Por uns 15 anos, Manoel Soares Magalhães teve em sua casa um sebo para vender e alugar livros novos e usados.
A ideia tinha uma aparência comercial, mas sua inspiração essencial foi poética: se nossa sociedade cultiva as imagens passageiras dos vídeos, por que não cultivar as imagens do espírito de um modo mais culto?
E como cultivar a leitura? Como compartilhar as folhas escritas, que tendem a ficar arquivadas nas estantes ou até são jogadas fora?
Como não lembrar de Buenos Aires, onde há uma livraria em cada esquina, onde se acham livros de todos os tipos, de todas as épocas, de todas as origens? Afinal, uma grande cidade, comercial e culta ao mesmo tempo, onde se veem todos os filmes, se fala de todos os assuntos e onde se criam palavras novas e teorias mirabolantes, meio europeias, meio cosmopolitas, meio selenitas.
Pergunto-me se na Argentina existem muitas lojas arrendando libros - como a locadora de Manoel - ou se essa é função exclusiva das bibliotecas. Serão os porteños solidários com a cultura, sabem passá-la de mão e mão... ou preferirão possuir seus próprios livros, riscá-los, desenhá-los, olhá-los, exibi-los, adorá-los?
Em 2008, Manoel levou sua livraria para a Rua Lobo da Costa, separando-a da residência. Outro ato poético, pois ele mesmo escrevera um livro sobre a marginalidade do escritor pelotense ("O abismo na gaveta", 1999).
O projeto do escritor-pintor era expor no novo local a produção plástica, mas o sebo-locadora só durou ali um ano. Ele vendeu o acervo e se mudou para a cidade de Pedro Osório, onde também ficou mais um tempo. Voltou, há uns dois meses, à casa da Rua Uruguai, quase esquina Alberto Rosa. (Afinal, quem não vai à Argentina, pelo menos fica no país mais próximo).
Então, hoje a locadora Cultive Ler está de volta, no mesmo lugar esteve desde 1993. O acervo se concentra agora em arte e filosofia, áreas de interesse de Manoel, de seus leitores e das sedes universitárias próximas (veja a notícia no Amigos de Pelotas).
A casa foi readaptada, de modo a ficar mais como um lugar acolhedor para a criação artística, a cultura em geral e a amizade: os livros numa sala de estar ( de um lado a locadora; de outro, a livraria), com exposição de quadros, e acima o ateliê de Carmem, esposa de Manoel. Ambos pintam, mas essa história conto depois.
Fotos: F. A. Vidal (1), M. S. Magalhães (2-3)
Manoel e Carmen Garrez são dois batalhadores pela cultura local. Acompanho seus trabalhos há bastante tempo. Bom que estejam de volta à cidade. Bela matéria!
ResponderExcluirPrezado Manoel, ha bastante tempo não visito a sua cultive ler....em 1994 qdo o dinheiro era pouco e não era tão acessível conseguir livros bons de literatura beat-JACK KEROUACK,W. BURROWGS /devo ter sido uma de suas ptimeiras clientes entre outros ....e
ResponderExcluiró de lembrar do cheiro daquela epoca...qdo devorava os livrosem um dois dias.....ah e haviam também a Clarisse Lispector....oooossshh
Manoel segue no mesmo endereço, mas não locando livros. Tem seu blog e página no Facebook.
ResponderExcluirwww.cultive-ler.com/
www.facebook.com/cultiveler