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terça-feira, 17 de março de 2009

Epigramas de Mário Quintana (1906-1994)

Sonhar é acordar-se para dentro.

Todas as noites o sono nos atira da beira de um cais e ficamos repousando no fundo do mar.

O despertador é um acidente de tráfego do sono.

Sem o coaxar dos sapos ou o cricri dos grilos como é que poderíamos dormir tranquilos a nossa eternidade?

O fantasma é um exibicionista póstumo.

Nossos olhos também precisam de alimento.
Se as coisas são inatingíveis, não é motivo para não querê-las.
Ah, nem queiras saber... A vida é preciosa como um pão roubado!
Que tristes os caminhos se não fosse a presença mágica das estrelas.
A mentira é uma verdade que se esquece de acontecer.
A alma é essa coisa que nos pergunta se a alma existe.
Autodidata: ignorante por conta própria.
O único problema da solidão consiste em como conservá-la.

Sempre me senti isolado nessas reuniões sociais: o excesso de gente impede de ver as pessoas.

Estilo é a deficiência que faz um sujeito escrever sempre do mesmo jeito.

É graças a Deus que o Brasil tem saído de situações difíceis. Mas, graças ao diabo, é que se mete em outras.

Triste é o rio, que não pode parar.
O destino é apenas o acaso com mania de grandeza.
Amar é mudar a alma de casa.
O passado não reconhece seu lugar: está sempre presente.
As pulgas saltam tanto porque também têm pulgas.
O mais irritante de nos transformarem um dia em estátuas é que a gente não pode coçar-se.
Drummond e Quintana, Porto Alegre.

2 comentários:

  1. Lindo texto! Só poderia ser do nosso Quintana!

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  2. Que belo encontro: Drummond e Mario Quintana, nosso poeta do coração!
    Quem resiste ao "poetinha"?
    Eu ... passarinha!
    Bj, Francisco! Teu blog está ótimo! Parabéns!
    Tê!

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