quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Sovaco de Cobra visita o choro de Avendano


Em 2015 o trio de choro Sovaco de Cobra terminou uma pesquisa musical destinada a difundir a obra do cavaquinista Avendano Júnior. Desde 2011 houve um trabalho em comum do trio pelotense e do Regional Avendano. Nesse tempo também houve o fechamento do Bar Liberdade e a morte do líder e compositor do Regional (v. trecho do documentário O Liberdade), mas a pesquisa continuou, e ainda foi coroada com a participação estelar do Trio na reabertura do antigo Teatro Esperança, na cidade de Jaguarão, em 28 de novembro passado.

O projeto "Sovaco de Cobra Trio visita Avendano Jr", financiado pelo fundo Procultura, incluiu um documentário (Nota Azul Produções, 18 min, confira acima) que registrou a história do projeto e mostra duas músicas completas interpretadas ao vivo pelo conjunto, em Jaguarão: "Era só o que flautava" e "Mimoso" (ouvem-se também trechos de: "Não me queira mal", "Vim te ver", "Liberdade" e "Caramba"), todas de Avendano. Confira também o show do grupo em 29 de outubro de 2015, Rio Grande (59 min, vídeo abaixo),

Gil Soares (flauta), Jucá de León (pandeiro) e Silvério Barcellos (violão) formam desde 2006 o Sovaco de Cobra Trio, que soa como uma orquestra e bem poderia funcionar como um embaixador cultural do Brasil. O nome foi tomado do bar carioca Sovaco de Cobra, conhecido nos anos 60 e 70 como reduto de choro da Velha Guarda (v. histórico no Dicionário Cravo Albin e no artigo de Juliana Rabello). A estranha expressão alude a uma coisa que é difícil de ser achada (o bar era pequeno e ficava numa rua de subúrbio, numa ladeira da Penha).

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

The Wall ainda leva a bandeira pacifista

À base do álbum The Wall (1979), do filme "Pink Floyd: The Wall" (1982), e da história pessoal de Roger Waters, o documentário musical "Roger Waters: The Wall" (2015) reuniu o existencial e o épico, em 3 horas de intensa música e intensas emoções, com cenas de alguns dos 200 concertos da turnê mundial 2010-2013.

O evento cinematográfico mundial apresentou o longa-metragem britânico, codirigido por Roger Waters e Sean Evans, em cinemas de vários países, somente no dia 29 de setembro. Em Pelotas foi anunciada sessão única às 20h no Cineflix Pelotas; como esta lotou, foi aberta outra, no mesmo horário, sem a possibilidade de trocar entradas da primeira para a segunda. O preço foi R$ 42,44 por pessoa.

A vida de Roger Waters é um exemplo de como a guerra fere as almas dos seres humanos ao longo das gerações. Seu avô morreu em 1916, na Primeira Guerra Mundial, e seu pai em 1944, na Segunda. Se o musical de 1979 (The Wall) já era autobiográfico, o novo filme "Roger Waters: The Wall" trouxe o co-diretor de 71 anos como personagem principal, e se referiu mais abertamente à dor sofrida pela violência, convocando o mundo a parar com a guerra e o terror (v. reportagem na FOLHA). Mas o mundo parece surdo e cada vez mais enlouquecido.



Alguns shows ao vivo da turnê mundial de "Roger Waters - The Wall" (aproximadamente 2h):
em San Francisco 2012Buenos Aires 2012Copenhagen 2013, Londres 2013.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Passione, a música e o amor em prol da vida

Com o espetáculo musical Passione, o Hospital Escola da UFPel busca recursos para reestruturar o Posto de Coleta de Leite Humano e outros elementos pediátricos do Hospital. A atividade também tem em vista a certificação como Hospital Amigo da Criança.

O espetáculo tem direção artística e trabalhos do maestro Fernando Montini, direção de luzes e efeitos de Mario Kleinovski e direção musical do maestro Sérgio Sisto. Participam uns 80 cantores da Sociedade Pelotense Música pela Música, do Coro Santo Antônio e do Coro do Círculo Operário Pelotense, além de músicos da Orquestra Filarmônica. O Grupo Tholl receberá o público no saguão de entrada.

O show disponibiliza ingressos na plateia do Teatro Guarani a R$ 100 e 50 (25 para estudantes, professores e idosos), à venda no Hospital (Professor Araújo 433) e no Teatro.

A apresentação está marcada para esta terça (17-11). O programa inclui clássicos universais da música popular e erudita, com temas de musicais americanos e canções famosas do repertório moderno. Elas serão cantadas num cenário alusivo a um salão de festas, inspirado em filmes como Casablanca (1942) e Candelabro Italiano (1962).

Os organizadores elaboraram um plano de cotas para empresas ou instituições que queiram se solidarizar e apoiar o evento (veja os investimentos). O público também pode fazer doações pela conta 38085-7 do Banco do Brasil, agência 0029-9. Informações pelo telefone (53) 3284-4900 até segunda (16-11) e pelo sítio virtual Passione.


sábado, 14 de novembro de 2015

O que os jovens leem na Atenas do Sul


"Pelotas, Atenas do Sul", documentário de Douglas Ferreira dos Santos e Fernando Milani Marrera, buscou propor uma reflexão sobre o hábito de leitura dos jovens pelotenses na atualidade e o conhecimento dos mesmos sobre as produções literárias e dos autores locais. O método usado foi a aplicação de um questionário nos terceiros anos do ensino médio do Colégio Pelotense (público) e do Colégio Gonzaga (privado), para traçar um paralelo entre acesso, disponibilidade e procura das obras de escritores pelotenses.

As entrevistas mostraram quais os gêneros literários de maior procura e que fatores diminuem a leitura entre os jovens ou os fazem conhecer autores locais. Vítor Ramil é o autor mais reconhecido pelos jovens como pelotense (42%); o segundo mais citado é João Simões Lopes Neto (24%). A produção do Laboratório de História, Imagem e Som foi realizada para o I Seminário de Estudos Literários de Pelotas (setembro de 2012).

A Wikipédia remete o epíteto "Atenas do Sul" somente ao município de Itapetininga (SP), também conhecido como Terra das Escolas. No Rio Grande do Sul, atribui a São Gabriel os apelidos de "Atenas Rio-Grandense" e "Princesa das Coxilhas" (v. dados da prefeitura gabrielense e do historiador Cláudio M. Bento). A referência a Pelotas como "Atenas do Rio Grande" se encontra na pesquisa de Mário Osório Magalhães "Opulência e cultura na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul: um estudo sobre a história de Pelotas 1860-1890" (UFPel/Mundial, 1993). 

domingo, 1 de novembro de 2015

Dark City apresenta edição revisada

Edição revisada já está à venda na Mundial.
O livro "Dark City: figuras e figuraças de Pelotas" esgotou sua primeira tiragem em 2013 e agora é reapresentado pelo seu organizador Márcio Ezequiel. A edição corrigida e revisada traz o mesmo conteúdo, que caiu no agrado dos pelotenses, e a mesma capa, que mostra o lado escuro de uma cidade oficialmente luminosa.

A ideia parecia ousada demais no início, pois revelaria detalhes que não saem nos jornais nem nos livros de história mas são sabidos pelos habitantes da cidade. O sucesso da iniciativa mostrou, no entanto, que a Princesa gosta de se mostrar em seu lado oficial e em seu lado B, o mais obscuro e menos falado.

Afinal de contas, o conjunto da obra não é tão sombrio como prometia: as figuraças marginais ou marginalizadas são abordadas, mas os abordadores não se comportam de modo marginal. O leitor encontrará, por primeira vez num livro, descrições não oficiais de personagens históricos e relatos nunca publicados sobre figuras reais como o Miloca, o Alfredinho ou o Tarzan, mas sempre em linguagem respeitosa, para o que o leitor não se ruborize nem pense em abrir demandas judiciais. Sobre um possível segundo volume, com mais personagens, ainda não se sabe se um dia será realizado (diz o organizador que dependerá do sucesso desta segunda edição).

Já disponível para venda na Livraria Mundial, o trabalho coletivo de 18 autores locais terá sessão de autógrafos em Porto Alegre (4-11) e Pelotas (7-11), nas respectivas feiras do livro, às 19h. Quem conseguiu comprar a primeira edição, guarde-a como lembrança cult; quem não conseguiu, terá agora a versão do diretor [confira os outros 55 lançamentos da Feira 2015].

POST DATA
7-11-15
Manuel Padeiro, líder quilombola, pesquisa deste blogue em 2010, originou artigo do livro.
Em 2012, o organizador-autor revelou o Projeto Dark City antes de publicá-lo.
Em 2013, por ocasião do lançamento, o Diário Popular anunciou O lado escuro da memória.
Há uma semana, o co-autor Manoel Magalhães comentou a obra em Dark City e o lado mítico das sombras.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Facetruque, a música denúncia de Serginho

Não escrevi
Não cri no que li
Não, não creio

Amigos?
Acredito tê-los? NÃO
Sorrisos de aplicativo
Selfies de egos vaidosos/viciados/apelativos
Curtidas e pompas cínicas

Percebi não ter escrito
Morri por opinar
A morte do meu avatar/personagem favorito
Jogo virtual de parecer sem muitos pareceres

Há um charme nessa discussão. Um tom, ora alarmista, ora conspiracionista.
Nossa privacidade/intimidade controlada e disputada. Nossos gostos mais secretos manipulados e arquivados em terabites de informação. Logaritmos testando-nos e envolvendo-nos numa rede mundial interligada.
Um pouco de filosofia hightech nessa época ultra hightech.
Vale usufruir e consumir sem ser consumido.
Nathanael Anasttacio

Revista Super Interessante
denunciou truques do Face.
Em junho de 2015, reportagem mostrou que quanto mais as pessoas passam tempo no Facebook, mais se sentem infelizes. Uma experiência descobriu que a manipulação das timelines, programadas por fórmulas específicas, pode ocasionar mudanças no estado de humor das pessoas (v. artigo).

A rede social mais acessada do mundo gera ilusões, ou será que as fantasias e inseguranças é que causam a dependência do ambiente virtual? Quem manipula quem?

Antes do Facebook, as pessoas eram dependentes das postagens no Orkut, e antes disso ficávamos grudados na televisão várias horas por dia. A farsa seguirá existindo pois está dentro de nós mesmos. Quando o perfil é fake, a falcatrua se volta contra seus autores.


No Facetruque todo mundo é artista,
Poeta, músico, fotógrafo, produtor, malabarista.
No Facebook todo mundo é vegetariano, vegano e tri anarquista.
No Facebook todo mundo é artista,
Poeta, músico, compositor, malabarista.
No Facebook todo mundo compartilha tudo com tudo, ninguém é egoísta.
No Facebook todo mundo é bi, tri, neoexpressionista, anarquista.

No Facebook todo mundo gosta dos cachorrinho de rua mas cria o poodle no apartamento.
E no fim de semana bota foto do cachorro pulguento
Na linha do tempo
No Facebook todo mundo é vegetariano, quase vegano.

Sai da frente desse Facetruque. Compartilha aí!
Cutuca, cutuca, cutuca, cutuca... cuidado com o nariz!

Cuidado, que muito tempo na internet
Você pode virar um boneco marionete
Ou a tiete acaba mais quente que um chuveiro Lorenzetti.

Tudo de novo!

No Facebook todo mundo é artista.
Poeta, músico, fotógrafo, malabarista,
É do Tholl,  neoexpressionista, bi tri anarquista,
No Facebook todo mundo compartilha tudo com tudo, não existe egoísta.
No Facebook todo mundo gosta dos cachorrinho de rua mas cria o poodle no apartamento,
E no fim de semana bota foto do cachorro pulguento na linha do tempo.

No Facebook todo mundo é anarquista, neoexpressionista,
Compartilha tudo com tudo, com o mundo inteiro, ninguém é egoísta.
No Facebook todo mundo é vegetariano, não come churrasco, gosta das vaquinha quase vegana.
No Facebook não tem vagabundo, chinelo e ladrão.
É o Facetruque.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

XV Arte: Expressão e Identidade


O lema Arte: Expressão e Identidade denomina há quinze anos a exposição de fim de ano do Movimento dos Artistas Plásticos de Pelotas (MAPP). O evento de 2015 transcorre por primeira vez no Centro Comercial Zona Norte, onde se encontra a sede da associação.

O XV Arte se compõe de mostra de obras bi e tridimensionais e um bazar para obras de pequeno porte. A mostra inclui 74 obras dos associados e 16 obras doadas em benefício ao Hospital Espírita de Pelotas, parceiro do MAPP. O bazar oferece mais de 200 peças que diariamente são renovadas, como reposição de peças vendidas.

Os artistas que expõem são 40: Adalberto Vilela, Alice Bender, Arlinda Magalhães Nunes, Catherine Azevedo, Ceres Torres, Claudia Drummond de Mello, Cristina Alves de Souza Moreira, Déborah Blank Mirenda, Eduarda Franz, Eduardo Aguiar, Elenise DeLamare, Elizabete Pereira, Flávio João Forlin, Giza Silveira, Graça Antunes, Helena Badia, Inês Martinez de Oliveira, Jacqueline Tavares, Letícia Beck Fonseca, Lígia Monassa Farias, Maria Alice Castilho, Maria Bacelo, Maria Cristina Leonardo, Maria Clara Leiria, Maria de Fátima Martins, Maria de Fátima Silveira, Maria Lúcia Franz, Maria Luisa Schuch, Mardônio Carneiro, Mário Campello, Michele Iannarella, Nauri Saccol, Nina Rosa Medeiros, Raquel Grinberg, Regina Ávila da Silva, Renata Martins, Silvia Pinheiro, Tânia Maria Araújo Bellora, Tânia Maria Porto e Vera Souto.

Visite a 15ª versão do Arte: Expressão e Identidade até o próximo sábado (31-10), na Avenida Fernando Osório nº 20. O local fica aberto de segunda a sexta (9-18h) e sábados (9-17h).

domingo, 18 de outubro de 2015

Um monumento para Mozart Russomano

Empossada na Academia Pelotense de Letras em dezembro de 2013, a professora Loiva Hartmann constatou que seu presidente honorário e patrono da cadeira 34, falecido em 2010, não tinha um monumento em sua cidade natal. Propôs à Câmara Municipal a construção de uma estátua (v. notícia oficial) e o projeto foi aprovado em forma de lei. Mozart Victor Russomano nasceu em Pelotas em 5 de julho de 11922 e deixou-nos em 17 de outubro de 2010 (v. artigo de George T. Georgis O Ministro Mozart e a crônica de Rubens Amador Vi o Dr. Mozart bravo!).

Hoje, cinco anos após a morte do ilustre juiz (v. reportagem do Diário Popular Cinco anos sem Mozart Russomano), o projeto está ainda em fase de realização. Em outras partes do Brasil, houve homenagens em 2012 e 2014. A própria acadêmica relata o fundamento de seu projeto no artigo abaixo, publicado no Diário da Manhã impresso (sábado 17-10-15). 

A professora e poetisa é Conselheira do Instituto João Simões Lopes Neto, Sócia fundadora do Museu do Charque e da Biblioteca Negra de Pelotas, Mentora da Jornada Cultural de Pelotas, integrante da União Brasileira de Escritores e Patrona do blogue "Pelotas, Capital Cultural".


Da Criação ao Juízo Final
As pessoas não morrem; permanecem encantadas em suas obras e no coração de quem as ama e admira. –  João Guimarães Rosa.
A mão direita do homem criador avança ao futuro.
O Patrono da Cadeira 34 da Academia Pelotense de Letras, Mozart Victor Russomano, permanece entre nós, mercê de sua personalidade, talento jurídico e capacidade de – sem extravagâncias ou exposição de seus cargos e diplomações – promover sua comunidade com um savoir faire inigualável.

Filho de Victor Russomano e Elda Costa Russomano, formou família ao lado da Professora Gilda Maciel Russomano, com quem pôde confirmar a predição do poeta Friedrich Von Schlegel (1772-1829): “Apenas em torno de uma mulher que ama pode formar-se uma família”. Seu filho Victor Russomano Júnior e Mozart Victor Russomano Neto transitam entre os tribunais das Turmas e Seções do TST, atestando a estirpe primorosa de que provêm.

Jovem, 1944, alcançou o cargo de Juiz do Trabalho. Fundador da 1ª Vara Trabalhista em Pelotas. Ministro em 1969, Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho em 1975. Presidente fundador do Tribunal Administrativo da Organização dos Estados Americanos (OEA), de 1971 a 1976. Juiz Administrativo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), de 1981 a 1986.

Catedrático de Direito Trabalhista da UFPel. Presidente de Honra da Academia Ibero-Americana de Direito do Trabalho e Seguridade Social e do Instituto Latino-Americano de Direito do Trabalho e da Seguridade Social. Representante do Brasil na Organização Internacional do Trabalho (OIT), de 1984 a 1990, sendo Presidente do Conselho Administrativo (o segundo brasileiro na história), entre 1997 e 1998. Doutor Honoris Causa e Professor Honorário em mais de 15 universidades nacionais e internacionais.

A destra humana aponta ao Criador de Tudo.
Autor de 45 livros jurídicos, muitos dos quais vertidos para outras línguas, além de artigos em revistas especializadas, capítulos em co-participação nas mais importantes obras em sua especialidade, o Direito do Trabalho, Processual e Previdenciário, e mais 15 obras literárias (v. bibliografia completa).

A atuação de Mozart na área cultural impressiona. Em 1960, a primeira Feira do Livro em Pelotas, de 25 de novembro a 4 de dezembro, contou com a colaboração do Instituto de Sociologia e Política da URGS, então sob a presidência do Dr. Mozart Victor Russomano. Ali se originou a Feira! O primeiro Orador da Feira do Livro foi o Dr. Mozart, dando continuidade ao cultivo das letras e artes na Zona Sul, especialmente em Pelotas, sua cidade. Em 1997, na Praça Cel. Pedro Osório, foi Patrono da Feira do Livro.

E nesse mundo mágico da criação literária, seus artigos e crônicas se destacam. Como professora de línguas e literatura, admirei sempre a propriedade e a sobriedade, temperadas por finíssima ironia machadiana, veículos do pensamento de Russomano. Usando linguagem culta, economizava adjetivos, dispensava termos rebuscados que dificultariam o entendimento às pessoas mais simples.

De fino trato, tinha especial consideração com seus admiradores e leitores de todas as classes sociais. O gentleman, o homem culto, o Ministro, sabia que na simplicidade está a sofisticação e o verdadeiro requinte! Poeta, contista, jurista, cidadão do mundo. Timbrava sua postura, polida pela vivência com grandes personalidades mundiais.

Tínhamos um encantamento, uma convicção comum. A civilização ocidental cooptou dos gregos o modelo. Nessa civilização, um poeta, Homero, no século lV já era um clássico. As artes são um exemplo da grandeza que os seres humanos podem alcançar. E há um artista que engloba todos os talentos: Michelangelo Buonarrotti. Em crônica iluminada, de 2003, Russomano detalhou como essa figura ímpar cobriu a Capela Sistina: “Bem no centro, a Criação do homem. Desce do céu, envolta em mistério e poder, a mão criadora, para tocar de leve o homem criado”. Ilustrei uma poesia justamente com a figura da Criação, pois estou convicta de que toda criação é um ato de amor.

Como mostra Michelangelo, "A Criação de Adão" é feita pela destra de Deus.
De 2002 a 2010, houve a Jornada Cultural de Pelotas. À semelhança de Paraty e Passo Fundo, teve como objetivo difundir as artes e a cultura. Em 2006, Dr. Russomano, a nosso convite, tentaria participar da 4ª Jornada. Havia feito grave cirurgia no quadril e recém iniciava a fisioterapia. Conscientes de que deveríamos nos conter, em respeito à sua idade e sofrimento, mesmo assim o lembramos da imensa motivação que sua presença provocaria aos assistentes. Por telefone confirmou que iria. A emoção foi indescritível!

No Pavilhão 2, Fenadoce, chegam os palestrantes: Ir. Elvo Clemente, Hilda Simões Lopes, Lígia Antunes, Mário Osório Magalhães, Luiz Antônio de Assis Brasil , Prefeito Fetter Júnior. Minutos depois, adentra ao recinto Dr. Mozart Victor Russomano, acompanhado de familiares, enfermeiro e seu médico. Quase impossibilitado de andar, fazia um esforço sobrehumano para estar com sua comunidade e mais: dar o exemplo de que, quando se quer realmente alguma coisa, não há o que nos impeça de realizá-la! Obrigada, caro amigo, pelo exemplo ímpar de determinação dado à nossa juventude, professores, cidadãos.
  • Em abril de 2012, o Tribunal Superior do Trabalho inaugurou o Auditório Ministro Mozart Victor Russomano, situado no 5º andar do edifício sede, em Brasília (v. notícia de 18-4-12 com o discurso do Ministro João Oreste Dalazen).
  • Em janeiro de 2014, o TRT da 11ª Região, inaugurando suas instalações no Foro Trabalhista de Manaus, deu oficialmente o nome de Mozart Victor Russomano a seu novo edifício (v. Resolução Administrativa 108/2013 do TRT11). A placa foi descerrada pelo desembargador David Mello Jr. e por Victor Russomano Jr. (foto abaixo).
Duas homenagens a um grande homem, o qual partilhou a largueza de seu espírito, a profundidade de sua sabedoria e a diligente força de seu trabalho com a Justiça Social do Brasil.

Os tribunais do trabalho de Manaus funcionam no Forum Ministro Mozart Victor Russomano.
Presidente de Honra da Academia Pelotense de Letras, leitor de Eça de Queiroz, assim o definiu: “Imortalizado no mármore de Teixeira Lopes, sustentando nos braços a nudez forte da verdade, levemente coberta pelo manto diáfano da fantasia, chamado constantemente pela evocação da saudade de seus leitores e pela voz do seu gênio, magicamente ele sai do mármore. Para onde vai? Vai ao encontro do mundo, nimbado pela admiração daqueles que amam a beleza, a arte, a realidade e a fantasia que dá cintilações à realidade. A realidade que inspira o artista, fazendo-o subir, voar nos espaços imensos e claros da imaginação e da glória!” ("O Poeta Anônimo", p. 65-66).

No séc. XIX, o escritor italiano Cesare Cantù (1804-1895) disse: “Querem conhecer o grau de civilização de um povo? Reparem naqueles que erguem monumentos!”. Hoje, cabe a todos nós eternizarmos em mármore e bronze a memória do eminente conterrâneo Mozart Victor Russomano. O jurista, o escritor, o poeta, o cidadão do mundo, o amigo, o pelotense ilustre. Para que os pósteros o conheçam e para que nós o tenhamos sempre presente.

Nosso projeto, proposto na Câmara Municipal e aprovado há um ano, é agora a Lei nº 6.151/ 07.08.2014. Autoriza o Município a edificar monumento a Mozart Victor Russomano na Praça Coronel Pedro Osório ou seu entorno. Ao conhecer o projeto, o prefeito Eduardo Leite disse: “Eu julgo absolutamente meritória esta iniciativa e assim que chegar até nós começaremos a viabilizar o ponto de vista jurídico e financeiro”.
Loiva Hartmann
Cadeira 34 da Academia Pelotense de Letras
Patrono: Mozart Victor Russomano
Projeto ideado por Loiva Hartmann para seu patrono na Academia de Letras
foi levado à Câmara e ao Prefeito, e transformou-se em lei em 2014.
Imagens: 13Horas (1), L. Hartmann (2), Vita Naturalis (3), Flickr (4) ASCOM (5)

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Corte da FENADOCE 2016

Princesa Débora, Rainha Liz e Princesa Amábile.
Na sexta-feira 2 de outubro foi escolhida a corte real da Feira Nacional do Doce para 2016, a 24ª FENADOCE. Entre 19 candidatas inscritas, destacaram-se Liz Gill Araújo Pereira (rainha), Amábile de Castro Silva e Débora Lopes Lemos (princesas). As três são estudantes universitárias e concorreram por primeira vez ao cetro de Pelotas. Confira o álbum de fotos das candidatas e o vídeo de apresentação da ganhadora.

A informação foi dada pela imprensa e pela página do evento no Facebook; entretanto, até o sábado seguinte o sítio da FENADOCE com a lista de todas as cortes ainda não estava atualizado (v. a primeira pose do trio momentos após a eleição e a reportagem da RBS Pelotas que anunciou o resultado).

A primeira visita oficial das representantes da beleza pelotense foi no mesmo fim de semana (domingo 4-10): o tributo a Pompílio de Freitas no desfile de moda "Ao Mestre com Carinho", realizado no Clube Brilhante (dir.).

Em 2016 a Feira Nacional do Doce completa 30 anos desde sua criação pelo prefeito Bernardo de Souza. O primeiro evento foi realizado em janeiro de 1986 e foi bienal até 1998.
Foto: Facebook

domingo, 4 de outubro de 2015

Gahuer lança clipe romântico

Este fim de semana Gahuer Carrasco apresentou pelo Facebook o videoclipe "Só pra te fazer feliz", filmado em pontos turísticos de Pelotas pelo produtor mexicano Pablo Lemus, com músicos locais. Gahuer como cantor e a modelo Karen de los Santos (Rainha da FENADOCE 2011, v. post) protagonizam o conteúdo romântico da música, letra composta por Gahuer em parceria musical com Igor Cardoso.

sábado, 3 de outubro de 2015

O primeiro negro que jogou no Pelotas

Dribla
Dupla/corre/bola
Sorri correndo
Joga ...

Nego
Fiz do tempo o que quis ... mas nego
Os negros fizeram história/memória/capítulo
A contagem dita ...
Conto do conflito
Forma clara para/por todos os homens

E passamos por cima dos fatos
Atos deles e nossos ... humanos claro ... claros
Um passado racista nesses jogos marcados.
Sonha correndo ... joga
Corre jogando ... chora

Capítulos da história

O futebol mexe com as pessoas. Suas regras e disputas.
Antigamente dizia-se gôlo no Rio Grande do Sul e torcia-se pelo jogo. Hoje torcemos pelo ídolo/jogador. Um calor fervoroso, interno, quase religioso. Associação deste esporte/indústria. O esporte salva/integra. Mas e o dinheiro, não !?.
Nathanael Anasttacio

Antologia de 2001.
O escritor Lourenço Cazarré começou a desenvolver, por volta de 1985, um conto sobre o futebol pelotense, a partir de um episódio que seu avô dizia ter visto de perto nos anos 30. O texto viu a luz em 1989, no livro "Noturnos do amor e da morte", com o título de "Meia encarnada, dura de sangue"(v. perfil do escritor e outros dados biográficos de Cazarré).

Naqueles tempos de heroísmo e amadorismo, um craque teve que ser comprado ao inimigo. Hoje o desamor à camiseta é coisa trivial; naquela época, não era fácil ser "profissional" (leia crítica literária de Iuri Müller para o Sul21 e comentário no Blogrêmio).

A TV Globo adaptou roteiro à base desta história (série Brava Gente, dez.2000), com direção do gaúcho Jorge Furtado para a produtora Casa de Cinema de Porto Alegre (v. detalhes técnicos):
No interior do Rio Grande do Sul, em 1953, o craque Bonifácio (Sérgio Menezes) vive um dilema. Jogador de um time integrado por negros e pobres, ele é convidado a fazer parte da equipe dos brancos e ricos. Seria a chance de oferecer uma vida melhor à namorada, a doméstica Elisa (Camila Pitanga).
O conto foi incluído numa antologia de 2001 com contos gaúchos sobre futebol  (v. análise da Trivela sobre o livro, organizado por Ruy Carlos Ostermann). Em 2003 foi escolhido como um dos 35 Melhores Contos do Rio Grande do Sul e em 2005 Cyro de Mattos o incluiu nos "Contos Brasileiros de Futebol" . Na transcrição abaixo, foram omitidos os primeiros parágrafos.

Meia encarnada, dura de sangue
Lourenço Cazarré

Então o meu avô contou a história do crioulo. Ele tinha várias histórias de futebol porque ele mesmo havia sido um jogador, um ponta irritante, daqueles pequenos que são como flechas e que, por não terem nem altura nem força, se obrigam a ser mais velozes e mais matreiros e mais gambeteiros e mais debochados, para irritar os laterais. O velho dizia que naquele seu tempo, sim, aquilo era um esporte para homens, porque os juízes só marcavam falta se o agredido sangrasse, e só expulsavam o agressor quando o outro ficava estirado sobre o barro, desmaiado. E falava de como eles se cuspiam e davam cotoveladas e socos e como gostavam de esfregar as garradeiras na cara dos outros e demais barbaridades.

Mas voltemos ao rio, deixemos as vertentes. O tal crioulo esse foi uma espécie de primeiro profissional da cidade. Não sei quando, mas creio que pelo meio ou pelo final da década de trinta, porque o velho contou que por esse tempo, esse sujo tempo em que os atletas ganhavam dinheiro pela sua arte, já estava fora dos campos, ele já estava fora dos campos, com os joelhos arrebentados.

Pois o crioulo jogava pelo Grêmio Esportivo Brasil, o time dos negros e mulatos. O campo deles ficava nos banhados da Estação Ferroviária. O crioulo, aos dezenove-vinte anos, era o maior driblador e fazedor de gols da época. Nem alto nem baixo, era magro como a peste e leve como a brisa e dançarino como as borboletas. E frio. E jogava de olhos abertos, cabeça erguida. Calculista, ele não só queria fazer o golo, como queria também que seu marcador ficasse por terra, e gostava de ver o goleiro esmurrar a grama. Jogava rindo. Conheces o tipo, não é? Não era um sorriso, era um arremedo de sorriso, uma máscara ridente que nada tinha a ver com o que lhe ia pelas entranhas. Ele ria daquele jeito só para enfurecer os adversários, para fazê-los perder a cabeça e começarem a querer matá-lo.

Nada pior pro time da gente do que jogadores de cabeça quente, a gente grita que quer sangue – mata este filho da puta! – e ele parte pro pau, mas aí o jogador frio sempre dá aquele pulinho pro lado, aquele toque sutil, e ganha a parada.

Era assim dentro de campo, implacável. Fora, era outra coisa. Um rapaz gentil, tímido, de fala mansa, silencioso, cerimonioso. Saía do campo de cabeça baixa, como que pedindo desculpas por jogar tanta bola.

Reedição de 2005.
Trabalhava num matadouro. Mas não sei te dizer qual. Ficava pras bandas do porto. Ele também morava por lá, naquela ruazinha que corre paralela ao canal e que devia ser naquela época ainda mais escura e suja. Ele e a velha sua mãe, viúva. Durante a semana, gastava o dia dentro daqueles galpões sombrios – iluminados apenas pelo cintilo fugaz dos facões afiados – resvalando pelo chão ensanguentado.

Era tão hábil com a faca quanto com a bola, dizia meu avô. O negócio dele era a desossa. Desmanchava um boi em minutos. E não deixava um só fiapo de carne nos ossos. Com a mesma precisão que escapava dos coices do adversário, recuando o corpo apenas os milímetros necessários, ele destrinchava os animais.

Aos domingos, brilhava nos campos.

Depois de perder quatro ou cinco jogos, de enfiada, os dirigentes do Pelotas começaram a se perguntar se não estariam fazendo uma grande asneira em não aceitar jogadores negros ou mulatos. E o meu avô dizia: "Está certo que esses negros são uns mandriões, e conheci não mais de sete que gostavam de trabalhar, mas o certo é que nas safadezas, coisas como serenatas e jogos de bola, eles são bastante bons". Então um inglês, que palpitava muito nas reuniões de diretoria, tanto encheu que acabaram aceitando conversar com o crioulo. Um dos diretores do clube, da família Almeida Guimarães, um cara que tinha tantos contos de réis quanto milhos numa espiga, disse mais: que cederia ao tal crioulo uma casa velha que tinha lá pros lados da Cerquinha. Se aceitasse, podia morar lá de graça, enquanto servisse ao time. Então mandaram alguém falar com o rapaz.

Ele morava num rancho de paredes vacilantes e teto de palha. Muitas vezes no verão, nas cheias do rio, tinha que botar os trastes nas costas e sair para a casa de uns parentes, que moravam nas Terras Altas. Baixava a enchente, lá vinham ele e a velha, de volta. Mas não foi isso que decidiu.

Ele demorou muito para aceitar. Não que estivesse negaceando, como fazem os jogadores de agora, para conseguir contratos melhores. Gastou dois ou três meses pensando os prós e os contras, porque sabia que a partir do momento em que concordasse não seria apenas o crioulo: seria o crioulo vendido. E o meu avô dizia: a gente de hoje não tem ideia do que se passou pelo coração do mulato, coitado, que nem mais dormia pensando no que devia fazer. Naquele tempo o valor dos homens era medido não pelo seu dinheiro mas pela capacidade ou incapacidade de manter a palavra empenhada.

Por uma mulher, decidiu-se.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Mostra nº 300 do Corredor foi sobre Pelotas

Durante agosto de 2015 (precisamente, de 12-8 a 1-9), o Atelier Giane Casaretto voltou a expor, no Corredor Arte do Hospital da UFPel. Desta vez foram 19 pinturas sobre o tema "Pelotas", produzidas em anos anteriores no atelier.

As artistas são: a professora Giane Casaretto e as alunas Fernanda Tröger, Fátima Ferreira, Greice Brod, Heloisa Motta, Rosamélia Ruivo, Carmem Brod, Maria Helena Braga, Vera Holthausen e Clarice Silva (v. mais imagens no Facebook). O convite (dir.) mostra a criação de Giane, uma colagem livre de detalhes urbanos pelotenses, como a Fonte das Nereidas e o calçadão do Mercado.

Costumeiramente no primeiro semestre, o grupo trabalhava motivos relacionados com a Princesa do Sul e organizava, em sua própria sede, mostra alusiva à Semana de Pelotas, celebrada de 1 a 7 de julho. Desta vez, durante três semanas a exposição não foi feita na época de praxe, mas chegou a pessoas que nunca teriam ido a uma galeria de arte ou a um ateliê de pintura: trabalhadores do hospital, pacientes em tratamento e os visitantes dos enfermos.

Um detalhe especial nesta ocasião é que os trabalhos sobre Pelotas marcaram a 300ª (tricentésima) exposição de arte no Corredor do Hospital. O projeto de humanização foi iniciado no ano 2000 e completa 15 anos de atividade ininterrupta, mais precisamente na sexta-feira 18 de setembro (v. post de 2010 Dez anos do Corredor Arte).

Charqueada, de M. H. Braga
"Charqueada", de Maria Helena Braga, ilustra a antiga casa do Barão de Butuí, José Antônio Moreira, às margens do Arroio Pelotas. A construção ficou muitos anos abandonada e passou por reforma recentemente (a pintura ilustra o seu estado "antigo", até 2010 aproximadamente).

Sem tentar uma reprodução minuciosa da realidade, a artista conseguiu um distanciamento que sugere a idealização de um tempo ainda mais antigo que o observado, como que obnubilado por lágrimas. Potenciando a introspecção, ela trabalhou o reflexo na água, que remarca a ruralidade do local, afastado das luzes e geometrias do centro urbano. A tela de 50x70 custa somente R$90 mas terá grande valor afetivo para a maioria dos pelotenses, pois evoca a riqueza que deu fama à cidade, riqueza perdida gradualmente desde as primeiras décadas do século XX.

Rosamélia Ruivo pintou "Patrimônio: banco", outra emblemática face da tradição pelotense, tanto pelo lado arquitetônico como pela história econômica. Em tamanho menor que a tela descrita acima (40x50) esta tem o preço de R$80. Novamente devemos comentar: o valor de mercado seria pelo menos dez vezes maior, se fosse apregoado ou oferecido em leilão.

Em 1928 o Banco do Brasil inaugurou esta imponente sede, defronte à Prefeitura Municipal, com a qual compete, até hoje, em solenidade e sofisticação. As duas instituições representam o poder imperial do século XIX: esta última aloja o governo político, inicialmente nas mãos dos fazendeiros locais, enquanto o Banco do Brasil, imune à decadência das charqueadas, se associa desde sempre ao capital federal. O prédio passou ao Município em 1970, que o utilizou por mais 30 anos, mas, em vez de restaurá-lo, deixou-o fechado e em deterioração progressiva na última década.

Há mais de um século que Pelotas perdeu a antiga riqueza e não existe mais o Império do Brasil, mas o povo ainda respeita e estima a grandiosidade destes símbolos colocados no coração da cidade. A imagem aqui reproduzida mostra outro tipo de idealização afetiva, a que maquia defeitos e sujeiras e prefere recordar as caras dos bisavós não pelas nuvens da memória mas pelas nítidas fotos dos álbuns de família.

sábado, 26 de setembro de 2015

O mendigo que lia revista em quadrinhos


Ele “morava” sob uma marquise. De poucas palavras, vivia do que lhe davam – e eram poucas coisas. O de comer, o de vestir e o de sentir (no coração), quase nada. No olhar – fugidio – um secreto desespero, segredos há muito engolidos e não digeridos.

Nas proximidades, um supermercado, de onde eu comprava, de quando em quando, algo para lhe dar. Não era sempre – para que ele não se acostumasse. Na verdade, uma cretinice minha, pois o que ele queria mesmo era distância de nós, os ajustados (ao menos na aparência).

Hoje pela manhã, ao dirigir-me ao centro pelo mesmo trajeto, disposto a dar algo para o mendigo, percebi que ele não estava – e o certo era vê-lo ali, como cotidianamente acontecia. Levantara acampamento, quem sabe à procura de outra zona da cidade, outra marquise, outras pessoas, melhores ou piores.

Deixara para trás uma garrafa pet, um saco de plástico com restos de pão... E uma revista de história em quadrinhos.

Lembro-me de que ele nos últimos dias lia algo com muita atenção. Quando as pessoas se aproximavam dele, tratava de esconder o que estava lendo. Àquele momento, a caminho do centro da cidade, parei e observei a razão que levara o mendigo a alhear-se do entorno.

Preferira mil vezes a revista infantil – que o remetia ao passado, quem sabe mais feliz – à realidade em derredor, tão triste e melancólica quanto ele. Um mistério, porém, parece-me insolúvel.

Por que ele fora embora e deixara para trás a revista infantil?

Esta pergunta talvez não seja respondida – ainda que ele retorne à sua “toca”, à entrada de uma garagem – pois é de pouquíssimas palavras. Fotografei a cena, espécie de palco de uma pantomima triste, cujo personagem o abandonara. Sem ele, sem a presença humana, aquele pedaço de concreto ficou ainda mais triste e deprimente.
Manoel Soares Magalhães
Texto e foto: Cultive Ler, 22-12-2011

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Rejane, candidata negra a prefeita (2008)

Cor da pele cortês
Poder/permanências
Acessos

Pelo amor
Pêlo de que cor?
Pena que a penugem social veja apenas
Pormenores associados à cor

No passado havia ...
Divisão clara de tons
Propensos à ascensão alguns
Fugitivos todos da escuridão

A cor e o gênero
Geralmente ambos geram contratempos
Nos tempos de hoje e sempre

As coisas ainda são como são ...
Como eram desde a mental escravidão ... costumes escravocratas

Somos todos escravos do que achamos que somos.

Por uma só vez, Maria Rejane Medeiros Terres
ousou levantar uma candidatura dos pobres.
Falando na polis e na política daí derivada. Falando na etimologia ambígua do preconceito encarnado.

Hoje temos uma mulher no poder e as críticas não são apenas por formas de governar. Há dúvidas sobre a capacidade feminina!?

E se a Xuxa fosse negra? Nossos cafés fartos e aquelas manhãs de baixinhos seriam as mesmas?

Ser homem branco? Francamente sabemos o que achamos nos pré-julgamentos que fazemos.

Convidamos à reflexão do tema.

E se a Xuxa fosse negra?
Nathanael Anasttacio


Maria Rejane Medeiros Terres foi a primeira mulher negra a concorrer à Prefeitura Municipal de Pelotas, nas municipais de 5 de outubro de 2008. Ela foi escolhida em junho daquele ano (v. Agência Afro Press). Também foi a primeira vez que o Partido Verde levantou candidatura própria na cidade, sem coligação. Seu vice era o correligionário Nereu Jorge Diniz Morales, assessor parlamentar de 45 anos.

Nascida em Canguçu em 10 de dezembro de 1968, com 20 anos de experiência coordenando campanhas eleitorais; separada, 7 filhos, assessora na Câmara, Maria Rejane tinha o fundamental completo (v. perfil). Ela chegou a participar num debate de TV com outros 7 candidatos homens (v. notícia de ZH, setembro 2008 e lista de candidatos).

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Cartão telefônico homenageou Simões (2003)


Em 2002, o Instituto João Simões Lopes Neto propôs à Brasil Telecom a criação de um cartão telefônico alusivo ao mais importante escritor pelotense. Na época, o Instituto já havia adquirido a casa da rua Dom Pedro II nº 810, onde Simões havia morado entre 1897 e 1907, e que estava em reformas para sediar a instituição.

O cartão foi finalmente lançado na segunda-feira 24 de fevereiro de 2003, contendo, no anverso, imagem da fachada (dir.) e no verso, breve histórico do personagem (v. notícia do Diário Popular, 25-2-03). A data foi escolhida por proximidade com mais um aniversário do escritor, nascido em 9 de março de 1865.

A cada ano, os simoneanos comemoram esse aniversário com anúncios importantes e com homenagens como esta. Por exemplo, em 9 de março de 2006 o Instituto abriu suas portas ao público, na casa planejada para tal, e que foi recuperada ao longo de anos.

Ironicamente, o cartão telefônico que quis evocar a importância deste prédio tem, agora, somente valor histórico; seu uso e sua lembrança foram tão breves como a passagem do Capitão por esta casa (se bem seu espírito segue vivo e presidindo os bons resultados das iniciativas do Instituto). Os tempos mudaram rápido e, hoje, teria que ser criado algum aplicativo que divulgasse a vida e a obra do famoso autor.

Nos dez anos em que viveu neste prédio da rua Dom Pedro II (na época, rua Sete de Abril), João Simões Lopes Neto escreveu nove obras (v. notícia do Diário Popular, 9-3-03):
  • em 1900, "O Palhaço", cena dramática, e a comédia "Fifina";
  • as comédias teatrais "Jojô e Jajá e não Ioiô e Iaiá", "Querubim Trovão", "Amores e Facadas" e "O Maior Credor", todas em 1901;
  • "Por Causa das Bichas", comédia (1903);
  • em 1905, "A Cidade de Pelotas (apontamentos para alguma monografia para o seu centenário", que apareceu no segundo volume dos Anais da Biblioteca Pública, embrião da Revista do Centenário, de 1911 (v. cronologia);
  • a lenda "O Negrinho do Pastoreio", publicada primeiramente no Correio Mercantil de 26 de dezembro de 1906 (v. cronologia);
O Instituto João Simões Lopes Neto foi fundado em agosto de 1999, a partir do Núcleo de Estudos Simoneanos, que desde 1995 se reunia em diversos locais. Com o estabelecimento da entidade num local fixo, ligado à pessoa e à história do escritor, Pelotas ganhou uma verdadeira e completa instituição para o desenvolvimento de sua vocação intelectual e cultural.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

A empregada era a segunda mãe


"Que Horas Ela Volta?” é o quarto longa-metragem da diretora paulistana Anna Muylaert, que conta uma história de amor mãe-filha, retratando questões sociais do Brasil contemporâneo. Misto de drama familiar e social, é a estreia artística desta semana (10-16 de setembro) no Cineflix Pelotas: sessões às 19h e 21:20.

Regina Casé é Val, empregada doméstica nordestina que trabalha na capital paulista. Sua filha Jéssica (Camila Márdila) vem prestar o vestibular para arquitetura e pretende morar com a mãe, na casa dos patrões. A adolescente muda assim os costumes da casa e rompe a paz social e familiar entre empregada e patroa. O título é emprestado da pergunta que Fabinho (Michel Joelsas) fazia a Val sobre a mãe, quando criança (v. crítica de Veja e no sítio da Deutsche Welle). A empregada criou o filho da patroa, mas não pôde educar sua própria filha.

O filme já ganhou o Prêmio do Público no Festival de Berlim e a dupla protagonista recebeu o de Melhor Atriz em Sundance, EUA. Por essa visibilidade, é o preferido para representar o Brasil  no Oscar 2016 para Melhor Filme em Língua Estrangeira. Se indicado pelo Ministério da Cultura, irá com o título "The Second Mother" (A Segunda Mãe). Um drama com humor ou uma comédia inteligente, à base da vida real.

POST DATA
11-9-15
Notícia oficial do Minc Que Horas Ela Volta? representará o Brasil no Oscar 2016.
18-9-15
O filme entrou em segunda semana, mantendo os horários anteriores (19h e 21:20).

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

O misterioso carnaval do Redondo da Praça

Luiz Carlos Marques Pinheiro escreveu um livro virtual de memórias, e o dedicou à cidade natal e a quem no futuro buscar testemunhos dos anos 30, 40 e 50. As lembranças pessoais do conterrâneo, hoje com 75 anos, despertam o sabor e o amor dos pelotenses por sua cidade e pela conservação de suas vivências coletivas (leia o livro completo "A Pelotas que eu vivi: crônicas existenciais", 199 p.).

Um dos 45 capítulos de L. C. Pinheiro (confira abaixo) evoca os antigos carnavais no interior da praça Coronel Pedro Osório. Em janeiro de 2012, José Gomes Neto, outro antigo pelotense, já havia publicado lembranças sobre o falado Redondo da Praça (ao parecer, influindo em parte o texto de Pinheiro, que saiu em 2013): 
      Quem nunca participou de um baile no Redondo da Praça Coronel Pedro Osório, durante o carnaval, não sentiu, ainda, alegria em grau máximo.
      O Carnaval em Pelotas acontecia na rua Quinze de Novembro, no pedaço entre as ruas Tiradentes e Voluntários. A Praça constituía um apêndice ao trecho citado. (...)

      E o Redondo? Bem, esse era um caso à parte. Lá não desfilavam as escolas nem os blocos organizados e sim grupos e indivíduos, que se deixavam tomar pela inacreditável animação com que os bailes transcorriam 
[v. artigo Redondo da Praça, de José Rodrigues Gomes Neto, e Redondo da Praça II, no Pelotas Treze Horas].

O Carnaval do Redondo

Ano 1956. Para quem não conhece, o Redondo é a parte mais central da Pça.Cel.Pedro Osório. Por sua vez, a praça é o ponto mais central da cidade de Pelotas. A praça apresenta oito entradas e no ponto central está o chafariz “As Nereidas”, um presente da França, inaugurado em 1873.

Este chafariz, originalmente, tinha a função de abastecer de água potável a população do seu entorno. Posteriormente, foi construído um tanque externo, em torno das “Nereidas”, para abrigar a água que jorrava da fonte. Esse tanque é chanfrado e, em cada esquina tem um poste. São oito postes ao todo. Esse tanque fica elevado e há três degraus de acesso.

Em torno desse tanque o projeto urbanístico disponibilizou uma área circular (daí o nome de Redondo dado pelo povo), bastante ampla, para o desfrute das pessoas. Em torno dessa área, foram colocados bancos de madeira, tornando o local um ponto muito aprazível e próprio para se reunir, para conversar. Por ser um ponto muito central na cidade, e uma novidade, era muito visado pelos moradores e atraía uma enorme freqüência de famílias.

Passada a fase da novidade pelo Redondo, as famílias começaram a se afastar, porque as prostitutas começaram a frequentar o local, na esperança de fazer conquistas amorosas. Chegou a um ponto em que elas dominaram o Redondo. Eu era menino e a minha mãe fazia recomendações para que eu não cruzasse pelo Redondo, que fizesse a volta na praça, porque era perigoso. Mesmo já rapaz, eu evitava de cruzar pelo Redondo. Cruzar seria mais prático, porque cortava caminho, mas a preocupação existia. Na realidade, as prostitutas não ofereciam nenhum risco. Elas ficavam sentadas nos bancos e nunca tomavam a iniciativa de uma abordagem.

Desenho satírico da Praça Dom Pedro II, reaberta ao público em 1879
(na época, já era usada a expressão "redondo da praça").
No Carnaval, o Redondo fazia o seu próprio Carnaval, característico, que não se confundia com o carnaval de rua da cidade. Incrivelmente, o Redondo não tomava conhecimento do carnaval de rua de Pelotas. Era como se não existisse. Como era um antro de prostitutas, no Carnaval atraía toda a classe baixa de Pelotas. E aqui é interessante fazer uma reflexão.

Quem era essa classe baixa? Os rapazes de Pelotas não era; tinham os seus amigos e, no Carnaval, era muito gostoso sair em grupo. Logo, não iam para o Redondo. Quem era ligado a um bloco, ou a uma escola de samba, também não ia para o Redondo, porque saía com a sua escola. As empregadas domésticas detestavam as prostitutas. A classe média, mesmo a baixa, não queria contato com as frequentadoras do Redondo.

Quem sobrava? Sobravam aqueles que não eram da cidade, geralmente colonos das redondezas que vinham para a cidade pela fama do Carnaval, os solitários, os caixeiros-viajantes de passagem pela cidade, e a rafuagem da cidade. Essa rafuagem eram verdadeiros párias sociais. Eram moradores pobres das periferias mais distantes, sem vínculos com ninguém. Eram chamados de varzeanos, porque moravam nas várzeas alagadas. Como se dizia em Pelotas, “atravessavam em ponte para entrar em casa...” Era a ralé. E todos se reuniam no Redondo. E então o Redondo se transformava num grande salão de baile.

Eu lembro de ir lá, por curiosidade, e o que eu vi foi um Carnaval muito diferente do que eu conhecia. Os homens abraçavam as mulheres por trás e saíam arrastando os pés, cantando, ao som das marchinhas. Todo mundo feliz! Formavam uma roda só, no entorno do Redondo, todos juntos, uma massa compacta, como num bloco de Carnaval. Não havia espaço para se passar...

Sem exagero, o carnaval do Redondo tinha mais características de carnaval de salão do que propriamente de carnaval de rua. Qualquer lugar servia para descansar, a começar pelos degraus da base da Fonte das Nereidas, que ficavam completamente lotados. A sorte é que a praça dispunha de um banheiro público... Jogavam confete e serpentina uns nos outros, mas também era só. Ali muito poucos tinham dinheiro para comprar um lança-perfume. Mas o confete e a serpentina já eram suficientes para deixar forrado o chão da praça. Quando aparecia um lança-perfume, chovia de lenços na volta... para um cheirinho.

sábado, 5 de setembro de 2015

Carla e a Rainha brilham em ópera no Chile

Nesta adaptação chilena, a personagem da Rainha da Noite chama-se Astrid Flamante
que é a dona de uma companhia de teatro que busca atores para apresentar a Flauta Mágica.
Em agosto passado, Carla Domingues participou de uma inovadora adaptação d'A Flauta Mágica de Mozart na cidade de Concepción, no sul do Chile. A produção da Universidade de Concepción, que desde 2003 vem organizando óperas completas, teve o desempenho de sua própria orquestra sinfônica e um elenco lírico chileno (neste vídeo de pré-produção, os personagens são descritos pelos solistas). 

Desta vez, a convidada estrangeira foi Carla, que já por segunda vez atua em ópera completa no exterior. A primeira foi no papel de Amore em "Orfeu e Eurídice" (Montevidéu, dezembro de 2011). E esta foi também sua segunda visita ao Chile. Registramos a primeira em janeiro de 2014 (v. postagem), quando Carla participou do concurso Laguna Mágica, com diferentes trechos líricos . Veja também a postagem de 2013 Recital de Carla Domingues em Montevidéu.

O diário El Mercurio publicou crítica de Juan Antonio Muñoz sobre o espetáculo (v. texto original e nota da Radio Bio-Bio). O recorte do jornal (figura abaixo) foi apresentado pela artista em sua página no Facebook, e a tradução abaixo foi feita por este blogue. Confira no final a crítica de cada solista lírico.


Uma viagem por outra Flauta Mágica

A ópera corre grandes riscos, hoje em dia, e isso mantém o gênero vivo. Algumas produções, ainda que controversas, fazem boas contribuições ou destacam elementos que antes passavam despercebidos. Nestas inovações, tudo vale se houver um bom pano de fundo ou uma ideia imaginativa que surpreenda. A "Flauta mágica" trazida pela Corporação Cultural da Universidade de Concepción ficou numa zona estranha, no meio do caminho, como se o propósito ainda não estivesse maduro ou tivesse sido forçado.

Na proposta do diretor de cena, Gonzalo Cuadra, existe uma "Companhia d'A Flauta Mágica", de Astrid Flamante (por Astrafiamante, o nome da Rainha da Noite) e de Sarastro Solleben, cujos integrantes têm traços análogos aos das personagens mozartianas. Conforme o programa, eles ensaiam os números musicais daquela noite, mas ainda lhes falta o personagem principal. Sarastro anuncia que "o Grande Arquiteto" certamente enviará alguém como complemento ideal para sua filha Pamina. Então aparece Tamino Príncipe (nome e sobrenome), que preenche a falta.

Recorte de EL MERCURIO
(Concepción, 29-8-15)
A partir daí, os atores-cantores entram e saem de seus papéis duplos, como membros da companhia e como parte da ópera. Tudo é entremeado por diálogos em espanhol, escritos pelo régisseur chileno, nos quais se narra o que ocorre nos dois níveis da trama. A dupla militância dos personagens fica explícita em seus nomes: Papageno, por exemplo, chama-se Papageno Pérez.

O problema é que nada parece engrenar neste jogo de metateatro, a começar pela contradição de que o casal que dirige a companhia mostra acordo em tudo, enquanto Sarastro e a Rainha da Noite brigam permanentemente (inclusive, ela gostaria de vê-lo morto). Os diálogos novos também não ajudam, pois abusam de expressões populares e pueris, que somente servem para suscitar gargalhadas. O próprio libreto original já tem algo disso (em alemão, claro), em meio a reflexões ontológicas e juízos de valores, mas tudo junto fica um exagero.

Carla Domingues faz Astrid Flamante e a Rainha da Noite.
Por outro lado, as ideias de régie, desligadas de tais inventos, são realmente imaginativas, como de costume nos trabalhos de Gonzalo Cuadra. Especialmente seu tratamento coreográfico para as três damas, o baile que a Rainha da Noite improvisa em sua ária de entrada, o casamento de Papageno e Papagena, até com lançamento do ramo, a festa de magia com a qual se resolve a passagem dos protagonistas pelo fogo e pela água, os aspectos circenses delirantes (converte os homens armados num par de siameses).

Usando poucos elementos, inclusive a parede posterior do teatro, e exibindo a maquinária de roldanas, cordas e luzes, a cenografia de Germán Droghetti funciona perfeitamente, e a iluminação de Álvaro Torres ajuda a criar as atmosferas necessárias. O colorido e miscelâneo vestuário, também de Droghetti, sublinha a dupla natureza dos personagens (os atores e os papéis que interpretam).

A construção musical está notável. Julian Kuerti, ante a impecável Orquestra Sinfônica da Universidade de Concepción, mostra-se sempre consciente das vozes de que dispõe, e sabe viajar pela nobreza melódica desta música, respeitando tanto a solenidade como a leveza. Excelente também a direção coral de Carlos Traverso, certo e preciso, comprometido com o desenvolvimento teatral.

Os solistas
Por voz, convicção e espírito festivo, Ricardo Seguel brilha e conquista como Papageno. Luis Rivas entrega a doçura de seu canto e sua musicalidade como Tamino, mas como ator precisa melhorar. Yaritza Véliz tem a voz e a linha de canto ideais para Pamina. Carla Domingues mostra o temperamento da furiosa Rainha e alcança todas as notas. Por outro lado, Mateo Palma, que está muito bem na autoridade própria de Sarastro, se percebe complicado vocalmente com as descidas abismais que o pentagrama exige e com os textos que deve declamar. Estão muito bem David Gáez como o orador e o sacerdote 1, Roni Ancavil como Monostatos, e as três damas (Andrea Aguilar, Regina Sandoval e Gloria Rojas).
Juan Antonio Muñoz


Imagens de Carla: Facebook
Tradução: F. A. Vidal

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Poemas dedicados a Pelotas

Pelotas, minha cidade, de Sérgio A. O. Siqueira (1968).
Canção de amor a uma cidade que é minha, de Joaquim Luís Duval (1980).
A flor do sal, de Mário Osório Magalhães (1999).
Um pouco de Pelotas (em mim!), de Fábio Gonçalves Zündler (2007).
Querido Laranjal!, de Beatriz Araújo (2010).
Princesa, de Manoel Soares Magalhães (2012).
Por uma tarde de julho, de Joaquim Moncks (2013).
Reflexão e cafeína, de Alexandre Vergara (2013).
Soneto para o Café Aquários, de Vilmar Gomes (2013).
Amor e ódio, de Nauro Júnior (2014).

Minha Terra
Lá, na minha terra, quando
O luar banha o potreiro,
Passa cantando o tropeiro,
Cantando, sempre cantando;
Depois, avista-se o bando
Do gado que muge, adiante;
E um cão ladra bem distante,
Lá, bem distante, na serra;
Nunca foste à minha terra?!

Enfrena, pois, teu cavalo,
Ferra a espora, alça o chicote
E caminha a trote, a trote,
Se não quiseres cansá-lo.
Ainda não canta o galo,
É tempo de viajares.
Deixarás estes lugares,
Irás vendo novas cenas
Sempre amenas, muito amenas.

O laranjal reverdece,
E ao disco argênteo da lua,
Logo os olhos te aparece
A estrela deserta e nua.
Francisco Lobo da Costa

domingo, 14 de junho de 2015

Recém-nascidos em fotos

Exposição no hospital é vista por pacientes e visitantes de todas as idades.
A médica obstetra e fotógrafa Sônia Simões de Almeida expõe o ensaio "Newborn", 17 fotografias de bebês, entre 5 e 12 dias de vida. A mostra pode ser visitada no Corredor Arte do Hospital Escola da UFPel até 30 de junho.

Nascida em Minas Gerais, Sônia formou-se em 1989 pela Faculdade de Medicina de Itajubá, graduou-se pela Escola Panamericana de Arte e Design e hoje reside em São Paulo (veja o sítio da artista).

A médica com 25 anos de experiência em ginecologia e obstetrícia transformou em arte seu amor pelos pequeninos e passou a ser também uma fotógrafa especializada em recém-nascidos.

Nas suas fotografias ela busca capturar a graça de cada bebê, num cenário especialmente preparado para cada um, e contar as histórias das crianças, em suas características únicas (um anjinho, um docinho, um filhotinho). Como ela mesma explica:

– Meu objetivo como fotógrafa vai além de capturar poses construídas, mas captar com muita sensibilidade imagens espontâneas, detalhes do corpo, dos movimentos e expressões dos bebês, tudo com muito conhecimento no manuseio, em como tranquilizar e mantê-lo em segurança.

Fotos de Sônia Almeida mostram a alma de pessoas recém-nascidas.
Fonte: HE-UFPel

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Poesia para namorados


Para lembrar o Dia dos Namorados, Nauro Júnior recordou no Facebook o poema "Briga", uma de suas "Andanças Imaginárias", com ilustração de sua jovem filha, Sofia Machado. O livro a quatro mãos apareceu na Feira do Livro de 2014 (v. nossa nota Nauro poetiza a vida).

Abaixo, a homenagem alusiva à modernidade: mesmo com a mais alta tecnologia, somada ao individualismo dos seus adeptos, o amor a dois sobrevive (no fundo musical, a primeira das Gimnopédias de Eric Satie, em tempo acelerado).


Nesta sexta (12-6), a Sociedade Música pela Música preparou um programa especial de música, luzes e cenografia, dedicado à paixão e aos namorados. O palco da Praça de Alimentação da Fenadoce 2015 se encheu de músicos que representaram o amor em diversos idiomas, apresentando canções de várias épocas e origens.

Segundo a notícia do evento artístico, que foi dirigido por Sérgio Sisto e Fernando Montini, "a criatividade foi a palavra-chave para o ambiente montado no palco: mesas de jantar, garçons, louças, roupas de gala" (v. texto completo com fotos de Marcel Streicher e clique nelas para ampliar).

PD 13 junho
Ainda na FENADOCE, uma declaração de amor foi feita em público, aproveitando a novidade e a notoriedade do recurso tecnológico "Realidade Aumentada" (v. notícia). O que deveria ser íntimo e real foi levado à publicidade e à virtualidade. Há um ano, mas não no Dia dos Namorados, outro jovem quis chamar a atenção no shopping pelo mesmo meio, sem tanto sucesso (v. nota neste blogue).

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Pelotas em inverno


Inspirado nos traços e na técnica do artista Leonid Afremov, o pelotense Mário Campello pintou uma vista da praça Coronel Pedro Osório. O ângulo é clássico para qualquer pessoa que conheça Pelotas, mas o olhar do pintor trouxe uma tonalidade europeia, talvez inusitada para quem fotografa nossas praças, a qual acentua e evidencia uma de nossas verdades locais: que nosso clima e nossa arquitetura têm algo a ver com a geografia e a cultura dos que nos colonizaram.

Enquanto os parapluies entristecidos mergulham no anoitecer, as árvores enrubescidas iluminam o Grande Hotel de Pelotas, este plantado aqui em 1928 para recordar a Europa do século XIX. Na época, os modelos e ideais urbanos eram esses prédios com sacadas, desvãos, sótãos e cúpulas. Contudo, nada tão pelotense como este jogo de lusco-fusco e umidade. Mesmo num conteúdo visual nada de surpreendente, o artista nos cativa com esses aspectos formais: viscerais, pegajosos e ancestrais.

De acordo à postagem consultada, a imagem está no Facebook desde setembro de 2012. No entanto, ela foi publicada em 26 de maio deste ano. Técnica: óleo espatulado sobre tela de 50x80 cm. Veja aqui o autor pintando, em março de 2015.
Imagem: Facebook