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segunda-feira, 1 de março de 2010

Terremoto no Chile e a conexão com Pelotas

Ao meio-dia de hoje, o sítio da RBS Pelotas Mais informou da presença de pelotenses em Santiago do Chile, durante o terremoto de sábado (27). Eles são o doutor Waldemar Barboza e sua esposa Sônia, em férias até ontem, e forçados, desde hoje, a esperar um voo de saída do país. Como eu conheço o doutor e conheço o Chile, me pareceu necessário mencionar o fato, que simboliza a conexão destas duas realidades insulares: nossa cidade e o país andino.

Em entrevista pelo bate-papo eletrônico, o médico relata o momento terrorífico do tremor mais forte (o primeiro foi às 3h 26) e descreve a tensa calma que se vive no setor médio-alto de Providencia. Indiretamente ele comenta o que gostaria de ver no brasileiro, se aqui ocorressem situações assim. "...as pessoas formam filas enormes, mas mantendo sempre uma postura de cuidados e respeito com os outros. [...] Os comerciantes estão sendo muito éticos e não estão aumentando os preços de artigos de primeira necessidade, ao menos aqui onde estamos" (leia a nota).

O aeroporto internacional de Santiago está funcionando desde sábado às 14h, mas com restrições, devido aos danos. Os voos do exterior foram desviados ao norte do país, para o atendimento de alfândega, e logo os passageiros são trazidos a Santiago; os voos provenientes do sul foram suspensos. Durante a semana, espera-se recomeçar os serviços normais sob tendas do exército; o clima de verão é quente e com baixa umidade. Os primeiros voos para o exterior poderiam ser na sexta (5), de acordo ao vespertino La Segunda (leia).
Os chilenos estão acostumados a esperar catástrofes e a sofrer danos naturais, inverno ou verão, dia ou noite, mas tudo indica que esta situação é o mais grave que já se viu desde 1960. O terremoto foi minimizado por notas de imprensa, comparando-o ao de março de 1985, que teria sido mais forte, o que parece ter sido dito para não intranquilizar ainda mais a população.

Um sinal de que o tremor é importante são os cortes de luz, água e telefone. Os rádios de pilha passam a ser o contato com o mundo, no meio da angústia. Algumas estradas (foto abaixo, em Talcahuano) e um setor do porto de Valparaíso racharam e prédios residenciais desabaram - em maior medida que no terremoto anterior.
A cada 15 ou 20 anos ocorre um grande sismo (de mais de 6 na escala Richter), com um ou dois menores no meio do período. A força deste último equivale a uma energia que a terra estava guardando, pois há 25 anos que nenhum tinha ultrapassado o grau 6. Os dados oficiais de hoje (1) são de 723 mortos e mais de 500 feridos, segundo o jornal La Nación. O transporte público funciona normalmente desde hoje, não há desabastecimento na capital, mas todos os cinemas e teatros fecharam, ainda sem previsão de reabrir.

A engenharia chilena se encontra ao nível mais avançado no mundo das construções antissísmicas, e é por isso que os edifícios somente balançam mas não caem. As casas mais suscetíveis a danos são as que seguem o sistema colonial, à base de adobes (grandes ladrilhos de barro e palha). Com os tremores de terra, inerentes à natureza próxima aos Andes, as paredes de adobes das casas rurais se desmancham por completo, mas logo estes são reutilizados, a maioria em bom estado.
No entanto, numa cidade permanentemente exposta a sismos, os prédios são construídos com as devidas proteções, a tal ponto que as pessoas devem ser orientadas a proteger-se a si mesmas e não se preocupar com objetos físicos. Por exemplo, se alguém estivesse próximo à janela de um edifício alto, poderia ser projetado pela janela com as oscilações. Mas o edifício não cairia, pois sua estrutura é feita com metais flexíveis e resistentes.
Essa imagem pode ser uma metáfora do psiquismo do chileno, acostumado a duros golpes e programado para não quebrar, com defesas muitas vezes excessivas. Psicólogos aconselham as melhores medidas (leia nota do jornal El Mercurio). Em Pelotas não há terremotos, mas as inundações são nossa permanente ameaça, perigo que se agrava especialmente com a subida do nível dos oceanos.
Daqui a duas semanas assumirá o presidente eleito em janeiro, Sebastián Piñera, empresário de direita que se desligou gradualmente da ditadura pouco antes daquele terremoto de 1985. Até agora nenhum sinal foi dado de que a cerimônia venha a ser alterada ou adiada. Hillary Clinton, que está em Montevidéu para acompanhar a posse do novo presidente uruguaio, confirmou sua visita ao Chile.
Imagens La Segunda

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