Helena tomou interessantes ângulos de reflexos, alguns deles bem inusuais e até contendo sutis simbolismos. Selecionei aqui dois deles, fotografando-os na mesma exposição, com a dificuldade de ter que evitar os reflexos involuntários.
Num dos registros (abaixo à esq.), a artista estava visitando uma das exposições "Arte no Porto" e se fez fotografar por uma colega, colocando-se dentro de uma instalação.
As duas aparecem, mediante reflexos: a colega, que executa a fotografia (figura maior, segurando a máquina), e Helena, autora intelectual da mesma fotografia (num quadro). Atrás, uma terceira figura, tão minúscula que se faz despercebida, observa ou é observada pelas fotógrafas. O espectador da foto se identifica com a pessoa fotografada; ambos estão num terceiro nível da imagem.
No outro trabalho (foto abaixo), Helena é a "única" fotógrafa e novamente toma dois objetos como figuras. Ela também aparece, mediante um reflexo quase imperceptível. Seu objeto central foi um homem que trabalhava no seu notebook, dentro de um automóvel. Ela se aproximou por trás e, aparentando fotografar a tela, tomou ao mesmo tempo o rosto do homem e o "rosto" da máquina, superpostos.
Foi interessante contar com a presença da artista e suas explicações, pois a simples imagem, mesmo que impactante por sua própria forma, nem sempre é esclarecedora de como foi tomada.
A professora Francisca Michelon escreveu o seguinte sobre o trabalho:
Sendo fotografia, conceitualmente, o trabalho de Helena já se define nos termos de uma visão ocasional. Mas o que a fotógrafa faz, além de ver antes de fotografar, é perceber que na sobreposição de informações visuais que conformam a realidade, não há muita concretude, senão aparições, fantasmas de luz que referem todas as coisas do mundo, ao mesmo tempo e por muito pouco desse.
Surpreende que os fantasmas dessas imagens não assustam nossos sentidos: são sombras e insinuações de presenças, que aproveitam a duplicidade do mundo para revelá-las sem temor.
Surpreende porque os reflexos do mundo são sempre inusitados, são da ordem da surpresa; mas não assustam, porque, sobretudo, nessas imagens há vida, há movimento, há o cotidiano (do qual os tantos reflexos que a nossa visão enxerga, a nossa interpretação suprime), há o prazer em olhar e fotografar...
É para isso que essas fotografias convidam: ver, apenas, com um sentido sereno e divertido sobre as aparições da realidade...
Fotos de F. A. Vidal
Fotos de F. A. Vidal
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