Em fins do século passado, o antigo candidato a presidente Enéas Carneiro (1938-2007) desfazia das motivações dos políticos (vídeo abaixo), enquanto os jornalistas tentavam fazê-lo retratar-se de sua exigente postura ética. Hoje em dia, já é difícil lembrar o que seja a prática dos bons valores na política, na educação e na convivência.
Há precisamente dez anos, a ponto de realizar-se uma eleição municipal em todo o Brasil, o professor e artista Luiz Vasconcellos publicou o artigo "Pouca ou muita vergonha?", questionando o perfil de capacidades dos candidatos à Câmara de Pelotas e propondo uma melhor forma de selecioná-los. O mesmo poderia aplicar-se ao resto do Brasil.
Pouco antes da eleição municipal seguinte (2008), o jornalista Eduardo Lima Silva voltou ao tema da formação dos políticos, destacando que 30% de nossos candidatos somente "lê e escreve", quando se define seu nível educacional. Confira abaixo as reflexões.
Tenho alguma experiência em avaliação de cursos profissionalizantes: perfil de conclusão, postos de trabalho, estrutura curricular, conteúdos, competências e habilidades. Esta eleição [municipal] me fez pensar na qualificação profissional de um vereador... quais são os conhecimentos e aptidões que alguém, que quer representar e atuar em favor de sua comunidade, deve possuir?
Sem preconceitos com meus concidadãos, questiono de forma veemente as nominatas que as coligações nos apresentam. "Vergonha" é um termo brando, esquálido e singelo para o que se tem visto e ouvido.
Culpo os partidos e seus caciques locais, que usam de um expediente espúrio para aumentar os votos na legenda. Permitem que pessoas sem a menor condição de representar o povo de maneira digna e competente, subam ao palanque da tevê para dizer absurdos, falar do que não conhecem, prometer o que não podem.
Cabos eleitorais se submetem ingenuamente à chacota de seus amigos e vizinhos. Alguns sabem que não têm chance de se eleger, mas ficam na esperança da participação futura em alguma "boquinha", perpetuando uma das mais nocivas práticas politiqueiras.
Infelizmente, este tipo de procedimento está arraigado em nossa cultura política, desmotivando os jovens e aqueles que sonham com um futuro melhor para sua cidade. Vamos denunciar e exigir mudanças nesta forma desonesta de se tratar a política.
Há precisamente dez anos, a ponto de realizar-se uma eleição municipal em todo o Brasil, o professor e artista Luiz Vasconcellos publicou o artigo "Pouca ou muita vergonha?", questionando o perfil de capacidades dos candidatos à Câmara de Pelotas e propondo uma melhor forma de selecioná-los. O mesmo poderia aplicar-se ao resto do Brasil.
Pouco antes da eleição municipal seguinte (2008), o jornalista Eduardo Lima Silva voltou ao tema da formação dos políticos, destacando que 30% de nossos candidatos somente "lê e escreve", quando se define seu nível educacional. Confira abaixo as reflexões.
Pouca ou muita vergonha?
Tenho alguma experiência em avaliação de cursos profissionalizantes: perfil de conclusão, postos de trabalho, estrutura curricular, conteúdos, competências e habilidades. Esta eleição [municipal] me fez pensar na qualificação profissional de um vereador... quais são os conhecimentos e aptidões que alguém, que quer representar e atuar em favor de sua comunidade, deve possuir?
- Letras
Com certeza conhecimentos aprofundados de português, gramática e literatura para se expressar de forma correta e poder redigir projetos e proposições. Saber de constituição, legislação, código civil, alçadas e responsabilidade de cada poder é pressuposto óbvio. - Números
Noções básicas de matemática aplicada para entender de orçamentos, licitações e destinação de dinheiro público, são também bastante importantes. - Valores
Ética, moral e consciência cidadã deveriam ser estudadas e debatidas, para se ter uma atitude condizente com a postura de agente popular. - História
Uma disciplina fundamental seria história da política, mundial, nacional e local, para uma visão ampliada e referenciada do trabalho a ser feito. - Mentalidade
Psicologia aplicada ajudaria a entender os anseios de seus eleitores e poder tratá-los de forma profissional e dedicada e sem aquele falso paternalismo tão comum. - Atualidade
No mínimo, aquela cultura básica de ler livros e jornais e saber discutir assuntos de forma consciente e bem posicionada.
Sem preconceitos com meus concidadãos, questiono de forma veemente as nominatas que as coligações nos apresentam. "Vergonha" é um termo brando, esquálido e singelo para o que se tem visto e ouvido.
Culpo os partidos e seus caciques locais, que usam de um expediente espúrio para aumentar os votos na legenda. Permitem que pessoas sem a menor condição de representar o povo de maneira digna e competente, subam ao palanque da tevê para dizer absurdos, falar do que não conhecem, prometer o que não podem.
Cabos eleitorais se submetem ingenuamente à chacota de seus amigos e vizinhos. Alguns sabem que não têm chance de se eleger, mas ficam na esperança da participação futura em alguma "boquinha", perpetuando uma das mais nocivas práticas politiqueiras.
Infelizmente, este tipo de procedimento está arraigado em nossa cultura política, desmotivando os jovens e aqueles que sonham com um futuro melhor para sua cidade. Vamos denunciar e exigir mudanças nesta forma desonesta de se tratar a política.
Luiz "Minduim" Vasconcellos
Diário Popular, 30-09-2004
Diário Popular, 30-09-2004
Uns às urnas, outros às aulas
Os analfabetos nunca tiveram chance de voltar à escola.
Essa frase circula pela rede mundial de computadores entre as chamadas “pérolas de vestibulares” – respostas engraçadas ou sem lógica. Contudo, o indeferimento por analfabetismo de algumas candidaturas no atual processo eleitoral concedeu algum sentido a essa sentença. É o caso que envolve seis pretendentes ao cargo de vereador em municípios da Comarca de Taquari e outros sete no Estado, que aguardam julgamento do Tribunal Regional Eleitoral gaúcho.
A epígrafe adquire força porque o posicionamento do Judiciário significa a oportunidade de que esses cidadãos retornem às aulas. Ao invés de seguir o caminho das urnas, que pode levar à Câmara de Vereadores, nos próximos quatro anos eles terão a chance de voltar para a escola. E vão precisar.
O teste de alfabetização no qual foram reprovados consistia em dois ditados, um com seis tópicos e outro com o trecho de uma crônica. Além disso, os candidatos deveriam preencher seus dados pessoais como nome, data de nascimento e profissão. Ou seja, precisavam dar uma pequena prova que sabiam escrever. Mas não conseguiram.
O número de analfabetos flagrados entre os registros de candidaturas é ínfimo. Porém, o que deveria causar mais preocupação são os 6.644 disputantes cujo grau de instrução se resume a ler e escrever. Eles representam quase 30% do total no Rio Grande do Sul. Em princípio, todos habilitados a passar em um teste primário de escrita, mas talvez incapazes de exercer uma das principais atividades legislativas: representar a população na avaliação de projetos de lei.
Para tanto, mais do que ter a aptidão para enfrentar um ditado, é preciso ser capaz de compreender um texto escrito. Caso contrário, se está sujeito a decidir sobre o que não entende ou ser manipulado por interpretações de terceiros.
Em uma reforma política séria, critérios que definam melhor a forma de verificar o grau de instrução dos candidatos deveriam ser estabelecidos. Sugere-se lembrar o que dizia Mario Quintana: "Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem". Incluem-se aí também os que não entendem o que leem.
Discriminação? Não. Sempre será uma oportunidade para eles irem à escola.
A epígrafe adquire força porque o posicionamento do Judiciário significa a oportunidade de que esses cidadãos retornem às aulas. Ao invés de seguir o caminho das urnas, que pode levar à Câmara de Vereadores, nos próximos quatro anos eles terão a chance de voltar para a escola. E vão precisar.
O teste de alfabetização no qual foram reprovados consistia em dois ditados, um com seis tópicos e outro com o trecho de uma crônica. Além disso, os candidatos deveriam preencher seus dados pessoais como nome, data de nascimento e profissão. Ou seja, precisavam dar uma pequena prova que sabiam escrever. Mas não conseguiram.
O número de analfabetos flagrados entre os registros de candidaturas é ínfimo. Porém, o que deveria causar mais preocupação são os 6.644 disputantes cujo grau de instrução se resume a ler e escrever. Eles representam quase 30% do total no Rio Grande do Sul. Em princípio, todos habilitados a passar em um teste primário de escrita, mas talvez incapazes de exercer uma das principais atividades legislativas: representar a população na avaliação de projetos de lei.
Para tanto, mais do que ter a aptidão para enfrentar um ditado, é preciso ser capaz de compreender um texto escrito. Caso contrário, se está sujeito a decidir sobre o que não entende ou ser manipulado por interpretações de terceiros.
Em uma reforma política séria, critérios que definam melhor a forma de verificar o grau de instrução dos candidatos deveriam ser estabelecidos. Sugere-se lembrar o que dizia Mario Quintana: "Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem". Incluem-se aí também os que não entendem o que leem.
Discriminação? Não. Sempre será uma oportunidade para eles irem à escola.
Imagem: Facebook
O oportunismo e a venalidade na prática política é em nível mundial! Sempre endossadas pela ignorância, fanatismo e oportunismo de quem vota.
ResponderExcluirEssa é a dura realidade. Todos sabemos o que os OUTROS devem fazer, mas, não fazemos a nossa parte. A postura ética inicia-se dentro de cada um de nós.
Ótima essa reportagem. Prof.ª Loiva Hartmann