Este verão, o Conservatório de Música abriu cinco cursos de extensão dirigidos à comunidade pelotense: Violino e viola, Musicalização em flauta doce, Introdução à etnografia em música, e Entendendo a Música no Cinema (em dois módulos). A novidade foi divulgada quando a cidade em geral já havia entrado em férias, mas com o tempo poderá estruturar-se uma verdadeira escola de verão na UFPel, numa Pelotas que costuma esvaziar-se totalmente nos meses de férias.
Hoje de manhã (dir.), o curso Entendendo a Música do Cinema (módulo 2 ) foi iniciado por Jorge Meletti, mestre e doutorando em Composição Musical (UFRGS) e professor na UFPel. Metade das 20 vagas gratuitas foram preenchidas, quase que somente por alunos da Universidade; algo parecido ocorreu no módulo 1, ministrado na segunda semana de fevereiro por Carlos Walter Soares, também mestre em Composição Musical.
Meletti planejou o curso de 20h para um público leigo em música, mas os alunos que chegaram já tinham conhecimentos na área, o que redirecionou a abordagem e a participação em grupo. O método das aulas consiste em alternar conceitos teóricos com exemplos comentados de cenas de filmes, abrindo à discussão. O objetivo: compreender as funções da música no cinema e as formas de compor as trilhas sonoras dos filmes.
Os trechos comentados esta manhã foram os seguintes (compositor entre parênteses):
- A Missão (Ennio Morricone): cena de Gabriel tocando oboé. A música se situa dentro da ação, é ouvida pelos personagens (conceito de música diegética).
- A Profecia (Jerry Goldsmith): Demian grita na frente da igreja. A música está fora da cena, faz parte de uma trilha sonora (música extradiegética).
- O Rei Leão (Hans Zimmer): salvamento de Simba no estouro de búfalos. A trilha musical descreve a cena e antecipa possibilidades; contém simbolismos no tipo e na quantidade de instrumentos (tambores africanos), no timbre de metais que representam o herói e em quatro notas do trecho Lacrimosa, do Requiem de Mozart.
- Veludo Azul: trechos de canções na boate, com a atriz Isabella Rosselini. A música é parte da cena, e ouvida pelos protagonistas. Neste caso, para indicar passagem do tempo, o diretor David Lynch (ou o editor de som) introduz um fragmento orquestrado entre duas canções (vídeo abaixo, minuto 1:18 - 1:24), que não está na realidade da cena (música ambidiegética, de duas origens).
- Apocalypse Now: helicópteros atacam vilarejo vietnamita. A música é ouvida pelos personagens mas o diretor do filme a usa como trilha sonora simultaneamente, parecendo identificar-se com o oficial que dirige o ataque e comparando as aeronaves às míticas valquírias, guerreiras aladas que influem nas batalhas (veja trecho de 18 min do filme; a música vai do minuto 3:22 a 9:00). A alusão musical remete à abertura do 3º ato de uma ópera de Wagner, "As Valquírias"; a alusão política é ao nazismo (leia explicação no blogue Cinematório).
- O dia em que a terra parou (Bernard Herrmann): em diversas cenas, ouve-se o estranho som do teremim, instrumento eletrônico criado por Leon Theremin (nome francês do russo Lev Termen). Sem instrumentos de cordas, a música ora se faz imperceptível, ora enfatiza o dramatismo das cenas visuais.
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