O objetivo é falar de filosofia em termos cotidianos, descendo da torre do academicismo ao piso térreo do cidadão comum. O auditório do Centro do Mercosul fica lotado, dependendo do assunto e do professor (veja a programação). O método é simples: 45 minutos de exposição e 15 para perguntas e debate.
O doutor em Filosofia Clademir Luís Araldi (acima) falou hoje sobre o individualismo e a solidão no mundo contemporâneo, considerando especialmente os pontos de vista de Max Stirner (esq.), Karl Marx e Nietzsche (abaixo), autores alemães que ele vem estudando no original, desde a graduação.
Stirner (1806-1856) é um anarquista partidário do individualismo, ateu radical que polemizou com Marx (1818-1883), a quem não considerava um verdadeiro ateu, mas um devoto da história, um crente que havia posto o materialismo no lugar de Deus. Como niilista, ele diz que o eu único é criador absoluto do mundo, a partir do nada, e somente ele pode retornar ao seu nada. Como pessoa, ele não é um solitário (isolado do mundo); somente um individualista, partidário do eu acima de tudo.
Por outro lado, Friedrich Nietzsche (1844-1900), casualmente de aniversário hoje (15), glorifica o indivíduo na solidão, separado dos homens. Seu alterego Zaratustra quer santificar as três coisas mais rejeitadas pelo cristianismo: a volúpia, a ambição de poder e o egoísmo (outro nome do individualismo), como sendo características do homem evoluído ou superior. Em sua vida pessoal, Nietzsche precisou da solidão mas a viveu tragicamente (buscando amigos, não os encontra).
O professor Araldi propôs a impossibilidade da solidão e da filosofia hoje em dia, no sentido de se desconectar da sociedade, para ficar consigo mesmo. Seja o professor universitário que precisa ver e-mails todos os dias, ou os jovens que se relacionam pelo orkut, não têm tempo para afastar-se de suas redes de relacionamento e pensar ou meditar. Daí a dificuldade de fazer filosofia no meio acadêmico. O individualismo de hoje é narcisista, fluido e consumista, o que impede a reflexão, o pensamento crítico, a autocompreensão e a solidão proveitosa. O romanticismo e a religiosidade acabaram; o tempo de hoje é do egoísmo e da técnica que leva à devastação do mundo. Quem perceber essa dicotomia fatal poderá enlouquecer como Nietzsche; os sobreviventes serão aqueles que souberem tirar algum proveito verdadeiro deste angustiante fluxo da pós-modernidade.
Imagens da web (2-3) e F.A.Vidal (1)
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