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quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Recuperada antiga sede do Jockey Club

Construído estimativamente na década de 1830, o palacete situado na Sete de Setembro com Félix da Cunha foi propriedade de Domingos de Castro Antiqueira (1774-1852), o Visconde de Jaguari, e ali residiu seu neto, Domingos Soares de Paiva (n. cerca de 1834, m. 1900). 

O Visconde morava no casarão da esquina em diagonal (hoje sede do SANEP), onde se diz que Dom Pedro II teria pernoitado em 1846 (v. referência). Segundo o artigo de Rodrigues e Santos (UFPel, 2011), que abunda em referências históricas e arquitetônicas sobre a casa do neto do Viscondeo Imperador teria ficado neste casarão, certamente de construção posterior.

O Visconde de Jaguari fez  (ou deixou) a casa para seu neto. 
Desde 1948, este prédio serviu de sede social ao Jockey Club de Pelotas, que passou a alugá-lo para cobrir dívidas, até a sua venda em leilão, em 2003. Nos anos 60, foi alugado por partes, para cobrir dívidas do clube. Em 2003, foi comprado por Dario Lorenzi, que o reformou, mantendo traços da construção original. O térreo foi destinado ao Cartório Lorenzi, inaugurado em dezembro de 2012.

Leia a seguir reportagem de Júlia Otero, publicada ontem (9) no sítio de Zero Hora (v. texto completo). 


O prédio foi o primeiro em Pelotas a ser parcialmente financiado com recursos privados pelo Projeto Monumenta, que recupera fachadas e coberturas. Hoje ali funcionam o 4º Tabelionato de Pelotas, reinaugurado no final de 2012, e uma casa de festas com lugar para 300 pessoas.

A recuperação do edifício trouxe à tona outros detalhes esquecidos — ou criados — pelo passar do tempo. Um deles é que Dom Pedro II teria passado uma noite na casa quando o local pertencia a uma família nobre da região.

Dejane e Dario Lorenzi, artista e tabelião
Com 870 metros quadrados, o prédio foi erguido em meados de 1830 e, em 1948, vendido ao Jockey Club. "Era a sede social, fazíamos festas de eleições do clube, os associados podiam franquear o local para eventos particulares", lembra Jarbas Plinio de Mello, que trabalhou por mais de 30 anos no Jockey Club.

No entanto, dívidas forçaram a instituição a alugar espaços do prédio. "Tinha uma barbearia, boate, restaurante, bar e até jogatina nos fundos", lembra Dejane Lorenzi, artista plástica que acompanhou a restauração.

Pelo fato de ter abrigado diferentes estabelecimentos comerciais, a casa sofreu diversas intervenções. "Na construção original, não tinha churrasqueira, mas como foi alugado para um restaurante, no andar térreo havia mesas e churrasqueiras que tivemos de remover", recorda Rudelger Leitzke, arquiteto responsável pelo projeto.

Restaurante Diehl alugou o piso superior
"Queríamos deixar o corrimão da escada apenas de madeira, da forma original. Raspamos e tinha mais de 10 cores ali: azul, rosa, amarelo e por aí vai", conta Dejane, que exibe uma foto da fachada do prédio, também colorida (dir.).

Há 10 anos, o Ministério Público entrou com uma ação para demolir o imóvel, em razão de problemas na estrutura. "Fizemos um laudo dizendo que o prédio poderia ser recuperado, barrando a intenção do Ministério Público", lembra o professor de arquitetura e urbanismo da UFPel, Sylvio Jantzen.

Por conta de dívidas, em 2003, a casa foi a leilão. E o tabelião Dario Lorenzi vislumbrou a oportunidade de adquirir um prédio próprio. Na época, o Projeto Monumenta, de caráter nacional, escolhia em conjunto com a prefeitura projetos de restauração privados. "Depois de comprar a casa, consegui um financiamento de R$ 370 mil para restauro da fachada e da cobertura, que parcelei em 10 anos. O restante da reforma, tirei das minhas economias", calcula Lorenzi, que não sabe precisar o valor total da obra.

Vitral do piso superior foi preservado
Considerado patrimônio histórico da cidade, o prédio não foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Por isso, foi possível fazer modificações nas áreas internas.

As salas brancas estão bem equipadas: com internet, ar condicionado, parte do arquivo computadorizado e salas individualizadas. A lembrança do passado está espalhada no imóvel: na fechadura, na porta, nas janelas, na parede, no vitral do salão de festa e em toda arquitetura externa.

As grandes portas originais de madeira são abertas todas as manhãs, mas, para manter o interior do prédio climatizado, há portas automáticas de vidro que funcionam com sensores. Dentro, a sala principal conta com atendimento em guichês, separados por madeiras de reconstrução da própria obra mesclados com materiais atuais. Os funcionários atendem de branco, combinando com as paredes e a decoração em madeira e tonalidades claras.

O segundo andar é dividido entre quatro salões, compostos por mesas e cadeiras e com janelas grandes em cada compartimento. Os móveis também são antigos, que contrastam com os banheiros, de arquitetura moderna, com pias ovuladas e torneiras finas.
Júlia Otero
Recursos privados e do governo federal permitiram recuperar o palacete de um charqueador.
Fotos de Marcel Ávila

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