Visão lateral pela Conde de Porto Alegre |
A resposta leva à excentricidade de um militar e fazendeiro gaúcho com pendores sociais e artísticos. O terreno pertenceu ao major de exército Antônio Duarte da Costa Vidal, que lutou na Guerra de Canudos (1896-1897), no nordeste baiano, e uma vez reformado fixou residência em Pelotas e fez construir o sobradão segundo um modelo europeu (castelo da Baixa Idade Média, séculos XI-XV).
Segundo escreve Mario Osório Magalhães (v. artigo de 9-11-2007), o major Vidal já era proprietário de grandes terras na fronteira oeste do Estado (cidade de Itaqui), comprou o dito terreno da Quinze de Novembro em 1931 e mandou construí-lo em 1936 - o que ocorreu em etapas, pois ele viajava muito. Edificou outro parecido em Itaqui, hoje também abandonado.
Os documentos em que o pesquisador se baseia são um registro cartorial de 23-11-1928, segundo o qual a empresa Dias & Requião adquire o terreno da Intendência de Pelotas (Prefeitura Municipal), e outro de 28-10-1931, que anota a venda da propriedade da empresa citada ao major Vidal (v. artigo de 1-11-2007).
Aspecto atual (2009) pela Quinze |
Em todo caso, não se trata de um verdadeiro castelo, mas de um sobradão com porão e torre. Construí-lo fora de contexto, numa cidade do século XX, foi uma forma de sonhar com outras épocas e com personagens poderosos; talvez, um modo de chamar a atenção e de dar-se uma alta importância social. Em janeiro de 1931, já estava liquidado o Banco Pelotense (localizado, desde 1916, na Marechal Floriano com Andrade Neves), mas a cidade seguia mostrando riqueza.
A propriedade abandonada se encontra hoje num pântano jurídico, fruto de problemas legais, desentendimentos familiares e da incapacidade financeira para restaurar e manter em funcionamento uma obra tão grandiosa e sem o valor histórico que se supõe. Apesar dos traços medievais e do atual aspecto ruinoso, a casa não é mais antiga que o Grande Hotel (que acaba de fazer 80 anos).
Há interesse de historiadores, de imobiliárias e de cidadãos que valorizam o patrimônio, mas em Pelotas ainda as dificuldades superam as boas intenções.
POST DATA
27-6-12 Há fotos de dentro da casa na Revista O Viés.
16-2-13 O Projeto Pelotas Memória reuniu fotos deste prédio no álbum Castelo da Rua XV.
24-4-14
Na foto abaixo,Beto Fernandes limpou a fiação e os riscos no muro, obtendo um ar romântico e idealizado para o ângulo pela rua Conde de Porto Alegre (fonte: Facebook).
18-10-14
No álbum de 2013 citado acima, o Projeto Pelotas Memória acrescentou duas fotos de 1989, tomadas por Marli Costa.
26-3-15
O prédio se encontra em obras e gerando comentários sobre seu novo destino (comercial). A informação foi lançada por Freitag Jr. Reformas não significam restauração, até pelo contrário: reformar é dar nova forma, e restaurar é dar de volta a antiga forma. A construção é dos anos 30 do século XX, uma fantasia de 500 anos no meio de uma cidade que, na época, ainda não tinha 200.
Duas fotos de V. Lautenschlager (abaixo) comparam a deterioração do falso castelo ao longo dos últimos trinta anos (fonte: Facebook).
Na década de 1980 No ano de 2013 |
Sucesso ao blog, Vidal. Fico feliz que Pelotas, felizmente, conte a partir de agora com uma revista cultural, registrando a riqueza da arte, da arquitetura, da música, do teatro, e da literatura pelotense, aliando-se em prestígio e competência ao já consagrado blog Amigos de Pelotas. Seu estilo fluente e elegante fará história, atendendo às necessidades da cidade de informar-se e, sobretudo, dialogar consigo mesma, deparando-se por vezes com suas feridas, e, obviamente, encantando-se com seu repertório de beleza e encantamento. Grande abraço!
ResponderExcluirOlá, Francisco! Este castelo (ou pseudocastelo?) fica na esquina da minha casa! Ih, a imaginação popular corre solta ...!!!! Há muitas e muitas versões para a "construção" (terminou?) do tal prédio: desde narrativas trágicas envolvendo histórias de suicídio até as mais românticas,como uma noiva que, embora tendo abandonado o suposto dono do castelo (?!), teria sido feliz nos braços de outro amor! Eh, eh!
ResponderExcluirO importante no entanto, é a fidelidade aos fatos e o "verdadeiro" valor (desculpem a aliteração) histórico do patrimônio cultural da cidade.
Parabéns pelas "investigações", Francisco!
Bj!
Infelizmente esta confusão entre especulação e preservação vem tombando o erário em favor de famílias, às vezes, nem tão famílias assim. O público, aí, não carece nem de "espírito", muito menos de ajuda. Algumas portas genuínas - vendidas para São Paulo, por baixo dos panos, por estes aparentados voltarão em faitos e coches à cidade? Duvido!
ResponderExcluirFui vizinha do 'Castelo' por muitos anos... É uma pena mesmo que ela esteja no estado em que se encontra.
ResponderExcluirAbraços
Interessante, fui Pelotas no final de fevereiro agora em 2009 mesmo, a poucos meses, e estava passando nessas imediações e vi essa torre, e pensei, ué que castelo é aquele, só conheço o do Simões Lopes Neto, ali na saída para Rio Grande, até pensei em ir ver de perto, mas estava apertado de tempo e lamentei não ter ido. Essas fotos me mataram a curiosidade, bem como o teu texto. Parabéns pelo post.
ResponderExcluirMatar a curiosidade é um grande prazer (íntimo e compartilhado), e sem culpa. Sobre este pseudocastelo, como diz bem a teresinha, há mistérios ainda sem resolver.
ResponderExcluirO outro castelo merecerá outra nota, mas já posso adiantar que a família Simões Lopes é bem extensa. De quem foi o prédio? O nome João Simões Lopes ocorre em três gerações seguidas (sendo o Neto o escritor, que morreu pobre). O dono do castelinho famoso foi Augusto Simões Lopes, prefeito de Pelotas, um dos filhos do segundo João Simões Lopes.
Oiii Francisco Antônio Vidal, gostei muito da investigação que voce fez sobre o castelo esta tudo muito bem esclarecido mesmo e bem detalhado,o Major Antonio Duarde da Costa Vidal é meu Bisa-vô, eu sou neto do filho dele ( Antonio macedo Vidal)...
ResponderExcluirEstou pensando em ir morar ai em Pelotas pra fazer faculdade de Psicologia e gostaria muito de conhecer esse castelo...E tambem gostaria muito de te conhecer pra saber mais sobre o castelo e até mesmo para algumas duvidas sobre a facul de psicologia!!!
E mais uma vez parebéns pela reportagem sobre o castelo ...
Abraço!!!
Ass: Lucas Vidal Copa
Lucas, tu não dizes em que cidade estás, mas se tiveres mais informações sobre os parentes é só contar; eu não tenho muita não, eu sou neto do Francisco Nunes Vidal (1900-1975), um dos sobrinhos itaquienses.
ResponderExcluirMoro em uruguaiana e sou filho de Ana Vidal Copa e neto de Antonio Macedo vidal e Sonia Terezinha Guimaraes Vidal. A minha Vó Sonia é do terceiro casamento do vô Antonio. A minha mãe Ana tem campo em itaqui junto com a irma Matilde que é a filha menor do meu avô.Costumo falar com a Claudia que é filha do Antonio Carlos Sá Vidal que é o primeiro filho do vô Antonio Macedo Vidal.Tenho um irmão menor que se chama Matheus Vidal Copa tem 14 anos.Conheço o castelo de itaqui e temos fotos dele,na Estancia Santa Maria de nossa propriedade em itaqui tem fotos da nossa familia exposta na parede do escritorio inclusive o de Francisco Vidal ( Marinha),gostaria de saber o nome da tua avó pois temos a foto dela ao lado de francisco Vidal.Temos algumas fotos do Major Antonio dono do castelo meu bisavô e sua esposa Matilde.Mostrei o teu comentario para minha tia Matilde e a minha mãe Ana e estamos todos anceosos por maiores informaçoões dessa grande familia.Temos na estancia alguns objetos do bisavô como: Violao, gaita, chapeu do exercito e livros (não conseguimos manter muito a conservação)...
ResponderExcluirAbraços!!!
Lucas.
ps: Eu queria saber se tu tem msn ou orkut para mantermos contato?? Pois para mim e para minha mãe é muito importante conhecer pessoas da nossa familia.
Meu nome é Ezequiel Brisolara da Luz, tenho 41 anos e me criei na Rua Andrade Neves, 560, hoje não tem mais a casa, nesta casa morava minha vó Eloá Rodrigues Brisolara, em minha infância eu brincava neste castelo com um casal de irmãos que morava lá, Victor Hugo e Ana Lúcia o pai deles na época fabricava vassouras...levei meus filhos para conhecerem o Castelo agora em março, foi triste vê-lo em ruinas.
ResponderExcluirOla!! Victor hugo pacheco e ana lucia pacheco sao meus "primos" na verdade sao primos dos meus meio irmaos. Mas os conheço bem...abraços.
ExcluirEm março de 2011, Mengi Alves Vidal, residente no Mato Grosso, escreveu o seguinte no Livro de Visitas (guestbook):
ResponderExcluirOlá! gostei da reportagem sobre o castelo de pelotas, não o conhecia nem por fotos (sou bisneta do Major, neta do segundo casamento do seu filho Antônio Macedo Vidal). Tenho muita curiosidade sobre a origem da "família". Um abraço. Mengi
Muito interessante o blog! Sou do Rio de Janeiro, mas de família pelotense. Consegui me lembrar muito bem desse castelo. Acho que os donos eram parentes da irmã da minha avó Felicidade, que se chamava Adélia Fagundes de Sá. Se não me engano, ela foi a primeira esposa do Antonio Macedo Vidal (tenho alguma coisa da genealogia da família paterna registrada aqui e fui buscar as anotações).
ResponderExcluirSó a título de curiosidade, meu pai nasceu na estância do tio, em Itaqui. Talvez seja a mesma propriedade que o Lucas menciona. Que mundo pequeno...
Abraços a todos.
Flávia
Muito bom o blog! Pena que invistam na manutenção dos castelos na cidade.
ResponderExcluirAbração!!!!
Luiza
Um ano depois deste post, Liana Coll escreveu sobre o castelinho e publicou fotos na revista "O Viés".
ResponderExcluirCitou dados deste blogue e acrescentou dados de sua pesquisa.
http://www.revistaovies.com/reportagens/2010/01/o-castelo-em-fragmentos/
Em julho de 2006, li um artigo de jornal sobre o Castelo [...] do Major Vidal.
ResponderExcluirA construção, mesmo sendo de propriedade particular, se constitui em misterioso marco de uma época em Pelotas e que sempre chamou a atenção não apenas dos visitantes, como de várias pessoas que moram nesta cidade.
De minha infância, lembro tê-lo visitado com os pais nos anos 40, eis que o proprietário e tio-avô paterno o exibia aos amigos com certa dose de vaidade. Isso embora ultimamente ele preferisse morar numa casa de esquina da própria rua e proximidades.
O major Antônio Duarte da Costa Vidal tinha lutado na Guerra de Canudos (1896-1897), tendo sido condecorado por salvar sua unidade (um contingente pelotense?) com uma oportuna clarinada de “retirar”, ao se verem atacados, de surpresa, por uma tropa adversária. Informação que me foi passada por mestre Waldemar Coufal, admirador do Major Vidal, seu garbo e folha de serviços à pátria.
Além de bom militar, o major era, diga-se de passagem, excelente apreciador de música, tanto clássica quanto regional, que sabia executar ao violão. Na época de mais jovem - oriundo que era da fronteira Oeste do nosso Estado, onde possuía terras - tinha sido amigo de um outro nosso tio, embora pelo lado materno: Januário Simões Dias da Costa. Tanto que saíam ambos pelas madrugadas, em serenata: o violonista em companhia do acordeonista, fato de que ambos muito se orgulhavam.
Francisco Dias da Costa Vidal, Diário Popular (6-11-07).
O castelo está à venda pela UNE Houses, que o deixou por um preço irrisório, considerando que a reforma total do prédio custará muito mais.
ResponderExcluirSou fascinado por este castelo desde criança, embora já o tenha conhecido em ruínas.
ResponderExcluirGostaria muito de ver uma fotografia dele anterior ao abandono, quando ainda possui telhado, janelas e últimos pavimentos. Alguém tem ou sabe onde posso encontrar uma foto ?
João Pedro, teria que ser uma foto antiga, dos anos 70 ou anterior. Não há nenhuma circulando na internet. Teria que ser buscada na Biblioteca Pública. Se eu achar, postarei aqui.
ResponderExcluirolá..vc disse que o castelo esta a venda...por qual imobiliaria obrigada
ResponderExcluirPergunte na UNE Houses, Gonçalves Chaves 556. Tb está no Facebook.
ResponderExcluirExcelente post Francisco, eu também sou fascinado por este misterioso castelo. Se você obtiver uma foto do interior eu também gostaria de vê-la. Obrigado.
ResponderExcluirhttps://www.facebook.com/preteritaurbe/photos/a.472525259427152.111684.472472029432475/958322604180746/?type=1&theater
ResponderExcluirFrancisco Antônio,
ResponderExcluiro Lucas Vidal é bisneto do Antonio Duarte da Costa Vidal (Major Vidal, dono de Castelinho). Nós somos Sobrinhos-bisnetos, já que seu irmão, era nosso bisavô, pai de Francisco Nunes Vidal, nosso avô, Francisco Dias da Costa Vidal, nosso pai.
O Major Vidal teve dois filhos. Um deles avô do Lucas. Meu irmão José Claudio sabe de tudo isso e existe na internet árvore genealógica bem completa.
abço
Caro Vidal, me chamou atenção o comentário do anônimo de 28/02/09 11:48... "O público, aí, não carece nem de "espírito". Hoje, junho de 2015, qual a minha surpresa ao saber o nome do novo proprietário? Leonardo C. Espirito Santo. Estou impressionado! Ricardo Asso Mendes.
ResponderExcluirPois é, as ironias do destino... o Espírito Santo salvou o castelo da destruição. Será uma cervejaria. O sobrenome do empresário terá outras significações? Há muito por pesquisar. Nada é o que parece.
ResponderExcluirEste comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluirOlá, sou Ana Lúcia Pacheco de Souza e morei durante a minha infância no castelo da rua XI, minha irmã Ana Paula nasceu lá. Meu irmão Victor Hugo e eu costumávamos brincar com os netos e com a filha caçula Daniela da D.Eloá Brisolara, uma pessoa maravilhosa da qual sinto saudades. Meu falecido pai, Victor Pacheco era caseiro do castelo e tinha por incumbência manter o terreno limpo e o prédio em boas condições, mas a parte de manutenção do prédio nunca foi feita devido ao alto custo, a Sra. Arlete, neta do major, era o contato que tínhamos.
ResponderExcluirEstou com 50 anos de idade, sou casada com Dilencar Dutra de Souza a quase trinta anos, somos avós de um lindo menino.Quando minha família optou por mudar-se para o castelo eu tinha dois anos de idade e meu irmão um aninho, quando eu tinha 8 anos minha irmã nasceu e quando fiz doze anos, nos mudamos de lá. Moro atualmente em Panambi, RS, sou formada pela Escola Técnica (IFFSul) em Eletromecânica e atualmente sou professora de Língua Portuguesa e Literatura, funcionária do município. Tenho saudade da minha cidade natal e do tempo bom da infância.
Que bom saber deste testemunho que confirma a importância afetiva deste local para nossa cidade.
ExcluirParabéns pela pesquisa e preservação da memória do Castelo da Rua XI!
ResponderExcluirOla Francisco tbm sou vidal da família de itaqui meu avô era filho de antonio Macedo
ResponderExcluirvidal um relacionamento extraconjugal tbm gostaria de saber mais sobre meus antepassados de ate conhecer esta gnt vai saber abraço
OK, qual teu nome e os de teus pais?
ResponderExcluirMeu pai Edson bairros vidal o meu meu avô era Manuel paré vidal
ResponderExcluirEste castelo fazia parte do meu caminho em meados da década de 1960 (1965-66). Eu tinha entre 9 e 11 anos de idade e a casa, apesar de parecer habitada, tinha ares fantasmagóricos para o menino que eu era. Recordo até hoje. Um ponto de referência. Um lugar para desencadear fantasias, como bem disseste: sonhar com outras épocas e com personagens poderosos.
ResponderExcluirO tempo passou e o mistério segue, agora com a esperança concreta de uma reforma. Conforme noticiado pelo Diário Popular, o prédio está sendo reconstituído pelo novo dono, empresário que o fará lucrativo.
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