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terça-feira, 10 de março de 2009

Combinando duas artes: a pintura e os quadrinhos

Geovani Aldrighi Gonçalves, 24 anos, formado recentemente em Pintura pela UFPel, apresenta de 4 a 18 de março sua primeira mostra individual, no Corredor Arte do Hospital-Escola. Sob o misterioso título "Do estranhamento à coexistência", ele traz alguns trabalhos da época acadêmica e outros criados para esta exposição.

Geovani aplica sua antiga paixão pelas histórias em quadrinhos ao uso de técnicas variadas. Já experimentou com materiais como betume, óleo de linhaça, de arroz e de soja.

Quanto à linguagem, tenta uma combinação entre a pintura e o desenho dos comics. O resultado visível é algo novo: não permite distinguir se há aqui um pintor que se interessou pelas histórias em quadrinhos ou um desenhista de comics que tomou os pincéis.

Da arte maior da pintura toma o conceito da observação de detalhes, para provocar uma reflexão no espectador, praticamente inexistente no mundo moderno. Deste mesmo mundo, aproveita o sentido de aceleração da vida e de assimilação sintética dos conhecimentos (paralelismo entre palavras e figuras), traços típicos dos desenhos em quadrinhos, arte-indústria que nasce e prolifera no século XX.

Nesta mistura, o pintor rompe com a linearidade dos quadrinhos, diminuindo assim a compreensão imediata do que se vê, mas permitindo um olhar criativo: como não há narrativa, pode-se inventar qualquer uma. Outro elemento que faz pensar é a concentração em fragmentos, onde o artista está convidando a analisar, mas sem dizer o quê nem como.

No entanto, também há uma ruptura com os estilos e modelos da pintura, especialmente no que se refere ao uso de cores, o que provoca um distanciamento afetivo no espectador. Algo menos óbvio é o uso da sobreposição, outra forma de despertar pensamento crítico. Tantos vazios por preencher: algo bem característico da arte moderna, que é mais conceitual e interativa que as formas tradicionais, muito mais conhecidas do público e mais assimiladas, por trazer já as coisas meio prontas e mastigadas.

Geovani Aldrighi
Gonçalves
Num hospital, o pintor consegue chegar justamente a esse grande público, não acostumado a visitar galerias artísticas, nem a desligar-se da agitação e das preocupações do dia-a-dia. Para quem está começando, é uma forma de mostrar seus primeiros trabalhos a pessoas de diversas origens e sentimentos.

Neste caso, a provocação mediante quebras e lacunas pode não ser agradável a todos, especialmente num ambiente em que as pessoas necessitam alívio para suas dúvidas e sofrimentos, e podem não tolerar novos questionamentos. Mas esse é justamente um dos fins da arte moderna - não deixar ninguém indiferente.
Fotos: divulgação do Corredor Arte (1-2) e RBS (3)

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