quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Renasce a casa de um barão

Na época das charqueadas, a imponente casa de três pisos foi uma ousadia e um luxo. Já era difícil construir sobrados e o Barão da Conceição ainda mandou fazer um quarto nível a modo de mirante para contemplar a cidade (leia detalhes na reportagem de Álvaro Guimarães).

A torre de observação, também símbolo de poder, supera o mirante do chamado Casarão 2, que por algum tempo foi o mais alto da cidade. Num post anterior listei os nomes dos barões do charque e suas residências urbanas (leia).

Manuel Alves da Conceição foi o empresário português autor dessa façanha e de outras: único dos aristocratas locais que não era pelotense nem foi nomeado barão pelo Imperador, mas pelo Rei de Portugal - isto de acordo a historiadores locais. A Wikipédia tem uma informação bem diferente no verbete Barão da Conceição.

A construção começou em 1850 e durou 25 anos. O térreo abrigou os negócios do barão, no auge das charqueadas: uma ferragem, uma vidraçaria e a primeira casa bancária de Pelotas, o Banco Mauá (leia reportagem do Diário Popular). Desde 1915 a casa foi mudando de mãos, até os anos 90, quando funcionou uma farmácia no térreo.

O prédio foi tombado em 1985 pelo prefeito Bernardo e adquirido por um empresário em 1994. Logo o arquiteto Rudelger Leitzke procedeu a uma restauração completa, a um custo total de 559 mil reais, com apoio da Lei de Incentivo à Cultura.

Os três pisos foram refeitos, ficando então em cinco mezaninos, além de outras modernizações (leia a reportagem de Joice Lima). Ficaram respeitadas a fachada e alguns detalhes arquitetônicos de valor histórico, ganhando a calçada ladrilhos hidráulicos especialmente fabricados.

A obra ficou pronta em 2004 (leia) e ainda ficou cinco anos à espera de algum interessado em alugá-la, quando apareceu o empresário Renzo Antonioli, que agora vem inaugurar esta nova loja de roupas, a Renzo 15 (o número alude à Rua Quinze de Novembro).

O coquetel de abertura foi nesta terça (20), mas já segunda de noite a loja aberta (dir.) chamava a atenção dos transeuntes (leia).

Empresário de sucesso, Antonioli é presidente do Sindilojas e foi homenageado pela Câmara de Vereadores em julho de 2009 como Cidadão Pelotense (leia).

Foto 1: a restauração em 2003 (esq.)
Foto 2: abril de 2009, em relativo abandono (dir.)
Foto 3: a porta de entrada pela Quinze de Novembro 702
Foto 4: a entrada vista desde dentro, de uma fresta pela Voluntários
Foto 5: segunda 19 de outubro de 2009, 20h
Imagens do Diário Popular (1) e F. A. Vidal (2-5)

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Debate de filme no CRP

Uma família à beira do colapso (a family on the verge of a breakdown).
Uma chamada angustiante para um relato tragicômico de uma viagem familiar numa kombi estragada, somente para satisfazer a meta pessoal da filha menor. A imagem absurda (esq.) tem uma explicação simples: o carro só pegava em terceira (empurrado), e depois as pessoas podiam subir. O filme ganhou um Oscar pelo roteiro e um pelo ator Alan Arkin, coadjuvante que faz o avô.

"Pequena Miss Sunshine" será visto e debatido por psicólogos numa reunião do Conselho Regional da classe em Pelotas esta quarta-feira a partir das 19h. Félix da Cunha 772 (Galeria Tillmann), sala 304.

POST DATA (22 de outubro)

A discussão, facilitada pelo psicanalista Jorge Velasco, terminou às 22h, permitindo que psicólogos de correntes diversas dialogassem sobre um mesmo tema, de modo crítico e motivante. A data dificultou a presença de maior público, pois no mesmo horário havia outras duas atividades da mesma área: sobre psicologia do bebê, na Sigmund Freud, e sobre psicologia educacional na Faculdade de Educação.

A cada duas semanas, até dezembro, novos encontros serão feitos na sede Pelotas do CRP. Um dos seguintes temas será "Blogs feitos por psicólogos pelotenses".

Centenário da Catedral do Redentor

A Catedral Anglicana do Redentor - conhecida popularmente como "igreja cabeluda", pela vegetação que cobre sua fachada - está celebrando o centenário, pois o prédio foi inaugurado em 17 de outubro de 1909.

O templo é considerado um dos cartões postais de Pelotas, e nele realiza-se há 13 anos o Festival das Flores, por coincidência no mês desse aniversário. Este ano, prolongou-se do sábado 17 até terça 20. Veja a notícia no blogue da Diocese Anglicana.

A organização gaúcha Defender, que trabalha em prol da conservação do patrimônio arquitetônico, publicou o seguinte:

A Catedral Anglicana do Redentor, de estilo gótico, conquistou a admiração dos habitantes e de quem visita Pelotas. Conforme o livro ‘Catedral do Redentor’, de Oswaldo Kickhofel, no dia 28 de março de 1908 foi escriturada a compra do terreno de Francisco de Paula Guerreiro. O pároco e engenheiro civil John Gaw Meem fez o projeto arquitetônico. O lançamento da pedra fundamental ocorreu em 21 de outubro de 1908, na programação do 10º Concílio, realizado em Rio Grande, e a inauguração, em 1909, no 11º Concílio, já na Paróquia do Redentor (leia a notícia).

Esta é a descrição que se lê no site da Prefeitura (leia):

A Catedral da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil é conhecida como a “Igreja Cabeluda”, por sua característica de ser coberta por uma hera que muda de cor, conforme as estações do ano.

Na Primavera, a Igreja adquire tom verde claro muito bonito; no Verão, perde as folhas e aparecem somente as raízes, em tom cinza; em maio, muda para o rosa-avermelhado, partindo para o grená e, a seguir, o marrom
.

Construída em estilo Gótico-Céltico, abriu suas portas ao público em 1892. Sua torre possui 27 metros de altura. Os vitrais vieram de Nova Iorque, apresentando motivos com símbolos e textos bíblicos.

Observação idiomática:

Ainda se lê a identificação pela Rua General Teles: Exedra da Egreja do Redemptor. Há cem anos, essa era a grafia para "Êxedra da Igreja do Redentor" (uma êxedra é um pórtico ou espaço de entrada).
A forma "igreja" (do grego ekklesia = assembleia) impôs-se no início do século XX. No entanto, é uma deformação fonética devida à vulgarização, enquanto "eclesial" e "eclesiástico" respeitaram a pronúncia de origem.
Em 1988, a paróquia foi elevada a Diocese Anglicana de Pelotas e a "igreja" passou a ser a Catedral do Redentor.
Fotos de F. A. Vidal

Corte da Fenadoce 2010

Luciana, Tainise e Ariana, Corte Real 2010
Domingo (18) à noite, no Centro de Eventos, foi eleita a corte de rainha e princesas da 18ª Fenadoce, entre 27 candidatas.

Desde hoje até outubro de 2010, a encarregada de presidir a divulgação da Feira Nacional do Doce será a Rainha Tainise Vergara Lourençon, 20 anos, representante da Academia Personal Fitness.

Tainise foi Garota Verão 2008 em Pelotas e destacou-se na final do concurso como a mais votada pela internet.

Tainise Lourençon, Rainha 2010
De acordo com o site da UFPel, que publicou a foto à direita, ela hoje cursa Engenharia Industrial Madeireira.

Completam o trio da Corte 2010 as princesas Luciana Jorge Valle (loira), representante do Clube Diamantinos, e Ariana Gayer Ferreira, do Grêmio Atlético Farroupilha (morena). Aparecem na foto acima, ao lado da Rainha Tainise.

A foto de Edu Rickes (abaixo), tomada do Blog do Fantasma, registra a corte recém coroada e a Corte 2009 (sem coroas).

De esquerda a direita: Princesa Luciana, ex-princesa Jhoritza, Rainha Tainise, ex-rainha Juliana, ex-princesa Priscila e Princesa Ariana.
Fotos da web

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Os Drops de Menta de Rubens Filho

O jornalista e escritor pelotense Rubens Amador Filho (dir.) lança amanhã (20) seu segundo livro, que inclui 40 escritos dos últimos dois anos, entre contos, crônicas e uma reportagem, textos publicados inicialmente no seu blogue Amigos de Pelotas. A venda e os autógrafos começam às 18h na Livraria Mundial, atualmente a maior da cidade e a que mais apoia os escritores locais.

O título Drops de Menta alude a um dos textos de Rubens (Pílulas da felicidade), que descreve um uso secundário das pastilhas antigamente conhecidas como drops (em inglês, "gotas"). Naquele post, um leitor propõe que esse seja o nome do livro. O texto foi por ele refeito em maio e ganhou o título referido (leia). As demais matérias também foram reprocessadas e deixaram o ambiente virtual para entrar no livro, suporte real e permanente.

O mesmo título ficou bem para se referir a este conjunto de crônicas breves, "suavemente amargas e refrescantes". O autor expressa nelas uma filosofia cética e pessimista, cínica até, mas doura a pílula com toques de bom-humor e elegância, que prendem o leitor e às vezes o fazem tornar-se um fiel e admirado seguidor.

Aquele mesmo comentarista que sugeriu o título fez também a frase de divulgação:
Um novo livro de Rubens Amador, repleto de crônicas inteligentes e politicamente apimentadas faria as oligarquias pelotinas consumirem muitos 'drops' para se acalmarem.

Aí está um talento literário que se dedicou ao jornalismo; quem explorar os cinco milhares de postagens do Amigos encontrará boas ideias, fortes sentimentos, material para psicanálise e até colunistas imaginários, frutos de um mundo interno em ebulição. Será preciso ler estas paradoxais gotas de hortelã como o livro "Satolep", também escrito sobre Pelotas em função de um processo de autoanálise.

Integrantes do Grupo Tholl estarão no lançamento, além do estandarte do movimento Vigília Cultural (em prol de melhores políticas públicas em Pelotas) e o seu livro de assinaturas, para quem o desejar assine o manifesto. Como costuma ocorrer nas cerimônias feitas na Livraria Mundial, os presentes são convidados a permanecer no local conversando e degustando bem-casados com vinho.

A oportunidade - e em geral são poucas - servirá para que os milhares de leitores de Rubens possam vê-lo em pessoa e conversar com ele.

Mesmo sem shows ou música ambiental, o espaço se fará pequeno para a quantidade de "amigos de Pelotas" que já mostraram interesse por esta nova publicação de Rubens (a anterior, "Outono de Cães", foi apresentada em 2008 na livraria Dom da Palavra). Um terceiro livro está planejado para novembro, incluindo textos do editor e de colunistas do blogue.

Eis mais duas crônicas já postadas - agora reelaboradas para ficar com "cara de livro" - que deixam um gosto de "quero mais" nos leitores:
"Envelhecer é tarefa de profissionais" (leia) e
"Saudades da infância no Laranjal" (leia).
Imagens da web (2-3) e Rubens Filho (1 e 4)

Glória Menezes faz 75 anos


A atriz Glória Menezes, famosa por sua participação em novelas da Rede Globo, nasceu em Pelotas em 19 de outubro de 1934: hoje está fazendo 75 anos de idade e já conta com 50 anos de carreira teatral.

Dias atrás, ela esteve em nossa cidade, que não visitava havia 20 anos, para atuar na peça "Ensina-me a viver", terceiro show do circuito cultural iniciado pelo Diário Popular em celebração de seus 120 anos (completados em agosto de 2010), que também tem o objetivo de apoiar uma nova restauração do Teatro Guarani.

Recebida como pelotense ilustre, Glória Menezes (nome artístico) é uma celebridade gerada pela televisão, mas sua personalidade segue o modo antigo, fiel a tradicionais e estáveis valores humanos.

O que a imprensa não tem lembrado é que seu nome verdadeiro é Nilcedes Soares de Magalhães Sobrinho, sendo sua mãe pelotense e seu pai maranhense. Ela nasceu numa casa da Rua Anchieta (hoje a Taberna Otto) e foi para São Paulo aos 6 anos de idade.

Casou com o ator Tarcísio Magalhães Sobrinho em 1962. Os dois atuaram na primeira telenovela diária brasileira, em 1963 (2-5499 Ocupado). De acordo com a Wikipédia, a carreira de Glória teria começado em 1958, no teleteatro da TV Tupi.

Segundo o site da Globo, Glória Menezes "cursou a Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo, mas não chegou a se formar. [...] Em 1960, foi premiada como atriz revelação por seu papel em As feiticeiras de Salém, de Antunes Filho. Nessa mesma época, começou na televisão, fazendo teleteatro ao vivo" (leia a nota completa).

Entrevistada pela TV UCPel, a atriz disse:
A cultura é o cartão de visitas de um país. E, com certeza, pode ser considerada um total instrumento de transformação.
Sobre uma possível extinção da Secretaria Municipal de Cultura, Glória foi enfática:
É um absurdo. Não podemos retroceder a esse ponto. No mínimo, o que uma cidade como Pelotas deve ter é uma Secretaria de Cultura e a classe artística deve se mobilizar por isso (leia no site da UCPel).
Fotos ZH

domingo, 18 de outubro de 2009

Audição de Corais Pelotenses 2009

Ontem (17) realizou-se a segunda parte da 34ª Audição de Corais Pelotenses (ACOPEL), no auditório Dom Antônio Zattera. Inicialmente marcada para as 19h, estendeu-se das 19:40 às 22h, com 7 apresentações de 20 minutos, cada grupo cantando 4 canções.

A iniciativa nasceu na UCPel em 1975 e desde então vinha sendo organizada por Elizabeth Madruga, que aposentou-se este ano e deixou a coordenação deste e outros eventos ao prof. Daniel Botelho. Tradicionalmente as audições podiam ser feitas num só recital, ou em dois de 5 apresentações cada um, mas a produção coral em Pelotas vem crescendo, e nem todos os grupos locais chegam a mostrar seu trabalho nestas audições.

Na primeira noite desta edição, sexta (16), apresentaram-se os corais da UCPel, da Sociedade Italiana, "Princesa do Sul", da Escola Castro Alves, do Centro Português 1º de Dezembro, da UFPel e o grupo "Alegria de Viver".

O segundo encontro começou com o Grupo Vocal da Escola Louis Braille, coordenado por Solon Silva (1ª foto acima à esq.). O conhecido cantor popular conduziu o grupo mediante o ritmo e o dedilhado do violão, eis que boa parte deles não têm visão, mas sim entusiasmo e bom ouvido. Expressaram emotividade na canção "Creio em ti", e um misto de sabedoria e alegria no samba "Água de beber".

O Coral da Associação dos Aposentados e Pensionistas da UFPel, dirigido pela professora Raquel ao violão (acima à dir.) homenageou Mercedes Sosa com a versão em português de Sólo le pido a Dios, "Eu só peço a Deus".

O grupo "Linguagem de Emoções", formado há 3 meses pela profª e tecladista Cláudia Braunstein (esq.), cantou músicas a uma só voz feminina. Foi um dos mais numerosos do encontro, apesar de sua formação restringir-se a pessoas de mais de 50 anos.

O Coral Santo Antônio é conduzido pela profª Anni Gerda Albert de Moraes (dir.), uma das regentes históricas do Coral da UCPel. Ela é propriamente uma maestrina coral, organizando 4 vozes em trechos de média dificuldade, como Cantate Domino.

O Coral do Círculo Operário, dirigido por Hugo Miori (esq.), também é um coral no sentido estrito, pois trabalha com 4 vozes e solistas a capella. Sua versão de My way para solo de barítono foi intensamente aplaudida.

O maestro Sérgio Sisto rege e acompanha no teclado a Sociedade Canto Coral Dona Conceição (dir.), também com 4 vozes e bons solistas. O público neste final de concerto ainda se entusiasmou com outra homenagem a Mercedes Sosa em duo de solistas na Canción con todos.

O Coral Adventista, dirigido por Maria Leoni da Silva, fechou este encontro com sua disciplina e devoção, mostrando que, além das questões técnicas, a música feita em grupo exige uma concentração e um amor especial pelo que se está dizendo e fazendo. Neste caso, o canto pode ser a capella ou com fundo musical, mas o que importa é fazê-lo em harmonia com os outros, e segundo sentidos internos de cada um.

Este tipo de encontros são um orgulho para a cidade, e merecem maior valorização e que o público não seja somente formado pelos cantores que se apresentam. Há tantos corais em Pelotas que já poderia organizar-se um festival, com prêmios e tudo.
Fotos de F. A. Vidal

sábado, 17 de outubro de 2009

Reforma administrativa manterá a SeCult

As primeiras informações extraoficiais sobre a reforma da gestão municipal sugerem que a Secretaria de Cultura não será extinta, mas conterá todas as atividades de esporte, turismo e lazer, mais a organização do Carnaval, até agora conduzidas por uma pasta com esse nome. A notícia está na primeira página do Diário Popular de hoje (17) e no seu site (leia).

Dois dias antes, o Prefeito Fetter havia anunciado medidas de contenção financeira, como adiantando-se a justificar a necessidade de reduzir as divisões administrativas, explicação que ele já vinha dando e agora pôs em prática; a notícia saiu ontem (16) no site da Prefeitura (leia). No entanto, por não ser oficial a probabilidade de uma nova SeCult incluindo cultura, turismo, esporte e lazer, a informação ainda não foi mencionada pela Secretaria de Comunicação.

As decisões estão sendo tomadas "a céu aberto", informando os funcionários quase ao mesmo tempo que à imprensa, somente deixando-os de sobreaviso, sem saber ainda se continuarão no posto. Depois da sugestão apresentada por assessores externos (IGAM), a proposta de reforma do Prefeito irá à Câmara Municipal.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Fachada emoldurando o céu

Sem necessidade de intervenções digitais, a artista plástica especializada em fotografia Norma Rejane Silva Alves registrou com seu celular uma fachada de casa no bairro Areal. É uma das obras em exposição na sala Antônio Caringi da SeCult até 13 de novembro.

A construção se encontrava num terreno alto, o que permitiu destacar o céu como fundo, ficando a fachada como moldura, no limbo entre a terra e o infinito.

A desaparição do corpo da casa sugere que a morte se instalou definitivamente, deixando a máscara a deteriorar-se, isolada no tempo e no espaço. Como tenho mostrado em fotos de casas em ruínas, nossa cidade cultiva a arquitetura e as antiguidades, sem que isso denote uma autoestima consolidada e que permita a evolução conseguinte.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

E se os egoístas se unissem para não morrer?

Esta tarde realizou-se a terceira palestra do ciclo Encontros com a Filosofia, uma ideia de professores da UFPel que propõe interessantes reflexões e está tendo boa aceitação apesar do horário restrito (das 17:30 às 18:30).

O objetivo é falar de filosofia em termos cotidianos, descendo da torre do academicismo ao piso térreo do cidadão comum. O auditório do Centro do Mercosul fica lotado, dependendo do assunto e do professor (veja a programação). O método é simples: 45 minutos de exposição e 15 para perguntas e debate.

O doutor em Filosofia Clademir Luís Araldi (acima) falou hoje sobre o individualismo e a solidão no mundo contemporâneo, considerando especialmente os pontos de vista de Max Stirner (esq.), Karl Marx e Nietzsche (abaixo), autores alemães que ele vem estudando no original, desde a graduação.

Stirner (1806-1856) é um anarquista partidário do individualismo, ateu radical que polemizou com Marx (1818-1883), a quem não considerava um verdadeiro ateu, mas um devoto da história, um crente que havia posto o materialismo no lugar de Deus. Como niilista, ele diz que o eu único é criador absoluto do mundo, a partir do nada, e somente ele pode retornar ao seu nada. Como pessoa, ele não é um solitário (isolado do mundo); somente um individualista, partidário do eu acima de tudo.

Por outro lado, Friedrich Nietzsche (1844-1900), casualmente de aniversário hoje (15), glorifica o indivíduo na solidão, separado dos homens. Seu alterego Zaratustra quer santificar as três coisas mais rejeitadas pelo cristianismo: a volúpia, a ambição de poder e o egoísmo (outro nome do individualismo), como sendo características do homem evoluído ou superior. Em sua vida pessoal, Nietzsche precisou da solidão mas a viveu tragicamente (buscando amigos, não os encontra).

O professor Araldi propôs a impossibilidade da solidão e da filosofia hoje em dia, no sentido de se desconectar da sociedade, para ficar consigo mesmo. Seja o professor universitário que precisa ver e-mails todos os dias, ou os jovens que se relacionam pelo orkut, não têm tempo para afastar-se de suas redes de relacionamento e pensar ou meditar. Daí a dificuldade de fazer filosofia no meio acadêmico. O individualismo de hoje é narcisista, fluido e consumista, o que impede a reflexão, o pensamento crítico, a autocompreensão e a solidão proveitosa. O romanticismo e a religiosidade acabaram; o tempo de hoje é do egoísmo e da técnica que leva à devastação do mundo. Quem perceber essa dicotomia fatal poderá enlouquecer como Nietzsche; os sobreviventes serão aqueles que souberem tirar algum proveito verdadeiro deste angustiante fluxo da pós-modernidade.
Imagens da web (2-3) e F.A.Vidal (1)

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Psicologia, artes visuais e música, numa só noite

Nesta quarta-feira, a cultura de Pelotas esteve mais movimentada que de hábito, anunciando uma primavera criativa e de amplos interesses. Em cinco locais do centro, transcorriam atividades de diversas áreas, com algumas teimosas gotas anunciando uma chuva que nunca veio.

Quando comecei com este blogue, eu sabia que certa agitação ocorreria às vezes, especialmente de outubro a dezembro, e eu não poderia cobrir sozinho muito mais da metade da vida cultural da cidade. Hoje, no entanto, pude estar alguns minutos em cada lugar, e assim mostrar aos pelotenses a riqueza deste clima. A nossa imprensa anuncia essas atividades, mas não informa os resultados.

Livraria Mundial

A partir das 18h, a psicóloga Marlise Flório Real (esq.) esteve autografando o livro "Adolescentes e sexualidades - Entre o amor e a paixão", coletânea de 84 artigos publicados no Diário Popular. No formato de crônica literária, a psicoterapeuta se dirige - neste seu quinto livro - principalmente aos adolescentes, compartilhando conhecimentos e orientações na área da educação da afetividade e da sexualidade.

A obra, à venda por R$ 30, tem apresentação da professora Lúcia Maria Vaz Peres, doutora em Educação, pesquisadora na UFPel e ex-aluna de Marlise.

Biblioteca Pública

Uma hora mais tarde, começou no térreo da Biblioteca um espetáculo em homenagem ao chileno Víctor Jara, compositor de música popular, nascido em 1932 e morto em 1973. Na foto (dir.), o chileno Héctor Rojas canta "El Aparecido", música cuja letra se refere ao guerrilheiro chileno Manuel Rodríguez (1785-1818) e atribuída ao Che Guevara (1928-1967) após a morte do mesmo.

Esta apresentação do projeto América y Pampa estava programada para setembro, lembrando o mês de nascimento e de morte de Víctor Jara, mas foi adiada em função da Gripe A. Participou também o trovador gaúcho Pedro Munhoz.

Paço Municipal

À mesma hora, na sala de exposições Frederico Trebbi, que funciona no saguão da Prefeitura, uma nova mostra de artes visuais da SeCult foi inaugurada. Neste caso, a artista paulistana Helena Dias (esq.) apresenta pelas próximas quatro semanas a série "Reflexo II", fotografias sem intervenção digital, baseadas em reflexos. Helena veio estudar Artes Visuais em Pelotas e aqui ficou estabelecida, já aprovada em concurso para professora na UFPel.

Centro Cultural Adail Bento Costa

No casarão nº 2, atual sede da Secretaria de Cultura, outras duas mostras de arte foram abertas às 20h: "Desenhos" de César Noé e alunos (1ª foto acima), na sala Inah D'Ávila Costa, e "Transformações Urbanas", fotografias de Norma Alves (dir., centro), na sala Antônio Caringi. A artista santa-mariense se especializa na rara técnica da fotocerâmica e é criadora de procedimentos químicos na área que a apaixona desde sempre: a fotografia. As obras aqui expostas foram tomadas em Pelotas com um celular e, na maioria, sofreram intervenções, especialmente na luminosidade.

Auditório da Moda

No campus 2 da UCPel, a psicóloga pelotense Marciara de Oliveira Centeno (esq., centro) conduziu uma palestra sobre psicoterapia e psicanálise. A atividade se insere nas quartas-feiras científicas da Sociedade Sigmund Freud, onde Marciara coordena o curso de especialização em terapia de orientação psicanalítica. Alunas e ex-alunas do mesmo curso compartilharam este trabalho de divulgação junto aos futuros psicólogos. Às 22h o encontro no amplo salão ainda não havia terminado.
Fotos de F. A. Vidal

Doce pausa com três doçuras

Rainha e Princesas da 17ª Fenadoce, já no final do reinado 2009 - Juliana (centro), Jhoritza (esq.) e Priscila (dir.) - foram as presenças mais doces da noite de ontem no jantar de inauguração da Quinzena Gastronômica, no Dunas Clube.

Sem sua natural simpatia (clique para aumentar), ainda que em parte produzida para despertar nossa imaginação arquetípica, este teria sido somente mais um jantar de apresentação de... já lembro...

Ah, a partir de hoje elas são leitoras deste blogue.
Foto de F. A. Vidal

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Política cultural em enquetes

Os dois sites de notícias mais importantes de Pelotas estão fazendo enquetes sobre o mesmo assunto a seus leitores virtuais. As perguntas têm focos diversos, mas as tendências de opinião se assemelham.

O blogue Amigos de Pelotas formulou a seguinte questão:
  • A gestão da prefeitura na área cultural é:
    ótima - boa - regular - ruim - péssima.
A votação vai até quinta-feira (15) e com 150 votos a tendência se mantém em 50% para "péssima" e 27% para "ruim". Em abril, outra enquete avaliou a gestão do prefeito (veja os resultados para 230 votos).

O portal do Diário Popular pergunta o seguinte:
  • Na reforma administrativa, a Prefeitura de Pelotas deve extinguir a Secretaria de Cultura?
    ( ) Sim, ela é desimportante.
    ( ) Não, ela é um meio de luta do setor.
    ( ) Tanto faz, o segmento funcionaria da mesma maneira, com ou sem ela.
O site não informa o número de votantes, mas os resultados dão 58% para o "Não" e 26% para o "Tanto faz". Veja outras enquetes virtuais do Diário.
A Prefeitura vai definir uma reestruturação nas próximas semanas, em proposta à Câmara. O vereador Eduardo Leite é o que melhor define uma visão política no setor cultural (leia).
Foto: Pelotas Convention
POST DATA (16 outubro)
A enquete do Amigos fechou com 49% para péssima e 26% para ruim (total de 279 votos).
A enquete do Diário fechou com 58,6% para o Não e 25,9% para o Tanto faz.

Abertura da Fábrica Cultural Música pela Música

A Sociedade Pelotense Música pela Música conseguiu este ano radicar-se numa casa própria, após 18 anos de sua fundação, e de peregrinar por locais alugados ou emprestados.

Batizou-a Fábrica Cultural e quer compartilhá-la com a comunidade, para que outros artistas tenham o apoio necessário, sejam iniciantes ou nomes consagrados.

Buscando lugares desocupados, a direção da Sociedade encontrou quase em ruínas o prédio nº 952 da Rua Félix da Cunha (esq.), mas pôde sentir ali a promessa de uma acolhida e um caminho de crescimento. Construída para uma fábrica de móveis e mais tarde ocupada por uma boate, qual seria a fase seguinte? A associação de ideias levou facilmente a um conceito integrador: a fabricação de espetáculos de arte.

A inauguração para a imprensa foi na quinta-feira 24 de setembro, com uma série de pocket shows, unidos por um relato sobre o entusiasmo que sempre guiou esta agrupação, no sentido de renovar e incentivar o ambiente cultural pelotense. A Sociedade sabe por experiência própria o que é construir seu espaço e seu material de trabalho sem apoio público e contra as expectativas pessimistas de alguns pelotenses, mas contando com o esforço e o idealismo de muitos outros.

A recepção começou com um coquetel, interrompido a cada 15 min com pequenas apresentações artísticas, que simbolizavam a variedade das artes que ali seriam bem-vindas, e não somente ligadas à Sociedade Música pela Música. O ator e produtor cultural Igor Simões, como mestre de cerimônias, foi o elo de ligação entre esses breves momentos, cada um com sua emoção particular.

Para obter uma grandiosidade sonora, o início foi dado por um imponente e ensurdecedor toque de timbales, apresentado por Marcelo Valente (esq.), baterista de música popular que participa como um dos percussionistas da Orquestra Filarmônica.

O maestro Sérgio Sisto (acima) escolheu, para dirigir sua mensagem carinhosa e otimista aos presentes, o trecho "The music of the night", do musical "The Phantom of the Opera". Com fundo gravado, ele cantou ao vivo - sob a luz de um pequeno holofote - todos os agudos do exigente solo, evocando a mística dos velhos teatros e dos mestres e amantes da arte.

Paulo Lima, outro músico popular que apoia a produção erudita em nossa cidade, tocou no contrabaixo, sem acompanhamento, uns compassos da Nona de Beethoven.

O cantor nativista Joca Martins, que já pertenceu ao Coro Música pela Música, entoou "Negrinho do Pastoreio", sem apoio instrumental.

Tatsy e Clim, do Grupo Tholl (dir.), participaram do coquetel e trouxeram aos presentes a arte mímica do espetáculo Exotique.

Seguiram-se apresentações de baile e de cinema, enquanto o artista plástico Gê Fonseca expunha três quadros, mostrando que a casa admite perfeitamente os eventos artísticos mais variados, incluindo lançamentos de livros, conferências, balês, desfiles de modas etc.

Enfim, a criatividade e a liberdade tomaram conta da noite, mostrando aos pelotenses que há espaço e vontade para que as diversas formas artísticas colaborem na construção de uma sociedade melhor. Quando se trabalha unido ao longo do tempo, os sonhos se realizam.

Veja (abaixo) o vídeo mostrado na ocasião, making of do filme realizado em Pelotas "Futebol, Sociedade Anônima", da produtora Moviola.
Fotos de F. A. Vidal


segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Calçadão multiuso

No tranquilo feriadão de primavera, a pista ficou aberta e pôde ser aproveitada pelos ciclistas. Afinal, o Calçadão é público e as ruas asfaltadas são dominadas pelos perigosos automóveis. Na falta de educação e de policiamento urbano, cada um domina o espaço disponível.

Os poucos traunseuntes tentavam ir pelos cantos, pensando que atrapalhavam o direito de circulação dos adolescentes, mas teriam sido obstáculos móveis bem mais interessantes que os antiestéticos orelhões.
Foto de F. A. Vidal

Expofeira de Pelotas, 110 anos

A Associação Rural acaba de realizar a 83ª edição de seu evento mais importante, a Expofeira de Pelotas. Este ano, as atividades se estenderam de 5 a 12 de outubro, no Parque de Exposições Dr. Ildefonso Simões Lopes.

As exposições agrícolas vêm sendo realizadas há 110 anos, com várias mudanças de nome da instituição. Ao ser fundada, em 12 de outubro de 1898, ela se denominou Sociedade Agrícola Pastoril do Rio Grande do Sul. Seu primeiro presidente foi José Cipryano Nunes Vieira. Já no ano seguinte - 1899 - foi organizada a I Exposição Agrícola do Estado e dez anos depois, em 1908, o I Congresso Rural do Rio Grande do Sul.

Em 1922, a entidade passou a denominar-se Sociedade Agrícola de Pelotas, ocupando uma área de 43 hectares, no bairro Três Vendas. Seu parque de exposições - onde se realizam regularmente feiras comerciais e industriais - foi reformado e oficialmente inaugurado duas décadas depois, em 3 de outubro de 1945. O nome do parque homenageia o ilustre pelotense que fora Ministro da Agricultura no governo Epitácio Pessoa.

Em 1967, a Sociedade Agrícola passou a se chamar Associação Rural de Pelotas, e seguiu realizando as exposições de animais, quando são feitos concursos, leilões, vendas, conferências, seminários e espetáculos musicais. Nos anos 50, o evento brilhava pelo numeroso público e pelos artistas de fora da cidade que vinham apresentar-se (inclusive de Buenos Aires). A Expofeira projeta Pelotas nacionalmente, por sua contribuição ao setor agropecuário e dos hoje chamados agronegócios.
Fotos: site DP

domingo, 11 de outubro de 2009

Mário Quintana inspira o amor pela leitura

A Escola Mário Quintana é um projeto de ensino privado que surgiu em Pelotas como uma alternativa aos tradicionais colégios católicos Gonzaga e São José. Começou pelo Ensino Médio e oferece Ensino Fundamental desde 2002.

Nessa época nasceu em pequena escala o seu Projeto de Leitura, quando a professora e psicóloga Thaís Rochefort (esq.) iniciou atividades para desenvolver o interesse pela leitura, na 4ª série. O seu trabalho foi ampliando-se e hoje se constitui num programa transversal permanente da Escola, incluindo até a 8ª série do Fundamental.

O maior fruto deste crescente movimento pedagógico será o Grand Prix Literário, concurso festivo para alunos, de dois dias de duração, a realizar-se em novembro próximo. Ligado ao Projeto de Leitura, o evento conterá atividades com escritores, oficinas, performances de alunos, ações poéticas, tarefas como Soletrando e um Quiz literário, além de um desafio-surpresa, que ainda não pode ser revelado.

O PL em ação

Uma equipe de áreas diversas - Português, Século XXI, Redação e Biologia - motiva os alunos e não para de inovar em métodos, o que retroalimenta o entusiasmo de pais e professores, num círculo virtuoso em torno a um mesmo objetivo.

As professoras que trabalham com Thaís são: Deborah Kaé, Aline Neuschrank e Alline Bettin (dir.). Em agosto passado, fui à Escola ouvir sua experiência após sua vinda da FLIP (leia), mediante o contato feito pelo blogue Amigos de Pelotas, que tenta despertar o lado positivo e progressista da cidade.

Segundo a percepção delas, os objetivos e as ações têm sido tão motivantes que a alegria e a amizade é que surgiram do trabalho - e não vice-versa, como costuma ocorrer na pedagogia e na arte. Acrescenta-se a isto a alegria viva das crianças, que é um combustível adicional para que ambos - amizade e trabalho - se façam mais e mais apaixonantes.

O quarteto que estimula o interesse pelo livro não faz o tipo das clássicas “professoras de disciplina”. Na verdade, elas buscam mesmo sair dos padrões tradicionais, conectando a linguística e a literatura com outras áreas, artísticas e científicas. Elas dão o exemplo, participando como animadoras e até como performers das atividades.

Numa delas, os alunos conversaram pelo chat MSN com o protagonista de um livro, representado por uma das professoras. As crianças sabiam que era um jogo e quem era a professora-atriz, mas os diálogos foram tão realistas e emocionantes como se fossem com o próprio personagem.

O Projeto de Leitura em 2008

Em agosto do ano passado, o Projeto lançou o livro “Você é um homem mau, Sr. Gum!”, de Andy Stanton, 2008. Após lê-lo em casa, a 4ª série recebeu na Escola a visita do horrível Sr. Gum, em pessoa: Deborah, num irreconhecível disfarce (acima e à dir.).

Ainda em agosto, os alunos das 7ª séries conheceram “O estranho caso do cachorro morto” (de Mark Haddon, 2004) e participaram de um programa “Altas Horas” montado na Escola com pelotenses ligados ao tema do autismo e as necessidades especiais: um psiquiatra, uma jornalista e uma portadora do síndrome de Down.

Em setembro de 2008, a 8ª série leu o romance “Insônia” (do gaúcho Marcelo Cunha, 1996) e, em aula, conversou por videoconferência com o autor (esq.), que naquele dia estava em São Paulo.

Em setembro de 2009, o Quiz de Leitura (abaixo) incluiu até alunos do 2º Médio, o que mostra como este Projeto se amplia dentro da Escola e está chamado a seguir crescendo.

A equipe do Projeto de Leitura se inspira na ideia de que a literatura faz parte da vida e a imaginação transpõe aos livros o modo como a pessoa concebe e sonha o mundo.

Os contatos feitos na FLIP, onde também se conecta imaginação com realidade, estão servindo às professoras para movimentar ainda mais a Escola - e a cidade de Pelotas, indiretamente, sem mencionar a inspiração e a ajuda angelical do poeta Mário Quintana.

É lógico pensar que todas essas mudanças se espalhem gradualmente, formando uma comunidade mais criativa.
Fotos: F.A.Vidal (1), Deborah Kaé (2), MQ (3-6)