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sábado, 31 de outubro de 2009

Dicionário Histórico de Pelotas, um presente para os 200 anos

Nunca imaginei encontrar uma notícia cultural inserida num currículo Lattes. Na verdade, foi a autora desse currículo, Fernanda Oliveira da Silva, que me deu a informação, quando lhe perguntei sobre o andamento do Dicionário Histórico de Pelotas, cujo projeto ela ajudara a coordenar em 2005 (leia uma versão), quando aluna de História na UFPel (hoje ela cursa mestrado na PUC-RS, já afastada da equipe do Dicionário).

A tal notícia era que o livro estava agora no prelo, com o texto pronto e esperando publicação, talvez para a próxima Feira do Livro, que começou ontem (30), na Praça Coronel Pedro Osório.

O projeto (leia o relatório inicial) teve uma equipe de colaboradores que produziram verbetes para uma pequena enciclopédia sobre a história de nossa cidade desde o século XVIII até 1960, compilando informação até então dispersa. Além de Fernanda, identificavam-se os seguintes integrantes: Juliana Cabistany Marcello, Emmanuel de Bem, Caroline Meggiato. Como professores coordenadores: Lorena Almeida Gill, Beatriz Ana Loner e Mário Osório Magalhães.

O problema

A riqueza econômica e a importância política de Pelotas durante todo o Império (1822-1889) prolongou-se pela primeira República (1889-1930), produzindo uma sociedade culturalmente avançada, com artistas, cultores das letras e das ciências. A produção histórica sobre todo esse desenvolvimento focou aspectos ou fases precisas, sem nunca abranger toda a evolução da cidade.

Como resultado, a informação sobre Pelotas não era facilmente encontrável ou continha incongruências não estudadas, ocasionando perda de tempo para quem buscasse apenas uma referência pontual.

Objetivo

O Dicionário Histórico de Pelotas procura sanar esta falta, apresentando com rigor científico, numa obra única, uma visão sintética da cidade ao longo do tempo: sobre suas instituições e associações, por um lado, e seus acontecimentos, etnias, características econômicas, culturais e sociais, por outro.

Métodos

Para o fichamento de temas, a pesquisa começou em fontes secundárias (textos de história já existentes), discutindo depois em equipe as semelhanças e diferenças da informação, para homogeneizar a linguagem.

Elaboraram-se modelos de verbetes e uma lista com possíveis verbetes, divididos em eventos, povoamento e instituições; a redação foi entregue à equipe (estudantes e professores) ou a especialistas em cada tema. Foram detectados assuntos ainda não estudados pelas fontes secundárias, como associações extintas e de cunho estritamente popular ou a formação dos bairros.

Identificaram-se quais assuntos requeriam o uso de fontes primárias: fotos e documentos dispersos em cartórios, bibliotecas, jornais diários ou quinzenais. No cartório Rocha Brito, por exemplo, foram pesquisadas 115 instituições, muitas das quais já extintas.

Ao ver aumentar sem medida o número de verbetes, a equipe decidiu restringir a pesquisa, deixando de lado a elaboração de biografias. À medida que o trabalho avançava, os estudiosos sentiam a grande receptividade por parte de quem conhecia o projeto, tanto da comunidade científica como de instituições de preservação da memória da cidade.

Além da pesquisa de dados nas fontes e da redação dos resultados em cada assunto, a unificação dos verbetes foi uma tarefa complexa, pois deviam ter simplicidade, profundidade, correção histórica e uma homogeneidade de estilo.

Antes mesmo da publicação, alguns verbetes serviram de base para os programas de rádio do projeto Patrimônio Pé de Ouvido, financiado pelo Ministério da Cultura, UNESCO e BID. Um foi feito para a Casa da Banha (leia), prédio que já foi Quartel Farroupilha e sede de lojas como "Ao Novo Papagaio" (dir.).

A última versão do projeto do Dicionário é de 2008 (leia) e inclui um exemplo de verbete (abaixo) e a lista dos 186 temas escolhidos.

Hino. O Hino de Pelotas, cuja música é de autoria do maestro Romeu Tagnin e letra de Hipólito Lucena, foi composto para as comemorações do centenário de elevação à cidade, em 1935. A letra e a música foram escolhidas mediante concurso, sendo que no tocante à letra exigia-se que resumisse o assunto de forma acessível aos alunos das escolas primárias, possuindo para tal uma linguagem simples e não extenso número de versos. Concorreram 21 candidatos, e o resultado foi divulgado em 1º de junho de 1935. Teve início, então, o concurso para escolha da música que melhor se adaptasse à letra classificada. Concorreram 13 composições, escolhendo-se, em 5 de junho, o trabalho musical de Romeu Tagnin por unanimidade da comissão julgadora.

Esse júri era composto pelo Dr. Francisco Simões, pelo professor Milton de Lemos e pela professora Lourdes Nascimento. Sob a regência do maestro Romeu Tagnin e acompanhamento da banda do 9º Regimento de Infantaria, o hino foi cantado, pela primeira vez, em 7 de julho de 1935, por um coro composto de alunos da rede de ensino, previamente selecionados pelo referido maestro e pelo professor Milton de Lemos. Em conjunto com a bandeira do município, foi oficializado através da lei nº. 1.119, sancionada em 30 de Abril de 1962.

Fontes.─ BPP- Fundo DIV- 001. Diário Popular, 23 de maio de 1935; 25 de maio de 1935; 31 de maio de 1935; 1º de junho de 1935; 7 de junho de 1935.


(Fernanda Oliveira da Silva)
Imagens:
Blog Pelotas Vip (1-3)
POST DATA (5 nov 09)
A professora Beatriz Ana Loner, coordenadora do Núcleo de Documentação Histórica da UFPel, órgão que realiza o Dicionário de História de Pelotas, escreveu ontem para esclarecer o seguinte:
  1. Os responsáveis do projeto desde o início são os professores Beatriz Ana Loner, Lorena Almeida Gill e Mario Osório Magalhães, que em equipe assinam a concepção e a execução do Dicionário Histórico de Pelotas.
  2. Fernanda Oliveira da Silva atuou como bolsista até 2008, desempenhando atividades de auxílio formal aos organizadores. Sua participação na obra é como autora de alguns verbetes.
  3. A publicação não está em vista para esta Feira do Livro, mas sim para o primeiro semestre de 2010, em data que será divulgada. Ainda falta que os redatores concordem com a versão final dos seus verbetes e a fase final de captação de recursos.

5 comentários:

  1. Excelente iniciativa!!! Só acho que, talvez, a equipe pudesse ter se valido do apoio de outros pesquisadores. Até como uma forma de troca de informações. Como sou pesquisador da história do Capão do Leão (e este durante uns duzentos anos "era" Pelotas!), creio que poderia contribuir. De igual modo: Muito Bom!

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  2. Acredito que a equipe se valeu de pesquisas escritas e publicadas (em papel), além das fontes primárias. Tu tens pesquisas impressas?
    O intercâmbio teria sido excelente, mas as pesquisas seguem existindo; o dicionário só faz um compêndio. Se Capão do Leão não foi incluído por falta de textos de outros autores, o caso se aplica a outras localidades pelotenses, que foram de Pelotas até somente uns anos atrás.

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  3. Como faço para adquirir o dicionário?

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  4. Como o Dicionário é da Editora da UFPel, deveria estar à venda na Livraria da UFPel, Félix da Cunha 363, cheque antes por telefone 3225-9244.

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  5. CRÍTICA AO DICIONÁRIO DA HISTÓRIA DE PELOTAS
    Sou Oscar Wother, pelotense, Etepeano, Inventor premiado em telefonia, pesquisador em história, Acadêmico da Ulbra e descendente de britânicos imigrados para Pelotas durante a Guerra dos Farrapos e conforme meu pai me contava, foi por volta do ano 1840. O sobrenome Wother está registrado no Britain`s Domesday Book, ano 1086, de autoria do rei William da Inglaterra. Mas porque conto tudo isto, quando soube do Dicionário da História de Pelotas, eu li partes do conteúdo deste “livro” e constatei faltar partes importantes da história pelotense. Os autores de Dicionário Histórico de Pelotas identificam diversos povos com verbetes, de forma merecida claro, mas os britânicos não possuem um verbete que os identifique na história pelotense. Isto é algo terrível.
    Primeiramente vou falar construtivamente da professora da UFPEL, LORENA ALMEIDA GILL, uma das autoras do dicionário Histórico de Pelotas, que pelo seu sobrenome inglês GILL, deveria no meu entender, ter sido a primeira a defender um verbete para os imigrantes britânicos de Pelotas.
    A professora Lorena Almeida GILL, possui um sobrenome britânico (GILL), que está registrado no Britain`s Domesday Book, ano 1086, de autoria do rei William, que no século 11 era o nome da Mansão Crunkly Gill em North Riding of Yorkshire, England. O nome Crunkly Gill era do nobre que comandava a referida Mansão, que provavelmente pode ser um parente do passado ou foi o próprio antepassado da professora Lorena Gill. Já passados quase 1000 anos, ou melhor, nos dias atuais Crunkly Gill é um desfiladeiro arborizado em North Yorkshire, onde rio Esk passa por este lugar histórico britânico em direção a famosa localidade Lealholm. O sobrenome Gill está também registrado em importante livro britânico que mostra os brasões conquistados por esta família no passado na Grã-Bretanha e em outra oportunidade deverei mostrar este fato histórico.
    Fonte:
    http://www.domesdaybook.co.uk/contents.html
    http://www.domesdaybook.co.uk/northriding.html
    O meu sobrenome Wother está também registrado no Britain`s Domesday Book, ano 1086, local que existe até hoje em West Riding, Yorkshire (England). Observo que o meu sobrenome no Domesday Book possui o sufixo some (do anglo-saxão husum = casas), grafado pelo inglês moderno Wothersome, que pelo inglês antigo significa casas dos Wothers.
    Fonte:
    http://www.domesdaybook.co.uk/contents.html
    http://www.domesdaybook.co.uk/westridingb.html

    CURIOSIDADE SOBRE A GRÃ-BRETANHA
    República da Irlanda, junto com a Irlanda do Norte, Escócia, País de Gales e Inglaterra formava o Reino Unido da Grã-Bretanha durante o período entre os anos 1801 e 1922. Eu não sou o maior conhecedor de história sobre o povo das ilhas britânicas, mas não entendi porque os escritores do Dicionário Histórico de Pelotas não conceberam um Verbete para os imigrantes irlandeses e ingleses chegados a nossa Pelotas no ano de 1852. O VERBETE É BRITANICOS.
    A PRESENÇA E CONTRIBUIÇÃO BRITÂNICA EM PELOTAS.
    A presença se faz através de empreendimentos, tipo a Caixa de Água britânica, fabricada toda em ferro, proveniente da Escócia, existente em Pelotas, na Praça Piratinino de Almeida desde o século XIX.
    O Museu da baronesa construído no século XIX é assim chamado porque sua proprietária, a baronesa Ámalia Hartley Maciel foi casada com o pelotense Anibal Antunes Maciel, o barão dos três Serros, que construiu o casarão para lhe dar de presente. A baronesa Ámalia era filha do carioca João Diogo Hartley, filho do inglês James Hartley, de Halifax, York, England.
    A Estação de Tratamento de Água – ETA Sinnott que existe desde o século XIX em Pelotas tem o sobrenome Sinnott, originário de família imigrante proveniente da Irlanda no ano de 1852. Os Sinnott imigraram para a cidade pelotense em 1852, juntamente com uns 300 irlandeses e algumas famílias inglesas, como os Yates, e foram habitar a Colônia Dom Pedro II, localizadas no Monte Bonito e Capão do Leão em Pelotas.

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