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sábado, 20 de fevereiro de 2010

Sete passos (poema)

Chove no mar
E ao entardecer o sol recolhe sua luz difusa
Gela meus sentidos ao ver a chuva encher o mar de poesia

E adoeço sozinho ... enquanto chove solidão nas águas turvas
São apenas sete passos ... e o mar já está transbordando

E mergulho de olhos fechados
E quanto mais profundo entro em mim mais sufocado fico ... procurando
Entulhando a base com promessas vazias ... não concretas ... densas como o lodo ...

E esse mar é sujo e entupido de remorsos que atrapalham o submergir
E afundo mais ... agitando os pedaços ... fragmentos da minha história
Essas tintas escuras que turvaram minhas águas ... são sete passos até a praia

Mas afogo nos meus dejetos pessoais e perco a consciência
Pedaços de bonecas sem cabeças ... personagens de filmes ruins ... escritores medíocres

Chove no mar ...
É tarde e o sol segue sua volta no globo ... levando luz a outros pontos
E perco os sentidos ao ver escrito na areia efêmera o pedido de socorro do meu ego doentio

Sobram sete dedos
E peco e padeço sozinho
Mergulhando em águas escuras e revoltas de olhos abertos
A solidão evapora e completa seu ciclo ... desaguando nas bonecas sem cabeças

São só sete passos ... são só estrofes ... mas o mar é denso e não é possível mergulhar na obra

Concreto e lama salgada descem de olhos mesquinhos ao ver a chuva em alto mar ...
E quando a tormenta chega à praia
Faltavam apenas sete passos ...

Verbalizar o lamento
Nadar na própria frustração
Entender o procurar
Mergulhar no escuro
Endurecer no sofrimento
Admitir que o fundo é o ápice
Ser apenas humano inseguro
Nathanael Anasttacio, janeiro de 2010
Leia mais sobre o autor.

Imagens: pintor iraquiano Nael Hanna e fotógrafo sueco Stefan Söderström.

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