Estação Central do Brasil em construção, Rio de Janeiro, cerca de 1940 |
VII Na Central do Brasil
Apeou do táxi e praticamente correu até a entrada da Estação Central do Brasil. Dirigiu-se ao guichet de informações e perguntou ansioso:
— Com quem se fala para poder-se procurar um documento perdido dentro de um trem?
— Quando o perdeu? — perguntou o funcionário, displicentemente. E completou: — Se faz mais de vinte e quatro horas é remota a possibilidade de reencontrar algo devido a limpeza ser feita com potentes aspiradores, a cada dia.
— Fazem umas sete ou oito horas apenas — respondeu o agoniado interpelante, tentando recuperar a serenidade.
— Procure o senhor Leandro, no primeiro andar. Ele poderá autorizá-lo, talvez. Agora, tem uma coisa — falou o servidor da rede ferroviária —, uma vez autorizado só poderá proceder à busca entre uma e meia, e duas e meia da madrugada, intervalo em que se processa a limpeza.
— Obrigado, vou até o senhor Leandro. Muito obrigado — repetiu, agora esperançoso mais do que nunca. Afinal tudo parecia que iria dar certo.
Na antessala do gabinete foi convidado a sentar-se e aguardar a chamada de seu nome, o que se deu quinze minutos mais tarde.
Chamado, entrou apressado, sendo convidado pelo graduado funcionário a sentar-se, num gesto de mão.
Frente a frente ao Chefe de Linhas, expôs o que o levara lá. O senhor Leandro não era o tipo que se poderia chamar de prestativo e cooperador. Tentou obstar a busca colocando mil e um empecilhos; como que à hora que seria possível efetuar a procura ele não poderia destacar um funcionário só para acompanhá-lo, e outros óbices desse jaez.
Saguão da Central do Brasil, dias atuais |
— Se o senhor não me pode autorizar, irei ter com o Coronel Napoleão de Alencastro Guimarães (então diretor da Central do Brasil).
Como num passe de mágica, as coisas imediatamente se tornaram fáceis.
— Não será preciso falar com o Coronel. Vou dar-lhe um passe e uma autorização para que proceda à busca junto com nosso pessoal da limpeza. Mas, por favor, o senhor terá de estar na plataforma a partir dos trinta minutos desta madrugada ater a chegada do carro. — E confirmou: — Carro 888, linha de Vassouras, pois não?
Nosso herói concordou, agradeceu e saiu, procurando aparentar digna superioridade, encenação que, sabia, agradava sempre aos homens de caráter subserviente. Pessoa competente e precavida, o destinatário daquela malfadada carta-bilhete, agora buscada.
A meia-noite estava chegando na plataforma da Central. Imediatamente se identificou junto ao setor de limpeza, com a credencial e autorização que trazia.
Continua amanhã (v. parte VIII).
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