Na foto acima, tomada no Bistrô da SECULT, o poema "Caos" (clique nas imagens para ampliar), com o pátio do Casarão ao fundo. No desenho de Élbio Porcellis (1996), uma mulher nua se desfaz ante um relógio derretido: o tempo inclemente decepcionou as expectativas de um amor eterno. Mas a vida continua, com sua dureza e impiedade.
Os dois textos seguintes parecem contradizer-se, mas se referem a dois sentidos de uma palavra. O jogo verbal é válido para esclarecer falhas de nosso desenvolvimento como pessoas e como cidade (seja o crescimento ocorrido no passado ou o possível no futuro).
Ora somos cegos ante o próprio Eu espiritual (chave de tudo e caminho para a divindade), ora enxergamos nada mais que o Eu narcísico (por contraste com os demais seres humanos à nossa volta).
Somos a chave de tudo... ou não?
Este, chora o amor que perdeu.
Esse, o amor que não viveu...
Aquele, lamenta tudo o que não creu...
Estamos sempre a mendigar de Deus,
a pedir a Deus,
a esperar de Deus...
Só não olhamos o próprio eu.
Chave.
Dos Pronomes Pessoais
Eu
Tu
Ele
Nós
Vós
Eles
Tão simples e completo.
No entanto, ainda não passou de analfabeto
o ser humano: está ainda no "eu".
Vê pouco? Ouve mal?
Tem atrofiado o cérebro?
Ou está desregulado?
O que realmente aconteceu
para que o Homem, até hoje,
não conseguisse enxergar nada além do eu?
Desta atrofia é direta consequência
o mundo e sua violência.
Os poemas ficam expostos até 30 de julho. A inauguração foi comentada por outro escritor gaúcho, também radicado em Pelotas, o Professor Jandir Zanotelli. Leia abaixo um extrato de seu artigo, publicado no Diário da Manhã de segunda-feira (16).
Palavras Gagas
Noite fria. Chuva fina. Minuano. Inclemente. Mas lá estavam os amigos de Loiva, colegas, familiares e a Academia Sul-Brasileira de Letras: a presidente Maria Beatriz Mecking, a secretária Wilma Mello Cavalheiro, a tesoureira Marísia de Jesus Vieira e a presença marcante de Lígia Antunes. Dentro da briga por sua saúde, esta lutadora incansável e querida deu àquela festa o tom da profundidade literária e de amizade bem merecidas por Loiva.
De parabéns Loiva. De parabéns Pelotas. De parabéns a literatura costurada com nossas palavras gagas. A palavra do homem, a poesia do homem é sempre gaga, recordando a bela imagem de Moisés. Nunca sai limpa, pronta, acabada, nunca definitiva, absoluta, total. É sempre insuficiente para dar conta do sentido da vida e das coisas. Apenas prenúncio. Sempre ensaio, tentativa e tentação.
A narração da história de Pelotas, em seus duzentos anos, também é gaga. Que bom! Há espaços para múltiplas vozes, múltiplas escutas que nascem do silêncio de nosso deserto e da sarça que arde em seu seio sem jamais se confundir. Convocação, apelo, promessa, esperança para construir um novo mundo.
Jandir Zanotelli
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