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segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Ensaio aberto da OSPA, com pouco público

Emmanuele Baldini ensaia Piazzolla com a OSPA.
O ensaio da OSPA, aberto ao público, foi a primeira atividade do 3º Festival SESC de Música, ainda que sem as formalidades de um concerto noturno. Das cinco às sete da tarde, no Teatro Guarani, o regente Evandro Matté e os músicos que atuaram no concerto de abertura afinaram detalhes do programa desta noite (14).

O concerto que abre o Festival está a cargo da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, que tocará duas obras de Beethoven (Abertura Coriolano opus 62 e Sétima Sinfonia opus 92) e "Quatro Estações Portenhas", para violino e orquestra, de Astor Piazzolla. O solista é o italiano Emmanuele Baldini (v. minibiografia), que atualmente faz parte da OSESP, na função de spalla (chefe dos primeiros violinos).

Mesmo com reduzido público, Evandro Matté pediu um microfone para ser ouvido e dar pequenas explicações sobre o programa, sem se referir aos aspectos propriamente musicais das obras. Ciente de que o público de um ensaio aberto tem maior conhecimento e maior interesse musical que o que vai aos concertos formais, o regente teve este gesto como uma especial gentileza aos presentes.

O Secretário desfrutou o ensaio completo em primeira fila.
Num breve comentário, Matté agradeceu a presença do Secretário de Estado da Cultura, Luís Antônio de Assis Brasil (dir.), que veio oficialmente a Pelotas para assistir à abertura do Festival (veja nota).

O Secretário foi um espectador modelo, quanto ao interesse e à educação: ficou o mais perto possível do palco, esteve do começo ao fim, não gerou ruídos ou distrações para o resto (como levantar-se, conversar, comer ou beber), sinais de que estava entendendo e gostando do ensaio.

A primeira obra a ser preparada foi a que finalizaria o programa, com o solista Emmanuele Baldini. As Estações Portenhas foram compostas por Piazzolla separadamente, de 1965 a 1970, para seu quinteto (bandoneón e cordas). O arranjo que aqui se preparou, para violino e orquestra, foi feito após a morte do argentino, por um compositor russo que buscou remarcar as ligações com a obra de Vivaldi, como se Piazzolla tivesse reescrito a seu modo as famosas Quatro Estações do barroco. Após algumas correções feitas pelo regente, o solista se retirou e a orquestra revisou as outras duas obras.

Houve provas de som e luz, com o programa em dois telões.
A assistência a este ensaio foi bem menor do que se esperaria, considerando o alto interesse do Festival e do concerto de abertura: pouco menos de uma centena de pessoas (menos de 10% da lotação do Teatro Guarani).

Dois fatores, em ação conjunta, aumentam o público de um ensaio aberto: a qualidade da música e a capacidade auditiva dos espectadores. Quanto melhor a orquestra, mais se aproxima o ensaio à sonoridade definitiva do show, e isto atrai mais apreciadores da música de alta qualidade. A OSPA é um bom conjunto no contexto brasileiro, mas em Pelotas os ouvidos que podem distinguir e desfrutar dessa qualidade sonora parecem não ser mais que uma centena, hoje (abaixo).

Um ensaio aberto é uma ocasião para aprender detalhes sobre a música e sobre os intérpretes, mesmo que se presenciem pequenas interrupções ou repetições. O regente fala aos músicos, e os técnicos fazem seu trabalho ao mesmo tempo, caminhando ou testando luzes. Todos eles usam roupas informais, mas mantêm a concentração no trabalho. O público pode entrar e sair, mas, como o interesse é alto, quase ninguém o faz. Não é necessário aplaudir, mas quando as coisas saem bem, a plateia mostra seu reconhecimento.

Muito poucos quiseram comparar o ensaio com o concerto.
O concerto de abertura esgotou entradas uma semana antes, deixando de fora muitas pessoas interessadas, que esta noite não foram ao Guarani tentar uma vaga de última hora. Curiosamente, isto deixou o teatro com algumas cadeiras vazias.

A organização do SESC deveria considerar que uma proporção de pessoas que compra entradas (inclusive em concertos caros) não vai ao teatro, por diversos motivos (às vezes, baixo interesse pela música). Qual essa proporção em Pelotas?

O respeito máximo deveria ser dado, como fez o regente neste ensaio, a quem realmente aprecia a qualidade do espetáculo, por exemplo:
  • permitindo espectadores de pé, 
  • colocando um ou dois telões fora da sala,
  • abrindo a geral do teatro, espaço acima dos camarotes, que foi fechado há uns 50 anos,
  • advertindo sobre a possibilidade de vagas de última hora. 
Se o interesse pelos concertos no Guarani for realmente tão alto, não se explica tão pouca gente no ensaio aberto nem se pode deixar de lotar o teatro sob o pretexto de cumprir regulamentos cujo fim é melhorar o atendimento ao público. Se somente se conta com 1200 cadeiras, a organização deve entregar pelo menos 1400 convites e não desestimular a entrada de mais pessoas.

Por outro lado, o Festival SESC merece uma sala com boa ventilação e cadeiras cômodas e silenciosas, para que o evento siga melhorando e atraindo visitantes. Com o tempo, o concerto de abertura e o de fechamento teriam que ser feitos num espaço para mais de 2 mil pessoas e de boa acústica. Assim, ou o Guarani melhora sua estrutura (e o SESC facilita a entrada do público) ou ficará somente para os concertos dos grupos acadêmicos.
Fotos: F. A. Vidal

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