quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Facetruque, a música denúncia de Serginho

Não escrevi
Não cri no que li
Não, não creio

Amigos?
Acredito tê-los? NÃO
Sorrisos de aplicativo
Selfies de egos vaidosos/viciados/apelativos
Curtidas e pompas cínicas

Percebi não ter escrito
Morri por opinar
A morte do meu avatar/personagem favorito
Jogo virtual de parecer sem muitos pareceres

Há um charme nessa discussão. Um tom, ora alarmista, ora conspiracionista.
Nossa privacidade/intimidade controlada e disputada. Nossos gostos mais secretos manipulados e arquivados em terabites de informação. Logaritmos testando-nos e envolvendo-nos numa rede mundial interligada.
Um pouco de filosofia hightech nessa época ultra hightech.
Vale usufruir e consumir sem ser consumido.
Nathanael Anasttacio

Revista Super Interessante
denunciou truques do Face.
Em junho de 2015, reportagem mostrou que quanto mais as pessoas passam tempo no Facebook, mais se sentem infelizes. Uma experiência descobriu que a manipulação das timelines, programadas por fórmulas específicas, pode ocasionar mudanças no estado de humor das pessoas (v. artigo).

A rede social mais acessada do mundo gera ilusões, ou será que as fantasias e inseguranças é que causam a dependência do ambiente virtual? Quem manipula quem?

Antes do Facebook, as pessoas eram dependentes das postagens no Orkut, e antes disso ficávamos grudados na televisão várias horas por dia. A farsa seguirá existindo pois está dentro de nós mesmos. Quando o perfil é fake, a falcatrua se volta contra seus autores.


No Facetruque todo mundo é artista,
Poeta, músico, fotógrafo, produtor, malabarista.
No Facebook todo mundo é vegetariano, vegano e tri anarquista.
No Facebook todo mundo é artista,
Poeta, músico, compositor, malabarista.
No Facebook todo mundo compartilha tudo com tudo, ninguém é egoísta.
No Facebook todo mundo é bi, tri, neoexpressionista, anarquista.

No Facebook todo mundo gosta dos cachorrinho de rua mas cria o poodle no apartamento.
E no fim de semana bota foto do cachorro pulguento
Na linha do tempo
No Facebook todo mundo é vegetariano, quase vegano.

Sai da frente desse Facetruque. Compartilha aí!
Cutuca, cutuca, cutuca, cutuca... cuidado com o nariz!

Cuidado, que muito tempo na internet
Você pode virar um boneco marionete
Ou a tiete acaba mais quente que um chuveiro Lorenzetti.

Tudo de novo!

No Facebook todo mundo é artista.
Poeta, músico, fotógrafo, malabarista,
É do Tholl,  neoexpressionista, bi tri anarquista,
No Facebook todo mundo compartilha tudo com tudo, não existe egoísta.
No Facebook todo mundo gosta dos cachorrinho de rua mas cria o poodle no apartamento,
E no fim de semana bota foto do cachorro pulguento na linha do tempo.

No Facebook todo mundo é anarquista, neoexpressionista,
Compartilha tudo com tudo, com o mundo inteiro, ninguém é egoísta.
No Facebook todo mundo é vegetariano, não come churrasco, gosta das vaquinha quase vegana.
No Facebook não tem vagabundo, chinelo e ladrão.
É o Facetruque.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

XV Arte: Expressão e Identidade


O lema Arte: Expressão e Identidade denomina há quinze anos a exposição de fim de ano do Movimento dos Artistas Plásticos de Pelotas (MAPP). O evento de 2015 transcorre por primeira vez no Centro Comercial Zona Norte, onde se encontra a sede da associação.

O XV Arte se compõe de mostra de obras bi e tridimensionais e um bazar para obras de pequeno porte. A mostra inclui 74 obras dos associados e 16 obras doadas em benefício ao Hospital Espírita de Pelotas, parceiro do MAPP. O bazar oferece mais de 200 peças que diariamente são renovadas, como reposição de peças vendidas.

Os artistas que expõem são 40: Adalberto Vilela, Alice Bender, Arlinda Magalhães Nunes, Catherine Azevedo, Ceres Torres, Claudia Drummond de Mello, Cristina Alves de Souza Moreira, Déborah Blank Mirenda, Eduarda Franz, Eduardo Aguiar, Elenise DeLamare, Elizabete Pereira, Flávio João Forlin, Giza Silveira, Graça Antunes, Helena Badia, Inês Martinez de Oliveira, Jacqueline Tavares, Letícia Beck Fonseca, Lígia Monassa Farias, Maria Alice Castilho, Maria Bacelo, Maria Cristina Leonardo, Maria Clara Leiria, Maria de Fátima Martins, Maria de Fátima Silveira, Maria Lúcia Franz, Maria Luisa Schuch, Mardônio Carneiro, Mário Campello, Michele Iannarella, Nauri Saccol, Nina Rosa Medeiros, Raquel Grinberg, Regina Ávila da Silva, Renata Martins, Silvia Pinheiro, Tânia Maria Araújo Bellora, Tânia Maria Porto e Vera Souto.

Visite a 15ª versão do Arte: Expressão e Identidade até o próximo sábado (31-10), na Avenida Fernando Osório nº 20. O local fica aberto de segunda a sexta (9-18h) e sábados (9-17h).

domingo, 18 de outubro de 2015

Um monumento para Mozart Russomano

Empossada na Academia Pelotense de Letras em dezembro de 2013, a professora Loiva Hartmann constatou que seu presidente honorário e patrono da cadeira 34, falecido em 2010, não tinha um monumento em sua cidade natal. Propôs à Câmara Municipal a construção de uma estátua (v. notícia oficial) e o projeto foi aprovado em forma de lei. Mozart Victor Russomano nasceu em Pelotas em 5 de julho de 11922 e deixou-nos em 17 de outubro de 2010 (v. artigo de George T. Georgis O Ministro Mozart e a crônica de Rubens Amador Vi o Dr. Mozart bravo!).

Hoje, cinco anos após a morte do ilustre juiz (v. reportagem do Diário Popular Cinco anos sem Mozart Russomano), o projeto está ainda em fase de realização. Em outras partes do Brasil, houve homenagens em 2012 e 2014. A própria acadêmica relata o fundamento de seu projeto no artigo abaixo, publicado no Diário da Manhã impresso (sábado 17-10-15). 

A professora e poetisa é Conselheira do Instituto João Simões Lopes Neto, Sócia fundadora do Museu do Charque e da Biblioteca Negra de Pelotas, Mentora da Jornada Cultural de Pelotas, integrante da União Brasileira de Escritores e Patrona do blogue "Pelotas, Capital Cultural".


Da Criação ao Juízo Final
As pessoas não morrem; permanecem encantadas em suas obras e no coração de quem as ama e admira. –  João Guimarães Rosa.
A mão direita do homem criador avança ao futuro.
O Patrono da Cadeira 34 da Academia Pelotense de Letras, Mozart Victor Russomano, permanece entre nós, mercê de sua personalidade, talento jurídico e capacidade de – sem extravagâncias ou exposição de seus cargos e diplomações – promover sua comunidade com um savoir faire inigualável.

Filho de Victor Russomano e Elda Costa Russomano, formou família ao lado da Professora Gilda Maciel Russomano, com quem pôde confirmar a predição do poeta Friedrich Von Schlegel (1772-1829): “Apenas em torno de uma mulher que ama pode formar-se uma família”. Seu filho Victor Russomano Júnior e Mozart Victor Russomano Neto transitam entre os tribunais das Turmas e Seções do TST, atestando a estirpe primorosa de que provêm.

Jovem, 1944, alcançou o cargo de Juiz do Trabalho. Fundador da 1ª Vara Trabalhista em Pelotas. Ministro em 1969, Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho em 1975. Presidente fundador do Tribunal Administrativo da Organização dos Estados Americanos (OEA), de 1971 a 1976. Juiz Administrativo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), de 1981 a 1986.

Catedrático de Direito Trabalhista da UFPel. Presidente de Honra da Academia Ibero-Americana de Direito do Trabalho e Seguridade Social e do Instituto Latino-Americano de Direito do Trabalho e da Seguridade Social. Representante do Brasil na Organização Internacional do Trabalho (OIT), de 1984 a 1990, sendo Presidente do Conselho Administrativo (o segundo brasileiro na história), entre 1997 e 1998. Doutor Honoris Causa e Professor Honorário em mais de 15 universidades nacionais e internacionais.

A destra humana aponta ao Criador de Tudo.
Autor de 45 livros jurídicos, muitos dos quais vertidos para outras línguas, além de artigos em revistas especializadas, capítulos em co-participação nas mais importantes obras em sua especialidade, o Direito do Trabalho, Processual e Previdenciário, e mais 15 obras literárias (v. bibliografia completa).

A atuação de Mozart na área cultural impressiona. Em 1960, a primeira Feira do Livro em Pelotas, de 25 de novembro a 4 de dezembro, contou com a colaboração do Instituto de Sociologia e Política da URGS, então sob a presidência do Dr. Mozart Victor Russomano. Ali se originou a Feira! O primeiro Orador da Feira do Livro foi o Dr. Mozart, dando continuidade ao cultivo das letras e artes na Zona Sul, especialmente em Pelotas, sua cidade. Em 1997, na Praça Cel. Pedro Osório, foi Patrono da Feira do Livro.

E nesse mundo mágico da criação literária, seus artigos e crônicas se destacam. Como professora de línguas e literatura, admirei sempre a propriedade e a sobriedade, temperadas por finíssima ironia machadiana, veículos do pensamento de Russomano. Usando linguagem culta, economizava adjetivos, dispensava termos rebuscados que dificultariam o entendimento às pessoas mais simples.

De fino trato, tinha especial consideração com seus admiradores e leitores de todas as classes sociais. O gentleman, o homem culto, o Ministro, sabia que na simplicidade está a sofisticação e o verdadeiro requinte! Poeta, contista, jurista, cidadão do mundo. Timbrava sua postura, polida pela vivência com grandes personalidades mundiais.

Tínhamos um encantamento, uma convicção comum. A civilização ocidental cooptou dos gregos o modelo. Nessa civilização, um poeta, Homero, no século lV já era um clássico. As artes são um exemplo da grandeza que os seres humanos podem alcançar. E há um artista que engloba todos os talentos: Michelangelo Buonarrotti. Em crônica iluminada, de 2003, Russomano detalhou como essa figura ímpar cobriu a Capela Sistina: “Bem no centro, a Criação do homem. Desce do céu, envolta em mistério e poder, a mão criadora, para tocar de leve o homem criado”. Ilustrei uma poesia justamente com a figura da Criação, pois estou convicta de que toda criação é um ato de amor.

Como mostra Michelangelo, "A Criação de Adão" é feita pela destra de Deus.
De 2002 a 2010, houve a Jornada Cultural de Pelotas. À semelhança de Paraty e Passo Fundo, teve como objetivo difundir as artes e a cultura. Em 2006, Dr. Russomano, a nosso convite, tentaria participar da 4ª Jornada. Havia feito grave cirurgia no quadril e recém iniciava a fisioterapia. Conscientes de que deveríamos nos conter, em respeito à sua idade e sofrimento, mesmo assim o lembramos da imensa motivação que sua presença provocaria aos assistentes. Por telefone confirmou que iria. A emoção foi indescritível!

No Pavilhão 2, Fenadoce, chegam os palestrantes: Ir. Elvo Clemente, Hilda Simões Lopes, Lígia Antunes, Mário Osório Magalhães, Luiz Antônio de Assis Brasil , Prefeito Fetter Júnior. Minutos depois, adentra ao recinto Dr. Mozart Victor Russomano, acompanhado de familiares, enfermeiro e seu médico. Quase impossibilitado de andar, fazia um esforço sobrehumano para estar com sua comunidade e mais: dar o exemplo de que, quando se quer realmente alguma coisa, não há o que nos impeça de realizá-la! Obrigada, caro amigo, pelo exemplo ímpar de determinação dado à nossa juventude, professores, cidadãos.
  • Em abril de 2012, o Tribunal Superior do Trabalho inaugurou o Auditório Ministro Mozart Victor Russomano, situado no 5º andar do edifício sede, em Brasília (v. notícia de 18-4-12 com o discurso do Ministro João Oreste Dalazen).
  • Em janeiro de 2014, o TRT da 11ª Região, inaugurando suas instalações no Foro Trabalhista de Manaus, deu oficialmente o nome de Mozart Victor Russomano a seu novo edifício (v. Resolução Administrativa 108/2013 do TRT11). A placa foi descerrada pelo desembargador David Mello Jr. e por Victor Russomano Jr. (foto abaixo).
Duas homenagens a um grande homem, o qual partilhou a largueza de seu espírito, a profundidade de sua sabedoria e a diligente força de seu trabalho com a Justiça Social do Brasil.

Os tribunais do trabalho de Manaus funcionam no Forum Ministro Mozart Victor Russomano.
Presidente de Honra da Academia Pelotense de Letras, leitor de Eça de Queiroz, assim o definiu: “Imortalizado no mármore de Teixeira Lopes, sustentando nos braços a nudez forte da verdade, levemente coberta pelo manto diáfano da fantasia, chamado constantemente pela evocação da saudade de seus leitores e pela voz do seu gênio, magicamente ele sai do mármore. Para onde vai? Vai ao encontro do mundo, nimbado pela admiração daqueles que amam a beleza, a arte, a realidade e a fantasia que dá cintilações à realidade. A realidade que inspira o artista, fazendo-o subir, voar nos espaços imensos e claros da imaginação e da glória!” ("O Poeta Anônimo", p. 65-66).

No séc. XIX, o escritor italiano Cesare Cantù (1804-1895) disse: “Querem conhecer o grau de civilização de um povo? Reparem naqueles que erguem monumentos!”. Hoje, cabe a todos nós eternizarmos em mármore e bronze a memória do eminente conterrâneo Mozart Victor Russomano. O jurista, o escritor, o poeta, o cidadão do mundo, o amigo, o pelotense ilustre. Para que os pósteros o conheçam e para que nós o tenhamos sempre presente.

Nosso projeto, proposto na Câmara Municipal e aprovado há um ano, é agora a Lei nº 6.151/ 07.08.2014. Autoriza o Município a edificar monumento a Mozart Victor Russomano na Praça Coronel Pedro Osório ou seu entorno. Ao conhecer o projeto, o prefeito Eduardo Leite disse: “Eu julgo absolutamente meritória esta iniciativa e assim que chegar até nós começaremos a viabilizar o ponto de vista jurídico e financeiro”.
Loiva Hartmann
Cadeira 34 da Academia Pelotense de Letras
Patrono: Mozart Victor Russomano
Projeto ideado por Loiva Hartmann para seu patrono na Academia de Letras
foi levado à Câmara e ao Prefeito, e transformou-se em lei em 2014.
Imagens: 13Horas (1), L. Hartmann (2), Vita Naturalis (3), Flickr (4) ASCOM (5)

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Corte da FENADOCE 2016

Princesa Débora, Rainha Liz e Princesa Amábile.
Na sexta-feira 2 de outubro foi escolhida a corte real da Feira Nacional do Doce para 2016, a 24ª FENADOCE. Entre 19 candidatas inscritas, destacaram-se Liz Gill Araújo Pereira (rainha), Amábile de Castro Silva e Débora Lopes Lemos (princesas). As três são estudantes universitárias e concorreram por primeira vez ao cetro de Pelotas. Confira o álbum de fotos das candidatas e o vídeo de apresentação da ganhadora.

A informação foi dada pela imprensa e pela página do evento no Facebook; entretanto, até o sábado seguinte o sítio da FENADOCE com a lista de todas as cortes ainda não estava atualizado (v. a primeira pose do trio momentos após a eleição e a reportagem da RBS Pelotas que anunciou o resultado).

A primeira visita oficial das representantes da beleza pelotense foi no mesmo fim de semana (domingo 4-10): o tributo a Pompílio de Freitas no desfile de moda "Ao Mestre com Carinho", realizado no Clube Brilhante (dir.).

Em 2016 a Feira Nacional do Doce completa 30 anos desde sua criação pelo prefeito Bernardo de Souza. O primeiro evento foi realizado em janeiro de 1986 e foi bienal até 1998.
Foto: Facebook

domingo, 4 de outubro de 2015

Gahuer lança clipe romântico

Este fim de semana Gahuer Carrasco apresentou pelo Facebook o videoclipe "Só pra te fazer feliz", filmado em pontos turísticos de Pelotas pelo produtor mexicano Pablo Lemus, com músicos locais. Gahuer como cantor e a modelo Karen de los Santos (Rainha da FENADOCE 2011, v. post) protagonizam o conteúdo romântico da música, letra composta por Gahuer em parceria musical com Igor Cardoso.

sábado, 3 de outubro de 2015

O primeiro negro que jogou no Pelotas

Dribla
Dupla/corre/bola
Sorri correndo
Joga ...

Nego
Fiz do tempo o que quis ... mas nego
Os negros fizeram história/memória/capítulo
A contagem dita ...
Conto do conflito
Forma clara para/por todos os homens

E passamos por cima dos fatos
Atos deles e nossos ... humanos claro ... claros
Um passado racista nesses jogos marcados.
Sonha correndo ... joga
Corre jogando ... chora

Capítulos da história

O futebol mexe com as pessoas. Suas regras e disputas.
Antigamente dizia-se gôlo no Rio Grande do Sul e torcia-se pelo jogo. Hoje torcemos pelo ídolo/jogador. Um calor fervoroso, interno, quase religioso. Associação deste esporte/indústria. O esporte salva/integra. Mas e o dinheiro, não !?.
Nathanael Anasttacio

Antologia de 2001.
O escritor Lourenço Cazarré começou a desenvolver, por volta de 1985, um conto sobre o futebol pelotense, a partir de um episódio que seu avô dizia ter visto de perto nos anos 30. O texto viu a luz em 1989, no livro "Noturnos do amor e da morte", com o título de "Meia encarnada, dura de sangue"(v. perfil do escritor e outros dados biográficos de Cazarré).

Naqueles tempos de heroísmo e amadorismo, um craque teve que ser comprado ao inimigo. Hoje o desamor à camiseta é coisa trivial; naquela época, não era fácil ser "profissional" (leia crítica literária de Iuri Müller para o Sul21 e comentário no Blogrêmio).

A TV Globo adaptou roteiro à base desta história (série Brava Gente, dez.2000), com direção do gaúcho Jorge Furtado para a produtora Casa de Cinema de Porto Alegre (v. detalhes técnicos):
No interior do Rio Grande do Sul, em 1953, o craque Bonifácio (Sérgio Menezes) vive um dilema. Jogador de um time integrado por negros e pobres, ele é convidado a fazer parte da equipe dos brancos e ricos. Seria a chance de oferecer uma vida melhor à namorada, a doméstica Elisa (Camila Pitanga).
O conto foi incluído numa antologia de 2001 com contos gaúchos sobre futebol  (v. análise da Trivela sobre o livro, organizado por Ruy Carlos Ostermann). Em 2003 foi escolhido como um dos 35 Melhores Contos do Rio Grande do Sul e em 2005 Cyro de Mattos o incluiu nos "Contos Brasileiros de Futebol" . Na transcrição abaixo, foram omitidos os primeiros parágrafos.

Meia encarnada, dura de sangue
Lourenço Cazarré

Então o meu avô contou a história do crioulo. Ele tinha várias histórias de futebol porque ele mesmo havia sido um jogador, um ponta irritante, daqueles pequenos que são como flechas e que, por não terem nem altura nem força, se obrigam a ser mais velozes e mais matreiros e mais gambeteiros e mais debochados, para irritar os laterais. O velho dizia que naquele seu tempo, sim, aquilo era um esporte para homens, porque os juízes só marcavam falta se o agredido sangrasse, e só expulsavam o agressor quando o outro ficava estirado sobre o barro, desmaiado. E falava de como eles se cuspiam e davam cotoveladas e socos e como gostavam de esfregar as garradeiras na cara dos outros e demais barbaridades.

Mas voltemos ao rio, deixemos as vertentes. O tal crioulo esse foi uma espécie de primeiro profissional da cidade. Não sei quando, mas creio que pelo meio ou pelo final da década de trinta, porque o velho contou que por esse tempo, esse sujo tempo em que os atletas ganhavam dinheiro pela sua arte, já estava fora dos campos, ele já estava fora dos campos, com os joelhos arrebentados.

Pois o crioulo jogava pelo Grêmio Esportivo Brasil, o time dos negros e mulatos. O campo deles ficava nos banhados da Estação Ferroviária. O crioulo, aos dezenove-vinte anos, era o maior driblador e fazedor de gols da época. Nem alto nem baixo, era magro como a peste e leve como a brisa e dançarino como as borboletas. E frio. E jogava de olhos abertos, cabeça erguida. Calculista, ele não só queria fazer o golo, como queria também que seu marcador ficasse por terra, e gostava de ver o goleiro esmurrar a grama. Jogava rindo. Conheces o tipo, não é? Não era um sorriso, era um arremedo de sorriso, uma máscara ridente que nada tinha a ver com o que lhe ia pelas entranhas. Ele ria daquele jeito só para enfurecer os adversários, para fazê-los perder a cabeça e começarem a querer matá-lo.

Nada pior pro time da gente do que jogadores de cabeça quente, a gente grita que quer sangue – mata este filho da puta! – e ele parte pro pau, mas aí o jogador frio sempre dá aquele pulinho pro lado, aquele toque sutil, e ganha a parada.

Era assim dentro de campo, implacável. Fora, era outra coisa. Um rapaz gentil, tímido, de fala mansa, silencioso, cerimonioso. Saía do campo de cabeça baixa, como que pedindo desculpas por jogar tanta bola.

Reedição de 2005.
Trabalhava num matadouro. Mas não sei te dizer qual. Ficava pras bandas do porto. Ele também morava por lá, naquela ruazinha que corre paralela ao canal e que devia ser naquela época ainda mais escura e suja. Ele e a velha sua mãe, viúva. Durante a semana, gastava o dia dentro daqueles galpões sombrios – iluminados apenas pelo cintilo fugaz dos facões afiados – resvalando pelo chão ensanguentado.

Era tão hábil com a faca quanto com a bola, dizia meu avô. O negócio dele era a desossa. Desmanchava um boi em minutos. E não deixava um só fiapo de carne nos ossos. Com a mesma precisão que escapava dos coices do adversário, recuando o corpo apenas os milímetros necessários, ele destrinchava os animais.

Aos domingos, brilhava nos campos.

Depois de perder quatro ou cinco jogos, de enfiada, os dirigentes do Pelotas começaram a se perguntar se não estariam fazendo uma grande asneira em não aceitar jogadores negros ou mulatos. E o meu avô dizia: "Está certo que esses negros são uns mandriões, e conheci não mais de sete que gostavam de trabalhar, mas o certo é que nas safadezas, coisas como serenatas e jogos de bola, eles são bastante bons". Então um inglês, que palpitava muito nas reuniões de diretoria, tanto encheu que acabaram aceitando conversar com o crioulo. Um dos diretores do clube, da família Almeida Guimarães, um cara que tinha tantos contos de réis quanto milhos numa espiga, disse mais: que cederia ao tal crioulo uma casa velha que tinha lá pros lados da Cerquinha. Se aceitasse, podia morar lá de graça, enquanto servisse ao time. Então mandaram alguém falar com o rapaz.

Ele morava num rancho de paredes vacilantes e teto de palha. Muitas vezes no verão, nas cheias do rio, tinha que botar os trastes nas costas e sair para a casa de uns parentes, que moravam nas Terras Altas. Baixava a enchente, lá vinham ele e a velha, de volta. Mas não foi isso que decidiu.

Ele demorou muito para aceitar. Não que estivesse negaceando, como fazem os jogadores de agora, para conseguir contratos melhores. Gastou dois ou três meses pensando os prós e os contras, porque sabia que a partir do momento em que concordasse não seria apenas o crioulo: seria o crioulo vendido. E o meu avô dizia: a gente de hoje não tem ideia do que se passou pelo coração do mulato, coitado, que nem mais dormia pensando no que devia fazer. Naquele tempo o valor dos homens era medido não pelo seu dinheiro mas pela capacidade ou incapacidade de manter a palavra empenhada.

Por uma mulher, decidiu-se.