Páginas deste blogue

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Milton de Lemos, finalmente em reforma

O salão Milton de Lemos leva o nome do diretor mais destacado do Conservatório de Música de Pelotas, que veio do Rio de Janeiro em 1923, aos 25 anos de idade, para dirigir a escola fundada em 1918. Aposentou-se depois de exercer essa função por 31 anos, seguiu trabalhando em Porto Alegre mais um tempo, e finalmente foi morar em sua terra natal, onde faleceu em 1975.

O prédio ocupado pelo Conservatório já era antigo quando de sua fundação. De 1939 a 1941, enquanto o professor Milton de Lemos era o diretor de ensino, a administração da escola fez uma reforma geral, incluindo a fachada, ampliando-se para 350 pessoas a capacidade do auditório. Na época, todas as aulas e espetáculos foram transferidos para a Biblioteca Pública Pelotense.

Em janeiro passado, as cadeiras colocadas há 68 anos começaram a ser retiradas, e deverão ser substituídas - após licitação pública, o antes possível este semestre - por móveis modernos, cômodos e silenciosos. A mudança estava pensada para o verão passado mas foi sendo adiada. Até 1969, o Conservatório era municipal, e sua sede física também; nesse ano, a escola (não o prédio) foi integrada à Universidade Federal de Pelotas e desde então sofre a inevitável burocracia nacional, com o entrave adicional de que sua casa depende da Prefeitura.

Na comemoração dos 90 anos, em 18 de setembro passado, a diretora Isabel Nogueira confirmou a renovação das velhas cadeiras. Além dos famosos rangidos, elas tinham a paradoxal característica de, mesmo pregadas no chão, fazer um forte ruído ao cair seu assento móvel, ferindo às vezes o sacrossanto silêncio dos concertos mais solenes.

Na mesma celebração dos 90 anos, o professor de Composição Rogério Constante apresentou o Estudo Eletroacústico nº 8, alusão bem-humorada ao ranger das cadeiras, um trecho eletrônico de sonoridades elaboradas por um programa computacional.
Ao ser executada no salão em penumbra, essa música dialogou com o ruído real da velha madeira, causado pelos mais leves movimentos dos espectadores ao sentar-se, acomodar-se ou levantar-se. Nessa verdadeira homenagem de despedida, o ranger foi incluído como elemento musical concreto, de certa forma compensando em nossa memória a incomodidade do inoportuno ruído.

Hoje, as cadeiras se foram para sempre e estão sendo recuperados e retocados o forro, o assoalho e as paredes. Por alguns meses, ali não haverá exames nem recitais.

Também nesse 18 de setembro, o reitor Antônio César Borges anunciou (dir.) que o prédio da antiga alfândega faria parte da Universidade, para salas de aula, depósito de materiais e arquivos e, eventualmente, para apresentações artísticas – mantendo a sede da Félix da Cunha e o Salão Milton de Lemos para os concertos.
Em diálogo privado, ele me comentou que não se opõe a que o Conservatório ocupe - além do segundo andar - o piso térreo da casa da Félix da Cunha, de propriedade municipal, o que, segundo ele, somente depende de boa-vontade e de acordos políticos.
Fotos: F. A. Vidal.

Um comentário:

  1. Tens razão, Francisco ... Pelotas talvez não esteja tão "parada no tempo" como exageradamente, por vezes, queixo-me.
    Tens mostrado, em teu blog, mais de uma vez, prédios que estão sendo recuperados. Que bom se isso acontecesse com mais frquência ainda.
    Bj! Tê!

    ResponderExcluir

Obrigado por comentar esta postagem.