Uma pioneira iniciativa foi tomada por dois pesquisadores da UFPel : organizar o I Ciclo de Palestras sobre a Cultura Negra na América Latina: As Experiências nas Comunidades Remanescentes de Quilombos no Sul do Brasil. Eles são: a pelotense Francine Pinto e o haitiano Handerson Joseph (esq.), mestrandos em Ciências Sociais que investigam sobre processos participativos na cultura afrodescendente, orientados pelo professor Alfredo Gugliano.
O ciclo de palestras consta de quatro encontros em forma de painel: numa primeira parte, um expositor aborda um enfoque dentro do tema das comunidades quilombolas, e o público a seguir estabelece um diálogo mais intenso e livre com o palestrante. Entre os inscritos, uma centena de alunos de diversos cursos de Pelotas e Rio Grande.
Na noite da sexta-feira 8 de maio, o auditório da Faculdade de Educação estava lotado. Handerson Joseph apresentou a professora Ledeci Lessa Coutinho, que falaria sobre “Memória e Identidade no Contexto das Comunidades Quilombolas”.
Ledeci é canguçuense; começou como professora de História e cursou mestrado estudando a identidade das mulheres negras. Ela fala com muito entusiasmo e segurança sobre suas experiências e seus pensamentos, que vão na linha da resistência negra e na desmitificação do que a cultura europeia dominante tem ensinado aos brasileiros: basicamente, que a opressão aos escravos e seus descendentes aqui no Sul foi benigna, sem tanta violência, e que a quantidade de população negra é baixíssima em todo o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná - cerca de 10% (sendo que na verdade é próxima a 50%). Como se vê, a professora não usa eufemismos nem é de uma atitude conciliadora.
A História do Brasil, bem estudada, revela que a cultura negra foi negada pelo discurso oficial desde o início, e somente na última década tem havido alguma discussão. Por exemplo, têm começado a ser estudadas as comunidades remanescentes de quilombos, que são grupos (às vezes até muito poucos indivíduos) que portam memórias orais sobre a cultura dos ascendentes africanos, em comunidades muitas vezes isoladas das cidades mas com assimilação de elementos de modernidade.
Em certos lugares do Brasil, segundo uma telenovela já denunciou, os donos de escravos constituíram "criatórios": haréns de negros com o fim único de reprodução, para gerar mais escravos. Em Pelotas, a praça central da cidade tinha um pelourinho, que com a abolição da escravatura foi substituído por uma bela fonte de chafarizes trazida da Europa.
A professora deu dois exemplos de resistência que os negros realizavam, nos tempos da escravidão: fugir e trocar de senhor, e insurgir-se com violência contra seus amos. Hoje em dia, a resistência negra se constitui em forma de movimentos sociais, que reforçam a identidade negra e lutam por seus direitos.
O procedimento é análogo aos sem-terra e tende a não incluir nessa luta os que não são negros ou descendentes de escravos, justamente para enfatizar a memória e a identidade dos afrodescendentes. Esta é minha apreciação após esta palestra, uma de cujas frases ficou soando em meu pensamento e sentimento, de modo confundidor e conflitivo:
"Os pelotenses de hoje ou são filhos dos senhores, ou filhos dos escravos".
Na origem não houve matizes, e com o tempo isso não deveria esquecer-se; mas os processos sociais não são graduais, transformadores e miscigenadores?
Fotos de F. A. Vidal.
olá, Francisco.
ResponderExcluirGostaria de publicar este post no site 3º Milênio (www.3milenio.inf.br), se concordares.
Aguardo retorno.
Abraço!
Lu, não há problema. Veja que já fiz a nota sobre a segunda palestra (são 4). As próximas são na sala 207, sextas 22 e 29, 19h.
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