O Anjo Negro (dir.) de Cláudia Oliveira da Rosa é um dos trabalhos que participa na atual mostra "Conexões", organizada pela SeCult nas três salas de exposição municipais: Inah Costa, Antônio Caringi e Frederico Trebbi. Os quadros de Cláudia encontram-se nesta última, no saguão da Prefeitura.
A Direção de Artes Visuais reuniu dez artistas não selecionados no edital de 2010, considerando que suas obras mereciam um destaque honroso, e a mostra coletiva foi aberta na segunda-feira (9). A exposição segue até 31 de agosto, das 8h às 14h na Prefeitura e de 11h a 17h no Casarão nº 2.
A pintura "Anjo Negro" descreve um menino caído à beira da praia, sendo atendido por um anjo (esq.; clique para ampliar). A julgar pela cor da pele, o anjo seria da mesma raça que o menino, mas outros traços - como o cabelo perfeitamente branco - destacam o lado espiritual por sobre a corporalidade.
Os anjos têm sido pintados com aparência humana e geralmente com detalhes raciais caucásicos, pelo etnocentrismo europeu (querendo sugerir que pessoas de outras raças não tivessem espiritualidade). Ainda vigente, essa descrição "branca" pretende a aproximação - por traços supostamente comuns - entre os anjos, seres espirituais, e os homens como seres biológicos.
Entretanto, o lado sobrenatural costuma ser apresentado pela ausência de sexo e por grandes asas avícolas (simplesmente sugestões de poder flutuar, sem ligação com a terra).
Congruente consigo mesma, a artista empresta ao anjo negro sua característica racial, mas - também reconhecendo sua própria espiritualidade - aproxima o menino e a entidade protetora usando a luz como dado visual, simbolizando a cura do psiquismo e a sanação do sofrimento.
Ao serviço da ideia sociopolítica implícita (não somente os de raça branca têm alma, mas cada ser humano tem seu espírito cuidador), a luminosidade está situada em dois focos: o mental humano, onde as mãos do anjo atuam, e o celestial natural, representado pelo luar e seu reflexo. A sutil e silenciosa relação das duas luzes revelam que o anjo - em última análise, o espírito humano - é representante divino para nosso bem, de acordo à origem da palavra (do grego angelos, mensageiro).
"Urbe" é outro trabalho de Cláudia na mesma exposição (dir.). Representa com traços simples, aparentemente inconclusos, edifícios amontoados numa cidade grande, onde não há caminhos, entradas nem saídas. Nem sequer uma pessoa viva.
Algumas linhas curvas e sem ordem, além do jogo de cores e do claro-escuro, são fatores de mistério e atração que fazem o espectador ficar olhando, interessado e desorientado, esse ambiente caótico que é, no fundo, sua própria cidade e, geralmente também, sua própria vida pessoal. Uma ousada reflexão sobre o urbanismo, do ponto de vista mais subjetivo, como uma tentativa de ordenar e embelezar o caos humano.
Imagens: F. A. Vidal
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