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sábado, 22 de novembro de 2014

Show da Paz (2003): Gilberto Gil na ONU

Em 19 de setembro de 2003, o então Ministro da Cultura do Brasil, Gilberto Gil, mundialmente famoso como cantor e compositor popular, apresentou-se no Salão da Assembleia Geral da ONU, em show de homenagem à memória de 22 funcionários mortos 30 dias antes (em 19 de agosto em ataque à unidade da ONU em Bagdá, Iraque) e para assinalar o Dia Internacional da Paz (21 de setembro). Um dos mortos fora o diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello (1948-2003). 

Esta foi a resposta pacifista do Brasil ao terrorismo. Que os músicos ajudem a humanidade a dialogar, neste 22 de novembro, Dia da Música.

Assista à música final, "Toda menina baiana", em que o Secretário-Geral da ONU Kofi Annan acompanha Gilberto Gil (vídeo abaixo, 5 min), leia o artigo que nosso cronista Rubens Amador publicou na época, e veja o show completo no vídeo seguinte (58 min).




Samba na ONU

O brasileiro Gilberto Gil, nosso ministro da Cultura, de repente transformou o plenário da austera ONU (Organização das Nações Unidas) em uma roda de samba de alto gabarito. Fiquei de queixo caído vendo o senhor Khoffi Annan, presidente da casa, agarrado a um atabaque, marcando o ritmo com maestria. Aliás, em matéria de ritmo corporal, outro notável é o bispo Desmond Tutu, da África do Sul, quando de suas aparições públicas.

Então lembramos o belo exemplo da música americana que foi enriquecida pelo gospel, gênero de canção nostálgica, que só os negros americanos sabem cantar com emoção - os blues - durante seus cultos religiosos no Harlem. Dali saíram grandes nomes como Ella Fitzgerald, Ray Charles, Stevie Wonder, Paul Robson, Billie Holliday e muitos outros que ainda hoje encantam com seu modo peculiar de interpretar. Gil, herdeiro direto desse sangue africano, também acabou chegando a todos nós em porções de farmácia, mas chegou, dando-nos a melancolia, a alegria, a tristeza, o estoicismo e uma certa nostalgia.

A música é linguagem transcultural.
A violência é um ato psicótico.
Ainda estou admirado com a inusitada cena apresentada no egrégio recinto das Nações Unidas: de repente; como num filme musical norte-americano, o Gil ministro inova, naquele templo mundial dos destinos do mundo, criando um espetáculo pop. O Brasil, naquele momento assumia a sua identidade e deixava abestalhados aos demais representantes, árabes, anglo-saxões, orientais, sérvios, judaicos, eslavos entre outros.

Embora a diversidade de sangue, eles não deixaram de acompanhar os compassos incrementados da música brasileira naquele palco maior, marcando o ritmo com o pé ou com os dedos, a tamborilar discretamente, mas de forma insopitável. Quem sabe não estaríamos, naquele momento, ensinando o caminho da roça a todos os povos do mundo.

Com um pouco de balanço é possível descontrair, desestressar e até baixar um pouco a tensão gerada pelos problemas internacionais. A magia daqueles sons cheios de ginga mostrou que todas as etnias podem balançar juntas, solidárias, em uma dança única, aproximando-as com descontração de forma saudável e alegre.

Por que não darem as mãos e erguerem os pés à moda eslava, sob a regência de Terpsícore? Já hoje parece não pairar dúvidas que nossos recuados ancestrais negros, segundo estudos antropológicos, têm origem no mais antigo continente: a África Negra, dona desse balanço que predomina, sobretudo, nas Américas do Sul e do Norte.

Oxalá se consiga contaminar também, com nosso ritmo, o sisudo "coro" do FMI, para se poder aspirar coisas positivas para um futuro próximo em favor do Brasil e outras nações.

Rubens Amador


Programa Filhos de Gandhi (G. Gil), Aquarela do Brasil (Ary Barroso), Não chore mais (No woman no cry) (G. Gil, Vincent Ford), Touche pas à mon pote (G. Gil), Imagine (J. Lennon), La lune de gorée (G. Gil, Capinan), Maracatu atômico (Nelson Jacobina, Jorge Mautner), Asa Branca (Humberto Teixeira, Luiz Gonzaga), Soy loco por ti América (G. Gil, Capinan), Toda menina baiana (G. Gil).

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