Não é comum encontrar que a própria realidade nos ofereça uma visão tão inesperadamente contraditória e que chega a ser engraçada. A imagem acima suscitou, em setembro de 2008, variados comentários no Amigos de Pelotas, uns a favor do Rio Grande do Sul, outros xenofóbicos ou até gastronomicamente corretos (veja o post com nova data e sem os comentários da primeira edição).
Ali ficou registrada a perplexidade geral de como esse canhão foi parar defronte ao único McDonald's de Pelotas. A ilusão perceptiva é de que a arma brasileira esteja apontando ao império norte-americano. Na verdade, foi o oposto: o restaurante é que chegou ali, uns vinte anos depois. Os ianques chegam com jeitinho a todos os cantos do mundo, mas parecem ter uma certa preferência por guerras.
Dois metros adiante do canhão, uma placa metálica explica ter este pertencido a uma embarcação canhoneira imperial, destroçada pelos farroupilhas em 2 de junho de 1836, no Passo dos Negros (ponto de vadeação do canal São Gonçalo ao sul do Arroio Pelotas). A pesada arma foi retirada do fundo do canal em 1936, permanecendo na posse de Sylvio da Cunha Echenique (1898-1985), posteriormente prefeito de Pelotas (1944-1945) e deputado federal, que o dedicou à cidade em 1971.
Logo, o ângulo teoricamente mais apropriado para uma foto é situar a relíquia histórica diante do quartel, como defendendo a Brigada Militar (dir.).
O canhão tem relevância militar e cultural, pois há 170 anos cumpriu uma função defensiva, e hoje mostra como alguém soube cultivar as nossas raízes para ilustração dos pósteros. Daí seu sentido turístico, de interesse para pelotenses e visitantes.
Mas, depois desta foto, como não achar graça desta situação que inicialmente era tão séria? Haverá no mundo outro McDonald's apontado por um canhão? A saída será fazer uma reflexão sobre as invasões modernas.
Fotos de F. A. Vidal.
Fotos de F. A. Vidal.
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