Satolep, p. 72.
Poucos metros ao sul do Castelo Simões Lopes, pela Avenida Brasil, encontrava-se a residência de Jorge Campello Duarte. O casarão, conhecido como “Castelinho Duarte”, foi construído em 1918, quando seu dono tinha 26 anos e denominava-se Villa D. Noemia, em honra de sua esposa Noêmia Alves Pereira.
O Almanaque de Pelotas 1919 mostra duas fotos do prédio recém construído, tomadas por Brisolara, e o descreve como um chalet de estylo suisso.
Vítor Ramil começa o livro “Satolep” com uma dessas fotos (dir.) e o texto em epígrafe (acima). Descreve seus habitantes fictícios e fala do lugar, simplesmente, como o sobrado de alguma família abastada (p. 98) , situado entre o Canal de São Gonçalo e um castelo em construção (alusão ao Simões Lopes).
Tomei a foto acima em 5 de abril passado, quando a "profecia das ruínas" já se havia cumprido. Se Ramil viu a casa há uns 10 anos para inspirar-se, ela devia ter ainda o segundo piso estruturado e um pequeno muro e árvores na frente, mas em total abandono, bem como na foto abaixo.
Jorge Duarte foi um dos filhos de Plotino Amaro Duarte, fundador do Banco Pelotense. Sua irmã mais velha, Hilda Campello Duarte, casou-se em 1906 com Augusto Simões Lopes, filho caçula do Visconde da Graça e prefeito de Pelotas em dois períodos.
Na ficção de Satolep, o protagonista se confunde com os habitantes dessa casa e encontra o relato do início, escrito supostamente pelo filho mais velho.
O texto profético hoje é história.
Há duas ou três semanas, uma ação organizada por vizinhos do bairro terminou definitivamente com as ruínas que já davam ao lugar um aspecto tétrico. Na foto abaixo (dir.), a visão que os fantasmas dos moradores teriam da casa em frente, há um mês.
Até então, somente restavam algumas paredes e tijolos jogados pelo chão, cavalos e vacas pastando ao redor. Agora aqueles restos mortais se distribuíram pelo bairro como as cinzas de um morto que são jogadas ao vento; os vizinhos ficaram com as tábuas, tijolos e o resto do lixo que ainda sobrava.
Coincidentemente, naqueles dias havia falecido Augusto Simões Lopes Neto, e uma procissão de amigos e familiares caminhou da antiga propriedade familiar (o castelo Simões Lopes) até o São Gonçalo para ali depositar as cinzas do neto do ex-prefeito.
A cidade conserva e restaura alguns prédios mais visíveis, mediante recursos econômicos que hoje não possui. O Banco Pelotense deixou seu suntuoso prédio ao Banrisul, nos anos 1930. Mas não se vê uma real valorização do patrimônio, pelo exemplo desta casa cuja destruição foi "ajudada" pelos próprios pelotenses, como num tiro de misericórdia. Entre as ruínas e o pó (em que se converteu o patrimônio do Banco Pelotense), foi preferível ficar com o pó.Fotos: F. A. Vidal (1, 4, 5), Cristina Moreira (3), Cosac Naify (2).
Olá Francisco, adorei o texto, acrescentou muito e fiquei contente. Abraço
ResponderExcluirE o castelo vai pelo mesmo caminho, nós que somos vizinhos choramos a cada pedaço que é destruido, junto com a história da cidade
ResponderExcluirsrstrada@terra.com.br
Olá Francisco, sou um dos herdeiros daquele local, lastimo muito a destruição deste castelo, mas ainda luta contra a prefeitura, depois de derrubarem a casa, ainda cobram iptu e Sanep de anos sem que ninguém habitasse o lugar. Pretendo revitalizar este local para lembrar os bons tempos de Pelotas, se possível ergeurei outro bangalô como o original.
ResponderExcluirObrigado pela matéria, nos ajuda a preservar nosso patrimônio cultural, ao menos na lebrança.
Flavio Oliveira jr
flavio@oliveiraimoveis.net.br
Vai ser preciso um grande projeto para dar sentido a este local, já vazio. Talvez relacioná-lo com o castelinho ainda de pé, a poucos metros dali.
ResponderExcluirA mostra de fotografias do MAPP, anunciada há uma semana, será um primeiro ponto de divulgação, pois a foto mais antiga deste post faz parte do trajeto seguido em Satolep. Como os fotógrafos de hoje veem este local?