Professor Antônio Correa Candiota |
A proposta pode significar, implicitamente, que a própria escola ocasiona alguns desses fracassos e não os soluciona nunca, antes responsabiliza o aluno, a família e a sociedade. Repetentes, desadaptados, "preguiçosos" e analfabetos funcionais poderiam ser grupos minoritários numa Pátria Educadora.
Revertendo o insucesso escolar
Reportagem de Carlos Cogoy
Entre 2013 e 2014, o professor Antônio Ricardo Correa Candiota testou 643 alunos entre 4 e 6 anos, na região de Pelotas. Cerca de 40% foram considerados dispráxicos (v. definição de dispraxia), ou seja, com sinais específicos de dificuldades de aprendizagem. Do grupo, 83% apresentaram problemas no fator estruturação espaço temporal (portanto, nas noções de simultaneidade, ordem, sequência, duração de intervalos e ritmo). Tal déficit compromete a futura alfabetização. Explica o pesquisador:
As etapas do Programa de Testagem do Perfil Psicomotor e suas Interferências nas Aprendizagens são, de acordo ao professor:
Fotos: DM (1), MelhorAmiga (2), DesenvolvimentoMotor (3)A defasagem nesse fator influencia diretamente no processo de alfabetização da criança, na sua locomoção espacial, bem como no domínio dos gestos. Aparecem dificuldades na movimentação, bem como na utilização de folhas e cadernos. Ainda, profunda desordenação no futuro, por exemplo ao utilizar as linhas nos cadernos. Em relação ao ritmo, pode levar a rapidez ou lentidão. Já com a dificuldade de memorização auditiva, não consegue absorver o que lhe é narrado. Sem diferenciar sons, dificuldade também no reconhecimento dos sons das palavras.
Outro fator preocupante diz respeito à lateralidade. Muitas das crianças avaliadas apresentaram lateralidade cruzada, ou seja, dominâncias laterais em lados diferentes. Casos como a dominância da mão direita e dominância visual do olho esquerdo. É o que autores denominam "assimetria funcional", que afeta o processo de alfabetização, autonomia da leitura, escrita e cálculo, ordenação da informação codificada, confundindo entre soma e subtração ou entre multiplicação e divisão. A escrita e os números são invertidos e, em casos graves, como se estivessem refletidos num espelho.No 1º Congresso de Negros e Negras de Pelotas, Candiota explanou sobre o programa que oferece, orientando educadores para detectar as dificuldades, bem como as dicas para instigar o desenvolvimento psicomotor. Em 2014, o professor ministrou edições – em Pelotas e Rio Grande – da Jornada Pedagógica de Educação Psicomotora, que terá sequência no segundo semestre de 2015.
As etapas do Programa de Testagem do Perfil Psicomotor e suas Interferências nas Aprendizagens são, de acordo ao professor:
- Identificar crianças sem as competências psicomotoras necessárias à aprendizagem.
- Analisar crianças com dificuldades psicomotoras, observando nelas os componentes do comportamento psicomotor, e identificando o grau de maturidade motora.
- Sugerir, a partir da identificação das dificuldades psicomotoras, a aplicação de tarefas que visem minimizá-las, alavancando o sucesso na aprendizagem.
No Facebook o professor Antônio Candiota coordena a página Desenvolvimento psicomotor na escola, onde ele informa um endereço de contato. Confira mais declarações do pesquisador e especialista:
O Programa aponta o déficit psicomotor, que entrava as aprendizagens e o processo de alfabetização, que é o início de tudo. Mas as principais causas dos entraves são a falta de trabalhos específicos, ou seja trabalhos psicomotores, por parte dos profissionais da educação infantil, até porque os procedimentos didático-pedagógicos privilegiam muito mais o cognitivo, e muito menos o psicomotor, quando deveria ser ao contrário.
Por outro lado, os cursos de formação dos profissionais que trabalham com crianças na educação infantil, como a pedagogia, em geral não enfatizam o desenvolvimento psicomotor nos currículos. E o pior é que temos auxiliares, trabalhando com os professores, que têm pouco conhecimento. São cuidadores sem habilitação para promover trabalhos específicos.
Alfabetização deficiente leva, com certeza, aos insucessos na vida escolar. Hoje não temos evasão, em razão das obrigatoriedades jurídicas, que pressionam os pais a manterem as crianças estudando, ou na escola, mas mesmo assim, os terceiro e quarto anos estão ficando lotados. As crianças estão parando nestes anos, por conta das alfabetizações deficientes.
Outro aspecto é que os processos são muito arcaicos, salvo a boa performance de alguns abnegados e responsáveis professores, que sempre buscam subsídios para melhoras. Sinto isto pois tenho alguns alunos que me procuram, falam comigo, da graduação e mesmo da pós-graduação. Eles necessitam de informações e subsídios. Mas estes são pequena parcela de interessados. Infelizmente, a sociedade é que logo estará sentindo o resultado dessa grave questão.
Texto: Diário da Manhã
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por comentar esta postagem.