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terça-feira, 16 de junho de 2009

O único cinema de Pelotas

O Cineart é um conjunto de 3 salas de cinema, criado no último andar do shopping Calçadão para projetar filmes para plateias menores que as dos cinemões - supostamente, seriam filmes de maior qualidade ou de interesse mais restrito.

É administrado pelos donos dos antigos cinemas Capitólio, Pelotense, Rei e Tabajara, pertencendo ao Grupo Arcoiris, rede catarinense instalada em 30 cidades de 6 Estados (segundo o site, está exibindo só 16 filmes em todo o país). A programação do cinema de Pelotas aparece sob o nome Arcoiris Art.

Com a evolução tecnológica e social, todas as plateias se reduziram, os cinemões fecharam e o público já nem lota este pequeno conjunto - de umas 80 cadeiras cada sala. O Cineart mantém o nome mas somente mostra cinema comercial, não o antigamente chamado "cine-arte". Por isso talvez muitos pelotenses não gostam de seu único cinema, mas também outros se sentem agradecidos por ainda haver um, mesmo que em pobres condições.

O centro comercial do calçadão da Andrade Neves sobrevive com lojas de miudezas. A escada rolante que funciona já esteve parada dois anos; a outra nunca funcionou. O vagaroso elevador - cujos 4 andares são: térreo, sobreloja, 1 e 2 - está programado para parar somente nos extremos.

Como qualquer empresa, o cine precisa manter-se com ingressos, e estes são tão poucos que o pessoal contratado é o mínimo necessário: o administrador atende no caixa, um técnico de projeção marca as entradas, outro funcionário atende público e limpa as salas, e a segurança é feita por todos.

A bombonière tem pipoca doce e salgada, refrigerantes, balas, doces e chicletes. Não há café nem bolachas, como é norma na Arcoiris.

Além do pessoal reduzido, outros signos de pobreza: um precário banheiro masculino, falta de isolamento da cabine de projeção (da plateia se ouve o técnico falando no celular) e a tendência a interromper a projeção quando os espectadores já se retiraram. Os preços são normais: não decaem na mesma medida.

Em maio fui assistir "X Men Origens: Wolverine". A exibição não teve interrupções nem problemas de som, mas a sala 3 é tão pequena que não se pode ver o filme a grande distância: só há seis filas de poltronas.

Como de costume no Brasil, o público começou a retirar-se apressadamente ao aparecerem os créditos finais. Esperei até o último momento, ouvindo a música, e após todas as identificações apareceu Wolverine - amnésico e alcoólico - conversando com a próxima namorada. A breve cena é um gesto bem-humorado de Hollywood para premiar os poucos que respeitam a projeção completa da obra.
Fotos de F. A. Vidal

7 comentários:

  1. O estado dos cinemas faz jus ao lixo que passam.
    A imensa maioria são filmes americanos, hoje sinônimos de obra de baixa qualidade.
    Não há porquê ir ao cinema.
    Em casa se pode desfrutar a arte que os cinemas escondem.

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  2. mas também outros se sentem agradecidos por ainda haver um, mesmo que em pobres condições [2]

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  3. Sobre respeitar a obra, lembro-me do Flávio Del Mese a dizer que de todos os filmes que fez, somente um documentário lhe rendeu bom dinheiro.
    O documentário em questão foi exibido pela BBC, que lhe pagou religiosamente o que constava do contrato.
    Os demais filmes que realizou exibidos em TVs educativas, TVs comerciais, cinemas, nenhum lhe premiou o esforço.
    Então o problema começa no público "ingonorante" e vai até os executivos da indústria, sendo que neles a deseducação se manifesta através da cupidez e da desonestidade.
    O mesmo depoimento recolhi de escritores e músicos.
    Ser intelectual no Brasil é para alienado, não se consegue motivar vocações.

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  4. Eduardo:
    Não temos que misturar arte com realização econômica.

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  5. Realmente, talvez a saída seja retornar ao que o próprio nome significa: a Secretaria da Cultura assumir uma co-diração, auxiliando no trazer para o Cine-arte, filmes raros e clássicos, definidos em seu nome. Preciosidades cinematográficas, que raramente passam mesmo em canais de TV pagos.
    Creio que todos sentem falta do ritual de ir ao cinema degustar um excelente espetáculo. Mas, o mais das vezes, sucede o contrário. Fica difícil. Empresários devem se conscientizar de sua responsabilidade no oferecer aos cidadãos e visitantes, bons espetáculos. Turismo é faturamento! É cultura!
    Prof.ª Loiva Hartmann/IHGPEL/IJSLN/Mentora da Jornada Cultural de Pelotas.

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  6. Cinema é lixo. Se todo filme fosse um livro o mundo seria muito melhor.

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  7. De fato toda boa obra de cinema passa primeiro pelo papel, seja livro ou o próprio roteiro, mas a linguagem é diferente. Não é melhor nem pior que a do livro escrito, mas é mais próxima à imaginação humana, como uma elaboração de sonhos, que são imagens mais primitivas e desordenadas.
    Poderia dizer-se que se todo sonho mental passasse a ser um filme (e não fosse realizado às vezes de modo brutal) o mundo seria bem melhor do que é. Mas se ainda passasse por uma elaboração maior e se transformasse num livro, seria um passo adiante. Mas para ser realistas, boa parte da humanidade é analfabeta e seguirá sendo. Portanto, os bons filmes ajudam bastante a que o mundo seja melhor, e não se deve jogá-los no lixo.

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