músicas de seu sexto CD, "Guitarra toda a vida" (v. discografia completa).

O jornalista Carlos Cogoy relatou o espetáculo no Diário da Manhã (v. notícia), destacando um comentário do músico em discordância com a Estética do Frio, do pelotense Vítor Ramil. De acordo à matéria, Munhoz disse que suas letras falam daqueles que passam frio e que tal frio, entendido como miséria e sofrimentos injustos, não lhe servem como estética.

Ao parecer, Pedro Munhoz pretende superar a contraposição entre a alegria tropical tupiniquim e a melancolia invernal dos europeus. Por um lado, suas letras e melodias remetem à tristeza e à dor que se espalham pela América do Sul invadida e dessangrada. Por outro, a instrumentação étnica e a voz raspada e gritada querem fazer-se válidos em todos os lugares cálidos e equatoriais, talvez em busca de um sentimento indígena mais próximo ao sertão ou aos mares do Caribe.

Entretanto, se chegarmos a entender o conteúdo do Frio proposto por Ramil, veremos que a proposta de Munhoz se enquadra na mesma estética que ele diz rejeitar. Cantar a injustiça dos oprimidos é simplesmente outra manifestação do Frio, propriamente americana, e pouco tem a ver com o tropicalismo, mais otimista e menos realista. Com tudo isso, o "lamento cálido" de Pedro Munhoz conserva sua vigência em lugares frios como Pelotas (v. canção "A outra história da Princesa", letra e vídeo abaixo, confira áudio no PalcoMP3).

A outra história da Princesa 
Música e letra: Pedro Munhoz
CD: C´aminhador ao vivo
Eu prefiro cantar a minha terra,
Os barracos, vielas deste chão,
A miséria beirando o São Gonçalo,
Porta da frente do rincão.
É preciso lembrar o saladeiro,
Dia e noite o açoite, a escravidão.
Charqueada mandando no destino,
Filho pra Europa, negro no porão.

Eu prefiro cantar a minha terra,
Dor que encerra no peito cantador,
Das meninas da Praça Pedro Osório,
A luta diária dos camelôs.
Eu prefiro chamar a minha terra
Pelo seu nome, não perco o tom,
Do contrário é visão iluminada
Tão somente por luzes de neon.

Vê bem, vê lá,
Esta terra
É feita de gente,
Camará!!!

Sol poente num beco do arrabalde,
Cheira cola um menino na calçada,
Têm notícia da Alta Sociedade:
Faliu mais um neto das Charqueadas.
Ponta a ponta percorro esta cidade,
Manifesto, protesto com os estudantes.
Em fevereiro eu sou Bruxa,
Sou Pelotas, Farrapo, sou Xavante.

Bom Jesus, Cascata e Lagoa,
Manhãzinha se vai o pescador,
O pó da estrada destas serras,
A gente buena do Interior.
Eu prefiro chamar a minha terra,
Pelo seu nome, não perco o tom,
Do contrário é visão iluminada
Tão somente por luzes de neon.


Fotos: C. Cogoy (DM)

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

"Zaoris": lendas gaúchas musicalizadas


A Gaia Cultura e Arte estreou a peça poético-musical "Zaoris", de sua produção, na cidade de Natal (RN). A obra foi idealizada por Fernando Keiber para ser exibida em bairros da periferia de Porto Alegre, como uma elaboração teatral dos contos e lendas do pelotense João Simões Lopes Neto. No entanto, o espetáculo teve sua estreia antecipada (e transferida ao Rio Grande do Norte) por ter recebido o patrocínio do Ministério da Cultura como uma das ações culturais durante a Copa do Mundo (v. notícia da Tribuna do Norte).

Fernando Keiber, diretor musical de "Zaoris",
caracterizado como músico da peça
Incluindo nove canções e duas esquetes sobre antigas lendas gaúchas relatadas por Simões há cem anos, a montagem foi encenada cinco vezes em Natal (de 20 a 24 de junho) por quatro atores, seis músicos e mais uma equipe de sete técnicos e produtores (v. resenha no portal Solto na Cidade).

No final do vídeo (acima) são identificados os nomes da equipe, todos gaúchos. Veja outras informações no sítio da Gaia Cultura e Arte e na sua página do Facebook.

O diário natalense Jornal de Hoje (leia notícia) anunciou este evento afirmando que os dois Estados (do sul e do norte) têm semelhanças culturais além das coincidências no nome: tanto no chão sulino como na secura do sertão, impõem-se a tradição pastoril e o uso da poesia como canal narrativo de histórias do folclore regional, escreve o editor. Isto não seria surpreendente se fossem vizinhos, mas estamos falando de uma distância de 4 mil km, em rota de estrada (v. mapa).

"Zaori" não está nos dicionários comuns em português. A palavra consta no "Vocabulário de J. Simões Lopes Neto", de Aldyr G. Schlee (2009), e no "Dicionário do Folclore Brasileiro" (1954), de Luís da Câmara Cascudo, que também se baseia no escritor pelotense (v. no sítio Jangada Brasil).

Segundo a pesquisa de Schlee, os zaoris aparecem 2 vezes nas "Lendas do Sul" (1913): numa descrição das lendas missioneiras e numa citação n' "A Salamanca do Jarau" (seção II). Sobre este livro centenário, leia o post Ciclo marca os 100 anos das Lendas do Sul.

Os zaoris são adivinhos lendários, de acordo ao mito espanhol que os denomina com termo de origem árabe (zahorí tem verbete no DRAE). Segundo a Wikipedia em espanhol, zahoríes são radiestesistas (pessoas que percebem radiações) ou rabdomantes, adivinhadores que encontram fluxos subterrâneos mediante uma varinha ou forquilha.

Uma outra aproximação entre o norte e o sul do Brasil se encontra justamente nos escritores acima citados: o gaúcho Simões Lopes Neto (1865-1916) e o natalense Câmara Cascudo (1898-1986). Mesmo distantes no tempo e no espaço, ambos foram pesquisadores de contos e lendas regionais. A obra e o nome de cada um deles são hoje cultivados por institutos culturais: o Ludovicus em Natal e o IJSLN em Pelotas (v. Facebook).

domingo, 17 de agosto de 2014

Dia do Patrimônio 2014: a herança africana em Pelotas


A segunda edição em Pelotas do Dia do Patrimônio Histórico – em 16 e 17 de agosto de 2014 – celebra a diversidade étnica na região e a contribuição africana e afro-descendente na construção da história da cidade. O Dia Nacional do Patrimônio Histórico é celebrado no Brasil em 17 de agosto, data marcada pelo IPHAN em relação a seu iniciador Rodrigo Melo Franco de Andrade (v. nota de 2010).

Pode-se falar de um megaevento, com uma centena de atividades culturais em mais de 30 locais, em zona urbana e rural, e a participação de milhares de pessoas em minieventos: visitação a prédios históricos, manifestações artísticas, oficinas étnicas, ações de educação patrimonial, e outras propostas que surgiram da comunidade pelotense para esta data.

Carruagem funerária para crianças foi restaurada (v. postagem de 2012) e exposta no Casarão nº 6
(v. álbum Carruagens fúnebres e vídeos da chegada  parte 1 e ingresso parte 2)
O interesse do público já mostrou, em 2013, que se trata de um acontecimento cultural comparável ao carnaval, pela quantidade de público que mobiliza (perto de 10 por cento da população da cidade). As vantagens deste megaevento o fazem superior ao carnaval (tradição de mais de um século), quanto a: requerer baixos custos, promover o autoconhecimento e a unidade cultural, funcionar durante manhã e tarde incluindo crianças e idosos, buscar finalidade educativa complementar às escolas, e não produzir poluição visual e sonora.

Atividades no Distrito do Quilombo buscam abordar
o esquecimento histórico das memórias quilombolas.
A Secretaria Municipal de Cultura emitiu o Caderno do Dia do Patrimônio, com a programação de sábado e domingo e treze artigos de 14 pesquisadores pelotenses em História, Arte e Antropologia sobre o tema "Herança Cultural Africana": Louise Prado Alfonso, Lúcio Menezes Ferreira, Caiuá Al-Alam, Marília Floôr Kosby, Lúcio Xavier, Fábio Gonçalves, Rosane Rubert, Vinícius Pereira de Oliveira, Cristian Salaini, Álvaro Barreto, Vagner Borges, Felipe Martins, Adão Monquelat e Clotilde Victória.

A RBS divulgou o evento dirigindo a atenção ao patrimônio material (prédios e objetos físicos). A nota de 3 minutos deixou 16 segundos para que o Secretário de Cultura Giorgio Ronna citasse a ênfase na herança cultural negra. Nos 30 segundos finais da matéria, a jornalista aludiu indiretamente à existência de um patrimônio imaterial, mas referindo-se às artes e à paisagem natural como formas de divertimento (v. vídeo). Deste modo a mídia reflete os interesses do público mas não desperta na mentalidade popular os aspectos menos visíveis da cultura.

Grupo carnavalesco Chove Não Molha, criado em 1919;
desde 1966 denomina-se Clube Cultural (foto de 1924)
Imagens: ASCOM (1), Facebook (2), ZH (3)

sábado, 16 de agosto de 2014

Catedral é fotografada em ângulo inédito


Por sua importância histórica e arquitetônica, a Catedral Metropolitana de Pelotas é ponto turístico, sede de encontros religiosos e eventos culturais, foco de pesquisas e cartão postal da cidade, pelo menos desde 1950, quando a última reforma ficou pronta. Criativos registros fotográficos já foram feitos, sempre tomados desde o chão, como seria óbvio.

Este sábado (16-08), mediante o uso de um drone (aparelho voador não tripulado), o Fly Camera Pelotas publicou as primeiras fotos aéreas da nossa Catedral desde baixa altura, o que um helicóptero ou mesmo um paramotor não poderia fazer. Os registros foram tomados desde a altura dos campanários (abaixo) até ligeiramente acima das cúpulas (acima).

Na página do grupo no Facebook também há fotos do interior do templo. Veja as primeiras imagens que o drone captou em Pelotas, em Amanhecer aéreo no Laranjal.


Fonte: Facebook