Casa nº 6, momentos antes da inaugurar-se a restauração |
O Casarão nº 6 foi construído em 1879 como a residência de Leopoldo Antunes Maciel (1849-1904), genro pelotense do Barão de Butuí (o português José Antônio Moreira, dono do Casarão nº 2). Veja a nota Os barões do charque.
Com 30 anos de idade, Maciel foi governante municipal (o que no sistema presidencialista chamamos de prefeito). Logo após, foi vice-governador do Rio Grande do Sul por um período (os chefes de províncias eram designados pelo Imperador). Com somente 34 anos receberia o título imperial de Barão de São Luís.
Como todo charqueador, este barão tinha escravos, mas os libertou antes da lei nacional de abolição da escravatura. Os porões desta casa eram as habitações desses escravos - inóspitas e indignas, verdadeiras prisões e lugar de sofrimento moral e físico.
O ambiente opressivo das senzalas - desconhecido pelos brancos de ontem e de hoje - contrasta com a amplidão e luxo do resto da casa, adornada com escaiolas, vidros decorados (esq.), esculturas, piso de madeira ou ladrilhos, estuques com desenhos no teto (dir.).
Quem veio conhecer o casarão não ocultava a forte impressão ao dar-se conta do contraste entre o mundo dos ricos e o dos ultramiseráveis, dentro da mesma casa, cuja construção foi desenhada para comportar essa convivência.
Para o observador do lado da rua, as janelinhas de arejamento, abaixo das sacadas (foto maior acima) emitem um hálito gelado e úmido. Como nestes casarões nunca houve luz elétrica, somente se via - de fora para dentro - a total escuridão.
Aspecto do porão aberto aos visitantes neste dia |
Grades impedem o trânsito de humanos nesse espaço, mas os visitantes puderam caminhar em parte do espaço, andando com muito cuidado, de cócoras ou dobrando as costas (dir.).
Maciel não foi o único abolicionista em Pelotas e os negros eram libertados por outros senhores, mas ao ser alforriados não tinham para onde ir, pois a sociedade não os incluía como cidadãos, realidade que ainda hoje o Brasil tenta remediar.
Aspecto do porão, visto da janela que dá para a Praça Coronel Pedro Osório |
POST DATA:
07-01-2013 Veja foto de Rejane Botelho, de uma parte do porão fechada a visitantes.
17-01-2013 Veja uma imagem mais artística, de Pamela Zechlinski, de um acesso à rua.
9-2-2014
A professora Nóris Leal, funcionária da UFPel no casarão 8, diz que o casarão 6 não teve senzalas e que se trata simplesmente de porões (comentário no álbum Princesa do Sul, do escritor Manoel Magalhães).
O casarão 06 não teve senzala, isto é uma lenda urbana!! Ele foi construido em 1879, portanto cinco anos antes da abolição dos escravos em Pelotas, e já eram usados em pequena escala nas casas da cidade pelo alto custo que era ter esta mão de obra. Além do mais o Barão de São Luiz era abolicionista. Os porões das casas 06 e 08 eram muito mais baixos do que são hoje pois nas diferentes intervenções eles foram sendo escavados, segundo os arqueologos não tinha como ficar em pé nestes locais.20-11-2014
Entrevistado pela reportagem do Diário Popular, o pesquisador Adão Fernando Monquelat afirma que os casarões que os fazendeiros possuíam na cidade não continham senzalas como as que havia nas charqueadas. Os escravos destes palacetes dormiam nos porões, que, após a abolição da escravatura seriam os "quartos dos empregados". Por outro lado, as verdadeiras senzalas, construções separadas das casas rurais dos senhores, tinham condições muito piores que estes porões, quanto a espaço e higiene. O seguinte parágrafo é transcrição da reportagem do Diário:
Os suntuosos casarões de Pelotas foram erguidos pelas mãos dos negros e nesses locais eram bem tratados, em relação aos demais, e dormiam no que eram chamados de quartos para escravos domésticos, os porões confundidos com senzalas. Monquelat esclarece que as senzalas eram muito piores do que se vê ao visitar os casarões do entorno da praça Coronel Pedro Osório.
Vidal, caro amigo, um post onde registras o belo e o humilhante. Acima, espaço reservado à moradia dos ilustres pelotenses de antanho, o céu... Abaixo, no porão, espaço reservado aos escravos, o inferno. Trata-se de uma crônica tratando de beleza e horror. Seguramente um dos melhores textos que li este ano acerca da história de Pelotas.
ResponderExcluirConcordo com Magalhães, que recentemente expôs seus belos naifs no Corredor Arte da FAU, cujo tema principal é a opulência de Pelotas e a escravatura. Contar com artista deste gabarito em Pelotas, o qual faz leituras necessárias para a compreensão de nossa história é muio bom e salutar. Senhor Vidal, seu post é muito bom e oportuno. Parabéns.
ResponderExcluirLetícia Vargas
Foi a visita que me deixou essa forte impressão, como a de um psicanalista que descobre o lado oculto de um personagem público.
ResponderExcluirO casarão restaurado conserva a realidade de um século atrás. Mas esta nota tenta marcar mais o lado terrível do que o belo (a beleza ficou destacada no post anterior, sobre a inauguração).
Hoje o site da RBS reproduziu este mesmo post, de modo mais imparcial, equilibrando com as fotos esses opostos.
http://wp.clicrbs.com.br/pelotas/2010/11/05/um-regalo-aos-olhos-e-a-cultura/
Já o Amigos postou uma grandiosa foto e analisou o caso da restauração com olhos de desprezo político, como dizendo "odeio muito tudo isso".
http://www.amigosdepelotas.com/2010/11/recuperacao-de-predio-historico-por-ora.html
E acrescentou depois, autocomentando-se - não sem razão, mas com distância afetiva:
Verdades pelotenses.
O poder público em Pelotas mostra grande apetite por conseguir recursos para restaurar casarões antigos e reinaugurá-los. A mesma gana não se vê na hora de atrair investidores externos e inaugurar novos negócios. Temos os olhos ainda fortemente postados no passado, não no futuro.
Quem gosta de futuro que o faça. Mas precisará reconhecer e incluir o passado e os aspectos mais desprezíveis do presente.
Vidal: Realmente os locais reservados aos escravos, fazem parte de um momento, de uma cultura que era por demais forte em seu tempo. Este trabalho agradou-me muito. Parabéns.
ResponderExcluirRubens Amador
Um ano depois (27-10-11), foi descerrada neste casarão uma placa de homenagem ao Barão de São Luís, Leopoldo Antunes Maciel. Depois dele, a propriedade passou a sua filha Otília, ao neto Carlos Martins Antunes Maciel, e em 2007 passou a pertencer à cidade de Pelotas (a informação está no Diário Popular desse dia).
ResponderExcluirEstiveram presentes os bisnetos do barão (Isaura Maria, Carlos Antônio e José Antônio Antunes Maciel), que residiram nesta casa há muito tempo.
Tudo virou ruínas , Jesus é mais.
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