Sexta-feira passada (7), a pianista Laira Ferreira Campos apresentou-se por última vez como aluna do Conservatório de Música, graduando-se como Intérprete em Piano pela UFPel.
A jovem rio-grandina cursou paralelamente Comunicação Social na UCPel, formou-se em 2006 e tem participado, nos últimos dez anos, em diversas iniciativas em música popular, como o Quinteto Libertango e a Camerata Novitango. Em cada recital ela também mostra sua vocação comunicadora, explicando ao público cada peça interpretada.
Nesta ocasião, ela pediu ao ator Charlie Rayné (dir.) que fizesse esse papel de comentarista, enriquecido com mímica, inflexões vocais e caracterização nas roupas. As palavras (redigidas pela pianista) imprimiram caráter didático e poético à música, e a forma de fazê-lo deu maior teatralidade e leveza ao recital.
Por estar acostumado a esta música, pareceu-me que não era necessário aligeirar este programa (pelo menos, não no Conservatório), pois estas obras falam por si próprias:
Sonata opus 26 de Beethoven (Andante com variações - Scherzo - Marcha fúnebre - Allegro);
Rondó a Capricho, de Beethoven ("Fúria sobre a perda de uma moeda");
Alma Brasileira, de Villa-Lobos (Choros nº 5);
Rítmica de Tango, de Jaurés Lamarque Pons (Moderato - Tango canção - Tango milonga);
Balada nº 1, de Chopin.
Após uma peça fora de programa (Escorregando, de Ernesto Nazareth), a formanda entregou placas de homenagem a seus pais, à professora Cecy Galli, à professora Sodrelina Hallal, aos críticos Francisco Vidal e filho, ao músico Possidônio Tavares e a dois colegas pianistas. Tomou a todos de surpresa (meu pai e eu inclusive) com seu carinhoso gesto, já no início formal de sua carreira.
Impressionou a todos a lotação completa do Salão Milton de Lemos, com suas 150 cadeiras novas ocupadas (chegadas uma semana antes), mais umas vinte pessoas de pé (esq.). Outro detalhe é que, naquele dia, Pelotas já se encontrava sob as orientações sanitárias para não realizar aulas nem reuniões públicas em lugares fechados, mas o Conservatório não suspendeu as duas formaturas programadas para esse fim de semana.
Nos últimos cinco anos tenho observado o crescimento artístico de Laira, tanto no aperfeiçoamento técnico como na postura ante a plateia, cada vez mais sólida e autoafirmativa. Ela sabe levar a sério o que toca, mas também sabe brincar e alegrar-se com quem ouve, em amorosa consideração do público. Outro de seus talentos é o de compor melodias, que esperamos que ela expusesse com mais frequência.
Para ilustrar esta nota, escolhi a peça "Escorregando", tocada por um jovem não identificado. Não encontrei nenhuma versão que respeitasse as fermatas escritas por Nazareth (pausas que Eudóxia de Barros sempre destaca). É um dos trechos preferidos de Laira, que gosta de fazer a fermata final com um gesto brincalhão.
Fotos de F. A. Vidal
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