Simone X. Moreira |
Agora que ela conclui seu mestrado na FURG, o tema segue aprofundando em Pelotas: A formação da Princesa do Sul: primórdios culturais e literários. A defesa é às 14h desta quarta (20), na sala 3106 do Campus Carreiros (Avenida Itália, km 8).
Seu grande mérito como pesquisadora científica é a consulta em fontes primárias, ou seja, documentos de época que revelam dados diretos (não de outros pesquisadores) sobre a realidade estudada: as origens literárias de Pelotas na primeira metade do século XIX. Seu orientador de mestrado, o professor Dr. Artur Emílio Alarcon Vaz destacou a importância desta pesquisa em 4 pontos, destacados abaixo.
Almanaque registra dados tradicionais, baseados em Simões Lopes Neto. |
Dissertação modifica dados sobre a história da cultura em Pelotas
A mestranda do PPG “História da Literatura” Simone Xavier Moreira obteve acesso a diversas fontes primárias sobre os primeiros passos da cultura em Pelotas, modificando alguns dados que se tinha sobre essa cidade.
O trabalho de Simone é um dos resultados parciais do projeto "Formação e consolidação do sistema literário no extremo sul brasileiro", coordenado pelos professores Artur Emilio Alarcon Vaz e Mauro Nicola Póvoas, ambos da FURG. A pesquisa analisava o processo pelo qual se formou e consolidou o sistema literário da cidade de Pelotas. Para tanto, foram verificados os primórdios da leitura e produção cultural e literária da região.
1 Sobre a expressão “Princesa do Sul”
Tradicionalmente, o cognome atribuído à cidade pelotense era atribuído a um poema de 1863. Embora Mário Osório Magalhães já indicasse que tal expressão seria de uso comum e que o poema deveria ser somente o primeiro registro escrito [v. artigo de 2006 no Diário Popular], tal versão não havia sido confirmada.
Outro pesquisador, Adão Fernando Monquelat, igualmente já advertia que a expressão usada no poema citado era "princesa dos campos do sul". Com o acesso ao acervo da Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro), a pesquisadora obteve um exemplar do jornal pelotense O Brado do Sul, de 6 de janeiro de 1860, em que já se usava a expressão “Princesa do Sul” para a cidade de Pelotas.
2 Acesso direto a dois livros antigos pouco citados por pesquisadores locais
- Exposição dos elementos d'arithmetica para o uso dos estudantes do collegio de Santa Barbara na cidade de Pelotas, de Antônio Luís Soares (1805-1875), publicado em 1848. Trata-se de um manual didático cujo único exemplar encontrado em bibliotecas brasileiras está no acervo na Biblioteca Rio-Grandense (Rio Grande, RS).
O achado antecipa duas datas consideradas marcos históricos por outros pesquisadores: a da publicação do jornal O Pelotense em 1851, tida como o início da imprensa pelotense, e a do “mais antigo livro editado em Pelotas”, o Resumo da história universal, em 1856 [v. citação de 2010 por Mário O. Magalhães].
Embora outros pesquisadores já tivessem citado a existência deste livro de Antônio Luís Soares, ainda não se haviam obtido dados biográficos sobre o autor.
- A dama de Veneza, de Carlos de Koseritz [1830-1890], publicação de 1858. Novela curta de menos de cem páginas, deve ser considerado o primeiro romance publicado em Pelotas.
A véspera da batalha, outra novela de Koseritz, também foi publicada em 1858, mas não se conhece nenhum exemplar em bibliotecas públicas brasileiras ou estrangeiras. Assim como o livro didático de 1848, citado acima, A dama de Veneza já havia sido citada e analisada no livro Breviário da prosa romanesca em Pelotas, de Luís Borges (2007), que, porém, não marca o ineditismo dessa obra.3 Poema de um pelotense em 1834
Um outro marco do trabalho de Simone Moreira é a divulgação dos poemas de Mateus Gomes Viana (1809-1839), provavelmente o primeiro pelotense a publicar seus poemas, ainda na década de 1830, no jornal rio-grandino O Noticiador, como o publicado em 15 de dezembro de 1834, em comemoração ao aniversário de D. Pedro II.
4 Documentos prévios ao surgimento da imprensa
Por fim, destaca-se a consulta aos inventários – a partir do Perfil do leitor colonial, de Jorge de Araújo (1999) – de alguns moradores de Pelotas também nessa primeira metade do século XIX, antes do advento da imprensa. Nesse material, poucas obras podem ser consideradas literárias, revelando um leitor muito mais preocupado com os acontecimentos políticos e sociais, do que direcionado a leitura como lazer.
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