O lugar foi o mesmo dos adultos, mas uma hora antes. O espaço onde às 18h autografariam vários escritores de maior trajetória, era todo para Júlia, única criança pelotense escritora.
Às 17h, os primeiros leitores e curiosos se aproximaram, inclusive um grupo de crianças que iam passando (esq.). Seria mesmo possível que uma menina de somente oito anos tivesse escrito um livro? Não é algo que vejamos todo dia por aqui.
Então a menina apareceu, mas não parecia uma escritora; era uma menina como as outras. Afinal, os escritores adultos também parecem pessoas comuns, e eu nunca tinha visto, mesmo, uma menina escritora.
Júlia tem uma família muito simpática - seu pai é professor, sua mãe é médica - tem uma irmãzinha menor, tia, avós, tudo normal. Mas Júlia é muito imaginativa, inventa relatos com ensinamentos e poesias, os conta em voz alta e os escreve à mão.
Quando ela disse que estava fazendo um livro e começou a desenhar ilustrações para esses contos, Julieta Fripp, sua mãe, começou a digitar o texto. Uma produtora fez o design, a escola financiou a impressão, e aqui está a Júlia na Feira do Livro de Pelotas, autografando sua primeira obra.
Já não é comum encontrar crianças publicando o que escrevem, mas aqui temos uma escritora que compartilha com naturalidade seu mundo pessoal, como se fosse sua missão de vida e como se o estivesse fazendo há muito, como alguém que leva toda a vida escrevendo.
E não pude deixar de lembrar o jornalista Jayme Copstein, que no dia anterior autografou no mesmo estande. Júlia y Jayme, oito e oitenta anos, duas personalidades que nos inspiram quanto ao profissionalismo, o bom humor e a generosidade de socializar sua criação.
Numa parada dos autógrafos, ela recebeu um reconhecimento de sua professora e algumas colegas de turma, a irmãzinha observando (esq.). Na foto abaixo, Júlia admira seu prêmio junto a seus pais, irmã, professora e colegas.
Com o relato feito pelos pais, eu já sabia como Júlia fazia para escrever os contos. Mas logo ela mesma se mostrou totalmente à vontade na arte de fazer as dedicatórias. Não há nenhum segredo; afinal, “só” é preciso ter uma idéia precisa e pô-la no papel. Ela fica séria, olha o horizonte e escreve com total segurança uma frase específica para cada pessoa, criada no momento. Para sua tia ela escreveu: “Você é uma tia muito especial”. A mim dedicou esta frase: “Você vai se impressionar com esses livros”.
Talvez ela tenha percebido meu impacto com o fato de ela estar publicando seu primeiro livro, ilustrado por ela mesma (somente a ilustração de capa não lhe pertence), contribuindo com uma pontinha de luz e esperança num evento pensado mais para adultos. Sim, eu já estava impressionado.
Logo percebi que ela sabia o que estava dizendo: o epigrama abaixo me causou a mais profunda impressão, como ela havia previsto.
Como uma discípula de Mário Quintana ou Pablo Neruda, em três linhas simples e profundas, ela relaciona cores, sons, símbolos e amores, à base dos nomes de seus familiares - Julieta, Laura e Florismar.
Veja os incríveis comentários suscitados com esta notícia no Amigos de Pelotas.
A cidadania dos nomes
A minha mãe é como um pé de mamão.
A minha irmã é como o dia ensolarado.
O meu pai é como o mar limpo.
Fotos de F. A. Vidal
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