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domingo, 27 de dezembro de 2009

O dia em que o Aquários fechou

Na sexta-feira 26 de junho deste ano, o Café Aquários amanheceu fechado e assim permaneceu todo o dia. Somente um cartazinho na porta informava o motivo: luto. No início da noite anterior havia falecido um dos donos, o português Joaquim Rodrigues. Ele tinha 75 anos de idade, uns 50 de Pelotas, e uns 40 de Aquários, que era sua casa e segue sendo a de muitos pelotenses.

O Amigos de Pelotas registrou o fato naquela tarde; um cliente dizia só ter visto o Café fechado uma vez na vida (leia os comentários) - um modo de dizer, pois o lugar fecha todas as noites, às 22h (no horário de verão, às 23h).

No dia seguinte, Zero Hora noticiou: "Morre o dono do Café Aquários de Pelotas" (leia), com a foto de Nauro Jr. (abaixo). A imagem da loja fechada parece banal para alguém de fora, mas em nossa cidade é momento histórico e insólito.

Em 1912, abriu ali um dos primeiros cinemas da cidade, o Ponto Chic, que funcionou por uns vinte anos (veja uma foto). Na década de 30 ou 40 abriu um café, e nos anos 50 denominou-se como até hoje.

O Aquários é um ponto de encontro - um lugar no sentido estrito - e não de passagem simplesmente. Marcos Macedo referiu-se numa crônica ao conceito de "lugar" (leia).

Nesta ocasião, os clientes habituais ficaram ali mesmo toda a manhã, mesmo sem tomar cafezinho (que no Aquários chega a ser um detalhe). A tristeza se focava na falta do seu espaço diário; se o Café tivesse seguido aberto, alguns deles não teriam percebido a morte de alguém. Os meios de comunicação sutilmente pareciam noticiar a provinciana frustração. Um cliente teria dito: "Com o Café fechado a cidade morre".

Que cidade pequena; só tem um café? Na verdade, o principal lugar de Pelotas não deixou de ser um lugar por ter fechado um dia, mas precisava das portas abertas. O lugar é feito pelas pessoas, mas requer referências físicas.

No dia seguinte, 27 de junho, o Aquários abriu e ZH também noticiou, aparentando que o foco era o vazio comercial; no entanto, o texto de Giacomo Bertinetti se refere às alterações emocionais (leia). Disso faz hoje seis meses e esperamos que a normalidade não mais se altere no nosso bastião de paz.
Foto: ZH (Nauro Jr)

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